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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002

 

A reescrita da história do descobrimento da América Hispânica em Los Perros del Paraíso de Abel Posse

 

 

Regina Simon da Silva

UNILINHARES – UFRJ

 

 

O romance Los Perros del Paraíso (1983), de Abel Posse, por suas características, situa-se na série de livros caracterizados por Seymour Menton como nova narrativa histórica. Efetivamente, nele encontra-se intertexto, distorção consciente da história por meio de omissões, exageros ou anacronismos, a ficcionalização de vários personagens históricos – tendo Colombo como protagonista – não faltando a metaficção e a prevalência de ambiente carnavalesco1.

Neste trabalho, que é um recorte de um estudo maior que está em andamento, pretende-se acompanhar o protagonista Colombo em sua viagem em busca do Paraíso, realizada na terceira parte do livro, – El agua – um relato que mescla história e ficção, percorre o imaginário, o pensamento e as utopias medievais, rompendo as barreiras do tempo e do espaço.

O relato de viagem em Los perros del Paraíso2, ao contrário dos livros de viagens, que são relatos em primeira pessoa onde o viajante narra suas aventuras, imaginárias ou não, Abel Posse opta pela narrativa em terceira pessoa, prefere não incorporar nenhum personagem histórico, o que lhe permite, como narrador onisciente, percorrer todos os níveis do romance, tendo acesso inclusive aos livros de crônicas e de história para criticá-los ou fazer comentários se assim o desejar, usando o recurso da metalinguagem nesses casos.

Para dar ao romance um caráter histórico ilusório, Posse elabora um pequeno esboço cronológico precedendo a cada uma das quatro partes, o que não garante a linealidade do relato, e isso fica claro já na primeira linha da Cronologia ''1492 – 1502 Una partida que durará diez años'' (126). Isso seria impossível, uma vez que o verbo partir não é um verbo durativo. No entanto, rompendo a barreira da ordem espaço-temporal, o autor consegue concentrar as quatro viagens de Colombo3 em uma, poupando os leitores de uma narrativa repetitiva: ''Aquella partida duró diez años (1492 – 9 mayo 1502). El Almirante vio la repetición de las mismas acciones en diferente escenario, desde el castillo de la Santa María, del de la María Galante (Cádiz 1493) o del de la Gallega'' (127).

Desde o princípio, ainda no cais, onde são preparadas as embarcações que enfrentarão o mar com destino ao Oriente, a partir do Ocidente, o narrador revela-nos o verdadeiro objetivo da empresa de Colombo, que obviamente, é ignorado pelos demais:

Creo que todos huyen del infierno.
¿Y vos, en qué creéis?
Yo creo que soy el único que busca el Paraíso y tierra para los injustamente perseguidos... (127).

Neste diálogo que mantém com Santángel, judeu converso que financia parte da viagem, vemos o messianismo de Colombo que se sente um enviado para uma missão especial, elemento que será explorado por Posse e que se intensifica ao longo do relato.

No entanto, Margarita Pierini oferece uma outra visão para a pessoa histórica de Colombo. Em seu texto, La mirada y el discurso: la literatura de viajes, nosso personagem ''es, en primer lugar, un enviado, un 'adelantado', portador de una misión conferida por el poder: explorar, descubrir, conquistar, dominar. Incorporar nuevos espacios – nuevas fuentes de riquesas – a la metrópoli en expansión'' (In: PIZARRO, 1994, p. 163).

Esta visão não escapa aos olhos de Posse que em tom burlesco descortina as reais intenções da viagem e o modo como os europeus vêem o desconhecido.

La naturaleza allá ''no está dominada por el hombre.'' ¡Están convencidos que podrán transformar los cocodrilos en petacas, los yaguaretés en tapados de señora, las serpientes en mangueras para riego! Se preparan para una vasta y profunda ofensiva contra la naturaleza en nombre del hacer y contra el mero estar (127).

Percebemos neste fragmento que o narrador não é contemporâneo à época do relato, pertence à atualidade, um conhecedor do futuro – para nós presente – pois não ignora o resultado da viagem que por hora se inicia. Trabalha com elementos de um tempo passado, utilizando relatos de viajantes e crônicas da época como fonte histórica, o que não garante confiabilidade, mas inspira o desejo de resgatar essa memória.

Essas duas missões desempenhadas pela empresa de Colombo, uma explícita – descobrir um novo caminho para o Oriente –; outra secreta – a utopia do Paraíso Terrestre –, aparecem lado a lado no romance. O narrador nos informa que a missão secreta é a que realmente interessa a Colombo. Essa confirmação quem nos dá é um cavaleiro enviado por Santángel que entrega ao Almirante mapas secretos e lhe fala de sua missão: ''¡Tú eres el enviado! Los hebreus de Asia te esperan para reconstruir, para nosotros, la tierra prometida. Cumple tu tarea: trata de alcanzar el río Sambation y no te preocupes la misión que puedan tener algunos de los que embarcamos'' (130).

Aqui fica claro que a missão explícita cabe à tripulação que segue junto a Colombo, pois este, ''se sintió distante de los motivos simples – apenas imperiales, salvacionistas o comerciales – con que otros impulsaban la empresa de Indias ...'' (130). O narrador deixa evidente a imensa solidão que atormentava Colombo, que tinha outra missão: ''A nadie podía comunicar su secretísima – inefable – misión: buscar la apertura oceánica que permitiría el paso del iniciado a la inalcanzada – ¡perdida! – dimensión del Paraíso Terrenal'' (130-1).

É fácil entender por que Posse explora em seu romance uma missão secreta para Colombo. A idéia do paraíso fascinava de modo intenso a mente do homem medieval. Franco Jr. em As utopias medievais, diz que para o imaginário da Renascença, o Paraíso não era tão inacessível assim, porém trata-se de uma ''viagem sempre difícil, de grandes obstáculos, cuja superação tornasse o indivíduo merecedor de conhecer o local Perfeito. Viagem iniciática, portanto'' (1992, p.116); significa conhecer o caminho que levasse o homem de volta ao Paraíso. Essa possibilidade provoca pânico no Almirante, seu desejo é abandonar tudo, ''¡Huír de la historia!'' (132). Este momento de grande agitação culmina com a alucinação de Colombo que ouve uma voz misteriosa:

– Oh hombre de poca fe. Levántate que Yo soy. ¡No hayas miedo! No temas, confía. [...] ¿Te negarás al Dios de todos? ¿Al que te distinguió desde que nacieras e hizo resonar tu modesto nombre en las altas demoras del Poder? [...] ¿Huirás hacia un destino de buey, o águila serás? [...] ¡Adelante! ¡Te espero!4 (133).

Estava confirmado o messianismo de Colombo: somente ele tinha condições de realizar essa missão, ''era el Elegido'' (132). O relato nos dá elementos que contribuem para corroborar esta hipótese. Segundo Franco Jr. ''todo Messias é um herói'' (1992, p.67), mas um predestinado deve preencher alguns requisitos para que se confirme ou não a existência de um Messias: 1) nascimento incomum; 2) passar por uma fase de afastamento do seu mundo, de mergulho no desconhecido; 3) como são arquétipos das atividades pré-civilizatórias, e protótipos do homem, muitas vezes possuem caracteres físicos ou morais monstruosos (FRANCO JR., 1992, p.67-8).

Como podemos verificar, os dois primeiros critérios são preenchidos pelo Colombo histórico: durante muito tempo se questionou sua nacionalidade e o seu afastamento pode ser concluído como o período que esteve em Portugal e casou-se com Felipa Moniz Perestrello, passando a viver em Porto Santo, pequena ilha próxima de Madeira. Quanto a sua deformação, esta foi facilmente resolvida por Posse, conferindo à Colombo um caráter anfíbio; as membranas entre os dedos dos pés era uma anomalia escondida por nosso protagonista, uma simbiose que lhe permitia viver na terra e no mar: ''El Almirante comprueba su capacidad de flotación. Sabe, por múltiples experiencias, que es preferentemente anfibio'' (141).

Conhecendo a natureza anfíbia de nosso Almirante, passemos a ver a tripulação que zarpará rumo ao Paraíso. Nesta viagem navegam todos os que participarão da invasão e saqueio das Américas. Posse mescla personagens históricos e fictícios de épocas distintas, inclusive do século XX, assim como fez com as quatro viagens. ''¿Quién era quién?'' (136). Havia todo tipo de gente, com boas e más intenções5, mas principalmente as que se encaixavam no último grupo ''los indeseables se filtraban. ¿Si se enrolaban oficialmente rameras y asesinos, por qué no filósofos?'' (137). Nesta missão não podia faltar, claro, ''la cruz-horca'' (134), objeto que permite e autoriza a destruição em nome de Deus. O narrador adianta aos leitores que esta cruz será implantada na ''Hispaniola''.

Assim como na história, o Colombo de Posse parte em 3 de agosto de 1492. A imagem da desproteção descrita pelo narrador ''la claridad mostró el desamparo de los tres barquitos, la Santa María, la Niña y la Pinta'' (139), justifica a opinião dos historiadores competentes em ciência náutica, em dizer que ''Colombo foi um dos melhores navegadores de todos os tempos'' (MAHN-LOT, 1992, p.18).

No imaginário do medievo o oceano era o lugar do medo e reinava a superstição. Então, para conjurar o mar era preciso sacrificar-lhe seres vivos e assim, saciar seu apetite monstruoso (DELUMEAU, 1989, p. 46). O narrador ao descrever essa lenda familiariza o leitor com o período histórico em que acontece a narrativa.

Llaman a esta mar el ''Golfo de las yeguas'' por los animales que deben echarse al mar enloquecidos por el rolido. Es la marejada grande de la Mar Oceánica golpeando en el frentón de África. Despavoridas, con los ojos alucinados, nadan las yeguas con sus cabelleras embebidas hasta hundirse en la nada (141).

Para o homem medieval, acostumado com a segurança que a terra lhe conferia, enfrentar o mar desconhecido e imenso, era tremendamente perigoso, por isso o medo era o inimigo mais poderoso a ser enfrentado. Medo dos monstros marinhos, dos ímãs que atraíam os navios para o fundo do mar, das sereias capazes de enfeitiçar marinheiros, do abismo que ficava próximo, onde a Terra terminava ...Todos esses detalhes aparecem no relato de viagem de Posse, verificados na saída das ilhas Canárias: ''Los atroces grifones. El octoplus. El orcaferonte. Ahora sí, ahora estaba enfrentado. Los abismos de la mar ignota. Las furias del viento: reino de los demonios'' (161).

A estada de Colombo nas Canárias durou três dias e três noites. Ali viveu horas infinitas de luxúria e prazer nos braços de Beatriz Peraza Bobadilla, eterna inimiga da rainha Isabel. Embora Colombo falasse de sua pretensão de ir às Índias, Beatriz sabia sobre seus planos de encontrar as terras quentes. Esta, assim como o narrador, sabe qual será o fim dessa história, e faz revelações surpreendentes. Através da personagem o futuro se antecipa:

Muchos estuvieron por allí, el mar los llevó ... Nadie supo explicar debidamente las cosas al regresar. Tu mérito no será la originalidad, aunque sí la publicidad ... Además ... ellos se acercaron varias veces con sus raras naves. Son tímidos, delicados, os lo advierto. Están condenados a perder el mundo por delicadeza. Uno de ellos, que los guanches mataron por creerlo un dios, contó que habían descubierto Europa en el 1392 (150-1).

Ou seja, não houve nenhum interesse por parte dos habitantes da outra margem do Ocidente em relação à Europa, afinal, ''¿A quién puede interesarle un mundo cada vez más pervertido por la democracia y la instrucción pública?'' (151). Ao tentar trocar o conhecido pelo desconhecido, os autóctones americanos preferiram a sua forma de vida, o mesmo não aconteceria com o europeu que não se deu ao trabalho de compreender a cultura do ''outro'' e lhes impôs a sua forma de vida.

Por mais que Colombo quisesse ficar na ilha e casar-se com Beatriz – o narrador sugere que – ''No hay documentos. Los fracasos y los miedos no se confían a la posteridad'' (159), o Almirante abandona as Canárias, mas ali se encerram seus desejos sadomasoquistas e o nosso herói ''sentía, desolado, que ahora el Señor lo había librado definitivamente a su fantasía. Perversidad divina: castigar concediendo. Que tu dolor sea tu triunfo. Tu perdición, tu curiosidad'' (161). Colombo atingira a sublimação. Marianne Mahn-Lot, profunda conhecedora da biografia de Colombo, diz que este abandonou a vida conjugal provavelmente quando ingressou para a ordem franciscana, que ''Talvez tenha feito até voto de castidade, pois nunca esteve implicado em nenhum caso amoroso no tempo de suas estadas nas 'Índias', onde os costumes eram muito livres'' (1992, p.36). Para o narrador, a responsável por isso chama-se Beatriz Bobadilla.

Os elementos da natureza, que dão nome a cada uma das partes do livro, encontram-se, pela primeira vez, unidos num só tempo e espaço. As naus, deslizando nessa imensa massa líquida – a água –, têm o ar como aliado e opositor ao mesmo tempo. Necessitam do vento para navegar, mas este mesmo vento pode provocar mar forte. Por isso, nosso Almirante ordena que ''quiere ver los barcos mezclados en la materia del mar'' (163) e recomenda ''no oponerse. No secarse'' (163). Em seu diário anota o mar terrível que se fez nos dias 10 e 13 de setembro, seguidos depois, de uma bonança noturna coroada por uma visão deslumbrante e ao mesmo tempo assustadora ''hacia el Poniente, durante un largo instante, se vio caer del cielo un maravilloso ramo de fuego en la mar'' (166). O quarto elemento que falta se unirá a estes quando o primeiro aviste a Terra firme.

Como o medo é o que mais aflige a todos, assim como na História, o Colombo de Posse anota dados falsos, diminuindo as milhas navegadas, para que a tripulação não tenha noção do espaço percorrido. A metáfora construída pelo autor para descrever o mar dá a real noção do temor que este desperta: ''Es un animal vivo que sólo la ingenuidad del humano puede creer domesticable. Que no necesita especial maldad para destruir a los hombres: le basta simplemente su costumbre de gigante, de dios salvaje'' (167).

Também ''aquella navegación durará, en realidad, diez años, tanto como la zarpada'' (174). A mesma imagem se repete, desta vez em alto mar. A proa da Santa Maria abrindo o mar, compara Posse, ''fue como rasgar una de esas bolsas de regalos-sorpresa que se rifan en las tómbolas de Ferragosto'' (175). Pela rachadura do plano espaço-temporal Colombo vê passar seres, navios, cenas humanas e as caravelas de suas outras viagens. Desse espaço imaginário onde tudo é possível, seria inútil buscar explicações, qualquer coisa excederia ''las modestas posibilidades de la época'' (175). O futuro surge diante dos olhos de todos que, perplexos, admirados, assistem à passagem de diversos navios cheios de pessoas estranhas: ''la Rex, pasó dejando un velo de música feliz'' (176); ''el Mayflower cargado de puritanos terribles que iban rumbo a la Vinland'' (177); ''un gran velero de holandocristianos dedicados al tráfico de negros'' (178), coisas incompreensíveis para Colombo, mas não para o narrador e o leitor.

Passada a visão do futuro descrita pelo narrador, com forte tom crítico, irônico e c6mico ao mesmo tempo, nos aproximamos do final da viagem. Posse dedica uma parte especial para informar ao leitor dos diversos livros que influenciaram Colombo na realização de seus propósitos. Todos os textos têm como principal tema a localização e descrição do Paraíso Terrestre: ''las zonas del abate Brandán'' (185); ''Cosmas Indicopleusta en su Topografhia Christiana'' (186); ''Dante, Divina Comedia'' (186); ''Joshua Ben Levi'' (186); cardeal ''d'Ailly en Imago Mundi'' (186).

Pressentindo a aproximação da terra, Colombo decide preparar a tripulação para o momento único em suas vidas e esclarece a todos sobre o real significado da empresa com a qual eles se envolveram: que além de encontrarem Cipango e Ofir, esta pode não ser a única descoberta: ''No sería extraño que alcancemos aquellas regiones inaccesibles que visitó el abate Brandán ...Tierras que tendrán un contenido distinto que el de su mero valor geográfico, productivo, terrenal ...'' (187).

Finalmente, no dia 12 de outubro de 1492, depois de uma noite com vento suave ouve-se a frase tão esperada ''¡Tierra a proa!'' (188). A felicidade contamina a todos, que rezam, riem e gritam, menos o Almirante que, decepcionado, se recolhe à sua cabina, ''comprende que no hay en esa costa, que ya se ve nítida, un monte eminente. Tampoco hubo la violenta marea que absorbería las naos hacia el centro del Paraíso'' (188). Com pouco entusiasmo ele anota no diário o famoso ''encontro'' com as novas terras que a partir de agora pertenciam aos reis da Espanha, pois Colombo tomaria posse em nome destes, ou seja, não se reconhece que os homens que aqui habitavam fossem os legítimos donos: ''Para mantener amistad con los desnudos les di a alguno de ellos unos bonetes colorados y unas cuentas de vidrio que se ponían al pescuezo y otras cosas sin valor con las que tuvieron mucho placer ...'' (189).

Mas como a viagem de Posse é anacrônica – o tempo não segue o ritmo normal de dias sucessivos – e o protagonista segue com sua obsessão de encontrar o Paraíso, a chegada 12 de outubro de 1492 corresponde em seu diário a 4 de agosto de 1498.

Quanto à natureza, os ventos são brandos, de um frescor agradável, águas limpas e quietas, nada parecia indicar a tão famosa abertura que o protagonista buscava, até que ''por fin llegó el día ansiado, el día al que estaban destinados todos los sacrificios: el 4 de agosto de 1498'' (190), dia em que, na história, Colombo chega ao Delta do Orinoco. Este episódio é descrito pelo narrador com muita fidelidade ao que nos apresenta o Diário de bordo de Cristóvão Colombo, exceto o comportamento do protagonista que ao ver as terras crê que se trata do Paraíso e ingressa neste de forma inesperada e sublime:

El Almirante, imponente y ahora sereno, con toda majestad se para en el castillo de popa y como ejecutando um ritual que todos comprenderán, procede a desvestirse hasta quedar completamente desnudo.
¡Esta vez hasta se quitó los calcetines! (192).

Assim termina o relato de viagem de Posse; Colombo encontra o Paraíso Terrestre e realiza o percurso inverso de Adão e Eva, como uma câmera em flash-back: estes, se vestiram ao deixar o Paraíso, então, o ''Messias'' deve despir-se para entrar.

Para concluir, devemos dizer que Posse dialoga com textos históricos de forma irônica, crítica e séria, levando-nos a questionar esse sistema colonizador que perdura nos dias atuais, com outros protagonistas. Entre uma ideologia imperialista e outra utópica empreendidas na ficção de Posse, e vendo o possível desfecho sugerido pelo autor, uma pergunta ainda paira no ar: e se tivesse sido diferente?

 

BIBLIOGRAFIA

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GUAL, C. G. Los orígenes de la novela. Madrid: Istmo, 1988, p.65-94.

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MAHN-LOT, M. A descoberta da América. São Paulo: Perspectiva, 1984, p.41-59 e 81-93.

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TODOROV, T. A conquista da América: a questão do outro. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1988. 263 p.

 

 

1 Sobre as características da novo romance histórico hispano-americano, ver Seymour Menton La nueva novela histórica de la América Latina 1979-1992, p. 42-46.
2 POSSE, Abel. Los Perros del Paraíso. Buenos Aires: Emecé, 1983. 253 p. Todas as citações se referem a esta edição.
3 Colombo empreendeu viagens à América em: 03/08/1492, 24/09/1493, 30/05/1498 e 09/05/1502.
4 Palavras da carta que Colombo escreveu aos Reis da Espanha desde Jamaica em 07 de julho de 1503.
5 Para saber sobre as representações dos personagens de Los Perros del Paraíso ver La denuncia del poder In: Seymour Menton p. 102-128.