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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002

 

LÍNGUA ESPANHOLA

 

Jogando para aprender: o lúdico no ensino de línguas

 

 

Gisele Domingos do Mar

UNESP/Assis (São Paulo)

 

 

Considerações Iniciais

Os jogos têm uma função ampliar os conhecimentos lingüísticos dos alunos, além de melhorar a capacidade de trabalhar em grupo. Podemos aplicar os jogos tanto no ensino da língua materna, quanto no ensino de uma língua estrangeira. No primeiro caso, eles assumem um papel de integração social e facilitam o aprendizado. No segundo, funcionam como facilitadores da aprendizagem ao causarem queda no nível de tensão provocado pelo contato com um novo objeto de aprendizagem e ao tornarem, como na aquisição da L1, o aprendizado, concomitantemente, individual e coletivo.

Embora a bibliografia especificamente dedicada aos jogos no ensino de línguas seja pouco extensa, notamos um aumento na preocupação com o levantamento e criação de jogos tanto cooperativos, quanto competitivos. Nosso objetivo é transformar a classe em ambiente de coleguismo, amizade e cooperação. Portanto, daremos ênfase aos jogos cooperativos, uma vez que como afirma Orlick "experiências precoces com cooperação, criatividade e escolhas capacitarão mais pessoas a serem mais felizes quando cooperam e mais saudáveis quando competem" (1982, p.7)1

Dessa forma, evitaremos o ambiente em que um deve ser, necessariamente, superior aos outros. Sem essa preocupação, o aluno passará a jogar com e não contra o outro, uma vez que o sucesso só será atingido se todos o atingirem. Isso fará que, como afirmamos, anteriormente o nível de ansiedade seja reduzido ou eliminado da classe.

Sabemos que a queda de ansiedade facilita a aprendizagem. Num ambiente cooperativo é mais fácil construir e aprender. Herbert Read (apud ORLICK, 1982, p.5)2 afirma serem opostas a capacidade de destruir e a criatividade. Segundo ele "criar é construir e construir cooperativamente é estabelecer as bases de uma comunidade pacífica".

Se queremos preparar nossos alunos não só intelectual, mas socialmente, isto é, se desejamos preparar os alunos para a vida, necessário desde cedo educá-los para a cooperação. Não é possível a existência de uma sociedade de solitários.

A isso, a escola tradicional tem ficado restrita. Não há, porém, razão para continuarmos a reproduzir um ensino em que poucos aprendem enquanto a maioria da classe permanece alienada do processo educativo. Os poucos "vencedores" são aqueles que foram treinados para serem os melhores, suplantando todos os colegas, encarados não como parceiros, mas como adversários que devem ser vencidos.

 

Desenvolvimento

Por meio do jogo, o ser humano desenvolve e exercita sua memória, seu raciocínio, sua capacidade de percepção, sua criatividade e sua autonomia. O processo de jogar é capaz de reduzir a baixa auto-estima, fator esse primordial para o sucesso na aprendizagem de línguas estrangeiras. O aluno, mesmo após o jogo, sente-se parte do grupo e nele se fortalece.

Como afirma Huizinga (2000, p.13) "Reina dentro do domínio do jogo uma ordem específica e absoluta (...). Ele cria ordem e é ordem". Portanto, no momento em que participa do jogo o aluno também se organiza interiormente e se completa como ser humano.

Participar dessa nova ordem o leva a se sentir como peça fundamental do jogo, sem a qual o jogo não ocorreria, e passa a executar as tarefas propostas porque, intimamente ligado ao grupo, sua atuação é essencial para vencer coletivamente o desafio.

Claro está que o jogo, o brincar, não é fator isolado no processo de aquisição de uma nova língua, mas facilita, sem dúvida, o crescimento pessoal e social na relação entre os interlocutores da sala de aula. Como uma estratégia metodológica bem orientada pelo professor, cremos que o jogo consiga desenvolver a capacidade comunicativa dos alunos, promover cooperação e socialização e, conseqüentemente, humanizar.

Acreditamos que a aplicação de jogos pedagógicos nas salas de aula de língua estrangeira serve como elemento de apoio, de incentivo, de interação, de uso efetivo de língua oral ou escrita e de desenvolvimento de habilidades. É, sem dúvida, o momento ideal para que os alunos sintam confiança em si mesmos, sintam que são parte do grupo e que percam o medo de se expor, aumentando seus conhecimentos lingüísticos e comunicativos.

Sabemos que, cada vez mais, na sociedade moderna não sobra espaço para o lúdico, para o brincar, para o ser feliz, em prol do que se chama "preparação para o futuro de campeão". O espaço destinado anteriormente ao jogo é, agora, preenchido pela competição.

Após o período da pré-escola, há a nítida ruptura entre o jogar e o aprender. Do ensino fundamental ao médio, o jogo passa a ser visto como "coisa de criança", "passatempo", "diversão" etc.

A preparação para o futuro de vencedor furta o prazer de aprender brincando; de aprender a se relacionar com o outro; de aprender a conhecer e aceitar regras; de respeitar as diferenças de atitude frente ao jogo e exige do aluno uma postura de "seriedade" frente ao conteúdo de cunho meramente cognitivo. É o indivíduo em detrimento do coletivo.

Nos dizeres de Lopes (1999, p.19)

"Para podermos estabelecer os parâmetros educativos da criança de hoje, precisamos enxergá-la em três dimensões: a corporal, a afetiva e a cognitiva, que devem desenvolver-se simultânea e concomitantemente. Se, porém, uma estiver sendo desenvolvida em detrimento de outra, certamente esse desequilíbrio acarretará desorganização do indivíduo, em sua dimensão global".

A sociedade atual, porém, separa o jogar e o aprender, classificando-os como coisas opostas. Perguntamo-nos, entretanto, qual a diferença entre o jogo pedagógico e a aprendizagem? Os conteúdos que nós professores cremos ser imprescindíveis para a formação social e intelectual de nossos alunos, não seriam melhor apreendidos se adotássemos a formação humana por meio de jogos cooperativos que favorecessem o clima de confiança entre os membros da classe, a solidariedade, o respeito mútuo e o desejo de cooperar para a resolução de tarefas comuns?

Para responder essa pergunta, apresentaremos exemplos de jogos cooperativos que consideramos relevantes para o processo de ensino e aprendizagens de línguas estrangeiras.

 

 

Considerações Finais

Os jogos cooperativos podem, portanto, ser aplicados ao ensino de línguas, uma vez que esse pressupõe a troca de informações e, conseqüentemente, a convivência.

A convivência é aspecto fundamental para a efetivação da aprendizagem e, segundo os Parâmetros Curriculares de Ensino Médio,

"uma das formas pelas quais a identidade se constrói é na convivência e, nesta, pela mediação de todas as linguagens que os seres humanos usam para partilhar significados. Destes, os mais importantes são os que carregam informações e valores sobre as próprias pessoas". (1999, p.09)

É função da escola fazer com que as diferentes experiências de mundo compartilhados em sala de aula sejam respeitadas e valorizadas, enquanto formas distintas de sentir, perceber e aceitar ou não as relações sociais e políticas que medeiam nosso conhecimento de mundo. Nesse contexto, o jogo passa a ser indispensável para a realização dessa função, ao enriquecer o senso de responsabilidade e fortalecer as normas de cooperação, acima de preconceitos e pontos de vista divergentes.

O jogo cooperativo leva a criança a perceber que o trabalho em equipe é mais eficiente e prazeroso que o trabalho individual. Assim, ao trabalhar os sentimentos de solidariedade grupal, o jogo fortalece o emocional da criança, que se sente parte indissolúvel do todo.

Em síntese, os objetivos do lúdico em sala de aula são promover a estimulação das relações cognitivas, afetivas, verbais, psicomotoras, bem como desenvolver a capacidade criativa e crítica dos alunos.

 

Referências Bibliográficas

ALMEIDA, P. N. de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 6.ed. São Paulo: Loyola, 1990. 203p.

ANTUNES, C. Manual de Técnicas de dinâmica de grupo, de sensibilização de ludoterapia. 9.ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1987. 190p.

BENJAMIN, W. Reflexões, a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984. 173p.

BRASIL. Secretaria da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio. Brasília: MEC, 1999. 71p.

COSTA, A. L. E. S., ALVES MARRA, P. ¡Vamos a jugar! 175 juegos para la clase de español. Barcelona: Difusión, 1997. 93p.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Petrópolis: Vozes, 1975. 158p.

HUIZINGA, J. HOMO LUDENS: O jogo como elemento da cultura. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 2000. 243p.

IGLESIAS CASAL, I., PRIETO GRANDE, M. ¡Hagan juego! Actividades y recursos lúdicos para la enseñanza del español. Madrid: Edinumen, 1998. 171p.

LOPES, M. da G. Jogos na educação: criar, fazer, jogar. 2.ed. rev. São Paulo: Cortez, 1999. 160p.

SANCHES PEREZ, A. El método comunicativo y su aplicación a la clase de idiomas. Madrid: SGEL, 1987. 106p.

VISCOTT, D. A linguagem dos sentimentos. São Paulo: Summus, 1982. 136p.

VYGOTSKY, L. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984. 191p.

 

 

1 Early experience whit cooperation, creativity, and choice will enable more people to become happier through cooperation and healthier in competition.
2 "Destructiveness and creativity are opposed forces... To create is to construct, and construct cooperatively is to lay the foundation of a peaceful community".