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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002

 

A cidade e a província em meio aos símbolos da modernidade

 

 

Romilda Mochiuti

USP/ UNICAMP

 

 

I - A província e os símbolos de modernidade

O avanço técnico que marcou o desenvolvimento urbano conforma, na obra de Tizón, um significado negativo na medida em que se projeta como um movimento aliado à constante desfiguração da paisagem, perda dos valores e costumes e, ao mesmo tempo, como fator que põe em evidência a estagnação da província.

Nesse contexto, mesmo nos lugares mais longínquos, ainda que a cidade seja uma imagem distante que somente tenha lugar na fantasia de seus moradores; seus símbolos, quando presentes, carregam um fascínio capaz de pôr em risco os valores tradicionais pelo fato de fazerem parte do inatingível.

Este mesmo questionamento, podemos encontrar, de forma mais datada, em ''Petróleo''(TIZÓN, 1998, pp. 29-33). Narrado por um personagem infantil, Raúl, o referido conto ilustra o descobrimento de um suposto líquido oleoso valioso. Eduardo Romano (1974) vê, no tema deste conto, uma possível referência à década de 50, época em que havia grande interesse do governo de Arturo Frondizi em promover contratos petroleiros com empresas estrangeiras.

A preocupação governamental de chegar à região apenas para averiguar a descoberta o mais rápido possível promove um debate a partir dos efeitos de tal descoberta. Nesse debate se sobressaem dois pontos fulcrais: os efeitos que se causariam na província caso se confirmasse a descoberta e o despeito governamental em relação à situação de abandono das ''crueles provincias''.

A primeira impressão que se têm é a de que se trata de um pequeno povoado onde, apesar do trem fazer parte da paisagem, não há nenhum tipo de infra-estrutura social advinda desse ''símbolo'' moderno. Não obstante a velocidade haver encurtado as distâncias e aproximado os povos, no conto, devido ao enfoque dado às precariedades regionais, notamos que este espaço, apesar de encurtado pela velocidade, entre em choque com a inatividade da região. O trem, portanto, não exerce - ao menos diretamente -, sobre os provincianos nenhum tipo de ilusão associada à modernidade. Os moradores, simplesmente, vivem entre o trabalho doméstico e o da lavoura.

A descoberta do ''petróleo'' se dá enquanto o narrador e seu amigo Laucha estão pescando. Um dos moradores do lugarejo, Bertoldo, começa o preparo da terra para plantar. Ao remover alguma quantidade de terra, percebe a presença de um líquido espesso e negro. Chama os demais vizinhos. Decidem verificar nos quintais das casas vizinhas e constatam o mesmo. Bertoldo não só se esquece do seu objetivo inicial como faz com que aconteça o mesmo com os demais habitantes, que deixam seus afazeres mobilizados na averiguação da descoberta. Algumas características como o cheiro forte, a cor e a textura do líquido levam-nos a supor que se trata de petróleo. A partir daí, começam a ter ilusão de que podem melhorar de vida com a descoberta.

As únicas ilusões palpáveis, no entanto, apresentadas no conto antes da ''descoberta'', são as que têm tanto o narrador como seu amigo Laucha. Tais ilusões são baseadas na venda da pesca que ambos realizam nos arredores do lugarejo. No princípio do conto há o empenho dos dois em conseguir pescar uma quantidade de peixes que lhes possibilitasse a compra, respectivamente, de uma máscara para pular o carnaval e de uma camiseta do Boca Juniors. Este empenho não é interrompido pelo alarde feito pela possível descoberta de petróleo, uma vez que o narrador mesmo declara: ''Sinceramente creo que aunque había escuchado alguna vez esa palabra no conocía exactamente su significado.'' (TIZÓN, 1998, P. 29)

Essas pequenas e únicas concretizações de ilusões no texto vão de encontro às apresentadas pelos demais personagens a partir da descoberta do suposto petróleo; uma vez que se baseiam na provável riqueza advinda da exploração de um elemento pertencente ao universo ao qual pretendem ascender.

A idéia de riqueza, em meio à precariedade, é mínima. Sonham com pequenas posses, que lhes parecem muito e estão de acordo com a realidade circundante: ter casa de dois andares, sapatos novos, rádio, cavalo, galinha e porcos e, principalmente, essas expectativas respondem às necessidades básicas:

[...] Y también podremos guardar dinero para cuando seamos viejos y no como ahora; y comprar remedios para no andar muriéndonos por ahí como unos podridos. Seremos ricos . ¿Comprenden lo que es ser ricos?
- Rico es el que jode al pobre – dijo entonces alguien. (p. 32)

A severa crítica feita demonstra, antes de mais nada, a dura realidade de uma sociedade de extrema desigualdade, ao passo que nos leva a perceber a falta de consciência político-social que mantém a condição precária na qual se encontram. Esta consciência da diferença social, no entanto, não os mobiliza na busca por uma melhor situação. A ''descoberta'' é o fato que os mobiliza: com ela eles podem sonhar e vislumbrar um futuro melhor. Essa condição domina os habitantes de uma forma tal que começam a festejar, a dividir e a gastar o pouco que possuíam:

[...] Mi tía carneció la única gallina que teníamos y uno de los linyeras repartía las presas entre la gente.[...]
Nicolás, que se había comprado un traje nuevo invirtiendo de un solo golpe sus ahorros, paseábase auscultando la superficie de la tierra. (p.32)

Em meio a todo o alvoroço aparecem técnicos estrangeiros para avaliar a região e a substância. Levam algumas amostras do material. O descaso com os habitantes e a situação é narrado como um fato comum: ''Y no volvieron. Pero al cabo supimos: el yacimiento no existía, sino que era una pequeña acumulación subterránea escapada de la cisterna rota del ferrocarril.'' (p.33)

A recuperação dos garotos – Raúl e Laucha -, é rápida: a visão de mundo de ambos – Raúl, o narrador, e seu amigo Laucha -, não obstante seu cotidiano haver sido alterado durante os trabalhos de exploração do solo e desfiguração do lugar, não muda; no final, ambos se empenham mais uma vez na pescaria com o intuito de comprar serpentinas, pois as festividades carnavalescas se aproximavam. Da recuperação dos demais habitantes, entretanto, não se pode dizer o mesmo uma vez que, somente a duras penas conseguirão – na mais otimista das previsões – recuperar a parca economia que tinham, restabelecer a ordem no lugarejo e conformar-se com a vida sem a realização de seus sonhos. Entretanto, há aqueles que se recusam a abandonar o sonho:

Pero desde aquel día Nicolás había tomado la costumbre de encaramarse al sauce y pasar allí largo tiempo atisbando, para de vez en cuando bajarse, cavar con dramático entusiasmo un pequeño pozo, hundir un palo en el blando fondo humedecido y quedarse por último mirando largo tiempo el extermo del palo. Sin decir una sola palabra. Soñando. (p. 33)

Finalizando com este parágrafo, o conto reforça a idéia de que a esperança oculta no sonho parece ser a única força que mantém as províncias; força que, por sua vez, caracteriza-se tanto pela sua potencialidade quanto pela sua impulsividade. Esta, representada pelos dois garotos que não se deixaram contaminar e continuaram executando suas pequenas atividades para a conquista de seus objetivos; aquela, pela inércia dos que já perderam a ilusão e, para não sucumbirem, decidiram permanecer sonhando.

O trem, como sinônimo de velocidade, e a presença dos estrangeiros entram em choque com a inatividade local, aumentando a distância entre a província e a ''civilização''. A esse aspecto o conto acrescenta, ainda, outros também negativos, como a contaminação do solo – talvez único meio de sobrevivência da população -, falta de meios produtivos, a miséria e a frieza da política oficial diante das expectativas e necessidades de algumas regiões, abandonadas à sua própria sorte. Não seriam, então, todos esses aspectos uma possível denúncia da desolação a que estão submetidas essas regiões?

Em ''Petróleo'', podemos notar que os sonhos de consumo dos dois garotos estão de acordo com os ''aires renovados'', ou seja, mais voltados às ilusões e efemeridades citadinas, enquanto os da maioria da população estão mais voltados às suas necessidades básicas: o trem lhes trouxe as ''noticias de la época'' e lhes permitiu vislumbrar um mundo ao qual não pertenciam.

A estrada de ferro e o isolamento estão intrinsecamente unidos e, desde o início, marcam presença em obras importantes da vertente narrativa regional. Para o crítico argentino Ezequiel Martínez Estrada (1953, p. 70), a desigualdade manifesta que o trem ocasionou se justifica pela sua chegada brusca e sua velocidade que não estava em sintonia com o ritmo do país. Assim sendo, o referido meio de transporte adquire uma natureza simbólica por excelência, para representar a história sócio-econômica do país, abrangendo, por sua vez, várias conotações na literatura, entre elas, a da luta entre a capital e o interior e a alegoria de que o centro urbano representa a Europa. Em comunhão a toda esta visão que nos fornece o referido crítico argentino está uma boa parte da figuração férrea da obra tizoniana.

 

2 - O indivíduo em combustão: a cidade e suas transformações

A presença da modernização na narrativa de Benedetti centraliza-se quase que exclusivamente na demonstração de como o indivíduo, nas suas atitudes ativas ou passivas, mantém o sistema que sustenta o funcionamento da cidade. Por essa razão, esta narrativa persevera num enfrentamento crítico a toda decadência moral e de costumes que passou a caracterizar a sociedade urbana.

Como em ''Petróleo'', de Tizón, o conto ''El presupuesto'' (BENEDETTI, 1994, pp. 77-81) , de Benedetti, mostra o conformismo humano diante de uma situação na qual, os funcionários públicos, acomodaram-se de tal forma que não vislumbram mudanças senão pelo advento de algo que não dependa de suas forças. Também como o funcionário público de ''Aquí se respira bien'' os de ''El presupuesto'' não possuem nome, apenas designações.

As designações nesse conto, no entanto, atingem o grau de representação do personagem como nome pessoal, uma vez que substituem este ao figurarem em letra maiúscula, enfatizando o anonimato provocado pela máquina burocrática urbana. O escritório, portanto, parece configurar-se na mesma condição daqueles que o constituem; como podemos constatar no trecho abaixo:

[...] Como sabíamos que nada ni nadie en el mundo mejoraría nuestro gajes, limitábamos nuestra esperanza a una progresiva reducción de las salidas, y, en base a un cooperativismo harto elemental, lo habíamos logrado en buena parte. Yo, por ejemplo, pagaba la yerba; el Auxiliar Primero, el té de la tarde; el Auxiliar Segundo, el azúcar; las tostadas el Oficial Primero, y el Oficial Segundo la manteca. Las dos dactilógrafas y el portero estaban exonerados, pero el Jefe, como ganaba un poco más, pagaba el diario que leíamos todos. [...]
Esa paz ya resuelta y casi definitiva que pesaba en nuestra Oficina [...].(p. 77-8)

Esta incorporação do personagem ao cargo que exerce junto ao funcionalismo público condiciona tanto sua forma de viver como a de reagir diante da realidade que, cada vez mais, torna-se diminuta, presa ao micro-universo restrito, rotineiro e que, por atender a uma hierarquização, é impermissível a pequenas mudanças. Por um outro lado, podemos notar a presença de duas datilógrafas e um porteiro, que devido ao seu caráter diminuto entre as funções do Escritório, não chegam, sequer, numa primeira instância, à caracterização de funcionalidade.

Os personagens - ao se conformarem em cargo-função, devido à segurança de um emprego público, não obstante o baixo salário -, parecem assumir a imagem da desfuncionalidade do sistema: restringem-se a cumprir a suas designações de acordo com o que já vinha sendo praticado, sem, ao menos questionarem sua importância ou significado. O horário de atendimento ao público, por exemplo, é menor que o que têm que cumprir na repartição. Por essa razão, as horas ''livres'' são gastas em jogo de damas, xadrez, leitura de jornal etc. O corporativismo, devido à situação comum entre todos os membros, passa a ser a tônica dominante na relação de hierarquia: as pequenas comodidades, aliadas à inércia do sistema incorporado parecem justificar o conformismo da situação precária em que vivem.

A consciência de que não estão na melhor das opções, entretanto, parece não fazer diferença. Não procuram mudar a situação em si, ou mudar de situação. Feita a opção, resta-lhes apenas aceitá-la e incorporá-la incondicionalmente, ainda que façam críticas às restrições e à certeza de que nunca conseguirão desfrutar luxos ou ter sonhos de consumo. Esta realidade tranqüila e sem maiores arroubos emotivos - que ''no era mala'' -, viu-se ameaçada pela notícia, dada pelo Oficial Segundo, de que um ''assunto'' que versava sobre aumento salarial da ''Repartição'' estava sendo estudado pelo Ministério. Num primeiro momento, a reação dos demais funcionários foi direcionar sorrisos irônicos ao referido funcionário. A atitude, entretanto, muda completamente quando o Oficial Segundo esclarece que a notícia vinha de uma fonte segura: um tio Oficial Primeiro, que trabalhava no Ministério.

A partir desse ponto, começa a operar sobre os personagens a mesma ilusão de melhora de vida presente em ''Petróleo'', de Tizón. Também aqui, o advento de algo externo, que não lhes exigira o menor esforço, é o que dá o impulso necessário para que seus sonhos de consumo aflorem. Para que o desejo, há muito reprimido pela situação à qual resolveram se submeter, aflore:

En mi caso particular, lo primero que se me ocurrió pensar y decir, fue ''lapicera fuente''. Hasta ese momento yo no había sabido que quería comprar una lapicera fuente, pero cuando el Oficial Sengudo abrió con su noticia ese enorme futuro que apareja toda posibilidad, por mínima que sea, en seguida extraje de no sé qué sótano de mis deseos una lapicera de color negro con capuchón de plata y con mi nombre inscripto. Sabe Dios en qué tiempos se había enraizado en mí. (pp. 78-9)

E assim acontece que todos adquirem, por conta e risco, contando com o que acreditam ser certo – o aumento de salário –, pequenos luxos, até então, inimagináveis devido ao pequeno orçamento de cada um. Ao fim de um mês e meio todos estão endividados e em estado de angústia. As notícias sobre o expediente que versava sobre orçamento para a Repartição passam a ser cada vez mais confusas e dispersas: ele estava perdido em meio à burocracia pública. Este fato previsível – uma vez que faziam parte da máquina burocrática e, portanto, sabiam de sua inoperância - e, ainda assim, não menos desalentador, não apenas ilustra a conduta dos funcionários diante do sistema mas, sobretudo, corrobora o fato de que o ''funcionário'', como engrenagem do sistema, somente logra ser humano, quando está do outro lado do balcão. Tanto assim o é que, o pretenso funcionário encarregado do ''expediente'' adquire caráter humano, passando a ser referido pelo nome próprio, porque foge dos padrões burocráticos e pela necessidade que outros têm de que reassuma sua condição de ''funcionário'':

[...]Pero el Jefe de Contaduría estaba enfermo y era preciso conocer su opinión. Todos nos preocupábamos por la salud de ese Jefe del que sólo sabíamos que se llamaba Eugenio y que tenía a estudio nuestro presupuesto. (p. 79, grifos nossos)

A morte de Eugenio e a notícia de que o trâmite nem sequer havia saído da Secretaria, que ali se encontrava parado desde o princípio os leva a várias conjecturas sobre o procedimento burocrático, finalizando com a idéia de que a espera seria sem fim. A partir desse ponto, os funcionários parecem viver em função da espera. As palavras parecem perder o porquê, ou melhor, passam a ser substituídas, suprimidas por gestos, numa relação de cumplicidade. Como no modelo burocrático kafkaniano, o reducionismo da situação está em consonância com a vida dos próprios funcionários uma vez que, suas vidas, também se reduziram a meras repetições de ações cada vez mais mínimas: ''[...] Al principio todavía preguntábamos ''¿Saben algo?'' Luego optamos por decir ''¿Y?'' y terminamos finalmente por hacer la pregunta con las cejas.'' (p. 80)

Passaram-se oito meses. A constatação de que os bens adquiridos, quando do anúncio do encaminhamento do aumento de salário, já estavam deteriorados e, com eles, as finanças de todos os funcionários; o desencontro de informações sobre o trâmite do ''assunto'' e a notícia de que seria tratado numa sexta-feira que nunca chega, levam os funcionários a se indignarem sobre a perversão de um sistema que eles ajudam a constituir. A idéia de tomar uma providência mais efetiva que a de esperar pura e simplesmente a finalização do trâmite parte do narrador: marcam uma entrevista como o Ministro encarregado do ''assunto''. Assim, enquanto esperam o dia, uma quinta-feira um pouco distante, os funcionários passam a se ocupar de ensaiar a forma como se daria a entrevista, esperançosos, no entanto, de que a situação se resolvesse até a data da entrevista. A chegada do dia e a não resolução do problema levam os funcionários a abandonar a Repartição à sorte de uma das datilógrafas e do porteiro. Após uma espera de duas horas e meia, são informados, pelo Secretário do Ministro, de que este não poderia atendê-los. Este segundo fato ''imprevisto'', fora dos padrões de operabilidade da Repartição, desconcerta o Chefe de maneira tal que, apenas consegue pedir a informação ao Secretário, que lhe assegura que o Ministro lhe informara que tratariam do ''assunto'' no dia seguinte, uma sexta-feira..

Não obstante à saída do Ministério os funcionários se depararem com o Ministro que naquele instante chegava, resolvem conformar-se com a idéia de que o Secretário havia falado com ele de alguma forma, talvez por telefone, e que o ''assunto'' seria, realmente, resolvido na sessão da sexta-feira. E, mais uma vez, passam a viver em função das sextas-feiras.

Benedetti, ao retratar a vida cotidiana atua como um amargo cronista da classe média montevideana, reduzindo-a a características de uma sociedade pasteurizada nas sórdidas ações, nos corrompidos valores sociais, nos sentimentos contidos e na mediocridade das convenções.

A essas estruturas de comportamento que evidenciam o caráter distorcido do homem da cidade a que se soma o conjunto de suas alienações, Ruffinelli caracteriza como ''fallutería'', a partir da definição de Benedetti:

[...] Los rioplatenses tenemos un término que resulta irreemplazable para el uso diario: me refiero a la palabra falluto. Creo que lo hemos acuñado nada más que para responder a una imperiosa llamada de la realidad. Porque nuestra realidad está, desgraciadamente llena de fallutos, y tales especímenes, no satisfechos con invadir nuestra política, nuestra prensa y nuestra burocracia, de vez en cuando llevan a cabo perniciosas excursiones y hasta gravosas permanencias, en nuestra literatura. El falluto no es sólo el hipócrita. Es más y es menos que eso. Es el tipo que falla en su suministro y en la recepción de la confianza, el individuo en quien no se puede confiar ni creer, porque – casi sin proponérselo, por simple matiz de carácter – dice una cosa y hace otra, adula aunque carezca de móvil inmediato, miente aunque no sea necesario, aparenta – sólo por deporte – algo que no es.(Apud RUFFINELLI, 1973, P. 117 – grifos do texto)

Nos anos 50 e 60, assinala ainda Ruffinelli, Benedetti procura mostrar justamente este homem distanciado, desterrado de sua autenticidade por obra e mérito da crise que (recordaria mais tarde, numa conversa com Vargas Llosa) estava desintegrando ''la estructura familiar, la estructura moral, la estructura política del país''(RUFFINELLI, 1973, p115).

Ainda que os ares da revolução cubana, que serviram de base para as idéias contidas em El país de la cola de paja, já estejam distantes e as opiniões políticas de Benedetti tenham mudando, seus personagens, com os anos, só fizeram incorporar a aceitação resignadora da ''fallutería'' como sinônimo característico do citadino, ou ainda, no que o cidadão urbano se transformou durante o processo de modernização.

 

BIBLIOGRAFIA

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