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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002

 

A expressão poética juanramoniana: ruptura e transcendência1

 

 

Tatiana Francini Girão Barroso

Universidade Anhembi Morumbi
Unicapital

 

 

A partir da análise do poema ''El todo interno'', procuraremos revelar alguns elementos constituidores da expressão poética juanramoniana em Dios deseado y deseante, livro que integra sua terceira etapa poética, conhecida como etapa metafísica. Entre estes elementos destacaremos, dentro do âmbito histórico e histórico literário, a ruptura com a chamada ''tradición de la ruptura''2 da literatura moderna, que tornará possível, em Dios deseado y deseante, a construção de um espaço de totalidade e de transcendência através da criação poética, como pretendemos demonstrar. Para entender a época em questão, não podemos deixar de contextualizá-la historicamente, abarcando o âmbito coletivo (a História propriamente dita) e o âmbito pessoal de Juan Ramón: bem sinteticamente, Juan Ramón deixa a Espanha em 1936, devido à guerra civil espanhola, vive em Porto Rico, Cuba e Estados Unidos. Sua poesia, desde então, será uma tentativa de reconstrução de um tempo e de um espaço pessoal3. Será, também, um modo de transcender esta história, tanto coletiva quanto pessoal. Sua terceira etapa é, por isso, um período que começa em 1936, com o exílio, e termina em 1954, quando deixa de escrever.

Essa determinação histórica mencionada anteriormente e a tentativa de transcendê-la movem uma busca ontológica que se revela nos poemas como as relações entre identidade e alteridade, essência e aparência (substância e forma), tempo e espaço, movimento e permanência (ser e estar), e que se resolve como plenitude, encontro, totalidade. Sendo assim, os poemas de Dios deseado y deseante nos revelarão uma poética metafísica, algo que podemos nomear como expressão metafísico-poética, sob o signo da ruptura e da transcendência, conforme pretendemos demonstrar a partir do poema mencionado.

El todo interno

He llegado a una tierra de llegada.
Me esperaban los tuyos, deseado dios;
me esperaban los míos
que, en mi anhelar de tantos años tuyos,
me esperaron contigo,
conmigo te esperaron.

¡Y qué luz entre ellos:
en un sol cenital imprevisto y sonllorante,
sobre una aurora con sus torres contra rojo,
en una noche de encantado desear,
en una tarde de crepúsculo alargado,
entre un mediodía de plomo abrigador,
por una madrugada con nublado y una estrella!

¡Qué luz entre ojos, labios, manos;
qué primavera del latir;
qué tú entre ellos, en nosotros tú;
qué luz, qué perspectivas
de pecho y frente (joven, mayor, niño);
qué cantar, qué decir,
qué abrazar, qué besar;
qué elevación de ti en nosotros
hasta llegar a ti,
a este tú que te pones sobre ti
para que todos lleguen por la escala
de carne y alma
a la conciencia desvelada que es el astro
que acumula y completa, en unificación,
todos los astros en el todo eterno!

El todo eterno que es el todo interno.

O poema se inicia pelo ponto de chegada e revela o encontro entre sujeito lírico e dios deseado y deseante. Por outro lado, esse encontro se realiza constituindo outro espaço, manifestado no poema pelo relativo ''que'' e pela preposição ''en'': o espaço do desejo, preenchido de tempo (''que, en mi anhelar de tantos años tuyos''). Desse modo, podemos dizer que a primeira estrofe relata o reconhecimento do espaço conquistado e que este fora um espaço anterior: o espaço do desejo constituído pelo tempo (pelo acúmulo de tempo) e (re)criado pelo poeta. O sujeito poético é esperado, mas é sujeito que espera também, através do desejo.

O que na primeira estrofe é narrativa do reconhecimento da chegada se transforma, na segunda e terceira estrofes, na manifestação do próprio reconhecimento, em uma epifania da contemplação do alto, expressa por um transbordamento lírico que se constrói por enumerações e por uma afetividade lírica marcada pela exclamação. No fim da viagem, nessa ''tierra de llegada'', será possível contemplar – e nomear – a luz:

¡Y qué luz entre ellos:
en un sol cenital imprevisto y sonllorante,
sobre una aurora con sus torres contra rojo,
en una noche de encantado desear,
en una tarde de crepúsculo alargado,
entre un mediodía de plomo abrigador,
por una madrugada con nublado y una estrella!

Essa ''tierra de llegada'' se fragmenta em imagens constituidoras de espaços e tempos que se confundem e se estendem através das preposições que antecedem cada verso, sobrepondo-os uns aos outros simultaneamente: espaços no tempo, já que se estendem num período indeterminado. As ''torres'' nos remetem imediatamente a essa contemplação do alto, lugar de onde se vislumbra a totalidade fragmentada. Por outro lado, ''torres'' nos remete também à ''frente pensativa'' juanramoniana, relacionada à consciência, ao poder criador: contemplação através dessa consciência reflexiva e recriadora.

O verso ''en una noche de encantado desear'' nos parece central nessa estrofe. Noite, encantamento e desejo. O desejo – pleno de canto, lirismo, ''encantado'' – tem sua origem na noite. A noite – espaço do inconsciente, do sonho, do que é interno, profundo, do que é informe e está por vir, espaço onde se move o desejo – é permeada pela luz, consciência, manifestação da forma, realizadora do desejo. Essa luz, que se manifesta nos espaços do tempo, se manifestará, na estrofe seguinte, nos espaços do corpo – ''ojos, labios, manos'' –, também fragmentado, para culminar em uma ''conciencia desvelada''.

O corpo é representado por ''ojos, labios, manos'' e pelo florescimento do coração (''primavera del latir''), estendendo-se de novo ao cosmos. O corpo é também ''pecho y frente'': ''pecho'', como o espaço que abriga o coração, o sentir, e ''frente'' como o lugar da consciência, o pensar. Há luz e perspectivas: há, portanto, diferentes apreensões do pensar e do sentir que remetem o sujeito lírico aos tempos da vida – ''joven, mayor, niño'' –, sendo que o último é o tempo da infância, manifestação de uma ruptura com o tempo histórico em que o homem, de ''mayor'', passaria a ''muerto'', o que não acontece. Há, portanto, um desejo de anterioridade, desejo de regressar a um tempo antes de tudo mítico. E esse retorno só é possível através daquele florescimento anterior do coração e pela mediação da consciência que é capaz de captar e transformar o tempo passado em tempo presente: fusão entre sentir e pensar. A reflexão transforma em matéria poética o que era emoção e sensação (o que era informe) – uma realidade sensível –, e a comunicação se faz possível: ''qué cantar, qué decir, qué abrazar, qué besar''. Assim, o que era encantado e somente desejo se realiza pela apreensão, transformação através da reflexão e união de ''carne y alma'', que se manifestará mais tarde. A luz se estende a ''ojos'' (o olhar como elemento que permite a apreensão), ''labios'' (que comunicam: ''cantar'', ''decir'', ''besar''), ''manos'' (que manifestam através da escrita o que foi apreendido). São estes os instrumentos de comunicação entre o ''eu'' e o ''outro'', entre o que é externo e interno, entre consciência e essência, que no fim se identificam.

Até este momento, a manifestação de uma totalidade reconhecida se realizara por enumerações que acumulam imagens fragmentárias. O décimo primeiro verso introduz a explicação desse movimento de apreensão da totalidade que se dá a partir destas imagens fragmentárias. Os cinco últimos versos (do décimo primeiro ao décimo quinto) formam uma única unidade sintática como a realização da grande epifania final, em que os elementos estão sintaticamente unidos:

para que todos lleguen por la escala
de carne y alma
a la conciencia desvelada que es el astro
que acumula y completa, en unificación,
todos los astros en el todo eterno!

É o grande reconhecimento final, a justificativa de um processo que busca apreender, abarcar e nomear o que, sob a luz da consciência e da reflexão, é multiforme e simultâneo. Os versos ''para que todos lleguen por la escala / de carne y alma'' retoma versos anteriores: somente pela comunhão de ''carne y alma'', matéria e substância é que se chega à ''conciencia desvelada''.

O poema se constituiu, para chegar a esta ''conciencia desvelada'', de um acúmulo de imagens fragmentárias, como já dissemos. A consciência – agora ''desvelada'' - não só acumula como completa. Vemos que o processo constituidor desta consciência desvelada é paradoxal, já que ela se ''desvela'' através do acúmulo. Acumulando alteridades, fragmentos, multiplicidades de espaço e tempo revividos pela memória, reconstruídos, reassimilados, a totalidade se realiza e o último verso será um epigrama que unifica – sintetizando – tudo o que se expressara até então:

El todo eterno que es el todo interno

Esse último verso concentra e encerra, num movimento de retorno a si, essa viagem de re-conhecimento (a manifestação poética será a manifestação daquilo que já se conheceu, já que o poema se inicia no passado) e nos é apresentado em forma epigramática, mas também como um epitáfio: o reconhecimento revela também a morte como o fim de um período, o fim dessa passagem. Mas a morte é superada pela certeza da eternidade, que não está fora, mas dentro. A eternidade só pode ser constituída por aquilo que constitui o próprio homem: o tempo. O ''todo eterno'', como tempo, é simultaneamente espaço, cosmos, determinado por ''todo''.

O tempo do homem que regressa, transformando-o sucessivamente, é o tempo que construirá e transformará também o espaço, e essa transformação sucessiva constitui a eternidade. O homem, em seu movimento histórico, é capaz de romper com a tradição histórica4, com a sua temporalidade. Tempo e espaço podem ser finitos (finitos para uma mente estagnada, morta pelo peso histórico), mas não o ser. O ser (poético) se constitui, se faz pela imaginação, pela transformação do mesmo em nova matéria poética. E é a incompletude a responsável pela permanência e pela sucessão, superação da morte e da inexistência como última conseqüência: é ela quem move o desejo.

Esse ''todo eterno'' só é possível devido a essa consciência desvelada que acumula e completa, revivendo, recordando5, apreendendo e transformando o ''todo'' em novas formas poéticas, em novas manifestações do mesmo: será sempre o mesmo e sempre outro, o que supõe um movimento contínuo de reconstrução. Se tudo é movimento – um movimento em permanência -, qual a origem e qual o fim deste movimento, deste acúmulo e desvelo simultâneos? A origem seria a incompletude e o desejo, que se movem na noite, a partir do próprio ser. O fim, o próprio ser, movido pelo desejo de completar-se, e a expressão poética como manifestação, permeados pela luz, pela consciência que ilumina e revela. Vemos assim estabelecida uma ciclicidade poética dentro de um movimento sucessivo de constante recriação de si e do outro. Chegar a si mesmo, e esse deus deseado, não é senão uma nova apreensão de si e a certeza de que se constitui, certeza de que existe. Basilio de Pablos, em seu livro El tiempo en la poesía de Juan Ramón Jiménez, esclarece a idéia de existência:

Para el filósofo de hoy, la existencia del hombre es ''salir'' de sí mismo, ''estar ahí'', ''estar fuera''. Existir es ''ex-sistere'', dice Heidegger, apoyado en el ''etymon''. Es un salir permanente desde su ser hacia otro ser; desde la propia natura hacia otra natura; desde una ''estancia'' a otra estancia. Nuestro ''estar'' no es estable. La identidad en el ser, sin devenir metafísico, apenas tiene cabida en las mentes de hoy, que están más cerca de Heráclito y de su lema ''Todo pasa'' (...). (1965, p. 59)

Assim, vemos que Juan Ramón estabelece uma poética em que há um constante devir do ser, pois apreende o que está fora através dos sentidos, transforma essa substância externa em substância interna que voltará a ser manifestação externa através da (re)criação poética. O poeta existe porque manifesta para fora de si o que está dentro, expõe o seu sistema. Por outro lado, o que está fora está também dentro: os sentidos despertam a memória, e a memória se move por dentro do ser (e não por fora); a memória é estimulada e também estimula a recriação poética que se manifestará como poesia. Podemos falar então, dado esse movimento que é de exteriorização e de interiorização, de uma poética existencial e essencial ao mesmo tempo, a expressão metafísico-poética juanramoniana.

O sujeito lírico se move na noite, pela incompletude e pelo desejo de transcendência da finitude humana. E só por isso (causa e modo desse movimento) pode chegar à totalidade. Vemos que o poema se constitui não somente pela tensão entre elementos aparentemente paradoxais (consciência / inconsciência, por exemplo), mas também pela presença da noite para que exista luz, do desejo para que a viagem de apreensão se realize; a completude só é possível através da incompletude anterior a todo o movimento. E, em vez da exclusão dos elementos tradicionalmente configurados como o lado obscuro da existência, há a sua inclusão, e somente por ela o ser será capaz de apreender a totalidade e não cair (verbo bastante sugestivo) no que Friedrich chamou de idealidade ou transcendência vazias6. Juan Ramón, como homem e como poeta, não desejava permanecer na noite. Se move na noite em busca da luz, ''conciencia desvelada'', consciência criadora.

Diante dos elementos mencionados, principalmente a sucessiva transformação (re)criadora de si e do outro – este constante devir do ser -, que revela uma poesia criada por tensões como temporalidade/atemporalidade, essência e consciência, movimento e permanência, podemos dizer que Juan Ramón dialoga com a própria modernidade na medida em que quer romper com a tradição que ela própria estabeleceu: paradoxalmente, a tradição da ruptura7, da incompletude e do intelecto. Por outro lado, por propor uma ruptura através da poesia, ao mesmo tempo que rompe com alguns de pressupostos da modernidade, se insere também nesta tradição da ruptura. De qualquer modo, Juan Ramón quer romper com a tradição que separou razão e emoção, pensar e sentir, que reduziu o homem a pedaços vãos e que estabeleceu o vazio como lugar de permanência, onde o espaço realizado é o da transcendência ou idealidade vazias. Se o homem tem o poder da imaginação e o de transformar a partir dela, por que estabelecer um espaço onde se vê repetida sua caída, seu retorno constante ao mundo da perda da totalidade estabelecido antes pelo próprio sistema – do qual faz parte o pensamento cristão na medida em que sacraliza a caída do homem e, com isso, a perda da totalidade, o sofrimento e a redenção –, com o qual essa mesma modernidade queria romper? Juan Ramón, em contraposição, cria um espaço de permanência: o espaço da permanência poética, onde se instala. E isso não é alienação: ele rompe e transcende um sistema de uma ruptura ilusória8. De acordo com a ética-estética juanramoniana, o verdadeiro alienado – pois é antes de tudo alienado de si mesmo e do que o constitui – é aquele que trabalha não para mudar o sistema, mas para cristalizar cada vez mais um mundo de servidão individual pelo desconhecimento de si e do outro: homem escravizado pelas máscaras do poder que nos iludem com seus discursos de liberdade, fazendo-nos esquecer que a liberdade não pode ser dada, mas deve ser conquistada, e conquistada não somente fora, mas também dentro, pois o homem só pode ser livre quando determina seu próprio rumo (ou seja, não se deixa determinar), e só pode determiná-lo conhecendo-se e conhecendo o que ainda não o constitui, o outro; somente pela alteridade se conhece e se determina. A imaginação, por sua vez, é transformadora e recriadora. E o mundo é – ou poderia ser – (re)criado por nós9.

A eternidade – paradoxalmente, se pensarmos no sentido comum, pois se pensa a eternidade como algo constituído desde sempre – tampouco nos é dada: deverá também ser conquistada. A eternidade é o vir-a-ser. A incompletude é a eternidade. Se a incompletude nos constitui, somos também constituídos de eternidade. E a ética juanramoniana será tentar lançar luz sobre si e sobre a sombra que insiste em se manter obscura, presa ao peso histórico, por não conseguir refletir sobre si mesmo e reconstruir-se. Por mais que a modernidade houvesse proposto sua própria transcendência, não era capaz de realizá-la; ao contrário, repetia a caída do homem, sua transcendência vazia. Sua ética será ética-estética, pois se realiza através da poesia. E o caminho não será o didatismo, a ''poesia social''. Esta é sua poesia social: poesia da libertação pela reflexão e pela imaginação, não uma poesia dada. Sua ética-estética consiste em querer transformar o mundo pela reflexão e pela imaginação criadora.

''El todo interno'' é uma manifestação, como vemos, dessa grande ruptura, cujo fim, ou caminho, é uma transcendência poética e histórica que abrange o âmbito coletivo (considerando também o âmbito histórico-literário) e o pessoal: ruptura da tradição da ruptura pelo vazio, pelo caos e pelo conflito que exclui, e não o seu oposto. Isso significa romper verdadeiramente com a tradição cristã do sofrimento, da redenção, da caída do homem; romper com o mito do eterno retorno – ainda que se diga histórico – que está longe de ser libertador, a não ser na morte; romper com a morte instituindo o próprio ser como eternidade, na medida em que se constrói, acumula, completa, movido pelo desejo e pela própria incompletude, a outra face da eternidade. O poema, assim como outros poemas de Dios deseado y deseante, construído por tensões constantes entre temporalidade/atemporalidade, finitude/infinitude, completude/incompletude, unidade/fragmento, essência/consciência reflete o próprio ser: o ser se constrói pela alteridade, se completa pela incompletude e pelo desejo.

Juan Ramón escreve nas notas escritas para ''Animal de fondo'' que sua terceira época

...es necesidad de conciencia interior y ambiente en lo limitado de nuestro moderado nombre. Hoy concreto yo lo divino como una conciencia única, justa, universal de la belleza que está dentro de nosotros y fuera también y al mismo tiempo. Porque nos une, nos unifica a todos, la conciencia del hombre cultivado único sería una forma de deísmo bastante y esta conciencia tercera integra el amor contemplativo y el heroísmo eterno y los supera en totalidad (...) (Jiménez, 1970, p. 1034-1035)

Diante disto, podemos dizer que somente através dessa consciência interior construída poeticamente – ''el todo interno que es el todo eterno'' – é que o nosso ''limitado'' y ''moderado'' nome pode ser um e todos, conter e estar contido, desejar e ser desejado (deseado y deseante) ao mesmo tempo, finito e infinito, total. Somente através dessa consciência interior a substância toca a sua forma e o ser pode ser completo, expandir-se e manifestar-se como ''una conciencia única, justa y universal de la belleza que está dentro de nosotros y fuera también y al mismo tiempo''. A realização da viagem de apreensão que vemos através do encontro entre sujeito lírico e dios deseado y deseante (o ''eu'' e o ''outro'', identidade e alteridade), essa chegada a uma ''tierra de llegada'' – encontro místico de reconhecimento que se realiza poeticamente –, constrói um espaço que será, além de metafísico, mítico: o espaço, tempo e ser da totalidade, reiterados – ritualmente – pela memória recriadora. Essa memória recriadora está determinada historicamente e a realização poética é sua transcendência e sua dissolução.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADORNO. ''Lírica e sociedade''. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1980.

CHAUÍ, Marilena.''A metafísica''. In: Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1994.

FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991.

GARFIAS, F. Juan Ramón Jiménez. Madrid: Taurus, 1958.

GÓMEZ REDONDO, F. Juan Ramón Jiménez: teoría de una poética. Alcalá, 1996.

JIMÉNEZ, Juan Ramón. Tercera antolojía poética. 2ed. Madrid: Ed. Biblioteca Nueva, 1970.

___________________. Antología general. Corrientes: Hyspamerica, 1983.

___________________. Guerra en España (1936-1953). Barcelona: Seix Barral, 1985.

_________________. Tiempo y Espacio. Madrid: Edaf, 1986.

PALENZUELA, Nilo. ''El espacio moderno de Juan Ramón Jiménez''. In: Juan Ramón Jiménez, poesía total y obra en marcha: Actas / IV Congreso de literatura Española Contemporánea. Barcelona: Anthropos, 1991.

PABLOS, Basilio de. El tiempo en la poesía de Juan Ramón Jiménez. Madrid: Gredos, 1965.

PAZ, Octavio. Los hijos del limo. Barcelona: Seix Barral, 1974.

SPITZER, Leo. ''La enumeración caótica en la poesía moderna''. In: Linguística e história literária. (2ed.) Madrid: Gredos.

 

 

1 Este trabalho faz parte de minha dissertação de mestrado defendida em abril de 2002, cujo título é ''O deus gastado da nossa história e a recriação da totalidade. A expressão metafísico-poética em Dios deseado y deseante, de Juan Ramón Jiménez''.
2 Menciono aqui um termo utilizado por Octavio Paz em Los hijos del limo.
3 Recordemos que Juan Ramón escreverá dois poemas em prosa: Tiempo e, posteriormente, Espacio.
4 O que é uma grande contradição, pois a ''história'', como movimento linear, não deveria constituir uma tradição. Sobre esse tema trata Octavio Paz em Los hijos del limo. Juan Ramón, ao que parece, rompe com essa tradição histórica e com a tradição da modernidade em vários sentidos, fato que explicitaremos mais adiante.
5 Lembremos que ''recordar'' é trazer algo novamente à memória, mas passando pelo coração ('cor'): união entre ''pecho y frente'', sentir e pensar.
6 Somente por isso Juan Ramón pode dizer, ao iniciar Espacio: ''Los dioses no tuvieron más sustancia que la que tengo yo.'' Yo tengo, como ellos, la sustancia de todo lo vivido y de todo lo porvivir. No soy presente sólo, sino fuga raudal de cabo y a fin. Y lo que veo, a un lado y otro, en esta fuga (rosas, restos de alas, sombra y luz) es sólo mío, recuerdo y ánsia míos, presentimiento, olvido. ¿Quién sabe más que yo, quién, qué hombre o qué dios, puede, ha podido, podrá decirme a mí qué es mi vida y mi muerte, qué no es?'' (Jiménez, 1986, p. 121)
7 Remeto-me novamente a Octavio Paz em Los hijos del limo: (...) la sociedad que ha inventado la expresión ''la tradición moderna'' es una sociedad singular. Esa frase encierra algo más que una contradicción lógica y lingüística: es la expresión de la condición dramática de nuestra civilización que busca su fundamento, no en el pasado ni en ningún principio inconmovible, sino en el cambio. (1974, p. 24)
8 Grande parte da lírica moderna havia criado um grande paradoxo: quis romper com um sistema fundamentado na razão e em um moralismo extremos, principalmente se pensamos no âmbito religioso cristão; por outro lado, as filosofias e religiões orientais começam a ter bastante influência no pensamento ocidental. Entretanto, esse sistema com o qual queria romper foi novamente sacralizado na medida em que a lírica continuava presa a ele: inversamente presa, já que a ausência – transcendência vazia – tomara o lugar da certeza de toda fé. O homem continuava um ser caído, destituído de totalidade, sem a presença de deus, como antes, mas agora ainda pior, pois já não havia nem a certeza de que um paraíso perdido, e nele a totalidade e a plenitude, fosse possível.
9 Vemos Juan Ramón questionando-se, ao terminar Tiempo, um dos seus poemas em prosa, sobre o tempo e o destino do homem: (...) En 1916 había verdadero entusiasmo sentimental e ideal. Pero, dicen todos, ¿cómo evitarlo? No, no es posible evitar la guerra cuando un canalla nos la busca. ¿No quedará un rincón del mundo en paz? [¿] La paloma de la paz volará del todo del mundo? Esto es lo que el gorila alemán llama guerra por la paz. ¡Qué sombra! Mirando la sombra de la fuente sobre el prado verde pienso en la sombra del mundo. La sombra está mejor dibujada que el cuerpo mismo que la proyecta, sin duda porque es una suma del cuerpo y el proyector. ¡Qué enorme sombra la de esta cabeza mala del mundo! (Jiménez, 1986, p. 118)