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An. 3. Enc. Energ. Meio Rural 2003

 

Avaliação da qualidade de flores cortadas de chuva-de-ouro após armazenamento em câmara fria a baixa temperatura

 

 

Castro, S. G. F.I; Cortez, L. A. B.II

Departamento de Pré-processamento de Produtos Agropecuários, FEAGRI-UNICAMP, CEP 13081-970, Campinas, SP tel.: (019) 788-1005 fax: (019) 788-1010
IAluna do mestrado na área de Tecnologia Pós-Colheita da Faculdade de Engenharia Agrícola, UNICAMP
IIProfessor Livre Docente do departamento de Construções Rurais da Faculdade de Engenharia Agrícola, UNICAMP

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

A magnitude das perdas pós-colheita de flores no Brasil é de no mínimo 30%. A importância do perfeito manejo das condições que determinam a manutenção da qualidade e redução de perdas de produtos perecíveis, como as flores, envolve o rápido resfriamento, transporte refrigerado, armazenagem e manuseio adequado. A refrigeração retarda a ação dos agentes deteriorantes, assim como reduz a níveis compatíveis a velocidade do processo de maturação. Sendo que, o intervalo de tempo decorrido entre a colheita e a redução da temperatura ao nível adequado a conservação é inversamente proporcional a manutenção da qualidade. Portanto, a refrigeração auxilia na economia de energia pela redução de perdas pós-colheita. Armazenou-se em uma câmara fria, flores cortadas de 'chuva-de-ouro' (Oncidium flexuosum Sims) por um período de tempo de 10 dias a uma temperatura de 8 ± 10C com 90 a 95% de umidade relativa. Um sistema de aquisição de dados foi instalado para registrar dados de cinco termopares posicionados em diferentes locais da câmara fria. O programa utilizado para receber e tratar os dados foi o AqDADOS. O resfriamento teve o propósito de manter a qualidade do produto, e estender a vida de vaso. A análise da variação da qualidade em função do tempo de armazenamento demonstrou que flores armazenadas até seis dias nas condições especificadas permaneceram com a mesma qualidade inicial. Após este período o produto perde sua qualidade para a comercialização. Neste experimento, o processo de resfriamento do Oncidium flexuosum Sims verificou-se um bom método para estender a vida de vaso das flores e possivelmente regular o abastecimento do produto no mercado.

Palavras-chaves: Armazenamento, flores, Oncidium, orquídea, refrigeração, solução preservativa.


ABSTRACT

The magnitude of the losses of flowers postharvest in Brazil is at least of 30%. The importance of the adequate handling conditions that determine the preservation of the quality and reduces the losses of perishable products, such as flowers, involves fast cooling, refrigerated transport, and proper storage. The refrigeration delays the action of the decay agents; as well as reduces the compatible levels the speed of the maturation process. Also, the time lag between harvest and the reduction of the temperature to the required conservation level is inversely proportional to the maintenance of the quality of flowers. Therefore, refrigeration helps saving energy by the reduction of postharvest losses. Once stored in a cold chamber, cut 'Golden-showers' flowers (Oncidium flexuosum Sims) can be stored for a period of time of 10 days at a temperature between 8 ± 10C with 90 to 95% of relative humidity. A data acquisition system was installed recording data from five thermocouples positioned in different locations in the cold chamber. AqDADOS was the software utilized to receive and treat the data. The cooling system had the purpose of maintaining the product quality, and to extend its shelf life. The analysis of the variation of the quality as a function of the storage time demonstrated that flowers stored up to six days in the specified conditions had remained with the same initial quality. After this period the product loses its quality for commercialization purposes. In this experiment, the cooling process of Oncidium flexuosum Sims verified to a good method to extend the flower's shelf life and possibly regulate the product supply to the market.


 

 

INTRODUÇÃO

A produção de flores e plantas ornamentais no Brasil teve início por volta da década de 30, quando imigrantes japoneses se estabeleceram nos arredores da cidade de São Paulo e deram início a uma pequena produção comercial, voltada para consumidores da grande São Paulo. Um novo impulso foi dado somente em meados da década de 60, quando imigrantes holandeses trouxeram novas técnicas de produção para a região de Holambra. Até então, as flores disponíveis no mercado eram somente rosas, gladíolos, cravos e algumas variedades de crisântemos (PINTO,1997).

O mercado brasileiro de flores, no último triênio, apresentou crescimento de 23% ao ano, passando de US$ 700 milhões em 1995, valor no varejo, para um valor estimado em US$ 1,3 bilhão em 1998 (KIYUNA, 1998).

Da produção nacional, apenas cerca de 2 a 5% destinam-se à exportação. Entre os produtos exportados, destacam-se flores tropicais, rosas, flores secas, gladíolos, bulbos, mudas de cordilines e dracenas, folhagens, sementes de palmeiras, mudas de orquídeas, de gerânios e de crisântemos. A floricultura brasileira concentra-se principalmente nas regiões Sul e Sudeste, que representam 18% do território nacional. O Estado de São Paulo é o principal produtor do país. Avalia-se que haja cerca de 1500 viveiros no estado, responsáveis por 70% da produção nacional de flores e plantas ornamentais. A floricultura paulista gera, aproximadamente, 28,5 mil empregos: 45% na produção, 7% na distribuição, 44% no comércio e 4% na indústria de apoio. Na produção, a área média em cultivo nas propriedades em torno da capital é de 3 ha, empregando quatro pessoas por hectare. A mão-de-obra familiar (10%) atesta o forte caráter empresarial da floricultura paulista (KÄMPF, 1997).

Apesar da floricultura exibir uma presença expressiva no panorama econômico agrícola, o setor enfrenta ainda diversos entraves ao seu crescimento. A magnitude das perdas pós-colheita de flores no Brasil até o consumo final do produto, é de no mínimo 30%. Como reflexo de tal fato, tem-se a importância da tecnologia pós-colheita, considerando-se o perfeito manejo das condições que determinam a manutenção da qualidade e redução de perdas de produtos perecíveis, como as flores. O manejo correto engloba processos específicos como, o rápido resfriamento, transporte refrigerado, armazenagem e manuseio adequado (ARRUDA et al, 1996).

Este trabalho teve por objetivo avaliar a qualidade de flores de Oncidium flexuosum após um período de armazenamento a baixa temperatura em câmara frigorífica, adequando uma técnica pós-colheita, e avaliando a vida de vaso após o armazenamento. Caracterizando fisicamente e definindo sinais de senescência que permitiram a elaboração de um critério de notas para avaliações de manutenção da qualidade da espécie em estudo. Determinando também a longevidade total, a durabilidade comercial, e a média de dias em que as inflorescências permanecem com qualidade máxima.

Com o prolongamento da durabilidade comercial das flores, objetiva-se uma possível regulação da oferta desta orquídea cortada no mercado.

 

MATERIAL E MÉTODOS

MATERIAL VEGETAL: Inflorescências de Oncidium flexuosum Sims foram coletadas em duas épocas diferentes em junho de mil novecentos e noventa e oito, e dezembro de mil novecentos e noventa e nove, no município de Guararema em São Paulo. O ponto de colheita das hastes foi de 1/3 do volume total de flores abertas, 1/3 em desenvolvimento e o último terço em estágio de botão. Entretanto, a maior parte possível dos botões, estavam maturos fisiologicamente para abrirem posteriormente em vaso. As flores foram colhidas pela manhã e transportadas em caixas de papelão para o laboratório da Faculdade de Engenharia Agrícola em Campinas.

No laboratório as hastes florais sofreram padronização no seu comprimento, sendo este novo corte realizado sob água a temperatura ambiente para reidratação, por 10 a 15 minutos, e logo em seguindo-se tratamento com solução preservativa.

 

 

TRATAMENTO QUÍMICO: Foram testados três tipos de soluções preservativas. Duas a base de 8-hidroxiquinolina, e outra de ácido cítrico. Uma das formulações sendo de uso comercial. As soluções foram mantidas com pH entre 3,5 e 4,5 e preparadas com água destilada.

As bases das hastes foram mergulhadas em solução por 12 horas, e posteriormente embaladas.

EMBALAGENS: As flores depois de tratadas quimicamente foram reunidas em maços com seis hastes cada. Na base de cada maço foi colocado espuma floral ou algodão sintético, e um saco plástico preso por fita aderente, com o objetivo de reter a solução preservativa na base. Os maços receberam ainda um envoltório de polietileno de 60 micra perfurado, para a proteção dos maços. Dentro de cada caixa de papelão, utilizada como embalagem final, foram colocados dois maços em sentidos contrários, de modo a evitar injúrias.

 

 

SISTEMA DE ARMAZENAGEM:

Câmara fria: Foi utilizada uma câmara de refrigeração para a armazenagem a frio, regulada para manter a temperatura a 8 ± 1° C.

A câmara fria instalada é do tipo pré-fabricada, onde as paredes e os tetos são elaborados industrialmente e posteriormente trazidos ao local e montados. As dimensões são as seguintes:

¨ internas de 2,95 x 3,93 x 2,85m de altura

¨ externas de 3,15 x 4,13 x 2,95m de altura

Desta forma, a capacidade total é de 33m3.

A câmara é composta pelos seguintes equipamentos; painel de controle, iluminação, evaporador, tubulações e a unidade condensadora composta pelo condensador e compressor.

O sistema de refrigeração garante a manutenção da temperatura de conservação dos produtos dentro dos limites preestabelecidos nos dados operacionais, sendo esta manutenção dependente do correto procedimento do carregamento do produto.

O sistema é composto de unidade condensadora, unidade evaporadora e quadro de comando único. A unidade evaporadora é do tipo compacta e instalada no teto da câmara, sempre que possível o mais afastado da porta. O evaporador do compartimento com temperatura menor que 2oC é equipado com resistências elétricas de aquecimento para efetuar o degelo. Os equipamentos de frigorificação utilizados foram; evaporador da marca McQuay, modelo FBA 190RT e unidade condensadora da mesma marca, modelo HSAD A225.

O evaporador é o da marca Mcquay, modelo FBA 190RT, possuindo 4 ventiladores. A unidade condensadora (compressor hermético e condensador a ar) é da marca Mcquay, modelo HSAD 225A. Foi construído um suporte metálico para que a unidade condensadora. Este suporte foi colocado no lado externo do laboratório e fixado entre a laje superior e a parede. Foram utilizadas parafusos com buchas de aço para maior segurança, uma vez que o conjunto pesa aproximadamente 100kg.

O Painel de Controle da Câmara Fria instalada é o da marca EveryControl, modelo EC130. Este possui controle e regulagem de todos os parâmetros necessários ao correto funcionamento do equipamento de frigorificação, tais como: temperaturas máxima e mínima, delta de temperatura para início de funcionamento do sistema, tempo de degelo do evaporador, periodicidade de degelo, funcionamento ou não do sistema de ventilação do evaporador quando em degelo, tempo de espera para reentrada em operação após falta de luz, entre outros.

A iluminação é à prova de vapor com lâmpada incandescentes de 60W dentro de luminárias tipo tartaruga, e o interruptor com sinaleiro luminoso.

 

 

Umidificação: A umidade foi registrada durante o experimento ficou mantida entre 90 e 95%.

A temperatura no interior da câmara, assim como no interior das embalagens e do produto, foi monitorada através de um sistema de aquisição de dados por computador. O programa de aquisição foi ajustado para leitura das temperaturas em intervalos determinados de 20 minutos. O sistema automático é composto por: um microcomputador compatível, contendo uma placa de condicionamento de sinais analógicos PCX-0802 e um conversor de sinais CAD-12/32, canais de aquisição termopares tipo "T" e termopares bulbo úmido para monitorar a umidade relativa; software AQDADOS para transformar os sinais de mV em graus Celsius (tomando-se como referência a temperatura da junta fria medida pela CAD 12/32).

A umidade foi monitorada com o auxílio de um psicrômetro.

 

 

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL: Cada caixa foi considerada a unidade experimental. Esta unidade era composta por dois maços de flores dispostos de forma oposta. Cada maço continha seis hastes presas e embaladas com polietileno microperfurado. Na base das hastes foi colocado um substrato para reter a umidade.

O ensaio teve cinco tratamentos, sendo dois sem refrigeração e três com refrigeração. Cada tratamento teve quatro repetições.

As flores embaladas foram armazenadas por um período de dez dias, e a cada dois dias retirou-se amostras de cada lote que foram pesadas e avaliadas comparativamente com a carta Munsell de cores. Logo em seguida os maços foram dispostos em vasos contendo água destilada para se determinar a vida de vaso após o armazenamento.

 

 

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO: Determinação da durabilidade das flores em dias no vaso. Para esta avaliação alguns parâmetros foram desenvolvidos como a atribuição de notas, que auxiliaram no descarte de material.

A análise comparativa realizada por três pessoas previamente treinadas. A escala a adotada variou de 0 a 5 para padrões de; coloração, enrolamento do labelo e turgescência de pétalas, inclinação da haste;

A atribuição de notas foi feita de acordo com os seguintes parâmetros:

4: sem enrolamento, túrgida, coloração original, haste normal

3: sem enrolamento, túrgida, coloração original, haste levemente inclinada

2: sem enrolamento, leve perda de turgescência, leve esmaecimento de cor, haste levemente inclinada

1: sem enrolamento, evidente perda de turgescência, evidente perda de cor, haste inclinada

0:enrolamento de pétalas, grave perda de turgescência, perda total de cor, queda de pétalas

Registro das variações de temperatura e umidade.

 

 

MÉTODO ESTATÍSTICO: Para a análise de variância dos dados foi utilizado o software Splus 4.5. A análise da variância fornece dados que permitem que fatores ou combinações exercem influência significativa nos parâmetros estudados ao nível de 5% de significância, através do Teste de Fisher LSD.

A análise estatística comparou a durabilidade da vida de vaso dos diferentes tratamentos, amostrados a cada dois dias, ao longo do tempo.

Verificou-se qual o maior período de tempo de armazenamento a baixa temperatura em que as flores mantenham uma qualidade aceitável para comercialização, através da determinação do nível de significância para cada variável resposta estudada.

 

RESULTADOS

Através da análise da variância dos dados os tratamentos armazenados em câmara fria até seis dias não apresentaram diferença significativa.

 

 

CONCLUSÃO

Verificou-se que o maior período de tempo de armazenamento a baixa temperatura em que as flores mantenham uma qualidade aceitável para comercialização, é de seis dias sob a temperatura de 8 ± 10C e com umidade entre 90 e 95%. Após este período a qualidade das flores armazenadas em câmara fria já não possuem mais valor para comercialização.

O armazenamento das flores em câmara fria, demonstrou ser uma alternativa para estender a vida de vaso do produto com qualidade, e diminuir perdas pós-colheita, pois a vida útil das flores sem aplicação de tecnologia pós-colheita se limita a 4 dias.

 

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e Capes pela concessão da bolsa de mestrado.

À Faculdade de Engenharia Agrícola – UNICAMP, pela disponibilização de material necessário, dependências e auxílio financeiro.

Ao produtor Paulo Akama membro da associação dos produtores de flores da região Dutra, pela disponibilização de material vegetal.

 

REFERÊNCIAS

[4] ARRUDA, S.T.; OLIVETTI, M. P. A. & CASTRO, C. E. F. Diagnóstico da Floricultura do Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. Campinas, SP, v.2, n.2, p.1-18,. 1996.

[3] KÄMPF, A. N. A Floricultura Brasileira em Números. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental. Campinas, v.3, n.1, p.1-7, 1997.

[2] KIYUNA, I. Flores. Prognóstico Agrícola. São Paulo, v.2, p. 189-194, 1998.

[1] PINTO, J. B. Tecnologia pós-colheita: armazenamento de rosas cultivar "Vegas". Campinas, 1997. 75f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Faculdade de Engenharia Agrícola, UNICAMP, 1997.3

 

 

Endereço para correspondência
Departamento de Pré-processamento de Produtos Agropecuários, FEAGRI-UNICAMP
dpppag@agr.unicamp.br

Castro, S. G. F.
Endereço eletrônico: ssardinha@yahoo.com

Cortez, L. A. B.
Endereço eletrônico: cortez@agr.unicamp.br