3, v.2O Médio Paranapanema e sua opção pelo PIRComparação entre os cenários energéticos brasileiros e portugueses considerando-se a implantação de PCH's - pequenas centrais hidrelétricas author indexsubject indexsearch form
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An. 3. Enc. Energ. Meio Rural 2003

 

Avaliação completa dos recursos para produção de termofosfato: uma aplicação do PIR

 

 

Cláudio Elias Carvalho; Luiz Claudio Ribeiro Galvão; Lineu Belico dos Reis; Miguel Edgar Morales Udaeta

GEPEA-USP, Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Avenida Prof. Luciano Gualberto, travessa 3, 158, CEP: 05508-900, São Paulo, SP, Brasil, Tel: (55)(011)818-5279, Fax: (55)(011)210-3595

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Este trabalho visa discutir uma abordagem com intuito de se estabelecer os custos completos dos recursos energéticos mais factíveis para a geração de Energia Elétrica para a produção de termofosfato na região do Médio Paranapanema, dentro do contexto do Planejamento Integrado de Recursos (PIR).

Palavras-chave: Planejamento Integrado de Recursos; Externalidades; Avaliação Ambiental; Custos Completos, Energia e Meio Ambiente.


ABSTRACT

This paper has the objective of discussing an approach with the purpose of set up the full cost accounting of the most feasible energy resources to generate Electrical Energy to produce thermophosphate in Medio Paranapanema region, within the context of Integrated Resources Planning (IRP).


 

 

INTRODUÇÃO

Os estudos do Médio Paranapanema (MPP) representam uma oportunidade de real aplicação e consolidação dos conceitos do PIR (Planejamento Integrado de Recursos), tendo em vista as características próprias da região [6].

Este trabalho propõe a discussão sobre a filosofia de avaliação das externalidades relativas aos recursos energéticos, considerados suas características heterogêneas (energéticas, econômicas, ambientais e sócio-políticas, inclusive culturais) como instrumento de sustentabilidade.

Desse modo, busca-se incorporar estas questões dentro da estrutura de planejamento aplicando-se a um caso específico que é a produção de termofosfatos no MPP. Procura-se, assim, as melhores opções de suprimento energético para uma determinada necessidade industrial, atentando-se para um Desenvolvimento Sustentável da região.

Vale ressaltar que este é um trabalho preliminar que busca contribuir com a discussão acerca de uma nova forma de planejamento energético onde os custos sócio-ambientais sejam efetivamente considerados.

 

A REGIÃO DE ESTUDO

A região de estudo possui 6.237 km2 de área, situando-se dentro das bacias dos rios Paranapanema e do Peixe. O MPP compreende os municípios da Região de Governo de Assis e mais dois da Região de Governo de Marília, num total de dezete municípios, constituindo o CIERGA (Consorcio Intermunicipal da Região de Governo de Assis).

O Médio Paranapanema é a 3a região menos desenvolvida do Estado de São Paulo, superando apenas o Vale do Ribeira e o Pontal do Paranapanema. O seu desenvolvimento é limitado, em parte, pela relativa escassez de energia elétrica, embora existam grandes usinas hidrelétricas localizadas na região que simplesmente "exportam" a energia produzida, principalmente para a Grande São Paulo. Assim, a população local é penalizada pela falta de estratégias de desenvolvimento voltadas para a região.

A população total da região é de 218.582 habitantes (1995), sendo que a população rural é bastante expressiva, tendo na agricultura a base da atividade econômica.

Na Figura 1 é mostrada a localização da região do Médio Paranapanema no Estado de São Paulo.

 

 

OS TERMOFOSFATOS

Os termofosfatos são os produtos fertilizantes que utilizam processo de tratamento térmico para a solubilização do fósforo contido nos constituintes minerais de materiais tais como a apatita, colocando-o em uma forma mais disponível para os vegetais. Na forma de apatita o fósforo não é disponível aos vegetais devendo sofrer alguma transformação química para poder ser usado como fertilizante. Esta transformação ocorre industrialmente por duas rotas processuais básicas, a saber: a via úmida e a via seca.

Os processos por via úmida consistem no ataque da rocha por um ácido mineral forte (sulfúrico ou nítrico). Os processos por via seca consistem no tratamento térmico da rocha, com ou sem adição de outros materiais. No Brasil é produzido em escala industrial e comercializado o termofosfato chamado magnesiano fundido (via seca), o qual esse trabalho enfocará..

Considerando-se a diversidade de solos, climas e culturas abrangidas pela agropecuária brasileira, é perfeitamente válida a produção e o consumo de várias formas de fertilizantes fosfatados. Sabe-se que para culturas de ciclo curto (anuais e bianuais) a eficiência dos fertilizantes fosfatados é proporcional à parcela do fósforo solúvel presente no mesmo. Por outro lado, não é menos verdade que existe efeito residual, ou seja, a parcela não solúvel (ou pelo menos parte dela) acaba sendo aproveitada a longo prazo por culturas perenes ou por cultivos sucessivos. Neste quadro, pode-se concluir que os termofosfatos representam uma excelente opção agronômica para os solos tropicais ácidos, justificando ações para sua produção em maior escala no País. Além disso, o Brasil é altamente dependente do mercado internacional no que se refere ao Enxofre, matéria-prima para a produção de ácido sulfúrico (utilizado no processo tradicional, a via úmida), uma vez que importa 85% de suas necessidades, tornando-se vulnerável em relação a este material considerado estratégico.

Dessa forma, fica claro que também do ponto de vista industrial e ambiental seria conveniente alterar o perfil de distribuição da produção de fertilizantes fosfatados no sentido de diminuir a participação dos produtos obtidos pela via sulfúrica, particularmente aqueles dependentes do ácido fosfórico.

No que se refere à região, devido à sua característica agrícola, torna-se bastante interessante a produção de fertilizantes na própria região, contribuindo assim significativamente para o desenvolvimento local.

Deve-se registrar, por fim, que a maior restrição feita ao aumento da produção de termofosfatos no Brasil é o alto consumo de energia elétrica pelos processos produtivos, sendo um dos principais fatores a ser considerado na viabilização técnico - econômica deste produto.

 

RECURSOS ENERGÉTICOS CONSIDERADOS

A gama de recursos energéticos considerados para o início do estudo envolve os principais recursos e os mais plausíveis de serem utilizados.

Dessa forma, os recursos focalizados foram: energia hidráulica (no caso, PCH's), termelétricas a gás natural ou carvão mineral, nuclear, biomassa florestal, bagaço de cana (co-geração), fontes alternativas (Solar, Eólica, Hidrogênio e Resíduos Orgânicos) e a Rede, com o recurso do GLD (Gerenciamento pelo Lado da Demanda).

 

AVALIAÇÃO DOS CUSTOS COMPLETOS –ACC

Definição e Premissas

A ACC é um meio pelo qual considerações ambientais podem ser integradas nas decisões de um determinado negócio. Ela é uma ferramenta, a qual incorpora custos ambientais e custos internos, com dados de impactos externos e custos/benefícios de atividades sobre o meio-ambiente e na saúde humana. Nos casos onde os impactos não podem ser monetarizados, são usadas avaliações qualitativas.

Segundo a ONTARIO HYDRO, a abordagem da ACC tem dois objetivos principais:

- definir e alocar os custos ambientais internos;

- definir e avaliar as externalidades associadas com as nossas atividades.

A Avaliação dos Custos Completos, quando aplicada ao planejamento energético, está baseada em cinco premissas, das quais decorrem toda a metodologia de avaliação. Essas premissas são:

1) Consideração de recursos e usos de energia eficientes;

2) Impactos ambientais;

3) Impactos sociais;

4) Emprego de fontes de energia renováveis;

5) Integridade financeira.

Elementos Constituintes

A ACC consiste basicamente dos seguintes elementos:

a) Inventário de Custos Internos Expandidos

A ACC considera uma escala mais ampla de custos, incluindo certos custos e benefícios probabilísticos. Estes incluem quatro categorias de custos que são: Custos Diretos, Indiretos, de Contingência e Menos Tangíveis. No que se refere ao setor elétrico alguns exemplos dos custos internos mais comuns são apresentados na tabela 1.

 

 

b) Horizonte de Tempo Expandido

Em adição a um inventário de custos mais amplo, uma segunda característica da ACC é seu horizonte de tempo mais longo, variando de acordo com o tipo de empreendimento, devido a certos custos levarem muitos anos para se materializarem.

c) Indicadores Financeiros de Longo Prazo

As ferramentas de avaliação de projeto devem atender no mínimo os seguintes critérios: 1) elas devem considerar todo fluxo de caixa (positivo e negativo) ao longo da vida do projeto; 2) elas devem considerar o valor do dinheiro no tempo (isto é, fluxo de caixa futuro descontado).

Os métodos mais comumente usados e que atendem esses dois critérios são: Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR), e Relação Custo/Benefício ou Índice de Lucratividade (IL).

d) Incorporação das Externalidades

O que diferencia fundamentalmente a ACC de outras avaliações é, sem dúvida, a incorporação das externalidades no seu escopo de custos. Existe, no entanto, três passos a serem percorridos para a incorporação das externalidades que são:

1) Identificação e estimativa dos impactos sócio-ambientais;

2) Quantificação das externalidades; e

3) Monetarização das externalidades;

Muitas vezes apenas consegue-se atingir os passos 1 ou 2, sendo o terceiro de maior dificuldade metodológica e até mesmo política. Uma vez atingido o terceiro passo, pode-se então "internalizar" ou incorporar as externalidades aos custos, passando a ser então custos internos.

e) Alocação de Custos

Para o propósito de análise de investimento, o sistema de avaliação de custos ideal deve ter duas características primárias. Primeiro, o sistema deveria alocar todos os custos para os processos os quais são responsáveis pela sua origem.

Segundo, não é suficiente simplesmente alocar os custos ao processo apropriado. Os custos deveriam ser alocados de maneira que refletisse o meio no qual os mesmos são realmente incorridos.

Passos de Análise

Não há uma fórmula única para se realizar/executar uma ACC. Os passos básicos podem ser aplicados em muitas decisões de negócios de diferentes maneiras. A ACC é mais um complemento do que uma substituição de projetos de avaliação existentes, métodos de aproveitamento de capital, análise de gastos ambientais a sistemas de gerenciamento de custos já existentes em muitas organizações.

Dessa forma, há quatro passos básicos na condução da ACC que ajudarão a reduzir a probabilidade de não notar-se uma real economia financeira ou atividade de um certo projeto. Esses passos são descritos sucintamente a seguir e apresentados na figura 2.

 

 

a) Definir as Opções de Atuação

Em muitos casos, sobretudo no setor energético, é necessário uma gama mais ampla de informações sobre custos relevantes para se tornar uma decisão adequada. Esse processo inclui então:

Determinar o escopo da ACC (isto é, o que será incluído na análise);

Clarificar quais e como as opções atenderão os objetivos propostos;

Identificar quais são os procedimentos internos necessários.

b) Identificar e Entender os Custos

Este passo envolve a identificação e compreensão de todos os custos envolvidos no projeto. Esse escopo de custos abraça tanto custos internos como externos e à medida que esse escopo se expande, tende-se a encontrar maior dificuldade para identificar e mensurar certos custos.

c) Analisar o Desempenho Financeiro

O processo de identificar e analisar custos é interativo. Assim, uma análise financeira mais ampla pode mudar a decisão de investimento. Deve-se usar para a análise financeira os indicadores apresentados anteriormente.

d) Tomar a Decisão

A tomada de decisão é a integração de todos os fatores que são relevantes para a viabilidade e lucratividade de uma oportunidade de investimento.

Alguns fatores podem ser monetarizados (por ex. cálculo do VPL). Outros podem ser quantificados mas não moneterizados (por ex. aumento percentual na participação de mercado). E, por fim, outros podem simplesmente ser identificados e caracterizados qualitativamente (por ex. espera-se mudanças futuras nas exigências regulatórias que poderão aumentar os custos regulatórios substancialmente).

Dessa forma, a tomada de decisão precisa considerar todas essas questões para escolher as opções corretas. Para isso, pode-se utilizar diversos métodos como análises multi-criteriais, tabelas múltiplas árvores de decisão e outros métodos de tomada de decisão.

Avaliação Preliminar

Identificar todos os custos associados com uma opção pode consumir muito tempo e recurso. Para isso, uma avaliação preliminar pode ajudar a identificar alternativas que claramente são mais competitivas, com um mínimo de esforço. Dessa forma, faz-se uma triagem inicial das alternativas.

Essa triagem não é um processo detalhado e intensivo. Ela simplesmente envolve a identificação dos custos mais óbvios, seja quantitativa ou qualitativamente. Os passos que devem ser seguidos são:

1-) Desenvolver ou revisar o fluxograma do processo que identifica todas as entradas, saídas e resíduos associados com a alternativa ou conjunto de alternativas.

2-) Revisar o inventário de custos e identificar quais deles poderão influir significativamente no resultado.

O roteiro simplificado para a avaliação dos custos numa ACC pode ser ilustrado na figura 3.

 

 

AVALIAÇÃO PRELIMINAR

Nesta avaliação preliminar procura-se fazer a seleção daqueles recursos que sejam mais factíveis e que condizem mais com a realidade da região em foco. Esta é a primeira etapa do processo de avaliação e seleção dos recursos energéticos e trata-se, portanto, de uma triagem inicial.

Etapas

A Avaliação Preliminar pode ser dividida nas seguintes etapas:

1.Definir as opções de suprimento de energia ou os chamados recursos energéticos;

2. Definir os "Elementos de Triagem" ;

3. Selecionar os Atributos e os respectivos Indicadores;

4. Montar as "Matrizes de Avaliação" , sendo uma matriz para cada atributo contendo os respectivos indicadores;

5. Realizar a avaliação através das matrizes, segundo a ordem, a saber: Avaliação por Efeitos, Avaliação por Pontuação e Avaliação por Conceituação.

6. Selecionar as opções com melhor conceituação, discutir e interpretar os resultados quanto à coerência e factibilidade.

Critérios Adotados

Os critérios usados para a triagem ou o que é denominado de "elementos de triagem", são os seguintes:

- Tempo de Estudo : Neste projeto é de 10 anos;

- Características da Região : São as características geográficas, econômicas, populacionais, sociais, de infra-estrutura, políticas, etc

Cada recurso deve ser avaliado segundo determinados atributos, sendo que cada atributo possui diversos indicadores que procuram contemplar os aspectos mais importantes a ele relacionado. Abaixo são apresentados os atributos e seus indicadores:

a.) Atributo Ambiental: Aspectos minerias, Água, Cobertura vegetal, Fauna terrestre, Fauna aquática, Uso do solo, Emissões aéreas;

b.) Atributo Sócio-Cultural: Aspectos rurais, Aspectos urbanos, Infra estrutura local, Usos múltiplos, Criação de empregos, Riscos à saúde humana, Migração;

c.) Atributo Econômico: Tempo de implantação, Disponibilidade de recursos na região, Custos de instalação e O&M, Rendimento e eficiência, Facilidade de implantação na região.

Metodologia de Avaliação

A avaliação dos recursos é feita através de matrizes onde para cada atributo tem-se uma matriz correspondente, sendo que todos os atributos tem pesos iguais para fins de avaliação.

A avaliação deve seguir os seguintes passos:

Passo 1: Refere-se à "Avaliação por Efeitos" onde se busca avaliar os recursos qualitativamente utilizando a seguinte escala: Fortemente positivo, Positivo, Moderado, Negativo e Fortemente negativo;

Passo 2: Corresponde à "Avaliação por Pontuação" onde se obtém uma pontuação a partir da avaliação anterior;

Passo 3: A partir da pontuação obtida chega-se, por fim, a uma "Avaliação por Conceituação" onde os recursos são avaliados para cada atributo segundo os seguintes conceitos: Máximo, Alto, Médio, Baixo e Mínimo;

Passo 4: Por fim, de posse das avaliações intermediárias chega-se a uma avaliação final, obtendo-se um score e consequentemente uma conceituação final para cada recurso.

A Matriz de Avaliação Final é mostrada na tabela 1.

Seleção dos Recursos

A seleção dos recursos foi feita com base nos resultados finais das matrizes de avaliação, mostrada na tabela 2 onde selecionou-se os recursos que obtiveram maior conceituação verificando-se a conscistência dos resultados. Dessa forma, os recursos selecionados após a triagem foram:

- Bagaço de Cana;

- Rede;

- PCH.

Por fim, vale ressaltar que as avaliações obtidas são comparativas, de forma que os recursos selecionados foram os que obtiveram as maiores conceituações em relação aos outros recursos considerados, particularmente aplicados para a região do Médio Paranapanema, tendo em vista a consideração dos elementos de triagem expostos.

 

DEFINIÇÃO DE CENÁRIOS

Para se fazer a avaliação foram criados alguns cenários que representam as possibilidades ou alternativas possíveis e mais factíveis para se produzir os termofosfatos. Esses cenários são descritos abaixo:

Alternativa 1: Uso da PCH

Este caso considera que o produtor construa uma PCH próxima à região de instalação de sua produção.

Alternativa 2: Uso do Bagaço de Cana

Neste caso, uma usina que já faz co-geração e que tem sobra de energia, instala uma produção de termofosfatos anexa à própria usina.

Alternativa 3: Uso do Bagaço de Cana

Neste caso, uma usina que é um auto-produtor de energia mas que não apresenta excedentes, investe na ampliação de sua capacidade de geração de energia.

Alternativa 4: Uso do Bagaço de Cana

Neste caso, um produtor independente instala uma unidade de gaseificação, sendo necessário a compra do bagaço de outras usinas.

Alternativa 5: Uso da Rede

Neste caso, o produtor de termofosfatos compra a energia direto da concessionária utilizando-se da rede já existente.

 

ESTIMATIVAS DE CUSTOS

Descrição do Forno

O forno considerado neste projeto para se produzir os termofosfatos é baseado num forno a arco que está sendo testado pelo Instituto de Química da USP (IQUSP). A partir desse forno chegou-se à uma unidade de produção típica dos termofosfatos que é descrita na tabela 3:

 

 

Expressões de Cálculo

A seguir são apresentadas as equações utilizadas para se calcular o custo unitário de geração (US$/MWh) denominado também de Índice de Mérito (IM). Este índice representa os custos internos do empreendimento.

onde FRC é dado por:

sendo:

PI = potência instalada (kW);

CI = custo unitário de investimento (US$/kW);

FRC = fator de recuperação do capital, para uma vida útil N e taxa de atualização do capital i.

COM = custo unitário de operação e manutenção, excluídos gastos com combustível (US$/kW/ano);

FC = fator de capacidade médio na vida útil da usina;

CCB = Custo de combustível (US$/MWh).

Custos Internos

Esses custos foram calculados com base nos dados da tabela 4, usando-se uma taxa de desconto anual de 10%. Para a alternativa 5 usou-se as tarifas da CESP- Classe Rural.

 

 

A partir dos dados da tabela 3 foram calculados os custos de geração associados a cada alternativa bem como o investimento inicial e também os custos com a energia para a produção dos termofosfatos, obtendo-se os resultados indicados na tabela 5.

 

 

Custos Externos

Abaixo é descrita a metodologia utlizada para se considerar esses custos na avaliação, bem como os resultados obtidos.

a.) Metodologia Adotada:

Para a avaliação dos custos externos foi adotada uma abordagem qualitativa. Dessa forma, o que se buscou nesta fase foi evidenciar as externalidades associadas a cada recurso.

As etapas de avaliação são as seguintes:

1. Estudo dos possíveis impactos de cada recurso;

2. Montagem de uma Matriz de Avaliação de Impactos;

3. Definição de Pesos e Significâncias para cada impacto;

4. Aplicação da Matriz para cada cenário;

5. Discussão dos resultados.

b.) Descrição dos Impactos:

A seguir são descritos, suscintamente, os possíveis impactos associados a cada recurso:

• PCH

- Interferência nos ecossistemas aquático e terrestre;

- Afogamento da vegetação nas proximidades da usina afetando o meio físico-biótico;

- Alteração de infra-estrutura local e de atividades primárias.

• Bagaço de Cana

- Emissões aéreas dos gases: COX , SOX , NOX e particulados;

- Alterações das características dos solo e mudanças no seu uso.

• Rede - GLD

- Alterações na ocupação do solo;

- Mudanças nos hábitos e costumes;

- Efeitos de campos eletromagnéticos.

c.) Matriz de Avaliação e Resultados:

Para realizar a avaliação, selecionou-se os indicadores mais representativos quanto aos impactos, que são assim classificados:

• Ambientais: Emissões aéreas, Efeitos na água, Efeitos no solo;

• Sociais e Culturais: Fluxos migratórios, População, Empregos, Usos múltiplos.

Para cada um desses indicadores foi atribuído um peso de acordo com um critério estabelecido. A avaliação em si é dada pela significância de cada impacto. A matriz utilizada é mostrada, estruturalmente, na figura 4:

 

 

Nesta matriz, os pesos estão associados à forma (direta ou indireta) com que os impactos afetam o ser humano e a significância à intensidade desses impactos (Baixa, Média ou Alta).

Os resultados obtidos nesta avaliação são mostrados na tabela 6, onde quanto menor o score, melhor é a avaliação da alternativa quanto às externalidades e, portanto, menor será os seus impactos. Dessa forma, os valores permitem uma ordenação das alternativas quanto aos impactos causados.

 

 

Resultados

A avaliação completa de cada cenário deve levar em consideração tanto os custos internos quanto os externos. Esses custos foram assim considerados:

Custos Internos: indica qual a alternativa mais viável sob o ponto de vista econômico;

Custos Externos: orienta sobre qual alternativa produz menores impactos.

De posse dos resultados finais da avaliação, fez-se uma normalização dos custos internos e externos, individualmente. Essa normalização foi feita tomando-se o custo mais alto como referência e igual a 1. Os outros custos então são obtidos em relação a esse e são comparáveis, portanto, entre si. Os resultados obtidos são mostrados na figura 5.

 

 

Dessa forma, a alternativa mais atraente é aquela que possui menor custo de geração de energia e menor impacto, onde subentende-se ter um menor custo externo. É importante ressaltar que todas as alternativas são passíveis de utilização de acordo com determinados condicionantes, o que é analisado no plano indicativo.

 

PLANO INDICATIVO PARA A PRODUÇÃO DOS TERMOFOSFATOS

A partir da análise dos resultados obtidos, elaborou-se um plano de aproveitamento dos recursos selecionados dentro dos cenários propostos, tendo em vista o horizonte de tempo definido de 10 anos:

Alternativa 2: constitui-se na opção economicamente mais viável e de pouco impacto, uma vez que exige poucos investimentos já que há energia excedente e, portanto, não acarreta em aumento do nível de impacto. Dependendo da infra-estrutura e tecnologia da usina considerada, sua implantação pode ser quase que imediata, fazendo com que o tempo de retorno seja menor.

Alternativa 1 e 3: essas duas opções apresentam resultados bastante semelhantes sobre o ponto de vista de custos internos e impactos. Uma melhor definição dentre essas duas alternativas exigiria uma quantificação em valores monetários desses impactos. Porém, isso só é possível a partir da definição e caracterização de um local ou usina específica, de modo a considerar a tecnologia utilizada por elas e adotando-se um planejamento bastante preciso quanto ao método de medições dos impactos potenciais envolvidos.

Alternativa 5: é sem dúvida a alternativa de menor impacto, uma vez que não exige a construção ou expansão de nenhuma usina, não gerando assim impactos adicionais além dos já existentes, oriundos da sua geração primária. Deve-se salientar, no entanto, o seu alto custo interno envolvido, o que a torna pouco competitiva dentro do contexto tarifário atual. Nota-se, no entanto, que dentro de um cenário de tarifas reduzidas ou diferenciadas ao pequeno e médio produtor (por exemplo, entre 0 e 5 horas da manhã) , essa opção passa a adquirir um caráter bastante competitivo, estimulando a sua produção. Para isso será necessário um incentivo à programas de GLD.

Alternativa 4: essa opção é a de menor competitividade dentre todas em virtude de seu alto custo interno e de seus altos impactos (em relação aos outros cenários). No entanto, esses custos são parcialmente atenuados pela possibilidade da adoção de tecnologias que diminuiriam os impactos provenientes desse tipo de recurso.

Nota-se, desse modo, que todas as alternativas apresentadas são passíveis de serem implementadas dentro do período considerado. Para isso, é necessário que sejam atendidos os condicionantes apontados, o que pode tornar a opção mais competitiva e viável. Assim, todas as alternativas devem ser consideradas dentro do contexto de planejamento para a produção dos termofosfatos.

 

CONCLUSÕES

O maior resultado deste trabalho foi a metodologia desenvolvida para a incorporação dos custos externos na avaliação de um determinado empreendimento, tendo em vista os conceitos do PIR e atentando-se para a questão da sustentabilidade.

Verificou-se que muitas das problemáticas sociais e ambientais são de difícil quantificação o que levou à utilização de abordagens qualitativas.

Foi possível assim definir as opções mais viáveis, sob os pontos de vista econômico, ambiental e sócio-cultural, para se produzir os termofosfatos no MPP e assim contribuir para o desenvolvimento da região.

Por fim, é importante ressaltar o caráter introdutório desse estudo que tem servido de base para aperfeiçoamentos como a incorporação da análise de ciclo de vida que vem sendo usada como um instrumento de avaliação ambiental, agregando assim mais elementos para a tomada de decisão.

 

REFERÊNCIAS

[1] FULL COST ACCOUNTING FOR DECISION MAKING AT OUTARIO HYDRO. Environmental Accounting Case Studies. Washington, D.C., May, 1996.

[2] UDAETA, M.E.M., "Planejamento integrado de recursos - PIR para o Setor Elétrico (pensando o Desenvolvimento Sustentável)" - Tese apresentada à EPUSP, São Paulo, 1997.

[3] ELECTRICITY, HEALTH AND THE ENVIRONMENT: Comparative Assessment in Support of Decision Making. Proceedings of na Internacional Symposium . Vienna, 16-19 October 1995.

[4] INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS – IPT. "Conservação de energia na indústria de fertilizantes – manual de recomendações". São Paulo, 1985. (Pub. IPT no 1632).

[5] CARVALHO, C.E., CHIAN, C.C.T. "Avaliação dos Custos Completos dos Recursos Energéticos na Produção Integrada de Termofosfatos no Médio Paranapanema" Projeto de Formatura apresentado à EPUSP, São Paulo, 1997.

[6] GALVÃO, L.C.R.; REIS, L.B.; UDAETA, M.E.M., "Fundamentos para o Planejamento Integrado de Recursos numa Região de Governo do Estado de São Paulo apontando a Energia Elétrica". In: VII Congresso Brasileiro de Energia, 1996, Rio de Janeiro.

 

 

Endereço para correspondência
Miguel Edgar Morales Udaeta
E-Mail: udaeta@pea.usp.br