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Simpósio Internacional do Adolescente



Resumen

BAIRRAO, José Francisco Miguel Henriques. Adolescência em transe: afirmação étnica e formas sociais de cognição. In Anales del 1º Simpósio Internacional do Adolescente, 2005, São Paulo (SP, Brasil) [online]. 2005 [citado 28 Marzo 2024]. Disponible en: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000082005000100003&lng=es&nrm=iso> .

Dada a sua dependência de variáveis como etnia, memórias sociais e práticas culturais, para estudar a adolescência necessita-se uma psicanálise próxima a uma psicologia cultural e social, avessa à política dos diagnósticos e das terapias e à retórica das deficiências e das carências. Enfoques restritos à clínica (psicológica, mesmo que psicanalítica) são insuficientes para dar conta desse processo, na medida em que ignorem que uma gramática da pessoa transcende o psíquico. Nesta comunicação, a partir de observações realizadas no âmbito de uma pesquisa em andamento (FAPESP 04/03463-2), examinam-se vivências contemporâneas da adolescência que se vinculam, tanto como forma de contestação como enquanto meio de auto-afirmação e de reconhecimento, a setores cultural e etnicamente discriminados. Vai ser discutida, numa perspectiva social e psicanalítica, a adesão a religiões populares mediúnicas por parte de um largo contingente de adolescentes da periferia urbana da Grande São Paulo, a qual se supõe que ilustre uma tendência e seja representativa de um fenômeno social que possa encontrar-se por todo o país. Neste contexto, ainda que necessariamente nisso não se esgote o fenômeno, o transe pode ser compreendido como processo de circulação social de significantes inter-geracionais, inscritíveis em performances, em gestos (rituais), em estéticas e no corpo, que permite o reencontro de insígnias do ancestral e a sua re-encarnação no lugar do eu, graças a recursos possibilitados por uma gramática cultural brasileira, tributária de tradições indígenas e africanas que se preservam como marcas de origem para larga parcela dos adolescentes nacionais. Adolescer implica o "sacrifício" de ascendentes, ou, mais precisamente, de signos, valores, sintaxes e estilos que lhes sejam associados, de maneira tal que possam ser apropriados, remodelados, e transformados em traços de identificação e marcas de pertencimento. É um processo descontínuo e conflituoso que implica a assunção do lugar de outrem, sem se confundir nem se distinguir a ponto de ser impossível lá se reconhecer. É uma equação traumática entre afiliar-se e preparar-se para substituir a quem se ama e de quem se depende para poder aceder a uma identidade pessoal e social. O Pai, investido no lugar do "morto", deve ser admirado e comemorado, o que nem sempre está dado ou é imediato num contexto social e político que discrimina e humilha contingentes sociais de migrantes e componentes étnicos não brancos (índios e negros). A valorização e recriação de práticas e crenças dos antigos, neste contexto, é uma forma de auto-afirmação e de contestação social.

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