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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002
LÍNGUA ESPANHOLA
O papel de estereótipos e preconceitos na aprendizagem de línguas estrangeiras
Hélade Scutti Santos
USP (São Paulo)
A complexidade dos processos de aquisição de LE está diretamente relacionada ao fato de o fenômeno da linguagem em si ser extremamente complexo. Larsen-Freeman (1997, p. 142) compara a linguagem aos sistemas complexos, cujas principais características são: "dynamic, complex, nonlinear, chaotic, unpredictable, sensitive to initial conditions, open, self-organizing, feedback sensitive, and adaptive"1. Já Franchi (1992, p. 28) retoma as reflexões de Humboldt para lembrar que a linguagem ajuda a constituir nossos pensamentos e nossas experiências:
"‘Por isso, independentemente mesmo da comunicação que se estabelece entre um homem e outro, a linguagem constitui uma condição necessária que governa o pensamento do indivíduo singular ao nível de sua existência mais solitária’ (Humbolt, 1936: p. 151), em virtude da qual o homem organiza seus pensamentos, produz idéias que se reiteram e compõem, a passo e passo, o quadro de referências de toda a sua vida".
Revuz (1998, p. 217), recordando a dimensão psicanalítica da linguagem, afirma que "Muito antes de ser objeto de conhecimento, a língua é o material fundador de nosso psiquismo e de nossa vida relacional". Todas essas reflexões nos dão uma idéia de que estamos lidando com algo de suma complexidade, que tem dimensões essencialmente lingüísticas, mentais e psicológicas/psicanalíticas; e tudo isso sem considerar o fato de que as línguas ainda têm uma dimensão social, e que além de serem responsáveis pela constituição da subjetividade também têm um papel fundamental na expressão dos grupos sociais e da cultura em que estão inseridos. É esta visão totalizante e complexa da língua que entra em ação no processo de aquisição/aprendizagem da língua estrangeira. Haverá, assim, enorme influência de aspectos afetivos e de um olhar sobre o mundo previamente constituído e do qual em certa medida não somos conscientes. Há uma história individual e coletiva que marca a nossa relação com o mundo, nosso olhar sobre ele, e a linguagem é o material que tece essa relação e essa história, dando forma aos nossos pensamentos, emoções, experiências e relações. Por isso, temos a sensação de que a LM sempre esteve lá, de que nos pertence; relação natural que a LE vai colocar em cheque. Assim, é freqüente que os alunos achem esquisitas, engraçadas, feias ou bonitas determinadas formas fonéticas, lexicais ou gramaticais da LE. Também nos incomodamos quando fazemos a desagradável descoberta de que há inúmeras expressões, palavras e construções da nossa língua que não têm correspondente na LE ou que palavras e construções tão familiares assumem significados e usos distintos.
Mas como se estabelece este processo quando tratamos de línguas ditas próximas, como é o caso do espanhol e do português? Neste caso os limites entre LM e LE parecem difusos e provocam no aprendiz a dúvida permanente de onde está o igual e o diferente. Lidar com essa incerteza constante não é tarefa fácil e as soluções e caminhos de aprendizagem trilhados pelos estudantes serão determinados pelas imagens que eles constróem sobre a própria língua e a LE:
"No interesa tanto, pues, la ‘distancia real’ entre el español y el portugués, mensurable por los estudios de los lingüistas, sino mucho más esa ‘distancia construida’ por el que aprende, en función de factores que pueden estar en muchos lados." (GONZÁLEZ& KULIKOWSKI, 1999, p. 17)
Além do imaginário sobre a distância entre as duas línguas, também acredito que exercerão influência no processo de aquisição/aprendizagem do espanhol as imagens que os estudantes têm sobre as culturas e os países que estão envolvidos nesse processo A relação com o estrangeiro está marcada pela atração, pela rejeição, ou ainda —o que talvez seja mais freqüente—, por movimentos contrários motivados ora por uma, ora pela outra. Pesa o valor que se dá à cultura ou ao grupo a que se pertence e se as características atribuídas ao outro grupo são valorizadas ou não, se é um grupo ao qual se deseja pertencer. A identificação é positiva pois permite uma relação mais respeitosa e tolerante, todavia, não se pode perder de vista que a identificação em nossa sociedade está marcada pela dominação (ADORNO, 1985) e nos identificamos com o dominador ou com o que nos permitiria exercer com maior efetividade o poder e a dominação sobre o outro.
Nos contatos com o universo estrangeiro se desconhece o outro e se tem dele uma visão superficial, uma certa imagem que se construiu a partir de um contato fugaz ou de um não-contato e que se generalizou para todos os indivíduos pertencentes àquele grupo. Esta imagem, caso não passe por um processo de transformação e de enriquecimento, corre o risco de ficar congelada no estereótipo, aprisionando o outro e cegando o sujeito, pois não lhe permite enxergar para além dela, constituir outras formas de relação.
Voltando ao tema da aprendizagem do espanhol como LE vemos que, embora o objeto principal com que o estudante vai se relacionar seja a língua, participam nessa relação a forma como vê outros elementos a ela unidos, tais como: os falantes dessa língua e as culturas que expressa. Assim, ao se localizar no espaço do estereótipo ou do preconceito com relação a qualquer um destes objetos o aprendiz terá refletidas estas imagens no seu aprendizado.
Para estudar mais a fundo como se constrói a relação dos alunos com língua, cultura e indivíduos elaborei um questionário, ao qual foram submetidos 51 estudantes dos cursos de espanhol do Colégio Miguel de Cervantes e do Español en el Campus (EEC), curso extracurricular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O questionário estava dividido em três partes: na primeira os estudantes tiveram que responder perguntas sobre sua relação de estudo e de contato com a língua espanhola e com seus falantes e em que país estudariam espanhol se pudessem escolher; na segunda deviam associar uma série de adjetivos aos falantes de espanhol, aos espanhóis, aos argentinos, aos brasileiros, à língua espanhola, às variantes faladas na Espanha e na Argentina e ao português falado no Brasil; na terceira parte foram solicitados a escrever livremente sobre estes mesmos temas.
Não poderei fazer no presente trabalho uma análise completa dos resultados obtidos, que será apresentada como parte da minha dissertação de mestrado, mas tratarei de alguns aspectos que me pereceram reveladores no que diz respeito à relação com a Espanha, com os espanhóis e com a variante lingüística falada neste país2.
Sobre a pergunta referente ao país que escolheriam para estudar espanhol, 46 alunos de um total de 51 disseram que iriam à Espanha, enquanto apenas alguns mencionaram outros países hispano-americanos. Entre os argumentos utilizados estão: o gosto pelo país, sua beleza, a curiosidade de conhecê-lo e o fato de ser um país europeu. Eram também recorrentes imagens da Espanha como detentora de uma enorme bagagem ou riqueza cultural e como o "berço da língua", a "origem da língua", ou o país onde se fala o espanhol "mais claro", "correto", "original", "puro". Um/a dos/as alunos/as chega a fazer a este respeito a seguinte afirmação: "se fosse para um país da América do Sul, aprenderia o espanhol desse país, com as gírias locais e, para mim, isso não é tão interessante"; enquanto outro/a, que afirma querer ir tanto para a Espanha como para a América do Sul, justifica dizendo que iria para a Espanha para "saber o espanhol sem interferências" e para a América do Sul "para saber como falam os vizinhos do meu país e comparar com o espanhol da Espanha" (grifos meus). Estas frases trazem com força a idéia de que o espanhol falado na Espanha é uma espécie de língua ideal, livre de adulterações tais como as gírias ou as expressões locais, que deterioram a língua ou a tornam menos compreensível As variantes dos países hispânicos, como na frase que transcrevi acima, são colocadas como um elemento de comparação, uma espécie de complementação e de curiosidade. Pode-se também encontrar nessas afirmações vestígios de que essas influências que o espanhol da América recebeu —que não são diferentes das que sofreu o português do Brasil— provocaram sua "corrupção" devido ao fato de serem oriundas de línguas indígenas ou africanas, de povos pouco prestigiados. Um/a dos/a alunos/as, diz sobre o espanhol da Espanha: "tem influências de outras línguas (vasco, catalán) que o torna mais interessante" (grifo meu). As influências aparecem com um valor muito mais positivo e enriquecedor que no caso das que receberam as variedades dos países hispano-americanos. Tem mais impacto ainda a frase de outro/a estudante que deseja ir estudar na Espanha para se "livrar do argentino". Isto apesar de dizer que a Argentina e os argentinos lhe causaram muito boa impressão nas experiências ou contatos anteriores.
Também é mencionada a existência de uma boa estrutura de cursos e de turismo na Espanha e que lhes agrada; o que faz retornar a idéia do país desenvolvido, organizado, bem estruturado.
Com relação às imagens que os estudantes têm dos espanhóis, aparecem como um povo em que se conjuga receptividade, acolhimento, afetividade e alegria com objetividade, franqueza e dureza, adjetivos responsáveis pela sensação de que são rudes, grosseiros ou autoritários. No entanto, estas últimas características, tidas como negativas, parecem ser desculpadas ou toleradas, pois são explicadas em vários casos como um reflexo da forma direta, sincera que marca seu jeito de se relacionar. Esse entender ou desculpar um possível caráter grosseiro, rude ou seco aparece em frases tais como: "Acho que são um pouco duros algumas vezes, porém na sua maioria são alegres, afetuosos", "imagino que são diretos (às vezes em excesso)", "Mas no fundo, não são grosseiros por mal, é o jeito deles", "duros mas cordiais" (grifos meus). A presença insistente das frases adversativas reforçada pelos quantificadores/atenuadores "às vezes", "um pouco", "não é por mal", ajudam a construir uma imagem muito mais positiva que negativa e a ressaltar que estas características não são suficientemente relevantes para criar uma atitude de rechaço ou de antipatia. Os estudantes fazem uso de estratégias argumentativas que contêm formações discursivas de cunho claramente ideológico (ORLANDI, 1987) e revelam que temos um sentimento de inferioridade com respeito à Espanha e aos espanhóis (europeus, melhores, superiores). Além destes, os demais valores atribuídos também vão em direção a construir uma imagem que se aproxima muito da perfeição, pois nela se conjugam o que é forte, seguro, íntegro mas sem perder a alegria e a afetividade, atributos tão caros a nós brasileiros.
Assim, nota-se que o espaço da idealização que opõe inferior versus superior está diretamente relacionado ao lugar que atribuímos a nós mesmos e não apenas ao lugar que é designado ao outro. Para entender melhor essa relação, vejamos que imagens aparecem dos brasileiros. Nas manifestações sobre os brasileiros, as contradições são evidentes. Por um lado, aparecem imagens de um povo alegre, receptivo, simpático, tolerante, festivo e criativo. Mas por outro, o povo brasileiro aparece como submisso, preguiçoso, acomodado, que não respeita as leis ou as regras e que tenta tirar vantagem de tudo fazendo uso do famoso "jeitinho".
A complexidade da relação que se estabelece com o outro em função das projeções que podem resultar desse jogo não é fácil de deslindar. Porém, parece-me haver uma pista que mereceria ser seguida mais de perto: que é a de que os espanhóis podem ter condensado uma imagem que promove um apagamento desse conflito, pois no imaginário reúnem tudo aquilo que em nós brasileiros é tido como bom, desejável e ainda têm o oposto daquilo que em nós é ruim e rejeitado.
Quando se referem ao espanhol da Espanha e ao português do Brasil, o conflito com a LM e uma idealização da LE volta a se reproduzir de forma semelhante ao que ocorre com a visão de brasileiros e espanhóis. Na parte III do questionário repetem-se as imagens que mencionei linhas acima da variante espanhola como "original", "correta", "mais universal", "bem falada". A idéia da universalidade, por exemplo, faz crer que, se usada a variante espanhola com qualquer hispano-falante, não haveria nenhum problema de comunicação; é a forma transparente da língua. Na verdade, o espanhol da Espanha —mais precisamente o de Castela— confunde-se com a língua espanhola ou preenche todo o seu espaço, como se observa no comentário sobre essa variedade lingüística: "é uma língua fácil para nós brasileiros" (grifo meu).
As imagens que os alunos manifestam sobre sua LM também são fundamentais para entender o tipo de relação que estabelecem com o espanhol como LE. Nota-se, pelas frases dos alunos, que sua relação com o português apresenta conflitos e contradições. Ao ter que escolher entre os adjetivos propostos aqueles que melhor traduziam as características da língua portuguesa, os que aparecem com mais freqüência são: agradável, bonita, rica, difícil, compreensível e familiar. Como podem dizer que sua língua materna é difícil se "essa língua é tão onipresente na vida do sujeito, que se tem o sentimento de jamais tê-la aprendido [...]" (REVUZ, 1998, p. 215). Acredito que há vários fatores que interferem na atribuição dessa característica e entre os alunos há duas manifestações reveladoras: "o português é difícil para o estrangeiro" e é também "difícil, com muitas regras e particularidades" (grifos meus). Acredito que ambas afirmações referem-se a apenas uma parte da língua, a saber: a norma culta, o português que se estuda na escola, um português que não é a língua que falamos. A percepção sobre o excesso de regras advém da lembrança de uma dificuldade com o estudo formal da língua; já a afirmação da dificuldade que encontrará o estrangeiro, além dessa mesma motivação, ainda pode significar a consciência do abismo que separa aquilo que se fala daquilo que se escreve, a necessidade para o estrangeiro de aprender duas e não uma língua ao estudar o português.
Em algumas frases aparecem comparações com o português de Portugal que se associaria à norma culta da língua e, em uma delas, fica evidente a cisão de que falo: o português do Brasil é "interessante, mais descontraído que o de Portugal, apesar de o de Portugal ser muito bom de se ouvir (e dá vontade de aprender)" (grifo meu). O comentário entre parêntese traz à tona a separação do português em duas línguas, pelo menos, e a constatação de que o falante já tem a percepção de tal cisão.
Essa relação cindida com o português aparecia também em frases que colocam os falantes como violadores ou destruidores da sua própria língua: "infelizmente quem deveria preservar a forma culta da língua não o faz, abusando de anglicismos e espanholismos"; "muito mal falado pela população", "a linguagem do povo torna a língua pobre"; ou ainda, "ela [a língua portuguesa] é um ‘ser’ que está ficando doente e o remédio certo para a cura ainda não foi encontrado" (grifos meus). A violência e a degradação promovidas na língua, transformando-a num "ser doente", parece ser efetuada sempre por um outro —o povo, a população—, um grupo no qual o autor do discurso não se inclui, já que não usa a primeira pessoa para referir-se ao processo que identifica. No entanto, essa língua rejeitada, alheia, externa, de que não se gosta é a língua que falamos todos, pois desde o falante mais culto até o mais ignorante, todos falamos um português radicalmente diferente daquele idealizado pela gramática normativa; caso contrário soaríamos como um personagem de Machado de Assis transportado diretamente do final do século XIX.
Nessa relação profundamente complexa de rechaço, idealização, dificuldade, gostar e não gostar, estão presentes as línguas todas que falamos, a da gramática normativa, a das aulas de português da escola, as das diferentes regiões luso-parlantes. Está presente também um desejo de higienização, de limpeza, de recuperação de uma língua original, perdida; desejo esse que de certo modo se projeta sobre o espanhol, principalmente o espanhol da Espanha. Este constitui um lugar, uma língua que, como mostrei linhas acima, unifica, desfaz a cisão e o conflito, pois é "culta, original, limpa, pura e correta", além de receber os atributos de "fácil e compreensível" com muita freqüência.
Observa-se, assim, que enquanto o que faz parte da nossa língua, da nossa cultura e da nossa identidade (lo nuestro) aparece dividido e conflitivo, a Espanha, seu povo e sua variedade lingüística (lo ajeno) constituem um lugar ideal e perfeito.
A formação desse imaginário está relacionada à influência que a projeção do interior sobre o exterior tem no processo de percepção:
"a imagem perceptiva contém, de fato, conceitos e juízos. Entre o verdadeiro objeto e o dado indubitável dos sentidos, entre o interior e o exterior, abre-se um abismo que o sujeito tem de vencer por sua própria conta e risco. Para refletir a coisa tal como ela é, o sujeito deve devolver-lhe mais do que dela recebe. O sujeito recria o mundo fora dele a partir dos vestígios que o mundo deixa em seus sentidos" (ADORNO, 1985, p. 176)
Portanto, "em certo sentido, perceber é projetar" (ADORNO, ibid., p. 175). Mas, para que a percepção não se torne apenas projeção é preciso que o diálogo entre interior e exterior seja mantido, caso contrário "Ele [o sujeito] dota ilimitadamente o mundo exterior de tudo aquilo que está nele mesmo"(ADORNO, ibid. p. 177), as imagens se congelam dando espaço ao aparecimento dos estereótipos, do preconceito e até da perseguição. O caminho deve ser sempre orientado por uma transformação permanente da imagem do objeto que vai ganhando contornos mais variados e profundos conforme vamos nos aproximando. Se não se sai do lugar do estereótipo, do pré-conceito o aprendizado também corre o risco de se congelar.
No caso do espanhol e do português o risco de que a língua e a cultura do outro se transformem apenas naquilo que o indivíduo projeta sobre elas, uma deformação construída a partir de imagens parciais e distorcidas, é muito grande, pois a ausência de limites claros, a aparente semelhança entre as duas línguas podem colaborar ainda mais com uma cegueira e com uma surdez, com a reprodução na expressão lingüística daquilo que se imagina ser a outra língua e não de fato do que é. Somente num processo de percepção genuína, em que sujeito e objeto dialogam, em que o sujeito está disposto a enxergar e experimentar as semelhanças e as diferenças e a identificar-se com elas em certa medida, é possível adquirir ou aprender.
Restaria estudar, então, os efeitos que esse complexo jogo entre a imagem idealizada do espanhol, a língua espanhola real e a presença da LM com suas idiossincrasias, produz sobre o processo de aquisição/aprendizagem da LE, que ora é o espelho, ora é o oposto, ora se aproxima, ora se distancia. A partir desta reflexão seria fundamental que os cursos de espanhol como LE tivessem também como parte de seus programas a proposta de trabalhar sobre a desconstrução dos preconceitos e dos estereótipos. No caso do espanhol são necessários dois movimentos: um que vá no sentido de mostrar as diferenças, tanto as lingüísticas quanto as culturais, e encontrar o devido lugar das semelhanças, "la justa medida de esa cercanía" (GONZÁLEZ& KULIKOWSKI, 1999, p. 19) e outro que contribua com uma relação mais profunda e menos maniqueísta com os universos nos quais os alunos estão penetrando, de aceitar mais a diferença como enriquecedora. Com o tempo e com uma proposta de trabalho que além de conjugar verbos tenha esta preocupação, acredito que é possível fazer com que a diferença sirva inclusive como elemento de desnaturalização de nossa língua e nossa cultura e de questionamento das formas pelas quais nos relacionamos com o mundo. A língua e a cultura do outro podem assumir um papel libertador e dar aos objetos as novas formas que não podiam assumir antes.
Referências bibliográficas
ADORNO, T. W., HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1985.
FRANCHI, C. Linguagem – atividade constitutiva. Caderno de Estudos Lingüísticos, Campinas: IEL-UNICAMP, n. 22., p. 9-39, 1992.
GONZÁLEZ, N. M., KULIKOWISKI, M. Z. Español para brasileños. Sobre por dónde determinar la justa medida de la cercanía. Anuario Brasileño de Estudios Hispánicos, Brasilia: Consejería de Educación de la Embajada de España, vol. 9, p. 11-19, 1999.
LARSEN-FREEMAN, D. Chaos/Complexity science and second language acquisition. Applied Linguistics, Oxford University Press, vol. 18, n. 2, p. 141-165, 1997.
ORLANDI, E. P. Funcionamento e discurso. In: A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. Campinas: Pontes, 1996. p. 115-133.
REVUZ, C. A língua estrangeira entre o desejo de um outro lugar e o risco do exílio. In: SIGNORINI, I. (org.). Lingua(gem) e identidade. São Paulo: Mercado de Letras, 1998, p. 213-230
1 "dinâmico, complexo, não linear, caótico, imprevisível, sensível às condições iniciais, aberto, auto-organizável, sensível ao feedback e adaptativo" (tradução minha)
2 Embora não haja na Espanha uma única forma de falar, a variante madrilenha, que aparece nos materiais didáticos, acaba por difundir-se como o "espanhol da Espanha"