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An. 3. Enc. Energ. Meio Rural 2003

 

Eletrificação rural em Goiás – estudo de três casos

 

 

Regis de Castro FerreiraI; Roberto Alves Braga JúniorII

ISetor de Engenharia Rural, Escola de Agronomia, Universidade Federal de Goiás, CEP 74.001-910 Goiânia, GO tel: 0xx(62) 521-1532 fax: 0xx(62) 205-1099
IIDepartamento de Engenharia Rural, Universidade Federal de Lavras, CEP 37.200-000 Lavras, MG tel: 0xx(35) 829-1672

 

 


RESUMO

A energia elétrica se apresenta como uma importante ferramenta para o homem do campo melhorando sua qualidade de vida através do uso domiciliar ou como insumo ao processo produtivo. O Projeto de Eletrificação Rural do Estado de Goiás iniciou-se através do acordo de empréstimo entre o The Overseas Economic Cooperation Fund, OECF (organismo do governo japonês que presta ajuda técnica e financeira a projetos em países em desenvolvimento) e a Centrais Elétricas de Goiás, CELG. Em dez anos, período do projeto, foram atendidas 21.981 propriedades em 167 municípios goianos, com 22.022,978km de rede nas tensões de 13,8 e 34,5kV. Com o objetivo de caracterizar o aproveitamento de energia elétrica em três propriedades rurais beneficiadas pelo projeto OECF, nos municípios de Goiânia, Trindade e Varjão, procedeu-se a verificação, análise e descrição de situações pertinentes às instalações elétricas, acionamento de motores, conservação e uso de fontes alternativas de energia. Constatou-se que todas propriedades faziam uso de motores elétricos para diversos fins (irrigação, fabricação de ração, trituradores, ordenha mecânica, etc.). Duas utilizavam cercas eletrificadas, enquanto somente uma utilizava sistema híbrido de alimentação (rede e células fotovoltáicas). Ficou evidente nas propriedades visitadas, resguardadas suas particularidades, um uso expressivo da energia elétrica, seja para fins domiciliares ou como insumo a ser agregado ao processo produtivo para a obtenção de melhores índices de produtividade e qualidade.

Palavras-chave: Eletrificação rural, energia, aproveitamento energético, cercas eletrificadas, motores elétricos.


ABSTRACT

The electric energy is an important tool to the country man, developping his quality of life through its use at home or as part of the produtive process. The Rural Electrical Project of the State of Goiás began with the colaboration between The Overseas Economic Cooperation Fund (OECF) and the Electric Company of the State of Goiás (CELG). It were attendded during ten years 21,981 farms in 167 cities, totalizating 22,022.978km of net in electric tensions of 13.8 and 34.5kV. The subject this paper was to characterize the electric energy use in three farms attendded by OECF project, in Goiânia, Trindade and Varjão. It was done the checking, analisis and descrition of situations relative to the electric instalation, motors starting, conservation and use of alternative energy source. It was evident that all farms use electric motors to several purpose (irrigation, manufacture of ration, trituraters, mechanic milking, etc). Two farms used electric fences, while only one used hybrid system. It was verified at the farms visited an expressive use of the electric energy, in its domestic usage as much as an input to the produtive process.


 

 

INTRODUÇÃO

Atualmente no Brasil uma significativa parcela da população ainda vive no meio rural, é de se convir que ali se desenvolve um importante contigente de trabalhadores que ajudam no fortalecimento de nossa economia. A produção agropecuária representa, basicamente, uma das principais fontes de divisas do nosso país, e está inserida dentro do contexto econômico nacional, atuando como força de equilíbrio diante dos compromissos financeiros do governo, atestando assim, o importante papel que o setor agropecuário desempenha no âmbito nacional.

Os atores responsáveis por esse quadro são os produtores rurais que mais do que nunca, devido aos recentes processos de globalização, devem ser encarados dentro de uma filosofia única que promova sua humanização, sua socialização e seu desenvolvimento.

A energia elétrica se apresenta como uma forte aliada ao homem do campo melhorando sua qualidade de vida através do uso domiciliar ou como insumo agregado ao processo produtivo contribuindo para a obtenção de melhores índices de produtividade e qualidade em seus produtos. Todavia, Ribeiro (1997) questiona o impacto da energia elétrica no desenvolvimento rural e no seu crescimento econômico. Segundo o autor, ainda não foi comprovada correlação entre eletrificação rural e crescimento econômico. É certo que ela cria demanda para aparelhos elétricos, beneficiando a economia urbana. É um incentivo para a entrada de novos recursos. Porém, somente quando há conjunção de vários outros fatores, principalmente, investimentos em infra-estrutura de produção, comercialização e transporte, é percebido crescimento econômico. Concluindo, o autor pondera que fica impossível comprovar cientificamente se é a eletrificação rural que traz os outros benefícios, ou, se são os outros benefícios – isto é, o próprio desenvolvimento rural – que trazem a eletrificação

No Estado de Goiás, as iniciativas para levar energia ao meio rural começaram em outubro de 1987. A CELG, Centrais Elétricas de Goiás, precisava de novos recursos para aplicar na expansão dos seus sistemas de energia elétrica, já que tinha reduzido os investimentos devido à crise econômica brasileira. Houve, portanto, a necessidade de se buscar ajuda financeira junto a agentes externos. O parceiro divisado na ocasião foi o governo japonês. As negociações foram intermediadas pelo Ministério da Agricultura, recebendo colaboração da Secretaria de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.

Assim, o Projeto de Eletrificação Rural do Estado de Goiás nasceu oficialmente no dia 5 de setembro de 1991, ocasião em que foi assinado o Acordo de Empréstimo nº BZ-P7 entre o The Overseas Economic Cooperation Fund (OECF) - organismo do governo japonês que presta ajuda técnica e financeira a projetos em países em desenvolvimento - e a CELG.

O projeto foi devidamente registrado em outubro do mesmo ano junto ao Banco Central do Brasil, passando a vigorar efetivamente, a partir de 26 de dezembro de 1991, data de sua homologação pelo órgão financiador por um prazo de seis anos.

Em outubro de 1997 o projeto completou dez anos de sua concepção, seis anos de seu registro e cinco anos e dez meses de execução. A previsão inicial de atender 15.000 propriedades rurais, foi superada em 41,08% com o atendimento de 21.981 propriedades, totalizando 167 municípios beneficiados. A quilometragem total contratada pelo OECF, tanto para tensão de 13,8 kV quanto para 34,5 kV, foi de 22.022,978 km.

Os agentes financiadores do projeto foram o OECF, a CELG, o consumidor, o Ministério da Agricultura e a associação entre o PRONI e o Banco Mundial (o PRONI foi um programa criado pelo governo do presidente José Sarney para incentivar a agricultura irrigada no país). Para suprir a falta de recursos, o governo brasileiro buscou financiamento junto ao Banco Mundial (Figura 1). Programas de eletrificação rural com o intuito de beneficiar produtores de baixa renda, estão em fase de implantação em alguns Estados do país, como o "Luz da Terra" em São Paulo, também já implementado no Rio Grande do Sul (Ribeiro, 1996). Em Goiás, iniciativa semelhante está em fase de execução com o programa de eletrificação rural "Luz no Campo", podendo-se afirmar que está havendo um significativo incremento na demanda energética, reflexo das políticas de fomento à energização rural (Tabela 1 e Figura 2).

 

 

 

 

Diante desta conjuntura, o presente trabalho tem como objetivo caracterizar o aproveitamento de energia elétrica em três propriedades rurais beneficiadas pelo Projeto OECF, nos municípios de Goiânia, Trindade e Varjão, através da verificação, análise e descrição de situações pertinentes às instalações elétricas, acionamento de motores, conservação e uso de fontes alternativas de energia.

 

MATERIAL E MÉTODOS

LEVANTAMENTO DE INFORMAÇÕES

Foi feito um levantamento de informações mediante o seguinte roteiro:

a) Sistema de eletrificação rural existente em Goiás.

b) Informações sócio-econômicas dos municípios visitados.

c) Informações sócio-econômicas das propriedades visitadas.

d) Informações técnicas sobre a distribuição e uso da energia elétrica nas propriedades visitadas

e) Análise de alguns casos.

As informações relativas aos itens a e b foram obtidas em CELG (1997) e SILVA (1996), respectivamente. Já os dados relativos aos itens c, d e e, foram obtidos mediante visitas às propriedades e aplicação de questionários.

ESCOLHA DOS MUNICÍPIOS E DAS PROPRIEDADES

Os três municípios (Goiânia, Trindade e Varjão) e as três propriedades (Estância Rosa Helena, e Fazendas Santa Maria e Salôbro de Cima), foram escolhidos levando-se em consideração seu fácil acesso e proximidade ao município de Goiânia. Todavia, procurou-se eleger um conjunto de três propriedades que possuíssem graus de utilização de energia elétrica diferenciados, fornecendo, assim, uma maior diversidade de informações.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

SISTEMA DE ELETRIFICAÇÃO RURAL EXISTENTE EM GOIÁS

O sistema de eletrificação rural do Estado de Goiás possui as seguintes características de fornecimento (CELG, 1997):

- tensões nominais de atendimento:

- 13,8 e 34,5 kV para sistema trifásico;

- 7,96 e 19,91 kV para sistema monofásico.

- tensões secundárias para transformador particular:

- 440/220 V para transformador monofásico

- 380/220 V para transformador trifásico1

- 220/127 V para transformador trifásico

- limites de fornecimento:

O fornecimento é efetuado em tensão primária de distribuição se a demanda contratada ou estimada pela CELG for inferior ou igual a 2.500 kW. Os fornecimentos monofásicos são limitados a uma potência de transformação máxima de 37,5 kVA. Potências superiores a esse limite podem ser atendidas em tensão primária de distribuição, em caráter excepcional, a critério da CELG, desde que seja definida a viabilidade deste atendimento com base em estudo técnico-econômico.

INFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS DOS MUNICÍPIOS VISITADOS (SILVA, 1996).

Trindade

- Distância de Goiânia: 18 km.

- População estimada: 68.000 habitantes

- Base econômica: produção industrial. Abriga mais de 200 indústrias, com destaque para produtos minerais não metálicos, metalúrgica, mobiliário, couros e produtos similares, química, vestiário, calçados e artefatos de tecidos, produtos alimentícios, editorial, gráfica dentre outras. A indústria representa 62,3% da geração de receitas do município. Possui valorizadas fazendas, predominando a média propriedade.

Varjão

- Distância de Goiânia: 64 km.

- População estimada: 3.500 habitantes.

- Base econômica: produção agropecuária. A agricultura produz milho, soja e arroz em grande quantidade e a pecuária, gados de leite e corte. A indústria é representada por uma fábrica de queijo e uma olaria.

Goiânia

- População estimada: 1,2 milhão de habitantes.

- Base econômica: prestação de serviços, comércio em geral, indústrias, etc. Possui poucas propriedades rurais e em relação às existentes predominam as pequenas propriedades de onde se exploram produtos hortifrutigranjeiros e a pecuária leiteira.

INFORMAÇÕES SÓCIO-ECONÔMICAS DAS PROPRIEDADES VISITADAS

Fazenda Santa Maria (Trindade-GO)

- Área: 1.149,29 ha.

- Proprietário: Antônio de Holanda Cavalcante. Engenheiro (ITA, 1958) aposentado.

- Atividade(s) principal(is): pecuária de corte (1.500 cabeças de gado nelore em regime de semi-confinamento)

- Generalidades: a fazenda é dividida em três áreas (pastos), subdivididas em áreas menores (piquetes), aonde se faz o uso de cercas eletrificadas, contribuindo para a melhoria do manejo das pastagens e do gado. Todos os pastos estão eletrificados e servidos por três aparelhos eletrificadores localizados em um abrigo próximo à sede. Os eletrificadores estão ligados à rede de energia elétrica local.

Fazenda Salôbro de Cima (Varjão-GO)

- Área: 30 ha.

- Proprietário: Celso Ramos Bonfim. Engenheiro eletricista (UFG, 1977).

- Atividade(s) principal(is): são exploradas as atividades leiteira (40 cabeças de gado cruzado), viveiro de mudas de espécies frutíferas, produção de húmus de minhoca, e lavoura de milho verde (2 ha), e uma pequena produção de sabão "em quadro".

- Generalidades: a propriedade possui pastos subdivididos em seis piquetes de dois hectares cada um. São utilizadas cercas eletrificadas, servidas por três aparelhos eletrificadores alimentados por um sistema híbrido de bateria e energia solar.

Estância Rosa Helena (Goiânia-GO)

- Área: 100 ha.

- Proprietário: José Albertoni. Engenheiro Agrônomo (USP/ESALQ, 1967).

- Atividade(s) principal(is): horticultura, fruticultura e pecuária de leite.

- Generalidades: a propriedade possui duas represas que abastecem um pomar de frutíferas (citros, abacate e manga), e uma horta. A exploração leiteira é a principal atividade desta estância, com um rebanho de 50 vacas holandesas.

DISTRIBUIÇÃO E USO DE ENERGIA ELÉTRICA NAS PROPRIEDADES VISITADAS

Fazenda Santa Maria (Trindade-GO)

O fornecimento de energia elétrica é feito por uma cooperativa em Trindade, que tem concessão da CELG para efetuar esse serviço.

A propriedade é servida por dois transformadores, sendo um trifásico (35 kVA) e outro monofásico (10 kVA) com tensões de distribuição de 13,8 kV e 7,97 kV, respectivamente. A tensão de utilização é de 220 volts (fase-neutro) para o monofásico e 220 e 380 volts para o trifásico.

A Faz. Santa Maria possui basicamente dois centros de carga. O primeiro que é atendido pelo transformador trifásico, corresponde à sede e instalações adjacentes, à uma pequena escola, ao abrigo para os eletrificadores de cerca, à uma casa de empregado, e à um galpão para fabricação de ração. O segundo centro de carga que é atendido pelo transformador monofásico, refere-se às instalações de manejo do gado (currais) e uma casa do empregado encarregado desse setor.

O transformador trifásico, além do consumo domiciliar, atende também três motores, sendo dois no galpão para fabricação de ração (um de 10 cv de potência para acionar um triturador e outro de 5 cv para acionar um moinho de ração, ambos trifásicos). O outro motor fica próximo à sede e atende um misturador de micronutrientes. De fabricação do próprio Sr. Antônio de Holanda essa máquina possui um motor de ¾ de cv ligado diretamente à rede.

Existe um grande cuidado com a utilização da energia elétrica, sendo a qualidade das instalações elétricas adequada, principalmente nos sistemas de acionamento e proteção dos motores da fábrica de ração e também nas instalações do sistema de cerca eletrificada.

Todas as modificações nos projetos elétricos passam pela apreciação e/ou elaboração por parte do proprietário, como pode ser observado no sistema de controle dos eletrificadores de cerca.

Os empregados que lidam com os equipamentos elétricos são instruídos pelo próprio Sr. Antônio, a fim de se trabalhar com uma maior segurança.

De acordo com o proprietário, o consumo médio mensal de energia elétrica está em torno de 600 kW, sendo observado uma grande preocupação de sua parte em relação ao uso racional de energia, haja vista que até a iluminação noturna externa das dependências próximas à sede é dispensada.

Fazenda Salôbro de Cima (Varjão-GO)

O fornecimento de energia elétrica é feito diretamente pela CELG, sendo a energia utilizada monofásica. A tensão de distribuição é de 7,97 kV e o transformador possui uma potência de 10 kVA com uma tensão de utilização de 220 volts (fase-neutro) e 380 volts (fase-fase). As cargas elétricas se resumem à casa sede, à uma casa de empregado, à uma oficina e a um conjunto motobomba de 5cv (monofásico) que atende o sistema de irrigação da lavoura de milho verde.

O transformador se encontra localizado de modo a atender da melhor forma os pontos de maior consumo de energia, ficando bem evidente sua locação no centro de cargas da propriedade. Todavia, vale ressaltar que a carga de maior consumo, conjunto motobomba, está bem mais afastada do transformador que as outras cargas, contudo, como seu uso se restringe somente a poucos períodos do ano, sua localização não compromete a determinação do centro de cargas. A oficina possui vários equipamentos, dentre eles esmeril, solda elétrica, furadeira, etc., sendo todos ligados diretamente à rede de energia. De acordo com o proprietário o consumo médio de energia é de 400 kW.

Estância Rosa Helena (Goiânia-GO)

Por fazer divisa com o município de Trindade o fornecimento de energia elétrica é executado por uma cooperativa desse município. A energia elétrica da estância é monofásica com um transformador de 15 kVA, sendo a tensão de distribuição de 7,97 kV e as de utilização de 220 volts (fase-neutro) e 440 volts (fase-fase).

As cargas elétricas da propriedade estão distribuídas em duas áreas separadas pelas duas represas. Na primeira existem uma casa sede, uma casa de empregado, e dois abrigos (na margem das represas) contendo cada um uma tomada de água feita por um conjunto motobomba para atender a horta e o pomar. Na outra área (do outro lado das represas), existem um retiro contendo as instalações pertinentes à exploração leiteira (curral, silos trincheira, galpão) e a casa do gerente. No curral há um motor de 3 cv que aciona um esguichador de água responsável pela lavagem das instalações zootécnicas.

Os dois conjuntos motobomba mencionados possuem motores de 12 ½ cv (com alimentação de 440 volts em fase-fase) e 5 cv (com alimentação de 220 volts em fase-neutro), sendo que o primeiro atende a irrigação do pomar e o segundo a da horta.

Sendo o gerente da propriedade o responsável pela manutenção e operação das instalações elétricas, o Sr. Albertoni providenciou o seu treinamento com vistas ao melhor manejo das instalações elétricas, principalmente dos motores, e ao uso racional da energia elétrica.

De acordo com o gerente da propriedade o consumo médio de energia dessa propriedade é de 300 kW.

ANÁLISE DE ALGUNS CASOS

Fazenda Santa Maria (Trindade-GO)

Nesta propriedade merecem destaques as instalações elétricas pertinentes ao sistema de cercas eletrificadas e as instalações relativas aos motores elétricos.

O sistema de controle das cercas eletrificadas (Figura 3) é constituído pelos dois eletrificadores, uma bancada de aço e um estabilizador de voltagem. A alimentação é feita com a própria energia da rede, sendo que após passar pelo estabilizador, essa chega aos aparelhos eletrificadores por tomadas (em número de três). Dos eletrificadores partem os fios conduzindo corrente elétrica pulsante com tensão em torno de 8.000 volts. De cada eletrificador sai um fio eletrificado e outro terra. Segundo o proprietário, a princípio existiam três aparelhos (daí a bancada possuir três tomadas), mas como um foi danificado, um dos restantes eletrifica duas áreas simultamentamente.

 

 

Do abrigo contendo os eletrificadores, os fios energizados (com seus respectivos fios terra) partem em direção a um poste e daí seguem para as áreas a serem eletrificadas (Figura 4). Neste local os fios terra são aterrados. Próximo ao poste cada fio energizado é enrolado de forma a constituir uma espécie de bobina formando uma "resistência indutiva" contra possíveis sobrecargas elétricas.

 

 

Esse sistema de bobina, pode ser visualizado na Figura 5 (indicado por uma seta), onde também pode ser observado o fio energizado chegando a um poste de sustentação e conduzido até um disjuntor de cinco ampères (localizado no meio do poste), sendo daí conduzido à cerca para eletrificá-la. As cercas possuem três fios, o do meio é o neutro e os demais são os energizados.

 

 

A Figura 6 mostra uma solução encontrada pelo proprietário a fim de melhor manejar as cercas nas derivações de um piquete para outro. Ao centro vê-se uma estaca com uma tomada (constantemente ligada à cerca eletrificada) e um "plug" cujo fio chega enterrado partindo-se de uma outra cerca (ao fundo no lado esquerdo). Quando se quer eletrificar essa cerca, conecta-se o "plug" na tomada, recebendo assim a energia proveniente da rede.

 

 

Outras situações levantadas que merecem atenção são as instalações pertinentes aos motores elétricos. Na Figura 7 observa-se o motor de 10 cv (do triturador) que é alimentado com uma corrente de 30 ampères numa tensão de 380 volts e acionado por uma chave compensadora (estrela-triângulo).

 

 

Ao se dar a partida nesse motor a chave é ligada em estrela, chegando à intensidade de corrente elétrica de 80 ampères. Nesse instante é feita a reversão (manual) da chave para a posição de ligação em triângulo, o que promove o abaixamento da corrente para o valor de 30 ampères relativo à corrente nominal de funcionamento do motor. O controle dos valores da corrente elétrica é feito através da leitura de um amperímetro que fica instalado junto à chave compensadora. Mais acima da chave se encontram três lâmpadas (canto superior esquerdo da Figura 7) ligadas cada uma a uma das três fases de alimentação provenientes da rede. Ao ligar o motor essas lâmpadas devem acender, revelando assim, que as três fases estão funcionando.

Na Figura 8 observa-se um moinho acionado por um motor de 5 cv alimentado por uma corrente elétrica de 20 ampères e uma tensão de 380 volts. Observa-se, também o sistema de partida executado através de uma chave magnética de partida direta.

 

 

Fazenda Salôbro de Cima (Varjão-GO)

Nesta propriedade merece destaque o sistema de eletrificação de cercas aonde podem ser observadas algumas situações interessantes, como o faiscador de descargas construído pelo proprietário.

Funcionando à energia solar e à bateria, os aparelhos eletrificadores energizam seis piquetes de dois hectares cada um (Figura 9).

 

 

Existem dois tipos de cercas nessa propriedade, uma construída com um fio e outra com três, nessa última o fio do meio é o neutro e os demais são os energizados. Independente da quantidade de fios, as cercas possuem uma estaca a cada 12 metros. As de três fios possuem a cada 100 metros um aterramento que é feito a partir do fio neutro. Nas cercas de um fio como não existe o neutro, a proteção contra sobrecargas elétricas é feita por um faiscador de descargas (Figura 10) colocado a cada 100 metros.

 

 

O faiscador de descargas é construído sobre uma peça de acrílico e apresenta duas chapas de metal pontiagudas separadas por 5 mm, formando um espaço vazio. A sobrecarga elétrica ao percorrer a cerca "procura" o local mais próximo para se dissipar. Ao encontrar a derivação que leva ao faiscador, a sobrecarga desvia para este caminho e através do "poder das pontas" ela "salta" de uma chapa para outra e se dissipa no solo. Portanto, o princípio de funcionamento de um faiscador se baseia no poder que as extremidades pontiagudas de metais possuem de concentrar eletricidade e na simulação de um dielétrico que o ar (espaço entre as chapas metálicas) promove.

Outra situação observada foi a relativa às instalações elétricas do conjunto motobomba destinado à irrigação da lavoura de milho verde. O motor possui 5 cv e é alimentado por uma corrente de 12 ampères numa tensão de 380 volts (fase-fase). A tomada de água é feita numa pequena represa, sendo que não há nenhum abrigo para a proteção do conjunto. Na época da visita este estava desinstalado devido à falta de um abrigo contra chuva (Figura 11). O acionamento desse motor é feito por uma chave magnética de partida direta, e sua proteção é executada por um disjuntor de 20 ampères localizado no quadro de comando junto ao poste do transformador. Na Figura 12 podem ser observados o local de instalação do conjunto motobomba (base cimentada no canto inferior esquerdo), o poste trazendo os dois fios fases da rede, e a chave de partida.

 

 

 

Os fios que alimentam o conjunto motobomba são de 6,0 mm2. Segundo o proprietário poderia ser utilizado uma bitola de fio de 4,0 mm2, economizando no dimensionamento, contudo o Sr. Celso explicou que a represa em determinadas épocas do ano corre o risco de não conseguir atender a vazão necessária para a irrigação. Deste modo, a solução seria transferir a tomada de água para um córrego logo abaixo (100 metros). Devido ao aumento da distância há um aumento na queda de tensão na fiação, justificando assim, uma maior bitola de fio.

Estância Rosa Helena (Goiânia-GO)

As situações de interesse didático observadas nesta propriedade foram as relativas às instalações elétricas de dois motores, incluindo os seus respectivos sistemas de acionamento e proteção.

Os motores fazem parte de dois conjuntos motobomba utilizados nas irrigações de um pomar e de uma horta, existindo duas represas na propriedade, sendo que cada uma atende a um conjunto motobomba. Esses motores possuem uma potência de 12 ½ e 5 cv.

O motor de 12 ½ cv atende à irrigação do pomar e é alimentado por uma intensidade de corrente elétrica de 29 ampères em uma tensão de 440 volts. Está instalado sob um abrigo de alvenaria (Figura 13).

 

 

Devido a relação entre as correntes de partida e a nominal ser elevada (Ip/In = 6,5) no seu sistema de acionamento é utilizada uma chave compensadora estrela-triângulo. O acionamento é executado em dois estágios. No primeiro o motor é acionado com a chave na posição correspondente à ligação em estrela. Por conseqüência, o motor demanda 1/3 de sua potência e corrente elétrica se estivesse ligado em triângulo, amenizando assim a alta demanda de corrente na partida. No segundo estágio a chave é colocada na posição correspondente à ligação em triângulo no momento em que a rotação nominal (de funcionamento normal) do motor é atingida.

A Figura 14 mostra o conjunto motobomba de 5 cv. Este atende a irrigação da horta, sendo alimentado por uma corrente elétrica de 23 ampères em uma tensão de 220 volts. Seu acionamento se dá por uma chave de partida direta apesar desse motor possuir uma alta corrente de partida com uma relação Ip/In igual a 7,9.

 

 

O sistema de proteção desses dois motores é feito através de um disjuntor de 60 ampères localizado dentro da caixa do medidor junto ao poste do transformador (Figura 15).

 

 

CONCLUSÕES

Fica evidente em todas as propriedades visitadas, resguardadas suas particularidades, que há um aproveitamento expressivo da energia elétrica, seja para fins domiciliares ou como insumo a ser agregado ao processo produtivo.

Além da utilização de motores elétricos para diversos fins, tais como bombeamento de água para irrigação, fabricação de ração (através de trituradores e moinhos), percebeu-se um significativo uso da energia elétrica na energização de cercas. Ressaltasse o uso tanto da energia proveniente da rede de distribuição como também provenientes de energias alternativas, como a solar por exemplo.

Ao que parece o produtor rural já se familiarizou com a eletricidade, sendo comum perceber agricultores regionais lidarem com ela, e depois de algum tempo, conversarem e discutirem problemas de potências de motores, de voltagens, amperagens, etc., até com bastante precisão, o que demonstra uma melhoria e relativa ampliação de conhecimentos.

Assim como a água, a energia elétrica é imprescindível à vida do produtor rural e este já começa entender sua importância tanto para seu conforto como também como importante insumo ao processo produtivo.

 

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] RIBEIRO, F.S. A eletrificação rural ao alcance de todos. In: SERAPHIM, O.J. (ed) – Tecnologia e Aplicação Racional de Energia Elétrica e de Fontes Renováveis na Agricultura. Campina Grande: UFPB/SBEA, 1997. cap. 1, p. 1-29.

[2] RIBEIRO, F.S. Estado de São Paulo: energia para o meio rural. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, 25, 1996, Bauru. Resumos... Bauru: SBEA, 1996. p. 562.

[3] CELG. Indicadores Econômicos – Séries Estatísticas Básicas. Economia e Desenvolvimento: Conjuntura Sócio Econômica de Goiás. Governo de Goiás. Goiânia, ano I, n.1 p.1-39, out/dez, 1999.

[4] CELG. NTD – 07. Critérios de Projetos de Redes de Distribuição Rural. Goiânia, CELG, dezembro. 1997.

[5] SILVA, A. M. Dossiê de Goiás: um perfil do Estado e seus municípios. Master Publicidade. Goiânia, 1996, 680p.

 

 

1 Embora existam propriedades servidas com tensões secundárias de 380/220V para transformador monofásico.