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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Out. 2002

 

LÍNGUA ESPANHOLA

 

A transferência, a interferência e a interlíngua no ensino de línguas próximas

 

La transferencia, la interferencia y la interlengua en la enseñanza de lenguas próximas

 

 

Profa. Dra. Maria Luisa Ortíz Alvarez

Universidade de Brasília

 

 


RESUMEN

El estudio de estos tres fenómenos ha ocupado un lugar de destaque en las pesquisas en Lingüística Aplicada principalmente en el área de enseñanza / aprendizaje y adquisición L2/LE. En el caso de la transferencia tenemos dos modalidades, la positiva y la negativa, esta ultima que también recibe el nombre de interferencia. La primera dada a través de la influencia ejercida por la L1 o lengua materna en la L2 y considerada una ayuda benéfica, la segunda cuando la misma influencia se torna negativa por llevar a errores muchas veces graves y que pueden provocar malentendidos. La interlengua es un fenómeno que se desarrolla durante el proceso de enseñanza / aprendizaje y puede, en ocasiones, conducir a una fosilización. El objetivo de este trabajo es mostrar como las pesquisas más recientes muestran el grado de desarrollo de los estudios con relación a estos tres aspectos que para la enseñanza de lenguas próximas como el portugués y el español reviste una gran importancia.


 

 

Os problemas básicos da aprendizagem de uma língua
estrangeira não surgem de qualquer dificuldade
essencial nas características de uma nova língua, mas,
antes de tudo, surgem de um arranjo especial criado
pelos hábitos da língua materna.

 

Falando de ensino de línguas, especificamente, português ou espanhol não podemos esquecer que a proximidade entre ambas cria o que nós chamamos de benefício no início da aprendizagem, mas que nos estágios mais avançados torna-se uma dificuldade. Isto acontece porque a proximidade e semelhança decorrente contribuem para uma compreensão inicial que pode desinibir o aluno na etapa inicial colocando-o como falso iniciante. Mais tarde, quando o nível de complexidade aumenta, a tendência é a cometer erros que podem se tornar fossilizáveis dentro da interlíngua criada pelo aprendiz.

Perante esta situação, nos últimos anos muitos pesquisadores da área de Lingüística Aplicada tem se dedicado a realizar estudos com relação à interlíngua baseados nas pesquisas sobre a análise contrastiva e a análise de erros.

No final da década de 60 e começo de 70 deixou de se considerar o aprendiz como um produtor de linguagem imperfeita, repleta de erros e passou a ter uma outra visão onde o aprendiz é considerado um ser criativo que processa sua aprendizagem através de estágios de aquisição lógicos e sistemáticos. Assim, os erros produzidos ganham um novo status, uma vez que passam a ser analisados como um processo gradual de tentativa que permite ao aluno testar hipóteses, estabelecer aproximações do sistema usado por nativos e criar um sistema lingüístico legítimo.

Assim cabe agora provar que isso de fato ocorre à luz desses fatos presentes em nossa língua. Detectar quais fenômenos aproximam a gramática não-nativa da gramática do português brasileiro que confirmam a sua influencia nesse processo de aquisição do espanhol. Levando em conta que a interlíngua é um sistema aproximativo pelo qual o aprendiz vai formulando hipóteses sobre a língua-alvo, procuraremos observar também que fatos aproximam sua gramática da gramática da língua que está sendo adquirida.

O fenômeno da transferência na aquisição de uma segunda língua visto nas suas duas modalidades, transferência positiva quando a influencia de L1 sobre a L2 ajuda, é benéfica, ou a transferência negativa ou interferência quando esta última provoca erros, tem sido um ponto muito discutido. Hoje em dia a transferência é reconhecida como um fenômeno não totalmente compreendido que é provocado por múltiplos fatores que interatuam entre si. O ponto de discussão já não é se existe, senão a tarefa é descobrir quando porquê se produz a transferência.

Entende-se por transferência o processo que ocorre quando o aprendiz de uma L2 utiliza os conhecimentos lingüisticos e as habilidades comunicativas (seja da L1 ou de qualquer outra língua adquiridas previamente) na hora de produzir e processar mensagens na L2.

Na tentativa de formular uma teoria que explicasse a interiorização e aquisição e aquisição da L2 muitos estudiosos dedicaram-se ã análise da transferencia, a interferência ou interlíngua e a fossilização. Surgem varias tendências, umas de corte condutivista e outra cognitivista, sem contar os seguidores da teoria chomskyana com relação à Gramática Universal (Kean, 1986, White, 1992, Bradi (1999), Ellis (1994), Gass& Selinker (1994), dentre outros).

Os estudos teóricos e empíricos publicados com relação a esse tema podem ser divididos em três etapas:

Hipótese da Análise Contrastiva

Nos anos 50 a teorização sobre a transferencia se associa ã hipótese da AC onde a transferencia tem um papel omnipresente dentro da aprendizagem de línguas chegando-se a sugerir que o que se aprende e como se aprende depende em ultima instancia da influencia da L1, fazendo-se eco da teoria condutivista a qual postula que ao aprender uma L2 o indivíduo tende a transferir as formas e significados da L1 e que as dificuldades ou facilidades de aprender uma língua é conseqüência direta das diferenças e/ou semelhanças que existam entre a L1 e a L2. Se existir semelhanças, o aprendiz poderá transferir as estruturas lingüisticas e padrões culturais de sua L1 ao interagir com falantes nativos da L2, ou seja, se deduz que a aparição da transferencia é devido a fatores externos ao aprendiz.

Posição minimalista

Negava e/ou limitava ao mínimo qualquer possível influencia da L1 na interiorização do novo sistema lingüistico. Destacam-se entre os representantes Newmark& Raibel (1968). Segundo estes autores o aprendiz recorre a L1 quando seus recursos da L2 não lhe permitem levar adiante seus propósitos comunicativos (aqui a transferencia seria uma estratégia de uso da língua). Se defende, então a hipótese (Corder (1967) Selinker (1972), Nemser (1971) que o aprendiz cria seu próprio sistema lingüistico (sua interlíngua) mediante processos similares e idênticos (Hipótese da Construção criativa, v. Sharwood& Smith, 1994). Não cabia continuar acreditando numa aprendizagem lingüística em termos de aquisição de hábitos.

Até os anos 60 se pensava que as dificuldades encontradas pelos aprendizes de uma L2 eram oriundas de sua LM, ou seja, se houvesse diferenças entre a L1 e a L2 a L1 interferiria na L2. esse processo recebeu o nome de transferência lingüística. Primeiro, teve uma visão behaviorista, segundo a qual se acreditava que os hábitos da L1 eram transferidos para a L2. A transferência podia ser positiva (formas similares ocorrem nas duas línguas), ou negativa, também conhecida como interferência (uma forma da L1 é usada para suprir uma forma da L2), esta última circunstancia leva ao erro.

A análise de erros pode demonstrar diferenças significativas entre a produção lingüística de uma L2 e a do falante nativo da mesma língua (Santos 1998) e também que certos tipos de erros são comuns na aquisição de uma L2 não importando qual a L1 do aprendiz. Esses erros são indicadores de processos desenvolvimentais e encontrados na aquisição tanto da língua L1 quando da L2.

Lightbown& Spada (1998) consideram que mesmo o aprendiz que recebe instrução formal com ênfase gramatical passa pela mesma seqüência desenvolvimental e faz os mesmos tipos de erros que o aprendiz que adquire a L2 em contexto natural. Segundo o autor o tempo que o aprendiz vai gostar em cada estágio de desenvolvimento vai depender das características lingüísticas da L1 do aprendiz.

O resultado da análise dos erros dos alunos provou que, por vezes, não havia transferência quando as formas da L2 eram diferentes das da L1. Outras vezes os erros cometidos pelos alunos não eram de transferência, mas sim de erro interligue, ou seja, muitos desses erros eram similares àqueles produzidos por crianças que estavam adquirindo uma L2 como L1 (Dulay& Burt (1972), por transferência de aprendizagem, ou seja, o modo como o aluno é ensinado o leva ao erro (Selinker, 1972) ou a supergeneralização, quando o aluno generaliza o uso de uma regra para outros itens que não seguem a mesma regra.

Major (1987/2001) propõe o Modelo Ontogênico para a aquisição de uma L2 e estabelece inter-relação entre interferência e fatores de desenvolvimentais. De acordo com esse modelo, no início da aprendizagem, existem quase que somente processos de interferência, que com o decorrer do tempo diminuem, enquanto os processos desenvolvimentais aumentam e depois diminuem.

Os estudos de interlíngua adotaram uma posição (perspectiva) psicolinguistica Corder, 1975, 1974 postula a existência de estratégias de processamento lingüística.

Nos anos 60 e 70 tentou-se descobrir quais os processos responsáveis pelo desenvolvimento da interlíngua. Os dados empíricos obtidos sugeriram que nem todos os erros produzidos na aprendizagem são resultado da influencia negativa da LM do aprendiz.. Além das transferencias existem outros fatores tais como falsas generalizações, aplicação incompleta de regras ou hipercorreção. Esses fatores se transformaram em categorias dos processos subjacentes ao desenvolvimento da IL ,manifestação do papel ativo e criativo do aprendiz.

Etapa que esclarece a confusão inicial entre aprendizagem e uso levando também ã distinção com relação ao papel da transferencia no processamento e armazenamento de dados lingüisticos e recuperação e uso de dita informação em tempo real.

No decorrer do desenvolvimento de uma interlíngua nota-se a existência de um processo sistemático e dinâmico, pois ela evolui à medida que o aprendiz recebe mais quantidade de insumo e testa suas hipóteses sobre a L2. Teorias lingüísticas de da interlíngua sugerem que a testagem de hipoteses por si só não é suficiente para explicar seu desenvolvimento.

Adjemian (1976) afirma que a interlíngua é uma língua natural que tem uma gramática permeável, constatada ao se observar que os aprendizes transferem propriedades gramaticais da L1 e, muitas vezes com o intuito de se comunicar e expressar suas idéias, generalizam ou usam propriedades da L2 de forma inadequada.

Pesquisas recentes mostram que a transferência se dá quando há algum grau de semelhança entre as duas (ou mais) línguas implicadas e que o falante de uma língua, aprendiz de uma L2, perceba esta semelhança como tal e sinta que o elemento que quer transferir é comum e nenhuma exceção na sua língua. Para evitar uma interpretação muito subjetiva do que poderia ser transferência do português ao espanhol.

O português brasileiro tem um papel na aquisição de uma extensa área da gramática do espanhol. Atuando no nível de intake, ele afeta a compreensão, o processamento e a retenção de uma série de regras da L2 que termina por afetar as escolhas feitas, deixando na interlíngua uma série de marcas, mais ou menos clara da LM dos aprendizes.

O processo de transferência que encontramos na interlíngua dos estudantes brasileiros de espanhol como LE a estratégia da equivalência não é em absoluto a única aplicada

Nosso trabalho permite rastrear e testar hipóteses sobre questões muito discutidas nos dias de hoje pela LA, como o fenômeno da aquisição da língua e as bases em que ela se processa, o papel da transferência, ou da LM nesse processo.

Segundo a classificação de Corder (1992) há dois tipos de transferência:

Empréstimos que funcionam quando as línguas estão muito próximas; a estratégia deixa de funcionar em casos em que há uma semelhança moderada. De todo modo, sempre e fenômeno da performance e estratégia comunicativa;
Transferências estruturais fazem parte da aprendizagem de uma língua como parte da competência lingüística.

Gonzalez (1994: 65) também analisa a influencia da transferência lingüística no processo de aquisição de uma LE como mostra a seguir:

A transferência de fato existe e os fenômenos gramaticais que ela provoca não são meramente frutos de olhar hiper-corretivo do professor, e, por fim, a transferência é um processo que vai ao mesmo que está além da incorporação de empréstimos da L1 na interlíngua (sendo estes uma mínima parte dos efeitos, muito mais difusos e complicados, da influencia da L1 sobre a L2, influencia essa que pode conduzir inclusive a graves distorções que chegam a afastar a gramática da interlíngua das gramáticas de ambas), operando no nível cognitivo, do intake, à maneira de um filtro ou de um processador, que capta parte do input e descarta o que não parece ser relevante ou o que não é compreendido, de acordo com critérios que já estão presentes internamente.

A transferência opera na aprendizagem de espanhol por brasileiros, tanto nos freqüentes empréstimos lingüísticos quanto na morfossintaxe, provocando alterações estruturais, algumas das quais se podem observar nos estágios de interlíngua (Brabo 2001).Ela se manifesta também nas simplificações, empréstimos e decalques semânticos e sintáticos, também como na tradução literal.

Para ter uma idéia de como os estudos de interlíngua tem avançado nestas últimas décadas faremos um percurso começando a partir da aparição do termo.

Selinker (1972) denomina a interlíngua como um sistema lingüístico próprio baseado na produção observável do aprendiz resultado da tentativa que faz de produzir a norma de língua-alvo. Santos Gargallo (1993) aponta que em 1969 Selinker adotou o termo interlíngua de Weinreich (1953) e em 1972 o reelaborou considerando-o como um sistema intermediario entre a LM e a LE constituindo uma linguagem autônoma da qual o aluno se serve para alcançar seus objetivos comunicativos.

O autor apresenta cinco processos fundamentais na estrutura psicológica do aluno e cada um dos elementos fossilizáveis está relacionado a um ou mais destes processos como comprovaremos a seguir:

Transferência prática que se refere àqueles que podem ser identificados como resultado de procedimentos de práticas de novas estruturas;
Estratégias de aprendizagem, tendência do aluno em reduzir o sistema de língua-alvo a um sistema mais simples, evitando categorias que não considera importantes;
Estratégias de comunicação referente aos processos cognitivos desenvolvidos pelo aluno na tentativa de se comunicar na LE pretendendo resolver carências em sua competência na língua-alvo com o propósito de transmitir um significado de forma satisfatória;
Generalização das regras da gramática da L2: são generalizações errôneas que ocorrem nas regras gramaticais da língua-alvo.

Ainda, segundo Selinker (19994) a interlíngua se apresenta desde o inicio da aprendizagem, quando o aluno tenta expressar significados na LE. Nemser (1971) utiliza o termo sistema aproximativo e enfatiza o fato de os aprendizes criarem sistemas que se aproximam gradualmente da língua-alvo e variam de acordo com o nível de domínio desta, a experiência da aprendizagem e aptidões pessoais para a aprendizagem. Corder (1974) utiliza o termo dialeto transitório caracterizando-o como um dialeto peculiar da língua-alvo diferindo em muitos aspectos cruciais daquela e talvez partilhando algumas características com a LM. Em 1981 utiliza o termo dialeto idiossincrático elucidando que algumas regras requeridas para sua formação não fazem parte de nenhum conjunto de regras de qualquer dialeto social senão peculiares à linguagem daquele falante; instável em sua natureza, por isso transitório.

Besse& Pourquier (1991) acreditam que a interlíngua seja uma competência de comunicação não nativa individualizada. Os sistemas intermediários que constituem a IL não podem ser descritos sem fazer referencia à competência de comunicação nativa e à experiência da língua-alvo.

De acordo com Gass& Selinker (1992) a IL é um processo de testagem de hipóteses, através do qual eles criam corpos de conhecimentos extraídos dos dados da L2 que eles avaliam, e como um processo de utilização do conhecimento da L1 ou de outras línguas conhecidas pelos aprendizes,

Segundo Brabo (2001) a interlíngua constitui uma competência lingüístico-comunicativa que o aprendiz de LE manifesta em sua produção, marcada pela variabilidade num percurso com avanços, regressões, instabilidades e possíveis fossilizações até o estágio final. Além das transferências lingüísticas ocorre a criação de regras próprias a esse sistema.

Fernández (1997) resume a interlíngua como uma etapa obrigatória na aprendizagem de uma LE. Ela é um sistema interiorizado que evolui, tornando-se cada vez mais complexa. É um sistema diferente da LM e da língua-alvo embora se apresenta como uma mistura das duas. Possui duas características contraditórias: a sistematicidade e a variabilidade. É sistemática no sentido de que, como em toda língua, pode-se encontrar nela um conjunto de regras de caráter lingüístico e sociolingüístico que são, em parte, coincidentes com a língua-alvo e em parte não. É variável pelo fato de, em cada estagio, as produções dos alunos obedecem a mecanismos e hipóteses sistemáticos, só que essa sistematicidade é variável, porque as hipóteses vão sendo reestruturadas.

A autora ressalta que na AC, as dificuldades e erros dos alunos eram atribuídos à transferência negativa dos hábitos da LM. A AE passa a demonstrar a construção criativa da língua-alvo por parte dos alunos caracterizando que nesse processo, a LM é apenas uma estratégia para aprendizagem. Nesta perspectiva o erro passa a ser visto como importante criando condições favoráveis para o desenvolvimento da língua-alvo.

A transferência lingüística é responsável por itens fossilizáveis, regras e subsistemas que ocorrem no desempenho da interlíngua por ação da língua materna. Segundo Ellis (1985) Selinker considera a transferência como um processo organizador integrado a outros para o insumo lingüístico frente ao sistema lingüístico que o aprendente já possui. Brown (1987/1994) caracteriza os estágios iniciais de aprendizagem de uma L2 pela transferência interlingual da LM ou interferência interlingual não somente da L1, como também da L2 na aprendizagem de uma L3.

Weinreich (1953) explica a fossilização como um caso de transferência que se torna permanente. Para o autor, formas da L1 que são erroneamente identificadas como formas equivalentes da L2, e assim transferidas ficam estabilizadas e eventualmente se fossilizam. A posição do autor es estruturalista

Nemser (1971) considera a fossilização como sistemas e subsistemas intermediários que se tornam permanentes. O autor explica este fenômeno numa época em que a validade da AC estava sendo testada e na qual os erros dos alunos eram mais tolerados.

Selinker& Lakshamanan (1992) tentam explicar que a transferência pode ser considerada um fator privilegiado ou necessário para que a fossilização ocorra.

Selinker Swain e Dumas (1975) demonstraram que a hipótese de interlíngua também se aplica a crianças que aprendem uma L2 principalmente quando a aprendizagem ocorre num contexto onde elas não convivem com outras crianças falantes nativas da língua-alvo. Os autores sugerem quatro prováveis características que fundamentam a hipótese de interlíngua, a saber:

Estabilidade evidenciada pelo processo da fossilização seria o prenuncio da fossilização.

Inteligibilidade mutua. As interlínguas são usadas para que haja comunicação entre seus falantes, assim, isto nos leva a crer que Adjemian tinha razão quando afirmou que uma interlíngua pode ser vista como uma língua natural.

Reincidência, quando os aprendizes usam formas corretas da língua-alvo em algumas ocasiões e em outras usam as formas erradas. Formas fossilizadas podem desaparecer do uso produtivo da língua temporariamente, mas reaparecerem, geralmente, em situações de estresse ou quando o aprendiz apresenta algumas dificuldades de comunicação. Adjemian não vê reincidência como indicação de da presença de fossilização. Para o autor não está claro se esses dois fenômenos estão intimamente ligados ou se a fossilização é o resultado do uso de uma estratégia que leva o aprendiz a evitar formas lingüísticas que ele considera difíceis ou que não foram suficientemente praticadas para serem usadas corretamente. Assim o aprendiz usa, de modo consistente, uma forma lingüística alternativa que pode vir a se fossilizar com o tempo. A fossilização, então, implica que o aprendiz não tem a alternativa da forma ou regra correta na sua competência. No caso da reincidência, o aprendiz possui a forma alternativa ou a regra correta na sua competência, mas devido a certos fatores contextuais ou emocionais, ele não a usa.

Sistematicidade As formas lingüísticas da interlíngua diferem das da L1 e das da L2. Isso comprova que a interlíngua é composta por regras lingüísticas únicas que podem ser descobertas se a fala do aprendiz for analisada.

Nakuma (1998) sugere duas suposições para entender a fossilização. Uma seria que certas formas da L2 fossilizam, pois elas foram aprendidas de forma irregular pelo aprendiz. Essa suposição ao sucesso ou à falha de aprendizagem. Neste sentido ela será vista como um fenômeno no nível da competência e não do desempenho. A oura suposição é a de que a fossilização é manifestada pelas formas irregulares da L2 produzidas pelo aprendiz. Assim a fossilização poderia ser um fenômeno que ocorre no nível dôo desempenho, pois o aprendiz conclui que uma certa forma na L2 por meio da transferência. Desse modo, a fossilização é criada pela identificação interlingual que vem a ser o modo como o aprendiz julga se uma estrutura lingüística da L2 é idêntica ou semelhante à da sua L1. O autor afirma que as formas fossilizadas não são formas que foram adquiridas de uma maneira irregular, mas sim formas que não foram adquiridas pelo aprendiz e que, então são preenchidas pelas formas que o aprendiz tem a sua disposição e que ele as identifica como sendo as mesmas disponíveis na sua L1.

Segundo o próprio autor a fossilização seria a recorrência de uma forma não só incorreta, mas também que se acredita impossível de ser mudada durante a produção da língua-alvo, não importando o grau de exposição a que o aprendiz seja submetido na mesma. O que difere a fossilização da estabilização é justamente o fato da primeira não poder ser corrigida e a segunda sim.

Vários autores tentaram esclarecer o fenômeno da fossilização em diferentes épocas começando por Weinreich (1953) que explica a fossilização como um caso de transferência que se torna permanente pois formas da L1 que são erroneamente identificadas como formas equivalentes da L2 e assim transferidas ficam estabilizadas e eventualmente se fossilizam.

 

À guisa de conclusão

Constata-se que a proximidade das línguas portuguesa e espanhola influencia na transferência lingüística, mas se o aprendiz tenta-se fazer um esforço para superar as dificuldades, se se interioriza o insumo apresentado, se estivesse mais motivado, talvez o processo seria mais eficaz.

Na abordagem comunicativa o aprendiz é visto como um seletor criativo e organizador do insumo com uma metodologia bastante complexa muitas vezes subconsciente de modo a construir o seu sistema lingüístico.

O uso de tarefas na sala de aula de língua pode promover a interação e, conseqüentemente, o uso da língua-alvo.

Uma tarefa, segundo Xavier (1999) é capaz de ativar a estrutura cognitiva do aprendiz quando ele interage com o insumo da língua-alvo e com os participantes do processo de ensino/aprendizagem, isto é, professor e colegas. Nesse sentido, a tarefa promove aprendizagem e possibilita o desenvolvimento da interlíngua dos alunos.

Conclui-se que o fenômeno da fossilização não deve ser generalizado, pois os aprendizes percebem certas formas de maneira muito individual. Elas são percebidas de modo errado pelo aprendiz que irá ignorar a forma correta, pois não sente a diferença entre elas nem a necessidade de usar outra forma já que ele consegue transmitir a mensagem, embora deturpada. Ela persistirá a não ser que haja uma demonstração clara das diferenças entre as duas formas e de como chegar à L2. Há vários questionamentos sobre a forma como a fossilização ocorre, identificando a natureza desse fenômeno, quando ele se inicia, por quanto tempo ele persiste, quais os aspectos da interlíngua que são susceptíveis à fossilização e os fatores para que ela ocorra. Inúmeras pesquisas tentam responder a alguns desses questionamentos, mas varias dessas perguntas ainda continuam sem resposta.

 

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