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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005

 

O rap brasileiro e os Racionais MC's

 

 

Arnaldo Daraya Contier

Professor Titular de História Contemporânea da Universidade de São Paulo e Professor Titular de História da Cultura da Universidade Mackenzie

 

 


RESUMO

Trata-se de um breve estudo sobre o rap, estilo musical do movimento hip hop. As letras do rap traduzem uma ideologia de autovalorização da juventude negra dos bairros periféricos dos grandes centros urbanos, que denunciam a violência, a exclusão social, o racismo.

Palavras chave: rap,hip hop, Racionais MC 's, exclusão social


ABSTRACT

This article is about rap which is musical style of hip hop.The song 'srap show how violence, social exclusion and racism can affect blaks youngs in the big cities.

Key-words: rap, hip hop, Racionais MC 's, social exclusion


 

 

"A música é uma arma. Se ela tem esse poder de
de mover o sistema, tem também o poder de elucidar." ( Milton Sales)

 

O movimento hip hop

O hip hop representa um conjunto de manifestações artísticas que engloba o rap(estilo musical) caracterizado pela apresentação de músicas em bailes e shows envolvendo um Dj(1) e um Mc(2); o break, um tipo de dança e o grafite, uma forma de expressão plástica.Esse movimento cultural é definido pelos hip hoppers como uma cultura de rua Ele surgiu nos guetos de Nova Iorque(no bairro do Bronx,em especial) e envolvia um Dj e um Mc. Essas duas figuras entrosavam harmonicamente, os sons oriundos da máquina e da voz.O DJ re-elaborava esses sons nas Pick-ups e o MC improvisava os seus cantos sobre essas estruturas harmônicas re-inventadas pelo DJ.Num primeiro momento, o MC cantava frases e refrões baseando-se nas improvisações do DJ.Nesta fase da História do rap, o MC não entoava um rap na sua totalidade, apenas algumas de suas partes.Em sua essência esses trechos improvisados serviam para agitar a festa, onde todos os participantes cantavam os refrões e frases.Paulatinamente os DJs foram criando estilos de discotecagem: scratches(3), mixagens, cortes e back to back..Na realidade, os atritos entre a agulha e o sulco do toca disco transfigurou-se num ritmo de natureza percurssiva.

Essa técnica possibilitava alongar por tempo ilimitado a duração da parte instrumental, favorecendo um prolongamento do canto emitido pelos MCs.Essas festas aglutinavam centenas de jovens,em sua maioria de origem negra, que através de seus cantos protestavam contra a Guerra do Vietnã representada por meio de danças que simulavam os movimentos dos feridos de guerra, como por exemplo, o giro de cabeça, no qual o dançarino ficava com a cabeça no chão, e com as pernas para cima, procurando girar o corpo. O movimento das pernas no giro da cabeça alude às hélices dos helicópteros, muito utilizados nessa guerra;desemprego; o preconceito racial.O movimento hip hop que se definia pela aglutinação de quatro elementos artísticos: o break, o rap,, o grafite e o Dj e o Mc era praticado pelos hip hoppers que possuíam características próprias em suas maneiras de vestir, de falar, de cantar, de dançar e desenhar as suas mensagens artísticas nos muros das cidades.Em geral, usavam agasalhos grandes e largos imitando os times de basquete norte-americano, calças largas, lenços, bonés ou boinas na cabeça, correntes grossas no pescoço e no braço.

No Brasil, o Hip Hop chegou nos inícios da década de 80, através do break(dança) ,paradoxalmente trazido por agentes sociais pertencentes às camadas sociais mais ricas da sociedade.Alguns brasileiros que viajavam para o exterior ao retornarem para o Brasil introduziram o break nas danceterias dos chamados bairros nobres de São Paulo. Essa dança logo tornou-se num forte modismo entre os jovens de classe média. Nelson Triunfo começou a freqüentar a discoteca Fantasy , no bairro de Moema, onde se apresentava com o seu conjunto de soul Funk & Cia..Após ter freqüentado o Fantasy, durante aproximadamente um ano, N. Triunfo levou o break e o hip hop para o seu local da origem: a rua.Nesse momento, os simpatizantes dessa manifestação cultural, ainda não conseguiam explicar o movimento hip hop. Em sua essência, o hip hop, nesta fase representava simplesmente a dança.O break era visto como uma dança robótica e o rap ainda não era conhecido com essa denominação.O b.boy(4) Moisés, presidente do grupo Jabaquara Breakers chamava esse gênero musical de "toast"(5).

Posteriormente, o break conquistou as ruas e as camadas dos excluídos sociais da cidade de São Paulo através da formação de grupos de baile, que se reuniam, num primeiro momento, na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal, e num segundo, as proximidades das galerias de lojas de discos da 24 de maio, esquina com a Dom José de Barros

Os iniciadores desse movimento foram Nelson Triunfo, Thaide & DJ Hum, MC/DJ Jack, Os Metralhas, Racionais MC's, Os Jabaquara Breakers, Os Gêmeos, entre outros. Devido à perseguição policial e às reclamações dos lojistas que admitiam que essas aglomerações favoreciam roubos e furtos, esses grupos da 24 de maio passaram a se fixar no largo São Bento. Numa determinada fase desse movimento, houve uma divisão entre os breakers e os rappers, os primeiros continuaram no largo São Bento e a outra facção dirigiriu-se para a Praça Roosevelt.A cisão entre o largo São Bento e a praça Roosevelt foi fundamental para essa prática cultural, pois, a partir desse momento os excluídos sociais(Office boys, por exemplo)identificaram-se com o verdadeiro conceito de rap, num espaço geográfico diferenciado..Assim, o Rap tornou-se um gênero musical com uma certa autonomia em face do break. Muitos grupos musicais surgiram a partir dos fins dos anos 80.Em 1988 foi lançado o primeiro registro fonográfico de Rap brasileiro através da coletânea "Hip-Hop Cultura de Rua" pela gravadora Eldorado. Desse disco participaram Thaide & DJ Hum, MCDJ Jack, Código 13, entre outros grupos.

Sob a gestão de uma prefeitura petista, que muito auxiliou a cultura hip hop como um dos eixos de sua política cultural , favoreceu a formação de muitos grupos..Em agosto de 1989, foi criado o MH2OSP(Movimento Hip Hop Organizado), por iniciativa de Milton Salles, sócio do grupo Racionais MC 's (até 1995). O MH2OSP organizou esse movimento no Brasil, definindo as posses(6), as gangues e as suas respectivas atribuições.E, fundamentalmente, estruturou e organizou grupos de rap oriundos de facções que dançavam o break. Agora, o objetivo do movimernto hip hop, tendo o rap como o ponto nodal incidia em transformar o MH2O num movimento de música de protesto e de combate social..A partir dessa temática básica que motivou a formação do grupo Racionais MC 's.

Para Elaine Nunes de Andrade o hip hop no Brasil define-se como um movimento que se traduz numa determinada forma de organização política, social, cultural da juventude negra(7).

Esse movimento caracteriza-se pela exclusão social do negro e pela ideologia inspirada na auto-valorização de suas origens africanas, negando a violência e a marginalidade, conforme os ideais dos Racionais MC 's.

As Autoras do livro "HIP HOP a periferia grita" não apresentaram uma definição sobre o hip hop, evitando reproduzir discursos oficiais sobre a chamada ideologia desse movimento:"... constatamos que, se a idéia de movimento social é pertinente para descrever atividades de equipes como os Jabaquara Breakers, ela não se aplica, por exemplo, a muitos grupos de rap, gênero musical que disputa um naco do mercado fonográfico tanto quanto qualquer outro estilo.Em nossa reportagem, quando fomos a campo conhecer os manos que ouvem rap e circulam entre quatro paredes grafitadas, também descobrimos o quanto é conflitante para um jovem de periferia abraçar o discurso 'consciente', pacifista,antidrogas do hip hop e viver em situações concretas de extrema violência policial, de convivência com traficantes e de puro e simples desespero existencial(...) Por enquanto , queremos mostrar que mais que um modismo, que um jeito esquisito de se vestir e falar, mais que apenas um estilo de música, o hip hop, com um alcance global e já massivo, é uma nação que congrega excluídos do mundo inteiro"(8)

O Grupo Racionais MC 's , sob a influência, de Milton Salles admitia que a música é uma arma e está em todos os lugares. Se ela tem esse poder de mover esse sistema, ela tem também o poder de elucidar.Salles admitia que havia trazido essa proposta política para o rap.

Esse ideal do rap politizado foi apresentado oficialmente no dia 25 de janeiro de 1988 num show apresentado no Parque Ibirapuera. E, assim, diversos grupos envolvidos com o hip hop passaram a se apresentar nas praças, entre outros locais públicos, da cidade de São Paulo.

O MH2O induziu a formação das posses no momento em que o hip hop apresentava características de matizes fortemente políticos e sociais.Durante a apresentação da música rap muitos problemas sobre a situação do negro na sociedade brasileira eram debatidos, pois, almejava-se- resgatar a auto-estima no sentido de cada um assumir a sua negritude e o orgulho de suas "raízes" culturais originárias da África.

O Sindicato Negro foi a primeira posse surgida no Brasil. Localizava-se na Praça Roosevelt, em São Paulo. Foi a primeira tentativa do movimento negro organizar-se sob o ponto de vista político..Congregava 200(duzentas) pessoas, aproximadamente. Devido a esse grande número de participantes afloraram muitas discordâncias entre os seus dirigentes e, os lojistas aliados aos policiais desmantelaram esse agrupamento visto como um foco de subversão e de formação de quadrilha organizada ligada ao roubo e ao crime.

No início dos anos 90, surgiram as primeiras posses nos bairros periféricos da cidade de São Paulo,Os simpatizantes do Sindicato Negro e os debates internos sobre os direitos do jovem excluído da sociedade favoreceram a formação da Aliança Negra, na Cidade Tiradentes: "Morando em partes diferentes da Cidade Tiradentes, Franilson e Cláudio tinham em comum a vontade de fazer um trabalho em prol do bairro e buscar uma maior qualidade de vida para os seus moradores.Queriam amenizar os principais problemas da região, como a discriminação social e o racismo.O surgimento da posse Aliança Negra foi o começo para a realização desse objetivo"(9)

De acordo com José Carlos Gomes da Silva "...as posses são associações locais de grupos de jovens rappers que têm como objetivo reelaborar a realidade conflitiva das ruas nos termos da cultura e do lazer"(10)

Os partidários da posse Aliança Negra reuniram-se na Escola Municipal Dr. José Augusto César Salgado , com a anuência da diretora.O movimento foi crescendo e o grupo de rappers conseguiu gravar uma coletânea sob o patrocínio do selo Cash Box, recebendo o título de "Aliança Negra" (Som nos pratos).Com o término da gestão de Luiza Erundina, a direção da escola não permitiu novos encontros, e os integrantes começaram a se dispersar: "...os principais engajados na posse se reencontraram em 1998 e a vontade de continuar os trabalhos ressurgiu.As reuniões da posse voltaram a ser feitas no quarto de cima da garagem da casa de Cláudio e também durante alguns eventos na escola, depois da troca da direção. Hoje, apesar de ter menos integrantes , a posse faz um trabalho mais organizado .O primeiro projeto, a campanha 'jovem no farol', foi realizado em maio de 1998.Teve como objetivo chamar a atenção e esclarecer jovens e interessados sobre a questão das doenças sexualmente transmissíveis(DSTs) como a Aids.(...)Em comemoração aos seus nove anos de existência, realizaram uma campanha para arrecadar alimentos e agasalhos" (julho,1999)(11)

Essa posse da Cidade Tiradentes desenvolve oficinas para formar DJs, MCs, breakers e grafiteiros.. Em 2000, a Aliança Negra foi reconhecida como uma organização não-governamental.Essa ONG enfrenta muitos obstáculos para desenvolver os seus projetos. Apesar do bairro possuir uma população de 300.000 pessoas, não tem nenhuma representação política em instituições governamentais. Sem representação política que pudesse negociar benefícios para a comunidade, sem sede própria, os seus idealizadores não perderam a esperança elegendo o movimento hip hop como o seu principal alvo de transformação social e cultural da comunidade: "O hip hop não é de esquerda nem de direita.É cultura e ação" afirma um de um de seus líderes: Franilson.

Com a consolidação da "Aliança Negra" e "Conceitos de Rua" (com sede no Capão Redondo) surgiram na periferia da cidade de São Paulo dezenas de posses que foram ampliando o movimento hip hop através de protestos políticos, festas de ruas e diversos eventos artísticos. "Em torno dessas festas reúnem-se os grupos de rap locais e convidados com o objetivo de se apropriar das ruas com atividades voltadas para a cultura, o lazer e as ações antiviolência"(12)

 

O rap

Com a adesão da juventude negra ao rap, a indústria fonográfica cresceu com extrema rapidez.O grande número de movimentos de hip hop em São Paulo e no Brasil nos últimos anos resultou numa descentralização de propostas e de temáticas de suas músicas. Alguns negaram penetrar no mundo da mídia, em especial, a televisão como os Racionais MC 's, que até o presente momento somente se apresentaram no programa "Ensaio", dirigido por Fernando Faro, na Televisão Cultura de São Paulo(Fundação Padre Anchieta), outros , criaram as suas estações de rádio, como a Favela FM(104,5MHz), situada na favela Nossa Senhora em Belo Horizonte(Minas Gerais), rádio comunitária com a maior audiência do País( no ar há vinte anos), grande divulgadora da cultura hip hop. O Racionais criou os seus próprios estúdios para gravar seus discos, tentando afastar-se da "formatação" mercadológica imposta pela indústria cultural.Devido a problemas de distribuição, assinaram um contrato com a Sony Music para divulgar os seus CDs em todo o Brasil.

Com o incentivo da política cultural, do Partido dos Trabalhadores, muitas Prefeituras, Estados e, agora, o Ministério da Cultura têm patrocinado uma série de eventos, shows de rappers em praças públicas, escolas, entre outros espaços.

Em sua essência, o movimento hip hop não surgiu da mídia. Foi num primeiro momento uma manifestação espontânea de grupos excluídos da sociedade na periferia das grandes cidades e, num segundo, as suas reivindicações políticas, culturais, presentes em suas músicas começam a se inserir nos grandes espaços da mídia, do mundo do disco, do cinema, do teatro, de série televisivas através de um intenso diálogo entre culturas.Na realidade, as diversas formas do rap(música negra) intimamente associadas a movimentos que procuram identidades culturais próprias calcadas na busca da valorização do negro na sociedade de classes historicamente não estão desvinculadas do mercado e da indústria cultural. Entretanto, a partir de depoimentos de rappers, os verdadeiros criadores dessa nova cultura, procuram não discutir os temas sobre as possíveis inserções do movimento hip hop no âmbito da indústria cultural, visando preservar, as suas identidades fundamentadas na negritude ou nas suas resistências culturais em face das heranças musicais oriundas de uma tradição sacralizada pela História. Os manos(13) procuram "...ignorar que o rap vende milhões de discos pelo menos desde o estouro de "Walk This Way", do Run DMC, em 1988; que em 2001 o rapper branco norte-americano Eminem foi o principal vencedor do ultra conservador prêmio Grammy e que, não fosse o poder de divulgação dos meios de comunicação de massa, as mensagens, os símbolos e as formas artísticas do hip hop não teriam circulado pelo mundo e, por exemplo, chegado ao Brasil"(14)

O rap, todas as formas do jazz, denotam sempre matizes de resistência cultural em face ao status quo.Para Eric Hobsbawm "... a paixão ou adesão do povo ao jazz não acontecia apenas porque as pessoas gostavam do som, mas por ser uma conquista cultural de uma minoria dentro de uma ortodoxia cultural e social das quais elas tanto diferiam"(15)..O produtor musical Milton Salles, um dos sócios do grupo Racionais MC 's analisa o rap como a representação simbólica de um imaginário oriundo das culturas africanas que dialogaram intensivamente durante séculos com os traços musicais e culturais americanos e europeus, "...ou seja, o rap não é propriedade dos americanos. Tanto a música dos Estados Unidos quanto a do Brasil são a soma de várias coisas do mundo.Você pode falar que ele é pan-africano, porque ele é uma fusão, que vem do reggae, que nasceu com os caras tocando na Jamaica e que ouviam rhythm 'n 'blues de Miami. O som começou a se fundir, veio o ska, o rocksteady, depois o reggae.O scratch, por exemplo, surgiu antes na Jamaica"(16)

Os rappers procuram ignorar a indústria cultural visando preservar a "pureza" de suas reivindicações político-social e culturais do movimento hip hop, mas, nas realidade, a música rap, ponto nodal, dessas reivindicações, gira em torno de sistemas satélites da circulação de produtos culturais veiculados pelas empresas capitalistas.O acordo dos Racionais MC 's com a Sony Music,visando distribuir os seus discos no mercado , exemplifica esse dilema. Historicamente, o rap surgiu contra os mecanismos da indústria cultural "...sem notar que está utilizando essa denominação como sinônimo de meios de comunicação de massa(...) Em nenhum momento, no contexto em que ele surgiu, a mídia esteve aberta.O movimento hip hop teve de disputar um espaço, uma abertura da mídia e conquistá-la.Na verdade, é um processo de disputa com a própria mídia, não é nem de conquista"(17)

Entretanto, a mídia tem veiculado mensagens que se identificam com amplos segmentos da sociedade civil interessados na busca de sua identidade e na transformação de uma nova consciência de cidadania.O ritmo do rap implica numa escuta atrelada a um gesto de recusa dos padrões culturais convencionais.As letras dessas canções denotam denúncias de questões de matizes étnicos e sociais.

As letras do rap abrangem uma gama muito rica de temas sociais, tais como:1) a fome: "crianças, gatos, cachorros disputam palmo a palmo/seu café da manhã na lateral da feira"(18);2)a miséria: "Tanto dinheiro desperdiçado/e não pensam no sofrimento de um menor abandonado/ O mundo está cheio, cheio de miséria,/Isto que está próximo o fim de mais uma era/(19); 3) o desemprego: "Eu vejo rico que teme perder a fortuna,/enquanto o mano desempregado, viciado se afunda"(20);4) o sem teto: "Equilibrado num barranco imundo, mal acabado e sujo, porém seu único lar, seu bem e seu refúgio"/(21)(22)

O rap caracteriza-se pela re-invenção do cotidiano através da oralidade de pessoas comuns que denunciam em suas canções problemas graves vivenciados nas situações sociais extremamente adversas e totalmente negligenciadas pelos Donos do Poder .Os rappers narram com as suas próprias vozes e olhares o cotidiano das cidades contemporâneas transfigurando-se em instigantes cronistas e críticos da modernidade.Retratam a periferia de São Paulo num momento de intensa globalização e da formação de uma sociedade marcadamente massificada.As estórias de vida dos autores do rap afloram, com nitidez, em suas letras: miséria, desemprego, violência social ,policial e sexual,o mundo das drogas.Os rappers não são heróis, em seu sentido romântico, mas a coragem de agir e falar sobre problemas da realidade e silenciados da vida cotidiana pela historiografia em suas canções marcadamente ritmadas e repetitivas levam a um novo tipo de inserção social, pois, agora, os despossuídos sociais começam a contar as suas próprias histórias não ajustadas a pensamentos políticos e ideológicos tradicionais, causando um certo "desconforto" entre setores das elites políticas e intelectuais tradicionais.Os rappers representam as novas vozes da cidade de São Paulo, São aqueles que vivem em favelas, barracos, bairros( sem eletricidade, sem saneamento básico,sem asfalto, sem transporte coletivo...) que apresentam em suas canções uma fraseologia específica, com sotaque próprio, seco e anasalado.A criatividade dos rappers fundamenta-se na linguagem comum, em diálogos marcados basicamente pela oralidade.

Os Racionais MC 's apuram os seu ouvidos para cantar as suas canções numa entoação coloquial , base fundamental de seu universo artístico.Discutem a fala do homem comum, captando problemas através da re-invenção dos fatos, como por exemplo, "Diário de um Detento", sobre o massacre do Carandiru, ocorrido, em São Paulo, em 1992.

O primeiro disco de rap foi lançado no Brasil, em 1987, chamado de "A Ousadia do Rap" que fez pouco sucesso.No ano seguinte foi lançada a coletânea "Hip Hop cultura de rua" cuja vendagem atingiu 25.000 cópias. E, assim, o rap conquistou a juventude, em sua maioria negra, dos bairros periféricos da cidade de São Paulo e de outras cidades do País.

Com o lançamento do CD "Sobrevivendo no Inferno", disco independente dos Racionais MC 's , em 1997, o rap tornou-se um gênero musical que atingiu , sob forte impacto, diversos segmentos sociais, tendo vendido l.000.000 de cópias.Outros grupos, durante os anos 90, lançaram seus discos através de selos independentes devido, de um lado, o preconceito desses grupos em face de uma possível interferência ideológica das grandes gravadoras em suas músicas, e de outro, a "desconfiança" das grandes empresas em face um produto considerado não-vendável na área do consumo da música popular brasileira

 

Os Racionais MC 's e o rap

O Racionais MC 's é formado pelos rappers: Mano Brown, Pedro Paulo Soares, Ice Blue, Paulo Eduardo Salvador, Edy Rock, Edivaldo Pereira Alves e Kleber Geraldo Lelis Simões.Inicialmente, esse grupo era constituído por Mano Brown e Ice Blue chamado de B.B.Boys. Residiam na periferia da zona sul da cidade de São Paulo e, posteriormente, juntaram-se a esse grupo a dupla KL Jay e Edy Rock oriundos da zona norte.

As letras dos Racionais são "raivosas". Discutem com rara sensibilidade os mais diversos problemas sociais vivenciados pelos excluídos sociais, sem nenhum sentimentalismo.Resgatam temas sobre o racismo, protesto contra o governo, a violência policial, a guerra entre os traficantes, os jovens consumidores de drogas, a prostituição infantil, entre outros.Num primeiro momento, as suas músicas foram rejeitadas pelas classes médias e altas da sociedade e pelas grandes gravadoras devido as narrativas de suas letras fundamentadas na realidade da vida difícil do negro pobre, de suas críticas ao sistema capitalista e ao racismo, e num segundo,com o lançamento do disco "Holocausto Urbano", esse grupo de rap foi conquistando, aos poucos seus ouvintes de outros segmentos sociais.

Nos inícios dos anos 90 os integrantes desse Grupo trabalharam por toda a Grande São Paulo, em algumas cidades do interior do Estado e receberam alguns prêmios como os de melhor conjunto de rap.Fizeram dois shows na FEBEM e participaram do show do Public Enemy no Ginásio do Ibirapuera.Em 1992, proferiram palestras para alunos e professores da rede de ensino num projeto criado pela Secretaria Municipal de Educação chamado ARAPensando, tendo discutido nessas ocasiões , temas sobre a violência policial,o racismo, a miséria,o tráfico de entorpecentes,os assassinatos de jovens.. Em síntese todos os problemas que afligem o homem pobre que vive o cotidiano da periferia da Cidade.Esse projeto da Secretaria de Educação teve ampla repercussão em jornais, televisão, e em especial, junto aos ouvintes das comunidades onde ocorreram essas palestras.

No final de 1992, os Racionais MC 's lançaram seu segundo álbum chamado "Escolha seu Caminho", com as vigorosas e contundentes faixas "Voz Ativa" e "Negro Limitado". Fortalecendo, assim, a proposta de crítica social e política do grupo. Participaram do projeto "Música Negra em Ação", em 1993, no Teatro das Nações, conjuntamente com outros nomes significativos do mundo do rap: Toninho Crespo ,Thaide e Dj Hum. O sucesso mais significativo do Grupo ocorreu com o lançamento do terceiro disco, intitulado "Raio X do Brasil", cujo lançamento ocorreu na quadra da Escola de Samba "Rosas de Ouro", aglutinando um público estimado em 10.000 pessoas.Em poucos anos, o Grupo foi consolidando sua carreira através de outros lançamentos em discos independentes , onde muitas músicas tais como: "Fim de Semana no Parque" e "Homem na Estrada" tornaram-se verdadeiros hinos nos bailes populares e nas danceterias das camadas médias, e muito executados em diversas emissoras de rádios FM.

Em 1997, lançaram o CD "Sobrevivendo no Inferno", cuja tiragem atingiu a cifra de l.000.000 de cópias.Com esse CD, o Racionais MC 's tornaram-se conhecidos e admirados em todo o Brasil.As faixas desse disco eram tocadas em praticamente todas as emissoras de rádio do país atingindo um público que envolvia todas as classes sociais. A partir desse momento, o diálogo entre as culturas dominantes e dominadas intensificou-se com a consolidação do rap como um gênero musical que saia dos guetos sociais originais.

Apesar do sucesso de "Sobrevivendo no Inferno" o líder do Grupo- Mano Brown- mantinha a sua postura "racional", ou seja,".....nosso verdadeiro público está na periferia, eles nos colocaram no topo, eles é que precisam ouvir o que temos a dizer, não vamos abandoná-los".(23).A dureza das palavras empregadas nas letras dos raps do Grupo denotam uma crítica contundente às classes dominantes e uma exaltação do orgulho racial.

Essa atitude de crítica do Grupo explicita-se numa frase de Mano Brown publicada na Revista ShowBizz: "Eu não sou artista. Artista faz arte, eu faço arma, sou terrorista". Neste caso, a palavra "terrorismo" é empregada no sentido de criticar duramente as mazelas dos políticos, os atos arbitrários da polícia e a futilidade de certos segmentos sociais dominantes.

Caetano Veloso, Gilberto Gil, Eduardo Suplicy, Lobão, o Grupo Cidade Negra admitem que para se compreender o que está acontecendo na vida cotidiana dos excluídos sociais da sociedade brasileira torna-se fundamental ouvir as centenas e centenas de raps cantados pelos Racionais MC 's, entre dezenas de outros grupos que surgiram no Brasil, a partir dos fins dos anos 90.

1."Diário de um detento"

"São Paulo, dia primeiro de outubro de 1992, oito horas da manhã./Aqui estou, mais um dia./Sob o olhar sanguinário do vigia./Você não sabe como é caminhar/com a cabeça na mira de uma HK./Metralhadora alemã ou de Israel./Estraçalha ladrão que nem papel./Na muralha em pé.Mais um cidadão José./Servindo o Estado, um PM bom/Passa fome, metido a Charles Bronson./Ele sabe o que eu desejo, sabe o que eu penso./O dia está chuvoso, o clima tá tenso./Vários tentaram fugir, eu também quero./Mas de um a cem, minha chance é zero./Será que Deus ouviu minha oração? /Será que o juiz aceitou minha apelação?/Manda um recado lá pro meu irmão:/Se tiver usando droga tá ruim na minha mão./Ele ainda tá com aquela mina? Pode crê, o moleque é gente fina./Tirei um dia a menos ou um dia a mais./Sei lá, tanto faz, os dias, são iguais./Acendo um cigarro vejo o dia passar./Mato o tempo pra ele não me matar./Homem é homem, mulher é mulher, estuprador é diferente, né?/Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés./E sangra até morrer na rua 10./Cada detento uma mãe, uma crença./Cada crime uma sentença./Cada sentença um motivo, uma história de lágrima, sangue, vidas e glórias./Abandono, miséria, ódio, sofrimento, desprezo, desilusão, ação do tempo./Misture bem essa química, pronto, fiz um novo detento./Lamentos no corredor, na cela, no pátio, ao redor do campo, em todos os cantos./Mas eu conheço o sistema, meu irmão, aqui não tem santo./Ratatatá, preciso evitar que um safado faça minha mãe chorar./Minha palavra de honra me protege./Pra viver no país das calças bege./Tic-tac, ainda é nove e quarenta./O relógio na cadeia anda em câmera lenta./Ratatatá, mais um metro vai passar/Com gente de bem, apressada, católica./Lendo o jornal, satisfeita,hipócrita./Com raiva por dentro, a caminho do centro./Olhando pra cá, curioso é lógico./Não, não é não.Não é zoológico./Minha vida não tem tanto valor, quanto seu celular, seu computador./Hoje, tá difícil, não saiu o sol./Hoje não tem visita, não tem futebol./Alguns companheiros têm a mente mais fraca/Não suporta o tédio, arruma quiaca./Graças a Deus e à Virgem Maria./Faltam só um ano, três meses e uns dias./Tem cela lá em cima fechada desde terça-feira ninguém abre a porta pra nada./Só o cheiro de morte, pinho sol./Um preso se enforcou com o lençol./Qual que foi? Quem sabe? Não conta./Ia tirar mais uns seis de ponta a ponta./Nada deixa um homem mais doente./Do que o abandono dos parentes./Aí moleque,ma diz então? Ce qué o quê?/A vaga ta lá esperando você./Pega todos os seus artigos importados./Seu currículo no crime e limpa o rabo./A vida bandida é sem futuro./A sua cara fica branca desse lado do muro./Já ouviu de Lúcifer?/Hã, que veio do inferno com moral um dia./No Carandiru não, ele é só, ais um, comendo rango azedo e com pneumonia./Aqui tem mano de Osasco, Jardim D 'Abril, Parelheiros, Mogi, Jardim Brasil,/Bela Vista, Jardim Ângela, Heliópolis, Itapevi,Parisópolis./Ladrão sangue bom, tem moral na quebrada/Mas pro Estado é só um número, mais nada./Nove pavilhões, sete mil homens, que custam trezentos reais por mês cada./Na última visita, neguinho vem aí./Trouxe umas frutas, Marlboro, Free./Ligou que um pilantra lá da área voltou/Com Kadett vermelho, placa de Salvador./Pagando de gatão, ele xinga,/ ele Abusa, com uma 9 milímetros debaixo da blusa./Aí, neguinho vem cá, e os manos onde é que tá?/Lembra desse cururu que tentou me matar?/"Aquele puto é ganso, pilantra como manso./Ficava muito louco e deixava a mina só./A mina era virgem, ainda era menor./Agora faz chupeta em troca de pó"./Esse papo me incomoda./Se eu to na rua é foda./"É um mundo que roda, ele pode vir pra cá"./Não já meu processo ta aí,/eu quero mudar eu quero sair./Se eu trombo esse fulano não tem pá não tem pum . vou ter que assinar o 121./Amanheceu com sol, dois de Outubro./Tudo funcionando, limpeza, jumbo/ De madrugada eu senti um calafrio./Não era do vento, não era do frio./Acerto de conta tem quase todo o dia./Ia ter outro logo mais.Hã eu sabia./Lealdade é o que todo preso tenta./Conseguir a paz de forma violenta./Sem um salafrário sacanear alguém,/leva ponto na cara igual Frankenstein./Fumaça na janela, tem fogo na cela, foi alguém,...se pá, tem refém./A maioria se deixou envolver, por uns cinco ou seis que não tem nada a perder./Dois ladrões considerados passaram a discutir./Mas não imaginavam o que estava por vir./Traficantes, homicidas, estelionatários./Uma maioria de moleque primário./Era a brecha a que o sistema queria./Avise o IMLL, chegou o grande dia./Depende do sim ou não de um só homem./Que prefere ser neutro pelo telefone./Ratatatá caviar e champanhe/Fleury foi almoçar que se foda minha mãe./Cachorros assassinos, gás lacrimogêneo.../Quem mata mais ladrão ganha medalha de prêmio./O ser humano é descartável no Brasil. Como modess usado ou Bombril?/Claro que o sistema não quis./Esconde o que a novela não diz./Ratatatá, sangue jorra como água./De ouvido, da boca e nariz./ O senhor é meu pastor...//perdoe o que o seu filho fez./Morreu de bruços no Salmo 23./Sem padre, sem repórter, sem arma, sem socorro/.Vai pegar HIV na boca do cachorro./Cadáveres no poço, no pátio interno./Adolf Hitler sorri no inferno./O Robocop do governo é frio, não sente pena só ódio e ri como uma hiena./Ratatatá. Fleury e sal gangue vão nadar numa piscina de sangue./Mas quem vai acreditar no meu depoimento?/Dia três de outubro, diário de um detento"

O Carandiru, localizava-se no bairro de Santana e era o maior complexo penitenciário do Brasil.As pessoas que visitavam os presos aos domingos formavam filas na avenida Cruzeiro do Sul e estavam sujeitas a revista feita pelos funcionários do presídio antes de atravessar o portão de entrada:"... as mulheres têm de abaixar as calças e agachar. A brutalidade de normas como estas, constantes no cotidiano de uma vida encarcerada, inspira os detentos a compor o rap"(24)

Mano Brown admitia que a cultura hip hop alastrou-se pelo Carandiru, pois, "...é aqui que você vai me encontrar, junto à realidade". Para escrever "Diário de um detento", Mano Brown inspirou-se num diário escrito por um detento chamado Jocenir, que lhe emprestou alguns de seus versos.Posteriormente, em 200l, "Diário de um detento", de autoria de Jocenir foi publicado pela Labortexto Editorial, atingindo cinco reimpressões.No livro, o "...autor contextualiza as ações, descreve detalhes o inferno em que sobrevive, cadeias cujas celas, chamadas X, com vinte metros quadrados, tem tetos escuros em razão do grande consumo de cigarros e drogas.Os presos estão envoltos em mantas encardidas, dormem sentados ou pendurados em grades, molestados por sarna e piolho, comem comida azeda e têm a fisionomia atormentada, roupas gastas e surradas.São despenteados, desdentados, pálidos, um circo de horrores' ', como bem define o autor"(25)

Esse rap representa um dos momentos mais significativos da história do hip hop no Brasil, pois , Mano Brown inspirando-se numa realidade vivenciada por um detento escreve um texto longo e profundamente realista sobre a vida cotidiana de um presidiário.E, paralelamente, insere a estória num contexto histórico cronologicamente determinado: o dia 2 de outubro de 1992, ou seja, o dia do massacre desencadeado pelas forças policiais do Estado contra os presidiários do Carandiru.

Na leitura do texto, nota-se a presença de rimas: "Aqui estou mais um dia", "Sob o olhar sanguinário dovigia": "Você não sabe como é caminhá": "Com a cabeça na mira de uma HK" e uma narrativa do cotidiano de uma prisão, enfocando tempo, espaço, enredo, personagens e foco narrativo.Discute o início de uma tentativa de fuga. Levanta o problema do preso sempre em busca de uma possível liberdade: "Vários tentaram fugir eu também quero" ..Ou ainda adverte o irmão sobre o consumo de drogas O cotidiano está presente em diversos versos: "Tanto faz os dias são iguais".

Numa determinada passagem, a personagem explicita que tipo de tratamento deve ser dado a um estuprador, defendendo o respeito a ser atribuído à figura da mulher. O desrespeito à mulher de um detento é motivo de vingança, violência física, levando, em alguns casos à morte do estuprador: "Estuprador é diferente, né?"/"Toma soco toda hora, ajoelha e beija os pés"; "E sangra até morrer na rua 10".

Utiliza várias onomatopéias: "Tic,Tac, ainda é 9h40" ou o barulho de metrô que passa próximo ao Carandiru: "Ratatatá mais um metrô vai passar". Como um "flanêur" faz uma série de alusões às regras impostas pelo Poder dentro do presídio: a lei do silêncio: "Um preso se enforcou com o lençol"; "Qual que foi? Quem sabe? Não conta". Numa outra passagem da narrativa indica os nomes dos bairros ou cidades que indicam a origem dos presos: Osasco, Parelheiros, Moji, Jardim Ângela, Parelheiros.

Em alguns diálogos entre os detentos, Mano Brown aponta problemas sobre a droga e a sua influência na vida cotidiana das pessoas, como por exemplo, a prostituição infantil e a sua relação com o tráfico.

Discute o poder de alguns detentos que continuam dentro da prisão a comandar o tráfico de entorpecentes, os assassinatos, os assaltos,que são praticados pelos seus companheiros que continuam em liberdade.

Nesta parte, o narrador começa a descrever, com detalhes a rebelião dos presos "Fumaça na janela, tem fogo na cela"

Em reportagens publicadas em jornais e revistas em outubro de 1992, muitos articulistas narravam as "falas" de alguns presos que admitiam a não ocorrência de nenhuma rebelião, e que o sistema do Complexo do Carandiru inventou uma possível rebelião para justificar o massacre de mais de cem presos.Mano Brown utiliza-se dessa narrativa para descrever uma passagem da música "Era a brecha que o sistema queria". A invasão dos policiais é descrita conforme as "falas" dos detentos: a invasão das tropas com seus cães amestrados e munidos de bombas e armas: a descrição dos feridos, a situação dos presos como seres descartáveis: "Cadáveres no poço, no pátio interno"...

 

Conclusão

No Brasil, atualmente o movimento hip hop( do inglês to hip e to hop: movimentar os quadris e saltar) representa uma ampla manifestação cultural das chamadas periferias dos grandes centros urbanos(São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Brasília), que aglutina diferentes manifestações culturais de matizes contestatórios, sob as perspectivas política, social, artística. Define-se pela luta em prol da auto valorização da juventude negra na sociedade contemporânea, procurando denunciar problemas sobre o uso de drogas, a prostituição infantil, o roubo, o crime, entre outros estigmas.E através do rap pretende transformar essa realidade numa sociedade mais justa, mais democrática.Atualmente pode ser definido como um amplo movimento global e massivo que procura "falar" pelos excluídos sociais.Devido à amplitude do tema e de problemas de alta complexidade( participação de cantoras rappers de grafiteiros produtores de trabalhos reconhecidos pela alta qualidade artística de seus trabalhos pelos críticos e historiadores de artes plásticas dos principais pólos culturais do mundo; participação na mídia de ex-rebeldes como Mc Bill que negavam participar da indústria cultural, entre outros) optamos discutir somente o rap e um Grupo altamente significativo- Os Racionais MC 's - e analisar sucintamente uma de suas mais importantes canções "Diário de um Detento" que sintetiza problemas sobre a narrativa, a oralidade, o cotidiano, a exclusão social e a politização da canção.

 

NOTAS

(1) abreviatura de disc-jóquei. Na execução da música rap, é o agente social que faz os efeitos sonoros da música.
(2) abreviatura de master of ceremony( mestre de cerimônias). Na realidade, são os rappers que cantam, compõem as músicas e animam os bailes.
(3) efeitos sonoros produzidos pelo atrito entre a agulha do toca-discos e o próprio disco.
(4) "b" significa a abreviação de break(dança de solo) e boy significa garoto.O garoto é o dançarino do break. Feminino: b. girl( break-/garota).
(5) estilo jamaicano precursor do rap.
(6)significa a reunião de dois ou mais grupos de rap, formando uma turma para desenvolver ações sociais na sua comunidade.
(7) ANDRADE, Elaine Nunes de.Movimento negro juvenil: um estudo de caso sobre os jovens rappers de São Bernardo do Campo. São Paulo: USP,1996.Dissertação de Mestrado.
(8) ROCHA, Janaina et alii.Hip-Hop-A periferia grita.São Paulo:Editora Fundação Perseu Abramo, 2001,p.19-20.
(9) ROCHA, Janaina.Op.cit.p.56.
(10) SILVA, José Carlos Gomes.Rap na cidade de São Paulo:música, etnicidade e experiência urbana.Campinas:UNICAMP,1998.Tese de Doutorado.
(11) ROCHA,J.Id.p.58-9.
(12) Id. Ib. p.59-60.
(13) aquele que é reconhecido como um igual dentro do movimento hip hop.
(14) ROCHA,J.et alii.Op.cit.p.132-3.
(15) HOBSBAWM, Eric J. História social do jazz.Rio de Janeiro: Paz e Terra,1996.
(16) Apud Janaina Rocha et elii.Op. cit. P.133-4.
(17) SOARES, José Carlos.Op. cit.
(18) Faixa 4 do CD "Raio X do Brasil" do Grupo Racionais MC 's, "Homem na estrada".
(19) Faixa 6 do CD "Holocausto Urbano" do Grupo Racionais MC 's, "Tempos Difíceis".
(20) Faixa 10 do CD "Nada como um dia após o outro dia" do Grupo Racionais MC 'S, "A vida é um desafio"
(21) Faixa 4 do CD do "Raio X do Brasil" do Grupo Racionais MC 's."Homem na estrada"
(22) Consultar: THEODORO, Cinthia Medeiros.Análise do Rap Brasileiro: os Racionais MC 's.São Paulo:Universidade Mackenzie,2002,p,17-8.
(23) site: http://www.culturahiphop.hpg.ig.com.br/racionais.htm,p.1.
(24) ROCHA, J. et elii.Op.cit.p.71.
(25) PAIVA, Marcelo Rubens. Folha de S.Paulo/Ilustrada. 12 maio 2001.In: JOCENIR.Diário de um detento: o livro.2ª.ed.São Paulo:Labortexto Editorial, 2001(Prefácio).