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An. 3. Enc. Energ. Meio Rural 2003

 

Adequação de força motriz em sistemas de irrigação por aspersão convencional e pivô central

 

 

Campana S.I; Oliveira Filho D.II; Soares A. A.II; Oliveira R. A.II

Departamento de Engenharia Agrícola (DEA), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Cep. 36.571-000, Viçosa, MG
IM.S. em Energia na Agricultura
IIProfessor do DEA-UFV

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

Neste trabalho avaliou-se a viabilidade técnica e econômica da adequação da potência de motores elétricos utilizados em sistemas de irrigação por aspersão convencional e pivô central em cinco fazendas situadas em Minas Gerais. Para substituição dos motores "standard" em uso nas fazendas, considerou-se as seguintes alternativas: (i) utilização de motores de alto rendimento adequados a solicitação de carga de cada um dos projetos; (ii) utilização de motores de alto rendimento dimensionados segundo o aumento do número de horas de funcionamento anual. Consideraram-se como indicadores da racionalização da força motriz nos sistemas de irrigação: um alto índice de carregamento dos motores elétricos, bem como um alto fator de carga, que representa a razão entre a demanda média e a máxima. Nas fazendas em questão, observou-se: um alto índice de carregamento dos motores em média 91%; um pequeno número de horas de funcionamento anual em três das fazendas, em média de 893 horas. Em duas das fazendas foi economicamente viável a racionalização da potência apenas pela substituição do motor padrão por outro de alto rendimento. E em três das cinco fazendas estudadas foi economicamente viável a adequação do uso de força motriz quando se simula o aumento do número de horas de funcionamento anual dos sistemas de irrigação, com conseqüente redução da demanda.

Palavras-chave: motores, GLD, energia.


ABSTRACT

This paper deals with the economic and technical evaluation of rational use of electrical traction used in conventional sprinkling irrigation systems and central pivot in five farms located in Minas Gerais State, Brazil. The following alternatives to replace the "standard" electrical motor in use the farms were considered: (i) utilisation of high efficient motors adequated to the load; and (ii) utilisation of high efficient motors and increasing of the annual number of hours of functioning. It was considered as indicators of electrical traction rationalisation at the irrigation systems: an high ratio between the mechanical power available and the nominal power of the motor, as well as, an high load factor, that represents the ratio between average and maximum demand. At the farms studied, it was observed that: high ratio between the mechanical power available and the nominal power in average 91%; and in three out of five farms, a relatively low average yearly number of hours of functioning was observed, 893 hours. In one of the farms was economically feasible the electric power rationalisation only by the substitution of the "standard" motor by a high efficient one. Three of farms studied it was economically feasible the rationalisation of electric power by the increasing of the annual number of hours of functioning of the irrigation systems with consequent demand decrease.

Keywords: motors, DSM, energy.


 

 

INTRODUÇÃO

A necessidade de se implementar programas de conservação e uso racional de energia elétrica, visando a sua economia é de vital importância, visto que, o consumo de eletricidade vem apresentando taxa de crescimento significativo, bem como aumento relativo nas despesas das diversas classes de consumidores.

Segundo PINHEIRO (1989), programas que visam a conservação da energia por meio do gerenciamento do lado da demanda (GLD), podem ser mais econômicos para a sociedade como um todo, para os consumidores individuais, bem como para as concessionárias, diminuindo consideravelmente o custo do kWh e investimentos na construção de novas usinas hidroelétricas. O custo médio dos programas de conservação de energia pesquisados variariam de um até 49 dólares por MWh. A adequação de força motriz e a alternativa de GLD de menor custo, um dólar por MWh, (PINHERO, 1989). Já os custos da expansão do sistema elétrico brasileiro foram avaliados entre 47 a 56 dólares por MWh (ANDRADE, 1989). Dentre os benefícios decorrentes do uso racional da energia elétrica, tem-se o aumento da capacidade de atendimento dos requisitos de ponta e a redução do impacto ambiental.

ANDRADE (1989), afirma que o principal uso final da eletricidade no setor industrial é para o acionamento de força motriz. LOW (1993), confirma esta informação, considerando em um estudo de previsão do comportamento de cargas elétricas na província canadense de Ontário, onde cerca de 75% da carga industrial é utilizada para suprir demanda de força motriz.

Dentre os tipos de motores elétricos existentes, destacam-se os motores trifásicos de indução assíncrona de corrente alternada do tipo gaiola de esquilo. Sua simplicidade, robustez, maior eficiência e menor custo fazem com que sejam os mais utilizados pela indústria.

Dentre as atividades rurais que demandam o uso intensivo de eletricidade destaca-se a irrigação por aspersão, caracterizada pela aplicação d'água sobre a superfície do terreno na forma de gotas, como uma chuva artificial. Dentre os tipos de sistemas de irrigação por aspersão, os que mais se destacam são aspersão convencional e pivô central.

Em geral estes sistemas caracteriza-se pelo bombeamento d'água em condições de carga variável, isto é, a solicitação de carga no eixo do motor muda de acordo com a variação na altura geométrica. Quando há variação na solicitação de carga do motor ocorre alteração no rendimento do motor elétrico. Este problema, muitas das vezes pode ser minimizado otimizando-se a condição de funcionamento dos motores. Esta otimização pode ser feita pela maximização do número de horas de funcionamento anual, adequação de força motriz, utilização de motores de alto rendimento e instalação de variadores de freqüência. Segundo PROCEL (1996), áreas irrigadas com sistemas de irrigação tipo pivô central consomem, por ano, cerca de 130 GWh de energia elétrica. O correto dimensionamento dos motores elétricos pode acarretar uma economia de cerca de 27,8 % do consumo de energia em áreas irrigadas com pivô central (PROCEL, 1996). Em Minas Gerais, para cada hectare irrigado por aspersão convencional ou pivô central, são necessários, em média, 2,93 cv e 2,35 cv, respectivamente (CEMIG, 1993); portanto, neste setor verifica-se um grande potencial de economia tanto de demanda, quanto de consumo de energia elétrica.

No que diz respeito ao dimensionamento, a evolução do projeto de motores ao longo do tempo trouxe grandes vantagens em termos de diminuição de custo e peso desses equipamentos. Se comparados, por exemplo, os dados referentes a um motor de 5 cv, fabricado em 1888, com um equivalente fabricado um século depois, verifica-se que a massa diminuiu de 450 kg para cerca de 35 kg, e seu preço nominal (em valores da época sem correção) foi reduzido de US$ 800 para cerca de US$ 160. Esses, dentre outros fatores, se devem principalmente à otimização dos processos de cálculo, que reduzindo fatores de segurança superestimados proporcionou conseqüente diminuição das quantidades de ferro e de cobre contidos nos equipamentos. Além disso, ocorreu a melhoria da qualidade do isolamento, permitindo operação dos motores em temperaturas mais elevadas. Nota-se, como resultado desta evolução, que também o rendimento dos motores aumentou drasticamente no período (KREUTZFELD, 1990).

Nos dias de hoje a indústria de motores tem condições de oferecer equipamentos de alto rendimento, fisicamente similares aos modelos "standard". Para se ter uma idéia da melhoria do rendimento de motores de alta eficiência, em relação aos "standard", com carregamento nominal tem-se que nas faixas de 100 cv, 10 cv e 1 cv os rendimentos são aproximadamente (94; 93), (90; 86) e (81; 73), respectivamente (WEG, 1999; EBERLE, 1999; KOHLBACH, 1999). Dentre os fatores que contribuem para o acréscimo da qualidade técnica dos motores de alto rendimento citam-se: (i) emprego de materiais selecionados; (ii) maior quantidade de cobre e ferro; (iii) processos de fabricação mais aperfeiçoados; e tolerâncias mais restritas. Como benefício decorrente da utilização desta tecnologia superior, ressalta-se que, motores de alto rendimento apresentam em média rendimentos e fatores de potência superiores aos motores "standard" encontrados no mercado. A utilização de motores de alto rendimento deve ser considerada como um equipamento promissor no que diz respeito a racionalização do uso da energia elétrica. Sua atratividade torna-se mais evidente nos seguintes casos: (i) motores de baixa potência; (ii) elevado fator de carga; (iii) longos períodos de funcionamento; e (v) casos em que o rebobinamento for necessário (AAE,1997).

Analisando as curvas características dos motores, observa-se que o rendimento e o fator de potência decrescem com a redução do índice de carregamento do motor, ou seja, quanto menor este índice menor a eficiência do motor. Nem sempre é possível ajustar a potência do motor àquela efetivamente necessária, e isto ocorre principalmente por três motivos. Primeiro, os motores são oferecidos em potências predeterminadas, e a fabricação especial de um motor com potência diferente do padrão do fabricante, seria antieconômica. Contudo, pode-se racionalizar o consumo de energia elétrica por meio da adequação de força motriz, substituindo os motores mal dimensionados, por outros, de potência compatível com a atividade em questão. Em segundo lugar, ocorrem casos em que o índice de carregamento das máquinas é variável, este problema pode ser solucionado utilizando-se equipamentos como variadores de freqüência. Por último o dimensionamento de motores elétricos depende do torque de partida da carga e do regime de funcionamento (número de partidas por hora). Nesse caso pode ser necessário o uso de motores de maior potência para suprir as características da carga. Quando o regime de trabalho for contínuo, deve-se especificar o motor para operar entre 75 e 100% da potência nominal, o que corresponde à faixa de melhor rendimento.

O balanceamento de fases influencia na racionalização do uso de energia elétrica. O desequilíbrio entre fases provoca variação na rotação nominal e aumento da temperatura dos motores elétricos, tendo como conseqüência, a redução do rendimento e o aumento nos gastos com consumo de energia elétrica. Os principais fatores que provocam o desequilíbrio de tensão são a interrupção de uma das fases e o desequilíbrio das cargas conectadas às diferentes fases. Um desbalanceamento da ordem de 2,4% entre as tensões de fase pode ocasionar um aumento nas perdas dos motores elétricos de aproximadamente 10%, causando assim uma diminuição tanto no rendimento quanto em sua vida útil (WEG, 1998).

Motores elétricos são equipamentos que, geralmente, dentro de certos limites técnicos fornecem a quantidade de energia mecânica demandada pela carga (FILTZGERALD, 1977; DOORF, 1993). Isto significa que o rendimento do motor poderá ser insatisfatório e seu funcionamento pode ser otimizado, caso a demanda de potência seja relativamente pequena.

Tendo em vista estes fatores o presente trabalho teve como objetivo avaliar a adequação da potência elétrica de motores trifásicos de indução; para tal, considerou-se o índice de carregamento e/ou aumento do número de horas de funcionamento anual, bem como a avaliação da viabilidade econômica do uso de motores de alto rendimento para o acionamento de sistemas de irrigação por aspersão convencional e pivô central.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Os dados analisados foram obtidos nos projetos: Estudo de otimização energética em irrigação por aspersão convencional das fazendas 1 , 2, 3, 4; e Estudo de otimização energética em irrigação tipo pivô central da fazenda 5, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa e Companhia Energética de Minas Gerais. As propriedades analisadas foram: 1 (Coronel Pacheco), 2 (Turvolândia), 3 (Francisco Sá), 4 (Carandaí), 5 (Presidente Olegário) (CEMIG, 1996 a,b). Todas as fazendas se enquadram no subgrupo A4 (2,3 kV a 25 kV), grupo A - classe rural no sistema de cobrança tarifa convencional da Concessionária de Energia de Minas Gerais (CEMIG, 1998a).

Utilizaram-se os valores medidos de correntes máximas, médias e mínimas dos motores trifásicos de indução quando estes estavam em funcionamento. As medições foram efetuadas em maio de 1995, por técnicos da Companhia Energética de Minas Gerais e pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (CEMIG, 1996a,b). As demais especificações foram adquiridas através da leitura da placa do motor. Utilizou-se de catálogo eletrônico de fabricante de motores para obtenção das curvas características, tais como: corrente, rendimento, escorregamento e fator de potência para avaliação dos pontos de estado dos motores medidos a nível de campo, (CAMPANA et al., 1999; WEG, 1999; EBERLE, 1999; KOHLBACH, 1999).

Para obtenção de dados de rendimento e percentagem de carga dos motores elétricos na situação atual procedeu-se da seguinte forma:

- Com as correntes médias verificadas quando da operação dos motores na atividade de irrigação (Quadro 1), e utilizando as respectivas curvas de desempenho (catálogo do fabricante) obteve-se os valores de potência mecânica fornecida em relação a nominal (percentagem de carga).

- Com os valores apresentados no Quadro 1 e a partir da potência dos motores "standard" que vem sendo utilizados nas fazendas, efetuou-se a estimativa de rendimento (feito diretamente na curva de valor correspondente no eixo das ordenadas) por meio do catálogo eletrônico de motores, (WEG, 1999; EBERLE, 1999; KOHLBACH, 1999);

- Determinou-se a economia de energia com a substituição dos motores "standard" por motores de alto rendimento de mesma potência;

- Avaliou-se a economia de energia com a substituição dos motores "standard" por motores de alto rendimento adequados a solicitação de carga;

- Para o estudo da viabilidade econômica das alternativas de força motriz, calculou-se os gastos anuais com consumo e demanda de energia elétrica, utilizando as equações 1 e 2, respectivamente;

Em que

Gcon = Gasto anual com consumo de energia elétrica, R$/ano;

IC = Índice de carregamento do motorelétrico, decimal;

P = Potência do motor elétrico, cv;

h = Rendimento do motor elétrico, decimal;

Tcon = Preço da tarifa relativa ao consumo de energia elétrica, R$/kWh;

Gdem = Gasto anual com demanda de energia elétrica, R$/ano;

Tdem = Preço da tarifa relativa a demanda de energia elétrica, R$/kw; e

n = Número de horas de funcionamento anual do sistema de irrigação, horas.

Visando reduzir os gastos com demanda avaliou-se a possibilidade do aumento do número de horas de funcionamento e conseqüentes reduções da vazão de projeto e da potência dos motores elétricos.

A redução da vazão foi estimada levando em conta o número médio de horas de funcionamento atual e o proposto para os sistemas de irrigação por aspersão convencional e pivô central que é de 2.500 e 3.500 horas, respectivamente, equação 3. Estes valores foram estimados por PROCEL (1996), que verificou a nível nacional o número de horas de funcionamento destes sistemas.

em que

Qp = Vazão proposta, m³/s;

na = Número de horas de funcionamento atual;

Qa = Vazão utilizada no atual projeto de irrigação, m³/s; e

np = Número de horas de funcionamento proposto.

Dados referentes a altura manométrica utilizados para o dimensionamento dos motores não sofreram alterações. Por meio do programa para seleção e dimensionamento hidráulico de bombas centrífugas (MAXBOMBAS, 1997), verificou-se o motor que melhor se adaptou a cada situação proposta para estudo. Dados de rendimento e preço de aquisição foram adquiridos junto ao catálogo eletrônico dos motores, (WEG, 1999; EBERLE, 1999; KOHLBACH, 1999);

Para cálculo da viabilidade econômica do projeto considerou-se: um aumento anual da energia acima da inflação, horizonte de planejamento, manutenção anual, taxa de desconto e valor de sucata e ICMS, conforme Quadro 2; e

 

 

Como critérios de tomada de decisão técnico/econômica para substituição dos motores "standard" em uso nas fazendas, levou-se em conta, para todas as análises, o tempo de retorno do capital, valor presente do investimento e a taxa interna de retorno, para as alternativas analisadas.

 

RESULTADOS

A primeira alternativa pesquisada para diminuição dos gastos com energia elétrica, foi a substituição dos motores "standard" em uso nas fazendas por outros, de alto rendimento adequados a solicitação de carga. No Quadro 3 são apresentados os dados técnicos/econômicos desta alternativa de adequação de força motriz. Nas fazendas 4 e 5 não foi possível à adequação de força motriz; devido à limitação da potência dos motores hoje disponíveis no mercado. Já o período de retorno do capital foi inferior ao horizonte de planejamento em dois dos cinco casos do estudo, tornando viável a proposta de adequação de força motriz, segundo este índice econômico. No caso da fazenda 1 a alta atratividade do investimento segundo a TIR e o PR se deve ao aumento do rendimento quando se utiliza o motor de alta eficiência. Já na 2 os fatores que influenciaram a atratividade do capital foram o aumento da eficiência e a redução da potência do motor obtida por meio desta alternativa de adequação de força motriz. Os gastos anuais com consumo e demanda de energia elétrica e as características dos motores, são apresentados no Quadro 4, para as condições atuais nas fazendas e no Quadro 5 considerando a adequação segundo o aumento do número de horas de funcionamento anual.

Analisando o Quadro 5 verifica-se o aumento do número de horas de funcionamento anual e a conseqüente redução da vazão propicia, em média, uma diminuição da potência instalada dos motores elétricos da ordem de 44,8% quando comparados com os dados da situação atual, Quadro 4. O aumento do número de horas de funcionamento anual não implica em alterações no volume d'água aplicado à cultura anualmente, haja visto que a redução na vazão é compensada pelo maior número de horas de funcionamento anual. Além disso, o aumento do número de horas de funcionamento anual acarreta nas fazendas 2, 3 e 5 uma redução dos gastos com demanda de energia elétrica da ordem de 76%, 74% e 14%, respectivamente.

Não houve redução da potência instalada no motor da fazenda 4 devido a não disponibilidade de bomba que atenda a vazão proposta para adequação (MAXBOMBAS, 1997). Isso se deve ao fato da indisponibilidade tanto de motores elétricos quanto de bombas centrífugas para todas as potências, vazões e alturas manométricas de projeto.

Observa-se nos Quadros 5 e 6 uma redução nos gastos com consumo de energia elétrica da ordem de 0,6%, 21% e 40,5% nas fazenda 5, 2 e 3, respectivamente. Isso é devido ao aumento do número de horas de funcionamento anual, que ao proporcionar a redução na potência dos motores elétricos, diminui o consumo e conseqüentemente os gastos com energia elétrica, vide equação 1. Cabe ressaltar que, nesta análise para a determinação da potência do motor elétrico dimensionado segundo o aumento do número de horas de funcionamento anual utilizou-se o programa MAXBOMBAS (1997), o que garante a existência de uma bomba centrífuga para a nova condição de projeto.

A adequação de força motriz segundo o aumento do número de horas de funcionamento e a conseqüente redução na potência dos motores elétricos acarreta uma redução dos gastos específicos com energia hidráulica útil da ordem de 53%, 55% e 2,6% para as fazendas 2, 3 e 5, respectivamente. Como a fazenda 1 apresenta um número de horas de funcionamento superior ao que, em média, vem sendo utilizado em sistemas de irrigação de mesmo tipo instalados em Minas Gerais não é necessária esta análise para esta fazenda, (PROCEL, 1997).

A Figura 1 indica a possibilidade da redução da potência e gastos com energia elétrica devido ao aumento gradativo do número de horas de funcionamento para um motor elétrico de 60 cv e número de horas de funcionamento inicial de 500 horas por ano. Pode-se verificar o potencial de economia pela adequação de força motriz das propriedades que se virem dispostas a modificar (aumentar) o número de horas de funcionamento anual. Observa-se que houve um pequeno aumento nos gastos com consumo de energia elétrica e uma substancial redução na potência dos motores elétricos, ocasionando redução nos gastos totais com energia elétrica. Em uma situação real o potencial de economia pelo aumento do número de horas de funcionamento anual deve ser calculado levando-se em consideração a existência de bombas centrífugas que operem à altura manométrica de projeto e nova vazão do sistema.

Índices que expressam o potencial econômico, e o tempo necessário para retorno do investimento em projetos de racionalização de energia elétrica, considerando a substituição dos motores "standard" em uso nas fazendas, por outros, de alto rendimento adequados segundo o aumento do número de horas de funcionamento são apresentados no Quadro 6. Note que na fazenda 5 ocorre uma pequena redução nos gastos com energia elétrica; entretanto, neste caso, obteve-se índices econômicos satisfatórios para esta alternativa de adequação de força motriz. Este fato pode ser atribuído ao elevado número de horas de funcionamento proposto para adequação de força motriz para sistemas de irrigação do tipo pivô central (PROCEL, 1997). As fazendas: 3, 2 e 5 apresentaram TIR (Taxa Interna de Retorno) superiores ao custo de oportunidade considerado. Com base nos resultados obtidos verifica-se que em três dos cinco casos do estudo foi viável a adequação de força motriz, tanto do ponto de vista técnico quanto econômico.

Há que se ponderar que o aumento do número de horas de funcionamento à ser utilizado para adequação de força motriz em sistemas de irrigação deve ser proposto levando-se em consideração: (i) cultura à ser irrigada; (ii) características de solo; (iii) características evapotranspirométricas da cultura e do solo; e (iv) sistema de irrigação utilizado.Portanto não se pode generalizar o número de horas de funcionamento para qualquer tipo de sistema de irrigação.

 

CONCLUSÃO

Por meio da análise econômica verificou-se um grande potencial de racionalização no uso de energia elétrica na irrigação. Verificou-se que a substituição de motores "standard" por outros de alto rendimento adequado a partir do aumento do número de horas de funcionamento anual, e conseqüente redução da potência dos motores elétricos foi viável economicamente na maioria das situações. Três dos quatro sistemas de irrigação pesquisados apresentaram grande potencial de conservação de energia e atratividade econômica.

Ficou evidenciado neste trabalho que em alguns casos a racionalização do uso da energia elétrica, necessariamente não implica na redução do consumo. Mostra-se assim, a importância da racionalização não somente do consumo, mas também da demanda de energia elétrica.

A adequação de força motriz como alternativa de gerenciamento do lado da demanda deve ser estudada para cada situação de carga, isto é, bomba centrífuga, tipo de motor, número de horas de funcionamento e dos parâmetros econômicos. Ressalta-se aqui, a viabilidade econômica desta alternativa depende do estudo minucioso da interação destes fatores.

 

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Endereço para correspondência
Oliveira Filho D.
delly@mail.ufv.br

Campana S.
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