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An. 4. Enc. Energ. Meio Rural 2002

 

A influência do urbano sobre o rural no comportamento da demanda energética em sistemas fotovoltaicos

 

 

Federico Morante; Roberto Zilles

Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia, PIPGE, Universidade de São Paulo - Instituto de Eletrotécnica e Energia/IEE, Av. Prof. Luciano Gualberto, 1289 - CEP 05508-900 - São Paulo - SP, e-mail: fmorante@iee.usp.br e zilles@iee.usp.br

 

 


RESUMO

No trabalho apresentamos algumas reflexões sobre a influência do estilo de vida urbano no consumo energético. A análise tem como base os dados obtidos no monitoramento de algumas instalações fotovoltaicas domiciliares por mais de 3 anos. Discute-se também diversas questões relacionadas com a demanda energética e a problemática de introdução da tecnologia fotovoltaica no meio rural.

Palavras chave: Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares; Demanda Energética; Contadores de Ampère-hora.


ABSTRACT

This paper introduced some reflections about the urban lifestyle influence in the energy consumption standards. The analysis take into account data obtained from experimental survey carried out for more than 3 years in some Solar Home Systems. The paper include a short discussion related with the energy demand and the photovoltaic solar energy systems adoption problem in the rural world.


 

 

1. INTRODUÇÃO

A discussão suscitada por definir os termos urbano e rural vêm de há muito tempo e, na atualidade, continua sendo difícil emitir uma definição que possa esclarecer com amplitude esta questão. Se realizarmos um exercício simples de leitura imediata em qualquer dicionário, poderemos observar que o termo rural se refere a algo que pertence ou é relativo ou próprio do campo. Assim fica a idéia de que o rural se relaciona com as atividades agrícolas. Da mesma maneira o termo ruralismo se refere ao predomínio do campo e da agricultura em relação à cidade e a industria.

No mesmo sentido a palavra urbano tem a conotação de um adjetivo que se relaciona com todo o pertencente à cidade. De forma figurativa este termo é sinônimo de cortês, afável e civilizado e de maneira implícita - e por contraposição - o termo rural se relacionaria com o bruto, o bárbaro e o incivilizado. A primeira vista pareceria que estaríamos discutindo termos totalmente opostos, mas na verdade eles são complementarios. No entanto, podemos observar que a questão não é tão simples assim, sendo que existem algumas fronteiras que delimitam esta complementaridade.

Desde o ponto de vista do fornecimento de energia elétrica, esta discussão também conduz a definir duas formas de distribuição: a eletrificação urbana e a eletrificação rural. No primeiro caso estamos falando do fornecimento de energia a áreas densamente ocupadas onde, num espaço relativamente pequeno, se concentra um número grande de usuários com consumos também relativamente altos. No segundo caso estamos falando de áreas ocupadas de maneira dispersa e com capacidade de consumo muito pequena em relação às áreas urbanas.

Desde uma visão empresarial, no caso da eletrificação urbana estaríamos considerando áreas de ocupação humana onde os grandes investimentos são passíveis de serem recuperados com maior facilidade. Já na eletrificação rural isto ficaria muito complicado devido à baixa densidade de carga e do consumo.

Tecnicamente, no primeiro caso, o fornecimento de eletricidade se faz utilizando a denominada rede elétrica convencional. No segundo caso a rede é estendida até onde possa ser possível e até onde a relação custo-benefício justifique sua instalação. Geralmente para atender estas áreas se tenta reduzir os custos até o mínimo possível dando uma "visão social" à questão.

De acordo a esta filosofia de distribuição, nas áreas rurais geralmente se vem utilizando o denominado sistema Monofilar com Retorno por Terra (MRT). No entanto, mesmo com esta concepção de distribuição, as áreas localizadas além das fronteiras deste sistema não poderão ser atendidas a plenitude. Elas ficarão esperando até que alcancem um nível que justifique os grandes investimentos. Por outro lado, também devemos levar em conta os limites de caráter geográfico e ambiental que impossibilitam a extensão da rede elétrica (ilhas, montanhas, áreas de conservação ambiental, etc.). Isto significa que em curto prazo os cidadãos estabelecidos nessas áreas terão poucas chances de serem atendidos por este sistema.

Uma outra característica importante que devemos considerar é que, desde o ponto de vista da oferta e da demanda energética, os usuários da rede elétrica convencional teoricamente não têm nenhuma limitação em quanto a seu consumo, sempre que possam pagá-lo. Eles poderão alimentar eletricamente qualquer tipo de equipamento doméstico e inclusive industrial. A única limitação, aparentemente, guardaria relação com o nível de renda dos usuários, isto é, com sua capacidade para poder adquirir estes equipamentos e pagar o respectivo consumo.

De todo o anterior se desprende que se levarmos em conta os limites inerentes à extensão da rede elétrica convencional, fica clara a necessidade de procurar outras soluções técnicas ao problema da geração de eletricidade para atender às populações rurais. Uma dessas possíveis soluções é a geração utilizando sistemas fotovoltaicos, no entanto, devido ao problema dos custos e ao armazenamento de energia, os usuários desta tecnologia não podem utilizar esses sistemas de forma ilimitada como no caso daqueles conectados à rede elétrica. Isto leva a que exista uma "demanda reprimida" cujo grau de intensidade depende de muitos fatores.

Um dos fatores identificados através de nosso trabalho de campo é a influência do estilo de vida urbano nos habitantes das áreas rurais. Um usuário com essas características exigirá mais de seu sistema, pois tentará ligar todos os tipos de aparelhos usuais nas áreas urbanas. Este comportamento ficará refletido em seu consumo energético e, portanto, no desempenho do sistema. Neste sentido, diante da complexidade do tema, no artigo discutimos alguns aspectos da problemática relacionada com a eletrificação rural. O objetivo principal do trabalho é analisar a influência do modo de vida urbano nos usuários da tecnologia fotovoltaica. Para o efeito utilizaremos o caso de dois tipos de usuários dessa tecnologia: um com alto grau de influência e outro com pouca influência.

 

2. AS FRONTEIRAS DO RURAL E DO URBANO

Como já foi mencionado, existe uma grande dificuldade em definir os termos rural e urbano e qualquer discussão a respeito, conduz a argumentações de caráter semântico, sociológico, histórico e até filosófico. Assim, uma maneira de nos acercarmos a um maior esclarecimento do assunto é definir algumas fronteiras que visem delimitar ambos termos.

Para a CEPAL "o rural se refere a formas de organização e a estilos de vida sustentados e associados a atividades que - pela natureza dos processos biológicos em que se baseiam, pela sua localização ou pelas condições econômicas, sociais e as técnicas produtivas com que se realizam - impedem a complementação espacial ou geram desvantagens para ela e, por tal motivo, para a concentração num espaço das atividades e da população" (CEPAL, 1979). Decerto, essas características estarão presentes nas atividades florestais, na pequena exploração mineira, na pesca artesanal, nas atividades agrícolas, na pecuária extensiva e em algumas atividades de caráter turístico, por exemplo.

Adicionalmente, desde o ponto de vista dessa instituição e de acordo também a nossa visão, para qualquer sociedade que tenha estas características resulta válido considerar alguns supostos que definirão seu caráter rural:

a) A sociedade rural é uma parte da sociedade global.

b) A sociedade global não poderá ser compreendida sem levar em conta sua relação com a sociedade rural a qual é uma parte dela.

c) A relação entre a sociedade rural e a sociedade global somente pode definir-se no entorno desta última, ou seja, a sociedade internacional.

d) Par explicar as vicissitudes de uma sociedade rural, em determinados casos certas sociedades não nacionais poderão ser tanto ou mais importantes que a sociedade nacional propriamente dita (por exemplo, algumas regiões contíguas às fronteiras nacionais).

e) O postulado da homogeneidade da sociedade rural deve ser rejeitado. Longe de ser homogênea, a sociedade rural é sumamente complexa.

f) O conceito de rural ultrapassa o puramente agrícola.

g) A complexidade tanto da sociedade rural como da urbana não impede a existência, a um nível mais profundo, de um contínuo urbano-rural.

h) As sociedades estão estruturadas de maneira diferente e, por causa disso, tanto a análise estrutural como histórica é iniludível.

i) Supostos que levem a considerar a passividade da população rural também devem ser rejeitados.

j) Também deveremos ter presente que existe uma velha discussão a respeito das relações de dominação entre o urbano e o rural e de quais seriam, em definitiva, as estruturas de poder dominantes em uma sociedade global. Muitos analistas coincidem que na América Latina essa relação de dominação favorece à cidade e particularmente às grandes cidades (CEPAL, 1979)

Como exemplo da grande complexidade e heterogeneidade do mundo rural devemos frisar a existência, nesse meio, das denominadas populações tradicionais convivendo com as sociedades tipicamente agrícolas de pequeno e grande porte tais como aquelas dedicadas à agricultura familiar e ao agribussiness e até condomínios fechados, chácaras, clubes de campo, etc.

Em adição a isso, principalmente nas áreas rurais dos países em desenvolvimento, se tem também a presença de populações indígenas, camponesas ou extrativistas articuladas com a sociedade urbano-industrial. Com relação a isso Diegues menciona que "existe um intenso debate quanto ao significado dos termos populações nativas, tribais, indígenas e tradicionais. A confusão não é somente de conceitos, mas até de expressões nas varias línguas" (DIEGUES, 1998: 80).

Todas estas considerações nos levam a demarcar uma fronteira do mundo rural. Já o mundo urbano guarda relação com o aparecimento das cidades, isto é, os grandes núcleos humanos que deram origem às metrópoles.

Historicamente as cidades existem desde os primórdios da civilização. Inicialmente foram os pequenos agrupamentos rurais constituídos por algumas famílias dedicadas às atividades simples de sobrevivência como a pesca, a caça, a coleta, etc. À medida que a humanidade foi evoluindo foram aparecendo as pequenas aldeias com uma organização social estruturada tendo como base às economias locais. Posteriormente a invenção da agricultura possibilitou uma maior produção. A existência de excedentes liberou certas categorias de pessoas das atividades de sobrevivência. Uma das conseqüências disso foi o aumento da complexidade de organização das sociedades o que ocasionou o aparecimento de uma "força diretora centralizada" (CHILDE, 1966: 147) propiciada também pela existência dos servos.

Símbolos desta fase da evolução da humanidade foram os grandes templos que deram origem às Cidades-Estado. Os templos construídos pelas antigas civilizações localizadas nos diversos continentes revelam a existência de comunidades elevadas à dignidade de cidade. Estas comunidades dispunham "de um excedente de riqueza real, acumulado nas mãos de um deus e administrado por uma corporação de sacerdotes. Significa uma força organizada de trabalhadores, indústrias especializadas e um sistema rudimentar de comércio e transporte" (CHILDE, 1966: 147). Tudo isso acontecendo aproximadamente 4000 anos A.C. "A partir desse ponto, o desenvolvimento de uma civilização urbana pode ser acompanhado continuamente até o momento em que a luz plena da história escrita o ilumina. É uma narrativa de acumulação de riqueza, de aperfeiçoamento técnico, de crescente especialização e de expansão do comércio" (CHILDE, 1966: 148)

Séculos depois, e principalmente como conseqüência do surgimento da Revolução Industrial, a complexidade destas cidades foi aumentando. A densidade demográfica foi cada vez maior o que propiciou a criação de uma gigantesca rede administrativa e o aparecimento de um estilo de vida próprio das grandes urbes. Observando de maneira retrospectiva, a Revolução Industrial trouxe profundas mudanças na estrutura da sociedade as quais permanecem até agora. Com efeito, ao se referir à Inglaterra Ashton (1971) menciona as seguintes mudanças:

- o número de habitantes aumentou,

- o desenvolvimento das novas povoações fez deslocar a área mais populosa do sul e leste para o norte e para o interior,

- homens e mulheres nascidos e criados no campo passaram a viver apinhados,

- a mão-de-obra tornou-se mais móvel,

- exploraram-se novas fontes de matérias primas,

- abriram-se novos mercados e criaram-se técnicas comerciais novas,

- o volume e a mobilidade do capital aumentaram,

- a circulação monetária organizou-se na base do estalão-ouro e nasceu o sistema bancário,

- varreram-se velhos privilégios e monopólios,

- o Estado passou a desempenhar um papel menos ativo na atividade econômica,

- idéias de inovação e progresso minaram os juízos de valor tradicionais.

Estas mudanças não aconteceram somente na Inglaterra senão também em diversos outros países. De acordo com Choay (1979) o aparecimento das cidades trouxe uma ordem nova com certas características tais como:

a) a racionalização das vias de comunicação com a abertura de grandes artérias e a criação de estações,

b) a especialização bastante ativada dos setores urbanos como a existência de quarteirões de negócios do novo centro, igrejas, bairros residenciais na periferia, etc.

c) a criação de novos órgãos que por seu gigantismo mudam o aspecto da cidade: grandes lojas, grandes hotéis, grandes cafés, prédios para alugar, etc.

d) a suburbanização assume uma importância crescente: a industria implanta-se nos arrabaldes, as classes média e operária deslocam-se para os subúrbios e a cidade deixa de ser uma entidade espacial bem delimitada (CHOAY, 1979: 4)

Em outras palavras, "as alterações não foram meramente industriais, mas também sociais e intelectuais" (ASHTON, 1947: 22). Foi assim que surgiu um estilo de vida adaptado a esta nova realidade primando uma sociedade dita "de consumo" a qual em última instancia é uma sociedade tipicamente capitalista. Este aspecto é fundamental para nossa análise da influência deste estilo de vida na demanda energética. Finalizando este parágrafo, caberia aqui delimitar que nosso estudo está sendo realizado em áreas rurais ocupadas por "populações tradicionais". Isto significa que dentro da amplitude e complexidade do mundo rural estaremos tratando somente desse tipo de população.

 

3. O RURAL NO CONTEXTO DOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS DOMICILIARES

Dadas às características de muitas zonas rurais dos países em desenvolvimento nas quais fica difícil estender a rede elétrica, a geração de eletricidade utilizando a tecnologia fotovoltaica tem constituído uma opção viável. Nessas áreas rurais, a grande maioria dos núcleos humanos onde essa tecnologia está sendo inserida pertencem às denominadas "populações tradicionais". No caso do Brasil, com esta denominação são conhecidas diversas comunidades de caboclos, indígenas, caiçaras, ribeirinhos, etc.

Apesar da grande diversidade - tal como menciona Diegues - todas estas sociedades mostram em vários graus certas características comuns tais como:

a) ligação intensa com os territórios ancestrais;

b) auto-identificação e identificação pelos outros como grupos culturais distintos;

c) linguagem própria, muitas vezes não a nacional;

d) presença de instituições sociais e políticas próprias e tradicionais;

e) sistemas de produção principalmente voltados para a subsistência (DIEGUES, 1998: 81)

Estas peculiaridades fazem com que as pessoas que integram este tipo de comunidades tenham certos comportamentos de caráter sociocultural que os diferenciam dos habitantes das zonas urbanas e inclusive de algumas áreas rurais. Isto porque a sobrevivência desde épocas remotas em zonas geográficas afastadas dos centros urbanos os conduziu à criação de instituições sociais próprias. Geralmente estas pessoas são depositárias de uma bagagem cultural que os relaciona com o meio ambiente onde se desenvolvem. Suas relações com a natureza e de modo geral com o universo os conduziram também à criação de formas próprias de observar e explicar a vida.

No Brasil existe uma grande diversidade de populações tradicionais adaptadas a seus múltiplos pisos ecológicos. Todos estes povos ao longo do tempo desenvolveram técnicas de sobrevivência e instituições sociais que possibilitaram sua permanência nesses lugares. Assim por exemplo ao se referir aos habitantes da Amazônia, Ribeiro (1995) menciona o seguinte:

"a cultura do amazônida, da várzea ou da terra firme, reflete e espelha a cultura indígena: na arquitetura vegetal da casa-maloca, nos utensílios de cozinhar e comer, no manejo dos recursos naturais e nas técnicas agrícolas, no uso e processamento da mandioca, base de sua dieta alimentar, na culinária, na medicina preventiva e curativa, no extrativismo florestal de gomas, resinas, óleos, madeiras, embiras, cipós e essências odoríficas, no manejo da fauna sem depredá-la, ensejando, pelo contrário, sua multiplicação pela interação roça-caça" (RIBEIRO, 1995: 237)

Neste contexto, a inserção da tecnologia fotovoltaica é sumamente complexa devido a que pode constituir um agente de mudança positiva ou negativa. Assim, todos os aspectos deverão ser considerados, pois se levarmos em conta que toda cultura é dinâmica, "a introdução de uma inovação deve compreender que as necessidades estão condicionadas pela cultura e pelo imaginário de aspirações e sonhos, que se situam e se movem no plano da subjetividade-objetividade. Uma população não se define somente pelo que é, mas também pelo que deseja ser" (SERPA, 2001).

Significa que cada povo é depositário de uma determinada cultura a qual, devido ao seu dinamismo, pode sofrer influências positivas ou negativas. Isto também resulta válido para os habitantes das zonas urbanas os quais também possuem uma cultura urbana surgida das suas relações com esse meio. Geralmente esse modo de vida fica refletido no dia-a-dia das pessoas, em seus hábitos e em sua conduta.

 

4. INFLUÊNCIA DO ESTILO DE VIDA URBANO NO CONSUMO DE ENERGIA

O comportamento da demanda energética no meio rural, especificamente em domicílios eletrificados utilizando a tecnologia fotovoltaica, é ainda desconhecido. Este desconhecimento faz com que a variável consumo seja tratada como se fosse uma constante o que sem dúvida facilita as etapas do dimensionamento, da aquisição e até a instalação dos sistemas fotovoltaicos.

No entanto, as constatações feitas nas diversas instalações existentes nas áreas rurais de diferentes lugares do mundo, indicam que este comportamento não é bem assim. Existem, inclusive, propostas de dimensionamento que de alguma forma sugerem levar em conta estas particularidades as quais se tornam relevantes num sistema de geração autônoma como o caso dos sistemas fotovoltaicos domiciliares.

Dentro do espectro de variáveis envolvidas no comportamento do consumo energético uma das mais importantes é a influência do estilo de vida urbano sobre algum ou todos os moradores do domicilio eletrificado. O modo de vida urbano transportado ao meio rural através de diversas formas faz com que as pessoas anseiem dispor da maioria dos equipamentos elétricos usuais nas moradias citadinas. A forma de uso desses equipamentos também é influenciada e ficará evidente em termos do gasto mensal de energia. Tudo isso ficará refletido no balanço entre a energia gerada e a energia armazenada, isto é, no tamanho do gerador e no tamanho do acumulador.

No caso em discussão, a influência do estilo de vida urbano na demanda energética foi constatada através de uma pesquisa que tenta esclarecer as relações do consumo com algumas variáveis de caráter sociocultural. Esta pesquisa está sendo desenvolvida desde 1998 com a utilização de contadores de Ampèr-hora (Ah) acoplados a alguns sistemas fotovoltaicos domiciliares.

Numa primeira etapa a pesquisa foi desenvolvida em algumas comunidades rurais do Vale do Ribeira no Litoral Sul do Estado de São Paulo. Posteriormente, a partir do ano 2000, a pesquisa foi ampliada a outras regiões do Brasil e do Peru. Na atualidade ela está sendo desenvolvida, além do Vale do Ribeira, na comunidade de Pedra Branca localizada no município de Ouricuri (Pernambuco), na comunidade de Vera Cruz do município de Benjamin Constant (Amazonas) e em quatro comunidades quíchuas e aimaras localizadas no Lago Titicaca, em Puno, Peru.

Nestas comunidades foi observado que algumas famílias que por diversos motivos mantém laços com as cidades têm maior consumo energético. Estes laços vão desde pessoas que desempenham atividades laborais nas cidades, até aquelas que mantém contato permanente com pessoas do mundo urbano, por exemplo, através do turismo. No outro extremo, nestas comunidades também existem famílias que mantém pouquíssimo contato com o mundo urbano e suas atividades de sobrevivência são realizadas no próprio local e de maneira ainda tradicional.

De forma mais aprofundada poderíamos dizer que as primeiras estão mais inseridas no mundo capitalista e as segundas, embora não escapem a esta influência, conservam uma certa independência deste sistema. Obviamente, as primeiras dispõem também de uma maior liquidez monetária ou são sujeitos de credito com o qual podem adquirir mais equipamentos. Além disso, seus gostos e forma de vida estão mais perto de um habitante da cidade. No segundo caso ainda levam uma vida mais em contato com seu meio ambiente e sua economia local depende mais das condições internas que das externas. O resultado de tudo isso ficará refletido no consumo energético e, portanto, no tamanho do sistema.

 

5. ESTUDO DE CASO: duas famílias do Vale do Ribeira

Para discutir a problemática da influência do estilo de vida urbano sobre o mundo rural tomaremos o caso de duas famílias, uma da comunidade de Marujá e outra de Varadouro, ambas do município de Cananéia no Estado de São Paulo. Apesar dessas comunidades compartilharem a mesma realidade geográfica (o Complexo Estuarino-Lagunar de Iguape, Cananéia e Paranaguá) sua localização é determinante em seu modo de vida. Tanto Marujá como Varadouro tem um sistema de vida que influi até na construção das moradias. Adicionalmente, o grau de contato com as zonas urbanas das proximidades também é diferente (MORANTE & ZILLES, 2000).

5.1. A família da comunidade de Marujá

Esta família está constituída por um casal de 27 anos, sem filhos. A atividade principal do chefe da família está diretamente relacionada com o turismo ecológico. Além de prestar o serviço de transporte aos turistas e manter um restaurante, trabalha como guia turístico já que conhece amplamente a região, os costumes e as tradições locais. Também pratica a pesca de subsistência e na temporada da tainha cuida e explora um cerco para peixes. Por todas estas atividades consegue uma renda média mensal de aproximadamente R$ 500,00 que pode ser superior dependendo da época do ano e das condições sazonais.

Sua moradia é um exemplo do aproveitamento dos materiais, dos hábitos e dos costumes caiçaras adaptados à realidade local (figura 1). As paredes são de madeira, o chão é de cimento e o teto de palha da palmeira guaricana1 mas com forro de madeira. Conta com água potável e dispõe de banheiro com acesso através do dormitório. Os móveis, os utensílios domésticos e em geral a distribuição da casa seguem o modelo das moradias urbanas.

 

 

As relações desta família (e principalmente do chefe da casa) com o mundo urbano provêm do contato devido ao turismo. Nos finais de semana, nas festas ou nos feriados chegam à ilha muitos turistas principalmente das cidades do Estado de São Paulo. Além disso, também mantém contato com turistas de outros países, com reportes dos meios de comunicação da área ecológica, com fotógrafos, pesquisadores e diversas pessoas vindas do mundo urbano.

O turismo também exige que ele realize freqüentes viagens à cidade de Cananéia para adquirir combustível e mantimentos. Inclusive algumas vezes viaja à cidade de São Paulo para adquirir equipamentos ou peças não achadas na região. Contíguo a sua moradia também funciona um restaurante de sua propriedade freqüentado pelos turistas. Este lugar constitui um ponto de encontro onde se ouve música ou se conversa.

Embora o chefe da casa tente manter suas costumes tradicionais mediante a promoção das festas, das reuniões sociais ou das atividades comunitárias, seu estilo de vida está fortemente influenciado pelo modo de vida urbano. Neste caso os turistas são os agentes desta influência, pois eles transportam seu modo de vida a estas áreas, na realidade consideradas como de lazer e de descanso.

Com relação à energia, em março de 1999 a moradia foi eletrificada através de um projeto piloto do Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (LSF-IEE/USP). Naquela data também foram instalados 3 contadores de Ah. Um deles mede o consumo em corrente contínua, um outro o consumo em corrente alternada - dispõe de um inversor CC/CA de 150 W - e o terceiro a irradiação por meio de uma célula calibrada. Na figura 2 se pode observar o aspecto destes instrumentos.

 

 

5.2. A família da comunidade de Varadouro

Esta família está constituída por uma mulher de aproximadamente 77 anos a qual mora com duas filhas de 42 e 37 anos respectivamente e uma neta de 6 anos. A moradia segue o padrão de uma típica moradia caiçara, tanto nos dormitórios construídos sobre palafitas com teto de telhas de fibrocimento como na cozinha com chão de terra batida e teto de palha (figura 3). Adicionalmente, a família também dispõe de um compartimento separado para preparar a farinha de mandioca.

 

 

Como a maioria dos moradores desta comunidade a família pratica uma economia de auto-suficiência plantando arroz, milho, mandioca e outros produtos. Eventualmente também pescam e caçam e aproveitam amplamente os recursos locais como as plantas medicinais, as frutas, as madeiras, os cipós, etc. Isto também é feito na construção das moradias e em toda a infra-estrutura comunitária (igreja, escola, etc.) onde a madeira é o principal material.

A renda desta família provém de uma aposentadoria da dona de casa e também recebem mensalmente uma cesta básica. Seus complementos alimentares são adquiridos eventualmente em Ariri e algumas vezes em Cananéia. Vale ressaltar que a dona de casa é o tronco principal desta comunidade - onde de alguma forma todos os habitantes estão aparentados com ela, seja por serem filhos, genros, noras ou netos - e a casa com freqüência recebe muitos visitantes.

Segundo o padrão local, a cozinha fica separada do resto da casa e o principal combustível é a lenha. A família não utiliza o gás. Elas também possuem uma máquina de costurar mecânica e gostariam de ter um ferro de passar roupa a carvão. Ouvem rádio e mencionam que algumas vezes assistem televisão em Ariri e, portanto, gostariam dispor no futuro de sua própria televisão. Na tabela I podemos observar as características que diferenciam ambas famílias.

 

6. O CONSUMO DE ENERGIA

A demanda energética da família pertencente à comunidade de Varadouro está sendo medida desde novembro de 1998 e da família de Marujá desde abril de 1999. Se considerarmos que a obtenção de dados continua até o presente, podemos afirmar que dispomos de dados suficientes para poder comparar o comportamento dessa demanda. Assim, na figura 4 podemos observar esses consumos a partir do mês de abril de 1999 até o mês de março do ano 2002 no caso da família de Marujá, e de dezembro do 2001 para a família de Varadouro. No sistema fotovoltaico da família de Marujá foram obtidos dados de consumo em corrente contínua (iluminação principalmente) e em corrente alternada (televisão, aparelho de som, secador de cabelo, ferramentas, etc.). Obviamente, no gráfico, o consumo total desta família corresponde à somatória desses consumos.

As características dos sistemas fotovoltaicos de ambas famílias estão na tabela II.

 

 

De cara existem algumas diferenças de ordem técnica que podem determinar o comportamento da demanda energética. Se considerarmos a relação entre o gerador, o acumulador e a irradiação da região em estudo, podemos fixar com uma margem de segurança adequada - 11% de profundidade de descarga - que a família de Varadouro poderia dispor de até 15 Ah diários (5,4 kWh/mês) e a família de Marujá 21 Ah (7,5 kWh/mês). Partindo dai ambas famílias estariam sub-utilizando seu sistema e em maior medida a família de Varadouro.

Deixando o lado puramente técnico, observamos que o consumo da família de Marujá é diferente ao da família de Varadouro. Isto pode ser observado no formato das curvas de consumo de ambas famílias. A curva de consumo da família de Varadouro segue um determinado padrão que fica em volta de 1 kWh/mês. Já a família de Marujá mostra grandes variações que atingiram um máximo de 7,5 kWh/mês no mês de janeiro de 2000 e um mínimo de 2,2 kWh/mês em maio de 2001. Para explicar este comportamento devemos levar em conta uma série de fatores que em diversos graus podem influenciá-lo. De acordo aos resultados da nossa pesquisa, estes fatores podem ser agrupados da seguinte maneira:

a) Fatores de ordem geomorfológico, onde devemos considerar o tipo de relevo, a paisagem, o clima, os acidentes geográficos, etc. Tudo isso representa o cenário onde se desenvolve o drama da sobrevivência humana. A localização geográfica de qualquer núcleo humano, per si, pode ser um indicador do comportamento e anseios de seus habitantes.

b) Fatores de ordem demográfica, tais como a composição familiar, a idade e gênero das pessoas, o nível educacional, etc. Desde o ponto de vista da demanda energética, este fator contribui em grande medida na sua ordem de grandeza.

c) Fatores de ordem econômico e financeiro, onde se deve levar em conta o nível de renda, o tipo de economia, a organização do fluxo de mercancias, a circulação da moeda, etc. Este fator pode explicar em grande medida as relações do poder local e o funcionamento das instituições que regem o dia-a-dia da comunidade. Na demanda energética este fator se manifesta principalmente no poder aquisitivo das pessoas o qual permitirá ou não a posse de equipamentos e acessórios.

d) Fatores de ordem histórica e socioculturais, os quais se originam fundamentalmente a partir das relações entre o ser humano e o meio ambiente que o circunda. Estes fatores em ultima instancia refletem sua adaptação a esse meio. Isto se manifestará, por exemplo, na interação das pessoas com seu meio ambiente, na organização da comunidade, na forma de construir as moradias, nas ferramentas e materiais utilizados, no funcionamento das instituições sociais, nas tradições, nos hábitos e nos costumes das pessoas, etc.

e) Fatores de ordem psicológica, onde deveremos olhar a intimidade do ser humano, isto é, a sua espiritualidade. Aqui estamos entrando ao mundo do simbolismo, dos valores, da conduta, do aprendizado, das motivações ou dos anseios. Em nossa análise isto fica claramente manifestado na aceitação ou rejeição das inovações, neste caso, da tecnologia fotovoltaica. Submergir-nos neste aspecto implica também observar as influências externas e o que isto implica na mudança cultural. Desde o ponto de vista da energia tudo isso ficara refletido em alguma medida na demanda energética.

f) Fatores de ordem técnica, onde entram as questões relacionadas com o tipo de tecnologia utilizada; o dimensionamento dos sistemas; a escolha dos materiais e sua adaptação às peculiaridades do meio ambiente; a qualidade dos equipamentos e acessórios, etc. Este fator em grande medida é exógeno pois depende mormente do emissor e não do receptor da tecnologia. Implicitamente, a demanda energética estará condicionada desde o inicio a este fator e, no caso da tecnologia fotovoltaica, se manifestará no sobre-dimensionamento ou sub-dimensionamento dos sistemas e na relação entre o gerador e o acumulador.

Em suma, a análise do comportamento da demanda energética é uma questão muito complexa. No caso específico deste artigo, estamos olhando somente um desses aspectos. Assim, a influência do estilo de vida urbano nos habitantes rurais pode ser visto a partir dos fatores de ordem psicológica que conduzem à mudança cultural. No entanto isto não significa deixar de lado todos os outros aspectos.

Com efeito, no gráfico de consumo podemos observar que a curva de demanda da família de Varadouro segue um padrão que varia muito pouco. Este comportamento é coerente com o modo de vida desta família rural pertencente a uma comunidade tradicional. Embora desejem dispor de televisão, por exemplo, elas não demonstram nenhuma ansiedade por possuir diversos eletrodomésticos como sim acontece com a família de Marujá. O estilo de vida da família de varadouro é quase de auto-suficiência e não criaram grandes dependências do mundo urbano. É claro que elas, e a comunidade como um todo, guardam certas expectativas de melhorar suas condições de vida em quanto à saúde, educação, comunicação, etc. No entanto, seu dia-a-dia se desenvolve em contato direto com seu meio ambiente e o ritmo de suas atividades é regido por estas condições. Assim, os horários de ligar e desligar as lâmpadas ou de ouvir o rádio seguem um padrão, vamos dizer estável, o qual se manifesta no comportamento da demanda energética.

No caso da família de Marujá temos diversos estágios no uso da energia. No início houve certa inibição no uso dos equipamentos e o inversor CC/CA quase não era utilizado, o consumo de energia basicamente foi devido à iluminação. Esta etapa corresponde ao primeiro contato com a tecnologia. Aos poucos foi aumentando o consumo até chegar a seu ápice no mês de janeiro do 2000. Logo houve uma queda, no entanto o uso da corrente alternada foi aumentado devido ao funcionamento de diversos aparelhos como secador de cabelo, máquina de barbear, aparelho de som, ventilador, furadeira, liqüidificador, etc. A brusca queda no consumo de energia verificada a partir do mês de março do ano 2001 não foi devida à diminuição do uso destes aparelhos. Deveu-se principalmente à aquisição de um gerador Diesel pelo pai do moço e o conseqüente estabelecimento de uma rede elétrica familiar. O gerador é ligado a partir das 18 horas e funciona até as 22 ou 23 horas, portanto nessas horas diminuiu o consumo de energia proveniente do sistema fotovoltaico. Apesar disso, a partir do mês de maio do ano 2001 vêm aumentando paulatinamente o uso do inversor CC/CA fundamentalmente pelo uso da televisão e outros aparelhos que funcionam com a corrente alternada. Um fato importante é que o consumo desta família aumenta nas épocas de grande fluxo de turistas.

 

7. COMENTÁRIOS FINAIS

Como foi mencionado, existem muitos fatores que influem no comportamento da demanda energética. No entanto, no caso específico da família da comunidade de Marujá, observamos que sua conduta energética se deve em grande medida à influência do estilo de vida urbano em seu dia-a-dia. De maneira mais profunda isto está inserido dentro do que os antropólogos denominam "mudança cultural".

Tentar avaliar se esta mudança é positiva ou negativa é ingressar no escabroso terreno das suposições e da subjetividade. Dizer por exemplo que as populações tradicionais não deveriam desfrutar das comodidades e benefícios que o mundo moderno oferece é também negar seu reconhecimento como cidadãos. Seria achar que o mundo rural é um museu para ser visitado aos fins de semana pelos citadinos ansiosos da tranqüilidade, do ar puro e das aventuras fantásticas em contato com a natureza.

Por outro lado, para explicar o comportamento da demanda energética devemos ter em mente que isso implica considerar de maneira global todos os fatores que podem influenciá-lo. Obviamente estes não seguem nenhuma lei proveniente das ciências exatas e seria muito arriscado tentar uma explicação utilizando somente as ferramentas que esta área do conhecimento oferece. Podemos observar que o comportamento da demanda energética é algo aleatório e até passível de ser estudado através dos princípios da Teoria do Caos ou dos Processos Estocásticos.

No caso estudado, podemos concluir que basta que um só dos integrantes de uma família esteja influenciado por um modo distinto ao habitual para que este tente mudar o comportamento de toda a família. Em outras palavras, estas pessoas atuam como agentes da mudança cultural. A partir dos resultados podemos afirmar também que o número de pessoas que integram uma família não é uma determinante fundamental no consumo de energia.

Finalmente, tratar sobre influências ou mudanças culturais nos leva a analisar também o tipo de sociedade onde o ser humano se desenvolve. Neste caso deveremos analisar a influência de uma sociedade capitalista, dita de consumo, sobre as populações tradicionais muitas delas depositárias de uma outra cultura, isto é, uma outra alternativa de vida.

 

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi possível graças ao apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP.

 

REFERÊNCIAS

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CEPAL (1979). Las Transformaciones Rurales en América Latina: ¿Desarrollo social o Marginación?. Santiago de Chile: Cuadernos de la CEPAL, Servicios Gráficos CEPAL/ILPES.

CHILDE, Gordon V. (1966). A Evolução Cultural do Homem. Rio de Janeiro: Biblioteca de Cultura Histórica, Zahar Editores.

CHOAY, Françoise (1979). O Urbanismo: Utopias e Realidades - Uma Antologia. São Paulo: Coleção Estudos, Editora Perspectiva.

DIEGUES, Antônio Carlos (1998). O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo: Editora Hucitec, 2ª edição.

MORANTE, Federico e ZILLES, Roberto (2000). Medidas de Consumo em Sistemas Fotovoltaicos Domiciliares. Anais do 3º Encontro de Energia no Meio Rural, AGREENER 2000, Campinas 12 a 15 de setembro de 2000.

RIBEIRO, Berta C. (1995). Os Índios das Águas Pretas: Modo de Produção e Equipamento Produtivo. São Paulo: Edusp - Companhia das Letras.

SERPA NORONHA, Paulo (2001). Eletrificação Fotovoltaica em Comunidades Caiçaras e seus Impactos Socioculturais. Tese de Doutorado. Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da Universidade de São Paulo: http://www.iee.usp.br/biblioteca/producao/2001/teses/2001.htm

 

 

1 É uma planta da família das palmáceas (geonoma spixiana) também conhecida como guaricanga. Nas zonas rurais do Vale do Ribeira as folhas desta planta são aproveitadas na cobertura de palhoças, ranchos e moradias.