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An. 1 Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2006

 

O perfil do pedagogo para atuação em espaços não-escolares1

 

 

Profa. Dra. Mary Rosane Ceroni2

 

 


RESUMO

Com as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade contemporânea que enfatiza compromissos com a inclusão social, percebemos a direta repercussão nos processos formativos dos profissionais da educação, no caso específico, no Curso de Pedagogia do UniFMU/SP. Acompanhamos de perto o estudante de Pedagogia buscando sua formação para a atuação em ambientes não escolares, por meio da habilitação oferecida em Supervisão de Ensino nas Empresas, do Programa Educação para a Solidariedade, no Módulo Orientação Vocacional e Preparação para o Mercado de Trabalho, e através do curso de Pós Graduação Pedagogia Empresarial. No Grupo de Pesquisa Educação e Inclusão Social, na Linha Gestão Educacional e Educação Profissional, este estudo, aprovado pelo Comitê de Ética, tem por objetivo definir o perfil do Pedagogo que exerce suas atividades profissionais em espaços não escolares, o que implica: pensar nas políticas educacionais no Brasil, na responsabilidade de um comprometimento com a qualidade social voltada para a cidadania e para a inclusão; e propiciar aos pedagogos a compreensão de sua capacidade profissional e o desenvolvimento de competências em ambientes que extrapolem as unidades escolares e ainda, aumentem suas áreas de atuação, para que se tornem cada vez mais empregáveis. Apresenta-se neste estudo o perfil do pedagogo em espaços não escolares.

Palavras-chave: Pedagogia; Pedagogia Social; formação; Educação não-formal; perfil profissional.


 

 

Objetivos do Estudo

O objetivo geral deste estudo é definir o perfil do Pedagogo que exerce suas atividades profissionais em espaços não escolares.

Para melhor entendimento do objetivo geral, apresentamos os seguintes objetivos específicos: a) discutir situações educativas ao realizar pesquisas para a produção de conhecimentos teóricos e práticos; b) identificar o pedagogo que atua na área empresarial e ONGs, traçar seu perfil e comparar os resultados obtidos; c) definir, a partir da prática profissional dos Pedagogos pesquisados na primeira fase, o perfil do Pedagogo para atuar em ambientes não escolares.

 

Problema

Na UniFMU por meio da habilitação do curso de Pedagogia: Supervisão de Ensino nas Empresas (Treinamento e Desenvolvimento), do Projeto Educação para a Solidariedade no Módulo: Orientação Vocacional e Preparação para o Mercado de Trabalho e também através do curso de Pós Graduação: Pedagogia Empresarial, pudemos ver e acompanhar de perto o Pedagogo buscando sua formação para a atuação em ambientes não escolares.

 

Justificativa

Com a mudança cultural, financeira, política, tecnológica que vem ocorrendo aceleradamente nos últimos anos, pudemos perceber a interferência destas mudanças na área educacional e profissional de várias formações, no caso em específico desta pesquisa: o Pedagogo.

Podemos acompanhar diariamente profissões antigas e tradicionais sendo substituídas por novas atuações com novos requisitos em termos de conhecimentos e perfil profissional. Como profissionais da educação e professores do curso de pedagogia, sentimos a necessidade de realizar esta pesquisa com a intenção de possibilitar aos pedagogos a compreensão de sua capacidade de atuação profissional em ambientes que extrapolem as unidades escolares e aumentar suas áreas de atuação com o objetivo que se tornem cada vez mais empregáveis. Para tanto é necessário que o curso de formação forneçam elementos que façam com que estes profissionais tenham segurança e competência profissional.

Este trabalho tem a finalidade de análise e apresentação dos resultados obtidos com relação ao perfil do pedagogo que atua em espaços não escolares, realizados sob o enfoque do novo profissional exigido pela sociedade contemporânea, que deverá, sobretudo, ser capaz de integrar a dimensão teórica a uma preocupação com a prática cotidiana do fazer institucional, bem como de garantir a articulação entre as abordagens da gestão do trabalho administrativo, pedagógico e comunitário, como também, da educação profissional, desenvolvidos em espaços não escolares, evitando-se a fragmentação deste estudo.

 

Embasamento teórico-metodológico

Este trabalho desenvolve-se de forma a entender o perfil profissional do Pedagogo a partir da sua atuação em espaços não escolares. Utilizamos como base inicial, para o referencial teórico a revisão da literatura.

Nosso critério de seleção se fez da seguinte forma: Seleção de 50 empresas e 50 ONGs que possuem pedagogos atuando em seu quadro funcional, indicadas pelos professores envolvidos no projeto de pesquisa do UniFMU do curso de Pedagogia.

Para podermos conhecer o Pedagogo que atua em espaços não escolares, primeiramente precisamos identificá-lo. Como hoje temos uma grande variedade de opções, resolvemos por pesquisar e encontrar estes profissionais em dois segmentos que tem grandes possibilidades e que estão em crescimento e atuando como reflexo do mundo do trabalho: Empresas Privadas e Organizações Não Governamentais (ONGs) estabelecidas na grande São Paulo.

No mundo contemporâneo, com as mudanças nas relações de trabalho, as empresas também precisaram se reorganizar em relação aos cargos, funções e atividades dentro das organizações, Minarelli (1996, p. 17 e 18) assim se posiciona:

"As grandes empresas e corporações, para sobreviver à crise econômica mundial e atender às novas demandas do mercado, eliminaram ou redesenharam cargos e, em muitos casos, operações inteiras." E em relação às pessoas atuando dentro deste novo contexto profissional, o mesmo autor (1996, p.18) pondera: "Os trabalhadores precisarão reciclar-se periodicamente para manter seus conhecimentos atualizados e desenvolver outras habilidades."

O mesmo autor completa dizendo que esta mudança tem um deslocamento do foco no trabalho onde antes era enfatizado as atividades manuais e hoje, a atenção em relação aos trabalhadores está centrada no intelecto.

Estes acontecimentos são resultantes da nova relação de trabalho estabelecida no mundo moderno, onde se pode perceber a necessidade de um profissional com um perfil voltado a ajudar a organização, de qualquer segmento, a atingir os seus objetivos e metas organizacionais. Onde a atuação deste profissional está mais relacionada a seu perfil em consonância com a organização, do que a determinação de uma formação acadêmica. Isto se dá porque as necessidades do mundo do trabalho hoje estão mais voltadas a uma visão ampliada e rica do mundo e também por sabermos que alguns conteúdos específicos para a realização de uma tarefa pode ser facilmente aprendido, mas interação entre as habilidades do profissional e da instituição já é uma questão mais profunda e difícil de ser encontrada e desenvolvida.

Percebemos que o mundo do trabalho globalizado tem como tarefa repensar novas formas de relações trabalhistas que possam em alguma medida, organizar o processo de trabalho e as influências que articulam o desenho do novo mapa do mundo.

Um dos setores mais sensível, e por isto, mais desestabilizável, é o meio acadêmico, universitário, de onde provém toda a gama de profissionais lançados em um mundo já afetado, e ainda não estabilizado, em face de inexorabilidade da impactologia da maré globalizante que, atinge a todos os setores de atividade humana.

A constatação da fragmentação dos saberes traz um desafio para a educação e ensino contemporâneos: religar os conhecimentos dispersos – o que exige uma nova postura dos sujeitos diante da dinâmica dos sistemas vivos planetários. Para Morin (2001, p.10), educação e ensino são termos que se confundem e se distanciam igualmente:

A "Educação" é uma palavra forte: "Utilização de meios que permitem assegurar a formação e o desenvolvimento de um ser humano (...)". O termo "formação", com suas conotações de moldagem e conformação, tem o defeito de ignorar que a missão do didatismo é encorajar o autodidatismo, despertando, provocando, favorecendo a autonomia do espírito. O ensino, arte ou ação de transmitir os conhecimentos a um aluno, de modo que ele os compreenda e assimile, tem um sentido mais restrito, porque apenas cognitivo. A bem dizer, a palavra ensino não me basta, mas a palavra educação comporta um excesso e uma carência."

Assim, verificamos que é de responsabilidade muito especial e pertinente que a Universidade não apenas acompanhe a reboque as profundas e rápidas transformações que estão ocorrendo, sobretudo se antecipe, na formação de profissionais da educação com as qualificações e o perfil que a sociedade do século XXI exige.

Destacamos, desta maneira, que esta é uma ação desestabilizadora que atinge, em última instância, as entranhas dos currículos e programas da Universidade. A mudança das reformas dos anos 80 e 90, pouco a pouco trazem novos desafios para o curso de Pedagogia e percebemos que estas alterações legais associadas às transformações e exigências sociais fizeram com que, a atuação do Pedagogo, ultrapassasse as fronteiras das escolas e cargos executivos (diretorias, secretarias, ministério) e este profissional passa a atuar em outras instituições, até porque as transformações ocorridas no currículo da Pedagogia o capacita para tal.

Há duas décadas, nas várias organizações científicas e profissionais de educadores, tem se debatido em todo o país, questões relativas ao campo de estudo da Pedagogia, da identidade profissional do pedagogo, do sistema de formação de pedagogos, da estrutura do conhecimento pedagógico (LIBÂNEO, 1999).

Libâneo (1999, p.59) complementa:

"Todos os educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades do mundo contemporâneo."

Diante dos desafios atuais no campo da Educação com mudança na legislação, mudança do currículo dos cursos de Pedagogia, muitas polêmicas giram em torno desses cursos e de qual seria sua função neste momento. A Pedagogia deveria estar integrada ao ensino e a pesquisa, pois não é possível pensar num pedagogo que não saiba, ou que não possa ensinar/pesquisar.

É imprescindível adequação do currículo a ser desenvolvido com a formação do novo educador, que deverá, sobretudo, ser capaz de integrar a dimensão técnica a uma preocupação com a ética, a estética, a política e a prática cotidiana do fazer escolar (RIOS, p. 2002), ou de garantir a articulação entre as abordagens da docência e da gestão do trabalho administrativo, pedagógico e comunitário, desenvolvidos em espaços de educação formal e não formal, evitando-se assim, a fragmentação na formação deste profissional.

Desta forma, é necessário entendermos que, na docência do ensino superior, deve ser dada ênfase às ações do estudante "para que possa aprender o que se propõe; que a aprendizagem desejada engloba, além dos conhecimentos necessários, habilidades, competências e análise e desenvolvimento de valores, não há como se promover essa aprendizagem sem a participação e parceria dos próprios aprendizes" (MASETTO, 2003, p.23).

Destacamos assim, algumas importantes linhas de ação propostas por Masetto (2003):

"Trabalhar com pesquisa, projetos e novas tecnologias, [...] são caminhos interessantes que, ao mesmo tempo em que incentivam a pesquisa, facilitam o desenvolvimento da parceria e co-participação entre professor e aluno. (p.23). A mudança está na transformação do cenário do ensino, em que o professor está no foco, para um cenário de aprendizagem, em que o aprendiz (professor e aluno) ocupa o centro e em que professor e aluno se tornam parceiros e co-participantes do mesmo processo. (p.24)."

Notamos que um dos dilemas com que se defronta o ensino superior é a coexistência da pesquisa e da formação profissional. Assim, conhecimento e pesquisa se manifestam em organismo social e, como tal, a Universidade deve constituir-se em um sistema aberto.

Na Universidade, esta visão tem se manifestado na ênfase da definição de quais as habilidades e competências que se devem desenvolver com base na empregabilidade. O que significa que essas habilidades e competências estão infinitamente relacionadas com a atividade profissional, exigindo que a formação acadêmica se preocupe com o mercado de trabalho, resultando na busca de meios eficientes para a interação universidade/sociedade, com a preocupação de diagnosticar as demandas e conciliar o saber/fazer, tornando o ensino superior em laboratórios da realidade.

Esse processo de transformação provoca a necessidade mais exigente de formação das competências a serem perseguidas em um ensino de qualidade. Com isso, ampliou-se a pesquisa científica na atividade acadêmica do educador, emergindo a preocupação com a gestão educacional, entendendo a instituição de ensino como berço do empreendorismo que fomenta planejamento com propostas renovadoras, que analisam o eixo teórico-filosóficos das relações educativas, tendo em vista os contextos sócio-econômicos e políticos.

O educador percebe que mudança pedagógica é não só promover a auto-aprendizagem de seu aluno fora da sala de aula, mas também ele próprio vivenciar novas experiências e caminhar para novas descobertas de suas habilidades e competências fora da abrangência escolar. Passou a buscar, então, novas matizes pedagógicas, ampliando a dimensão pessoal e social do conceito de educador.

Por isso, quando a legislação educacional passa a exigir, na atualidade, que a universidade cumpra sua responsabilidade social, encontra um educador consciente de seu papel de agente de transformações e multiplicador de valores.

A concretização e alcance dos resultados desta ação precisam promover condições para que este profissional possa caminhar com confiança e segurança em sua trajetória profissional, conquistando a eficácia de sua formação ao desempenhar o seu real papel na sociedade (MONEZI, 2003, p.60):

"Para um projeto educativo interdisciplinar ser bem sucedido, é necessário que o professor, envolvido e comprometido com a educação e com seus pares, apresente coerência entre sua visão e sua ação, o que contribuirá eficazmente com o processo de construção e reconstrução da sociedade: porque não há projeto sem sonho e sem vontade de futuro [...]."

Consolida-se assim, a interação sujeito-objeto, ou sujeito-sujeito, cuja noção dialética é a interdependência, considerada aqui como critério fundamental para que esta relação torne possível a vida comunitária, em um contexto de ajuda mútua – apresentando nas ações a efetiva participação de programas de solidariedade.

De acordo do as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia aprovado em dezembro de 2005, em Finalidade do Curso de Pedagogia, destaca que a educação do Pedagogo deve propiciar estudos de campos do conhecimento , tais como o filosófico, o histórico, o antropológico, o ambiental-ecológico, o psicológico, o lingüístico, o sociológico, o político, o econômico, o cultural, para nortear a observação, análise, execução e avaliação do ato docente e de suas repercussões ou não em aprendizagens, bem como orientar práticas de gestão de processos educativos escolares e não escolares, além da organização, funcionamento e avaliação de sistemas e de estabelecimento de ensino.

Em relação à atuação do pedagogo em espaços não escolares, o mesmo documento ressalta que o perfil do graduado em Pedagogia deverá contemplar consistente formação teórica, diversidade de conhecimentos e de práticas, que se articulam ao longo do curso. A dimensão a seguir é assim enfatizada:

"[...] gestão educacional, entendida numa perspectiva democrática, que integre as diversas atuações e funções do trabalho pedagógico e de processos educativos escolares e não-escolares, especialmente no que se refere ao planejamento, à administração, à coordenação, ao acompanhamento, à avaliação de planos e de projetos pedagógicos, bem como análise, formulação, implementação, acompanhamento e avaliação de políticas públicas e institucionais na área de educação."

Dentro deste contexto, apresentamos o perfil traçado para o egresso do curso de Pedagogia apresentado neste documento. O egresso deverá estar apto a:

"[...] atuar com ética e compromisso com vistas à construção de uma sociedade justa, equânime, igualitária; trabalhar, em espaços escolares e não-escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo; identificar problemas socioculturais e educacionais com postura investigativa, integrativa e propositiva em face de realidades complexas, com vistas a contribuir para superação de exclusões sociais, étnico-raciais, econômicas, culturais, religiosas, políticas e outras; demonstrar consciência da diversidade, respeitando as diferenças de natureza ambiental-ecológica, étnico-racial, de gêneros, faixas geracionais, classes sociais, religiões, necessidades especiais, escolhas sexuais, entre outras; desenvolver trabalho em equipe, estabelecendo diálogo entre a área educacional e as demais áreas do conhecimento;participar da gestão das instituições em que atuem planejando, executando, acompanhando e avaliando projetos e programas educacionais, em ambientes escolares e não-escolares; realizar pesquisas que proporcionem conhecimentos, entre outros: sobre seus alunos e alunas e a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas experiências não-escolares; sobre processos de ensinar e de aprender, em diferentes meios ambiental-ecológicos; sobre propostas curriculares; e sobre a organização do trabalho educativo e práticas pedagógicas."

Formarmos o pedagogo para tal finalidade passa ser uma ação necessária. Destacamos neste estudo, a formação generalista deste profissional com ênfase em gestão da educação e da aprendizagem no seu objeto de estudo – o processo educativo voltado à educação formal e não formal, à educação profissional em sistemas educacionais escolares e não escolares. É preciso apresentar ampla variedade de situações circunstanciais para que a aprendizagem ocorra de fato. Ressaltamos aqui, a inovação como resultado do equilíbrio entre o saber acumulado coletivamente e o estudo da realidade concebida em seu conjunto, em sua diversidade e em sua multiplicidade (MONEZI, 2003, p. 60).

Evidenciamos que a universidade e o meio acadêmico não podem se furtar ao chamamento que se lhes é imposto, e as graves responsabilidades de que são depositários como fórum competente que se constituem para o debate, a reflexão, a exposição de idéias e a consolidação de ideais, com base em uma educação compreensiva significativa, apresentando-se para tal finalidade uma postura interdisciplinar para a construção coletiva de programas de atendimento solidário à comunidade. Este fórum permanente de debate confirma-se por meio de projetos interdisciplinares – apresentando nas atividades desenvolvidas eficiência, eficácia e efetividade na busca da qualidade nos relevantes serviços prestados à comunidade local.

Desta maneira, os educadores estarão envolvidos e comprometidos com o autodesenvolvimento e a qualidade social, principalmente, com o desenvolvimento da qualidade de vida da comunidade onde residem e prestam seus serviços. Mestres que, motivados em contribuir com suas visões e ações nos ambientes educacionais, demonstram vontade de aprender a aprender, aprender a ser, a fazer, a viver juntos (DELORS, 1998) e flexibilidade para mudar e fazer a diferença no mundo.

Assim, a otimização no processo de formação do educador, para o mundo globalizado, implica em conquista da autonomia para a construção do próprio caminho na nova trajetória transformacional, o que exige atitude resiliente, ou seja, posturas pró-ativas, organizadas, éticas, positivas, flexíveis, bem como iniciativas educacionais que valorizem a diversidade; e ainda, em participação efetiva nos relacionamentos interpessoais não só em espaços escolares, como também em espaços não escolares.

 

Metodologia da Pesquisa

A pesquisa "O Perfil do Pedagogo que Atua em Espaços Não Escolares", faz parte da linha de pesquisa: Gestão Educacional e Educação Profissional do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas – UniFMU, e foi desenvolvida durante os anos de 2004 e 2005.

O questionamento e interesse que motivaram esta pesquisa foi primeiramente, investigar em empresas do setor privado e organizações não governamentais (ONGs), os pedagogos que estão atuando nestes segmentos, quais são as atividades exercidas por estes, para depois da identificação destes profissionais, fazer juntamente com os mesmos, um trabalho de definição do perfil do Pedagogo que atua em espaços não escolares.

Nosso critério de seleção se fez da seguinte forma: seleção de 50 empresas e 50 ONGs que possuem pedagogos atuando em seu quadro funcional, indicadas pelos professores envolvidos no projeto de pesquisa do UniFMU do curso de Pedagogia.

Este contato foi realizado através de um envio de um envelope selado por parte dos pesquisadores contendo: o objetivo da pesquisa, as instruções, o questionário, a carta e um envelope selado para a resposta. As repostas obtidas pressupõem que as pessoas concordaram em participar da pesquisa não se fazendo necessário uma carta de consentimento.

A metodologia envolveu a análise estatística neste momento da pesquisa para o levantamento numérico e análise descritiva para a definição do perfil. Assim pudemos identificar o pedagogo que atua nessas áreas, traçar seu perfil e comparar os resultados obtidos entre as empresas e ONGs pesquisadas. Esta pesquisa pode no futuro ser ampliada para uma análise qualitativa se houver interesse de ampliação do tema.

 

Resultados

Esta pesquisa teve sua origem, como mencionado no início desta estudo, nas diversas atividades e formações oferecidas pela UniFMU para a atuação do Pedagogo em espaços e atividades além das exercidas em unidades escolares.

Assim, este estudo teve a intenção de ser desenvolvido a partir das reflexões sobre as transformações do processo educacional, do mercado de trabalho, e do perfil profissional requerido nos dias de hoje. O que implica também pensar nas políticas educacionais no Brasil contemporâneo, na responsabilidade de um comprometimento com a qualidade social, voltado para a cidadania e para a inclusão.

Nesta perspectiva, destacamos neste trabalho a necessidade de pensar a educação, a atuação de profissionais nas organizações não escolares, em concordância com os outros componentes da prática educativa, destacando a figura do pedagogo. Evidenciamos a exigência de um novo perfil de trabalhador, com um nível de qualificação cada vez maior. Esses atributos parecem enfatizar aptidões cognitivas e conhecimentos teóricos. A valorização recai sobre o raciocínio, capacidade de aprender, capacidade de resolução de problemas e capacidade de tomada de decisão, entre outras, desconsiderando tudo o que leve a tarefas fragmentadas e repetitivas.

Da Coleta dos Dados

Conforme previsto no projeto, enviamos pelo correio cinqüenta questionários direcionados para (50) ONGs e (50) Empresas da grande São Paulo e recebemos em torno de 12% de respostas válidas para registro e análise: seis (06) de profissionais que atuam em ONGs, e de seis (06) que atuam em Empresas.

Dados Pessoais

Os questionários foram respondidos por 100% de indivíduos do sexo feminino nas ONGs e por 83,33,66% nas empresas. Com relação ao sexo masculino apenas 16,66 % responderam ao questionário. Há uma clara predominância feminina na formação de pedagogos e conseqüentemente,este aspecto se estabelece neste público pesquisado.

De modo geral esses profissionais possuem faixa etária que gira em torno de 31 a 40 anos (41,67%), conforme demonstração na tabela a seguir:

 

 

Quanto às funções e departamentos ocupados pelos profissionais que atuam em empresas, verificamos que são, em sua maioria da área de Recursos Humanos:

 

 

Já nas ONGs, percebemos que as funções são mais diversificadas, com predominância na área de projetos, seja na coordenação ou execução, conforme quadro a seguir:

 

 

Salários

Pudemos observar que os indivíduos que atuam em empresas possuem um nível salarial mais elevado, 33% possuem médias salariais entre mil e dois mil reais e 33% acima de quatro mil reais. Já nas ONGs os salários estão mais distribuídos em todas as categorias.

Outras Atividades Profissionais Exercidas

Os resultados também revelam que um número significativo dos entrevistados (75%) já atuou como professor em algum momento de sua carreira e em sua grande maioria são os que atuam em ONG´s.

Quando perguntamos para estes profissionais das empresas se já haviam atuado como docentes, responderam que o fizeram entre períodos que variavam de um (1) ano a trinta (30) anos.

Já os profissionais das ONG´s que atuaram como docentes o fizeram por no mínimo 2 anos e máximo 13 anos.

Ao questionarmos sobre sua formação acadêmica e se esta corresponde às exigências do mercado de trabalho, notamos que os que trabalham em empresas se sentem insatisfeitos, pois 66% aproximadamente não acreditem que tiveram uma formação adequada. Já os que trabalham em ONGs estão totalmente satisfeitos.

Os respondentes sentem necessidade de atualização profissional e as áreas mais citadas foram:

ONGs: Gestão de Negócios, formação de educadores, educação complementar desenvolvida no terceiro setor, educação Continuada, na área de neurologia, planejamento estratégico e metodologias para o desenvolvimento comunitário, gestão e empreendimento, gestão de projetos.

Empresas: Educação à distância, fundamentos para educação de adultos, recursos humanos, psicologia, dinâmica social e novas tecnologias, área ligada ao mundo empresarial, curso direcionado para área de educação.

Percebemos que existem pontos em comum no que se refere ao perfil exigido para atuação desse pedagogo em espaços não escolares como descrevem os participantes em suas respostas:

 

 

A modalidade de curso que despertou maior interesse dos participantes de ONGs quanto das empresas foi o curso de pós graduação: mestrado seguido de cursos de extensão, caso tivessem que fazê-lo atualmente, como pudemos observar na tabulação dos dados:

Muitos profissionais atuam fora da instituição escolar e em alguns casos há mais de 20 anos;

Foi interessante notar que respondentes relataram que o curso de Pedagogia auxiliou os profissionais da ONGs no planejamento e organização dos conteúdos, na prática docente, e ainda o curso de Pedagogia foi pré-requisito para a ocupação do cargo de Orientador Pedagógico;

Foi manifestado que o conhecimento de teóricos estudados no curso, ofereceu subsídio para a compreensão de toda a dinâmica social. Os conteúdos e as pesquisas que tiveram e fizeram sobre o terceiro setor foram de grande valia para o cargo que ocupam atualmente. O curso de Pedagogia "Auxilia em todas as ações" como afirmou um dos respondentes;

Os de projetos, na capacidade pessoal de comunicação e ainda em sua organização e relatos dos que trabalham em empresa demonstram que o curso os auxiliou na organização e revisão de material didático, no desenvolvimento de treinamentos, no acompanhamento de instrutores, na elaboração de atividades para o desenvolvimento dos multiplicadores de treinamento da empresa, no desenvolvimento flexibilidade.

Este estudo sinaliza que compromissos devem ser assumidos para a formação do Profissional da Educação: oferecer oportunidades para que a formação do ser humano em sua integralidade, seja consolidada, possibilitando uma visão sistêmica voltada à gestão educacional, permitindo aos envolvidos na pesquisa e na formação dos pedagogos estarem atentos aos diversos aspectos do perfil profissional como: atuação ético-profissional relativa à responsabilidade social para a construção de uma sociedade solidária, justa e inclusiva; investigação de situações educativas que ocorrem em ambientes não escolares; conhecimento e entendimento de projetos educativos que considerem a diversidade e as inter-relações da sociedade na esfera: cultural, científica, tecnológica, estética e ética que ocorrem nas diferentes instituições não escolares.

Do estudo desenvolvido, identificamos indicadores para o perfil do pedagogo para atuação em espaços não escolares. Indicadores estes, sinalizados tanto nas Diretrizes Curriculares de dezembro de 2005 quanto pelos que atuam em empresas e ONGs, que apresentamos a seguir: flexibilidade em suas ações; conhecimento e experiências relativos à gestão participativa; competência e habilidade na busca de soluções para os impasses enfrentados, com compreensão do processo histórico, social, administrativo e operacional em que está inserido; comprometimento e envolvimento com o trabalho; ter preparo para administrar conflitos; zelar pelo bom relacionamento interpessoal; gostar de trabalhar com pessoas; comunicação eficaz; conhecimento de princípios de educação popular; ter competência e habilidade para planejar, organizar, liderar, monitorar, empreender.

É da Universidade que esperamos frutifique o know-how, científico, tecnológico e humanístico rumo à superação dos obstáculos e desajustes que ainda assolam esta sociedade já globalizada. O momento em que se vive faz com que busquemos um sentido para a própria existência, produzindo nas pessoas, em particular, nos profissionais da educação, objeto deste estudo, a necessidade de crer em algo tão forte, tão especial que, sua capacidade de agir transcenda ao do ser humano comum.

Acreditamos ser fundamental manter a formação do educador voltada para a atuação em diferentes contextos culturais e sociais – principalmente neste momento em que a educação inclusiva tem sido a tônica dos documentos oficiais, com o reconhecimento da inclusão, por meio de projetos que visam adequação relacional entre os diferentes segmentos da sociedade. Portanto capacitar o profissional da educação para tal finalidade passa ser uma ação necessária. Destacamos aqui, a formação generalista deste profissional, com ênfase em gestão da educação no seu objeto de estudo – o processo educativo voltado à educação inclusiva em diferentes instituições educacionais e diferentes contextos socioculturais e econômicos.

 

Referências Bibliográficas

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MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 5ª ed.. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

 

 

1 Título do Projeto apresentado na Linha de Pesquisa Gestão Educacional e Educação Profissional do Grupo Educação e Inclusão Social do UniFMU. Integrantes desta Pesquisa: Drª. Mary Rosane Ceroni, Ms.Claudia Morais Lietti; Maria Bernadete G. Carbonari; Ms. Maria Evani Machado; Ms.Nêusa Maria Gomes Gallego.
2 É docente e pesquisadora da UniFMU e Universidade Presbiteriana Mackenzie. Site: www.maryrosaneceroni.kit.net; e-mail: maryrosane@mackenzie.com.br; mary.rosane@fmu.br