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An. 2. Congr. Bras. Hispanistas Oct. 2002

 

Mempo Giardinelli: uma proposta de resgate da memória Argentina

 

 

Rosineide Guilherme da Silva

UNIGRANRIO / UFF

 

 

O romance Santo Ofício de la Memoria do argentino Mempo Giardinelli se destaca como um trabalho de comprometimento com a construção da identidade cultural Argentina através da memória, resgatando dados concretos da formação histórica, social e econômica da nação Argentina, onde também percebemos significativos reflexos da cultura italiana. Trata-se de uma obra que foi lançada pela primeira vez no ano de 1991 na Colômbia. Por motivos políticos, inicialmente, circulou fora da Argentina. Em 1995 foi traduzida ao francês, e só em 1997 o romance foi reeditado na Argentina.

Santo Oficio de la memória é um romance histórico e como tal corresponde a um trabalho que ''alia a verdade contemplada na ficção com a verdade decorrente dos próprios fatos''. (MILTON, 1992, p.33). E é utilizando os fatos reais da história da Argentina que Giardinelli vai construindo a sua ficção neste romance, apontando para a importância do resgate da memória em seu país.

Como podemos comprovar por meio da história, a Argentina desde o seu surgimento como país, recebeu a contribuição de várias culturas por causa dos muitos imigrantes que desembarcaram no porto de Buenos Aires a partir do final do século XIX até meados do século XX, fugindo da miséria e das guerras que dizimaram a Europa. Eles vinham em busca de trabalho e sobrevivência digna. Mas dentre o grupo de imigrantes, nenhum superou o de italianos, tanto em quantidade como em qualidade, visto que eles representaram um verdadeiro ''aluvión'' de pessoas inundando um país, que na época era ainda escassamente povoado. Também possuíam uma determinação incomparável, dispostos que eram a trabalhar duro para construir cada qual o seu futuro, o que acabou por determinar também o futuro da Argentina. Assim sendo, é oportuno dizer que a Argentina de hoje é na verdade o resultado de todas essas participações culturais, com especial destaque à participação italiana.

No trecho abaixo, transcrito da obra em análise, é possível perceber através dos sentimentos, ansiedades e desejos expressos pelo personagem-narrador a preocupação e compromisso com a memória e a participação de culturas como a hispânica e a italiana na formação da ''família'' argentina.

En el movimiento de las aguas, en las figuras que forman las olas procuro ver los rostros de las tías, de mis hermanas. ¿Estarán en el puerto aguardando mi llegada? No todas. Luciana, seguro; Ricarda, quizá. ¿Y estará Franca en el puerto? ¿ Y Rosa y Micaela, tan viejas, peleándose entre ellas, discutiendo por cualquier asunto nimio, quejándose por alguna falta cometida por alguien de la familia? ¿ Y las demás, las vivas y las muertas?¿ Y los vivos y los muertos? ¿Y Romancito, y el tío Manrique? ¿Y los niños que no conozco, los sobrinos y sobrinos nietos? ¿Estarán los espíritus de la familia, de la Argentinidad, de la Hispanidad, de la Italianidad, del Mundo Latino, allí reunidos, presentes en cada abrazo que se dé y se reciba en ese puerto? Ay, mi ansiedad, mis propias tantas dudas... No importa que estén muertos; son memoria.(GIARDINELLI, 1997, p. 347)

Quando o autor, por meio de um dos seus personagens, fala no texto acima sobre os espíritos formadores da família, ele se refere não só à sua própria família, mas a toda a nação Argentina. É a memória desta nação que vai sendo invocada e resgatada ao longo de todo o romance. Como se o seu autor quisesse esgotar todos os acontecimentos referentes à memória e à história do país até chegar a definir a Argentina de hoje, e a sua identidade cultural, nacional nesta última passagem de milênio.

Em Santo Oficio de la Memória, o escritor Mempo Giardinelli consegue resgatar a história a e memória da Argentina através das palavras que empresta a seus personagens-narradores que são membros de uma família de imigrantes italianos. Assim, por três gerações, podemos acompanhar a história da Argentina que se mistura à história da família Domeniconelle (uma representação das famílias argentinas que em grande parte possuem origem italiana). Os Domeniconelles chegaram à América em 1896, quando eram somente três membros: pai (Antonio Domeniconelle), mãe (Angela Stracciativaglini) e um filho (Gaetano Domeniconelle). Por meio dos personagens que se apresentam na novela como narradores, vamos pouco a pouco tomando ciência de tudo o que foi ocorrendo desde que chegaram à Argentina em 1896 até 1991 que é o tempo final da narrativa. Assim, fazemos uma verdadeira viagem no tempo de quase um século que nos permite conhecer as divergências de opinião, de caráter, de gosto e comportamento que foi se processando de geração em geração na família Domeniconelle e de certa forma nas famílias argentinas em geral. A uma narrativa que combina ficção e história, onde os personagens narram suas experiências combinadas com acontecimentos que sabermos ser reais, de maneira que se forma um jogo narrativo que vai construindo a memória da Argentina ao longo do romance. Esta relação entre história, ficção e memória que se estabelece no decorrer da narrativa, revela o interesse de Mempo Giardinelli em dar sua contribuição ao atual contexto da literatura latino-americana, que desde o final do século que acaba de passar, vem apresentando uma forte tendência a sistematizar e a definir a identidade cultural da América Latina.

Estruturalmente esta obra de Giardinelli está dividida em nove partes. Cada parte apresenta vários relatos feitos pelos próprios personagens, que possuem no romance o papel de narradores. Eles narram aquilo que viram e viveram, mas também narram o que imaginaram, sonharam ou desejaram, numa verdadeira mistura de fatos reais com fatos imaginários:

Es que Jólibud era hermoso, y los años 50 no te cuento. Y acá mismo, acá se vivía fenómeno y ni crisis ni nada. Lo único terrible que yo me acuerdo de esos años fue que se nos murió la pobre Evita, que estaba enferma gravísima. Falleció el 26 de julio a las 20 y 25, de un cáncer fulminante. Cómo jodía la radio, después, todos los días a las 20 y 25 un minuto de silencio. Tenía nada más que 33 años, mira qué crimen. Estaba toda consumida, flaquita, que la veías y te partía el alma. Tan divina, Evita, tan buena, fue un tesoro para mí que nunca más en este país va a haber una mujer así. Y Perón se quedó sólo y ya no fue igual. Ese mismo año el 52 lo reeligieron para un segundo período, pero no fue lo mismo. El clima político era feo, se decía que había persecución a los opositores y que no había libertadores aunque nosotros nunca supimos eso. ( GIARDINELLI, 1997, p.72-73)

Nesta passagem da narrativa vemos claramente resgatada a história da Argentina. O trecho corresponde à narração da personagem Micaela que vai emitindo a sua opinião sobre o que estava acontecendo de fato. Este depoimento pode ser tomado como a representação da opinião da maioria dos argentinos que viveram aquele momento histórico de 1952, quando morre Evita Perón. Em seguida também vemos resgatado outro momento da história do país, quando este passa por transformações políticas que abalam a estabilidade econômica da qual desfrutavam já havia algum tempo. Os dados históricos realmente comprovam que a segunda metade do século XX começou conturbada.

Sobre a estrutura narrativa de Santo Oficio de la Memória também é importante destacar que há uma personagem central, a Nona (avó), ao redor da qual os outros personagens, que são seus netos e bisnetos, atuam relatando os fatos e as experiências vividas, além de fazer uma espécie de reflexão sobre as atitudes e o pensamento da Nona Angiulina. Essa ''nona'' é a representação da cultura e da tradição italiana que ela luta para conservar e propagar em meio ao contexto argentino.

 

Contexto histórico: análise de final de século na Argentina

Em Santo Oficio de la Memoria , assim como em outras narrativas históricas que surgiram neste final de século na literatura do continente americano, o que se observa é um caráter avaliativo que resgata acontecimentos históricos e políticos da segunda metade do século XX. Isso revela um desejo de resgatar também a memória do povo argentino e de definir sua identidade cultural, para dar continuidade a sua história.

É natural que o fim de um século, que representa o fim de um período tão longo na história da humanidade, traga consigo uma certa sensação geral de fim dos tempos, fim de história, fim de mundo. A exemplo do que aconteceu no final do século XIX, quando houve a expectativa de que o mundo acabaria, os últimos anos do século XX também trouxeram essa inquietação de que era chegado o fim. A própria obra em estudo, Santo Oficio de la Memória , faz alusão à idéia de fim do mundo, antes da chegada do século XX, em trecho narrado pela personagem Franca :

(...) y porque inevitablemente el 31 de diciembre de 1899 se acabará el mundo.
Antonio Domeniconelle, el abuelo Antonio, el Nono, así lo había leído en una enciclopedia del siglo catorce que se atesoraba en el edificio comunal de Filetto , y tal lo había confirmado el Prete Rocco D'Angelo, quién lo bautizara a él y a sus hermanos, y en quien sólo en ese punto confiaba ciegamente: el 31 de diciembre del último año de ese siglo el mundo se acabaría. (GIARDINELLI, 1997, p.17)

O trabalho de escritores como Mempo Guiardinelli, ensaístas, pesquisadores e demais pessoas preocupadas com a situação social e econômica da América Latina, representam a consciência da necessidade de preservação da nossa cultura, buscando a nossa identidade e valorização frente ao mundo. Para nós não vale pensar como o francês Jean Baudrillard em : La ilusión del fin (1997), onde ele conclui que não ficou nada e que o fim do século XX representou uma catástrofe sendo necessário voltar ao início, já que segundo ele, não há solução para o caos que se formou; entretanto também não podemos concordar com a teoria do americano Fancis Fukuyama em The End of History (1989) , que acreditava no fim da utopia, na chegada triunfal do melhor modelo de economia e política de todos os tempos: a democracia liberal. Nessa obra, ele garantia que a humanidade já havia alcançado o cume da evolução ideológica. No entanto, sabemos que isso não pode ser verdade. Basta olhar para a América Latina, a Ásia ou a África. Atualmente o próprio Fukuyama já se questionou sobre esta sua teoria, admitindo que estas considerações poderiam até servir para ele e para seu país, mas não para o mundo inteiro, pois esta seria uma visão simplista da realidade mundial.

Então, nem tanto ao céu otimista de Fukuyama, nem tanto ao inferno pessimista de Baudrillard. Para nós o que vale é pensar que já foram superadas muitas barreiras e catástrofes políticas, econômicas, históricas, e estamos caminhando sempre para frente, escrevendo pouco a pouco a nossa história, que não acabou, mas está apenas começando

O que se vê em Santo Oficio de la Memoria é exatamente uma mostra desta transformação política e social pela qual passou e vem passando a nação Argentina, a exemplo do que ocorreu e ocorre em todos os países latino-americanos em maior ou menor ou menor escala. Na obra de Giardinelli, o personagem Pedro, por exemplo, simboliza essa passagem e sobrevivência às catástrofes sociais, econômicas e políticas sofridas pela Argentina neste século que acaba de passar.Depois do seu exílio no México, por causa de sua militância política, Pedro retorna à Argentina. Apesar de não ter certeza daquilo que encontraria e de como seria recebido, a decisão pelo retorno já é uma demonstração de confiança, de otimismo e crença na nova política e na possibilidade de seguir adiante, recomeçando a construir a sua história e a história da sua nação, garantindo o resgate de uma identidade nacional e o direito de colaborar para a conservação desta mesma identidade:

(...) Uno, cuando vuelve, vuelve a lo que cree que son motivos de retorno, vuelve como respondiendo llamados. Pero en realidad vuelve para seguir preguntándose por qué ha vuelto.
(...) - ¿Volver a la raíz será volver a la propia e inacabada confusión? Quizá de eso trate, pensó: de volver para recomenzar. Pero ahora sabiendo que la confusión es eterna como es eterna la comedia. Y es circular como la memoria. (GIARDINELLI, 1997, p.515-517)

Essas são as reflexões que impulsionam Pedro a voltar para a sua pátria e a continuar contribuindo na escritura da história da sua nação. São pensamentos que certamente passam pela mente de todos os exilados políticos que sonham com o retorno ao seu território de origem.

 

Presença da cultura italiana através dos personagens do romance

Certamente, não é por acaso que o autor escolheu como porta-vozes do seu discurso os membros de uma família de italianos e seus descendentes. Afinal, é historicamente comprovada a participação dos italianos na construção da Argentina como nação, o que certamente também veio influenciar os traços culturais do povo argentino:

Se suele considerar que casi la mitad de la problación argentina es de origen italiano, entre 12 y 15 millones de personas (como parece confirmar un análisis sumario basado en los apellidos). (ALBÒNICO Y ROSOLI, 1994, p. 337)

O próprio Giardinelli é de descendência italiana e carrega consigo as marcas daquela cultura. Santo Oficio de la Memoria é sem dúvida um romance histórico que busca dar conta dessa participação dos italianos imigrantes na formação da história e da memória da Argentina. E em vários de seus personagens está o pensamento e o caráter do italiano, que pode ser interpretado como uma forma de representação também do caráter do argentino que naturalmente acabou por herdar traços da cultura de seus avós e bisavós imigrantes. Ao longo deste romance de Giardinelli, vemos que tanto as suas raízes ítalo-européias como o desejo de afirmação da sua identidade argentina parecem fundir-se em uma coisa única, em um mesmo sentimento. Representação de uma dualidade identitária que parece mesmo ser a marca dos cidadãos argentinos de hoje cientes das suas raízes européias, mas buscando sempre uma afirmação da sua identidade nacional, que está hibridamente composta. Mempo Giardinelli dá demonstrações dessa duplicidade identitária em Santo Oficio de la Memoria quando destaca a participação da cultura italiana na composição do que ele entende como ''família argentina'' que no romance aparece como sinônimo de ''nação argentina''.

A escolha dos nomes dos personagens, quase todos em italiano com exceção do nome Pedro (ainda que a avó Angiulina o chame sempre Pietro, em italiano), e a transcrição de frases inteiras em língua italiana, sobretudo nas narrações dos diversos personagens quando se referem ou narram as colocações da avó, também são demonstrações da relação que existe entre os argentinos e a cultura italiana:

De repente me mira y me dice, enojada:
- Ma sí, scrive, stupido, scrive. Finalmente è meglio di scrivere, non di pensare...
(GIARDINELLI, 1997, p.83)

(...) Y me voy de esta casa ahora mismo, tu non sei il mio figlio, sei un figlio na putana!
(GIARDINELLI, 1997, p.90)

Pedro é o único da família Domeniconelle (a exceção do personagem ''Tonto de la buena memoria'', do qual não se conhece o nome próprio) que não tem nome italiano. Isso demonstra que Pedro representa a fusão entre as duas culturas. Inclusive ele é mesmo um dos últimos membros da última geração dos personagens que integram o romance. Pedro é o resultado da combinação do caráter e dos sentimentos dos italianos, desde quando chegaram à América cheios de sonhos de construção de uma vida nova e digna, com a dos argentinos que passaram por tantas transformações políticas e sociais no decorrer de um século até resultar no que é hoje. Pedro representa e reúne os sonhos de lá, de uma época obscura e sem esperanças, com os sonhos de cá, que sempre foram o direito a ser cidadão, a pensar, a ir e vir sem ser incomodado, enfim o direito a uma terra, um espaço. Pedro quando retorna a Argentina representa o encontro de tudo isso em uma única pessoa, a representação de uma Argentina que então podia seguir adiante resgatando, conservando e continuando a sua própria identidade, já sem os medos e as incertezas do passado.

 

Conclusão

As experiências, sofrimentos, angústias, dúvidas, paixões, medo, esperanças e outros sofrimentos pelos quais passam os Domeniconelles de forma fictícia em Santo Oficio da la Memoria, são os mesmos pelos quais passaram realmente ou continuam passando todos os argentinos, e por que não dizer toda a América Latina desde o seu surgimento.

Nesta narrativa de Giardinelli, história, ficção e memória caminham juntas em busca da construção da identidade nacional argentina. Ao longo de toda a obra o que vemos acontecer é a apresentação em forma de testemunho de personagens fictícios que vivem e revivem a história real da Argentina colocando em evidência a sua memória nacional. Hoje sabemos o quanto o assunto memória constitui uma questão quase que de caráter do povo argentino em geral. Basta ler o próprio Mempo Giardinelli em El País de las maravillas (1998), para entender a relação que se desenvolveu entre os argentinos e a memória. Eles constantemente se auto acusam de não ter memória:

Y en las novelas donde la memoria aparece como sello más fuerte de la narrativa argentina de fines de los '80 y de todos los '90. El empecinamiento por escribir nuestra história, por recuperar la memoria y hacer que cada libro sea en cierto modo un triunfo frente al olvido es hoy en día muy notable. (GIARDINELLI, 1998, p. 187)

O fim de uma etapa temporal, o fim de um século, como já foi comentado anteriormente, sempre traz uma necessidade de revisão, de avaliação dos fatos, dos acontecimentos, para tirar uma conclusão do que permaneceu, do que valeu a pena, do que contribuiu positivamente para a evolução e bem-estar da humanidade ou de uma determinada sociedade. Também não deixa de haver uma certa sensação de final da linha, final da história, final dos tempos. Assim, se explica o aparecimento de tantas produções literárias do tipo: romance histórico, neste último fim de século, comprovando essa necessidade comum entre os narradores latino americanos de revisar sua própria história, a nossa história. Esta necessidade é gerada, como define Giardinelli, por um desejo de resistir, seguir adiante esquecendo os tempos difíceis, renovando os sonhos e vislumbrando possibilidades de realizá-los:

Y es que en sociedades como las nuestras sólo el reconocimiento del dolor que padecimos, sólo la memoria y la honestidad intelectual nos permiten seguir soñando utopías y, lo que es mejor, nos impulsan a seguir luchando para realizarlas. (GIARDINELLI, 1988, p. 188)

A história de um povo, de um tempo, de uma sociedade carrega consigo a memória e a identidade desse mesmo povo. Certamente foi pensando nisso que Mempo Giardinelli produziu Santo Oficio de la Memoria, onde apoiado na história oficial (real), cria uma ficção que resgata do esquecimento a memória do país garantindo assim que a identidade argentina se defina e se imponha entre os próprios cidadãos argentinos que adquiriram, provavelmente em decorrência do duro período de ditadura pelo qual passaram, um estigma de que não possuem memória, no sentido de não possuírem um arquivo mental dos fatos que compõem a sua história. Isso seria o mesmo que admitir que se não têm memória é porque não viveram uma história ou não querem revivê-la, ou foram treinados, obrigados a esquecê-la por imposição da ditadura.

É o medo da perda desta identidade ou da possibilidade de continuar na tentativa de conservá-la por parte daqueles que sobreviveram à ditadura e possuem a consciência, a capacidade de reflexão sobre o estado de esquecimento e medo imposto pelo injusto regime, que impulsiona argentinos como Mempo Giardinelli, chilenos como Marco Antonio de la Parra e outros latino-americanos que compartem esta mesma preocupação, a oferecer-nos trabalhos que representam verdadeiros documentos de conservação da nossa história, da nossa memória e da nossa identidade, como é o caso de Santo Oficio de la Memoria. Obras como essa assumem o papel de recuperadoras da verdade, resgatadoras da palavra e do direito a viver a própria identidade, dando prosseguimento à história verdadeira, conservando a memória sem medos, sem exílios, sem mentiras e sem silêncios.

 

BIBLIOGRAFIA

ALBÒNICO, A. e ROSOLI, G. Itália y América. Madrid: Editorial Mapfre, 1994.

ANDERSON, P. O fim da história, de Hegel a Fukuyama. Rio de Janeiro: Zahar, 1996.

BAKTIN, M. Questões de Literatura e de Estética. A teoria do romance. São Paulo: Hucitec, 1993.

BAUDRILLARD, J. La ilusión del fin. Barcelona: Anagrama, 1997.

CHIAPPINI, L. O foco narrativo. São Paulo: Ática, 1994.

DE LA PARRA, M. A. Carta abierta a Pinochet. Santiago: Planeta, 1998.

FERRO, M. Vita italiana al Plata. Turín: Tip. Mattino, 1885.

GIARDINELLI, M. Santo Oficio de la Memoria. Buenos Aires: Seix Barral, 1997.

_____________. El país de las maravillas. Los argentinos en el fin del milenio. Buenos Aires, 1998.

LE GOFF, J. História e Memória. Campinas, SP: Unicamp, 1996.

MARANI, Alma Novella. Inmigrantes en la literatura Argentina. Roma: Bulzoni Editore, 1998.

MILTON, Heloísa da Costa. As histórias da história. Retratos literários de Cristóvão Colombo. Tese de Doutorado em Literaturas Hispânicas, São Paulo: Univesidade de São Paulo, 1992.

ROMERO, L. A. Breve historia contemporânea de la Argentina. Buenos Aires: Fondo de Cultura Econômica de Argentina, 2001.

SARLO, B. Uma modernidad periférica: Buenos Aires 1920 y 1930. Buenos Aires: Ediciones Nueva Visión, 1998.