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An. 4. Enc. Energ. Meio Rural 2002

 

Desenvolvimento e aplicação de turbina eólica

 

 

Luiz Cezar Sampaio PereiraI; Bruno Bressan De CnopII

IENERSUD Industria e Soluções Energéticas LTDA Cep.: 24360-300 Niterói - RJ - Tel.: (21) 2710-6694 / (21) 9372-1853
IIENERSUD Industria e Soluções Energéticas LTDA Cep.: 24360-300 Niterói - RJ - Tel.: (21) 2610-6583 / (21) 9194-3739

 

 


RESUMO

O trabalho apresenta de forma sumária a evolução dos grandes e pequenos geradores eólicos ao longo dos tempos.
Detalha o desenvolvimento de um projeto de turbina eólica e apresenta os fundamentos que orientaram as decisões quanto a potência, aerodinâmica, arranjo físico e topologia de gerador. Descreve o trabalho de pesquisa e construção de protótipos e descreve os resultados alcançados.

Palavras chaves: Turbina eólica, energia alternativa, aerogerador, gerador eólico.


ABSTRACT

This paper shortly presents the evolution of large and small wind turbines throughout time providing details of the development of wind mills and the foundations which guide the decisions about potency, aerodynamics, structure and topology of turbines. It describes the research work and the construction of prototypes as well as the results obtained.


 

 

INTRODUÇÃO

Os primeiros registros ao uso da força motriz dos ventos remontam à antigüidade em embarcações egípcias, gregas e fenícias. A disposição de energia em um eixo rotativo como ocorre em moinhos de vento tem registros a partir do ano 1250 AD, atingindo a plenitude por volta da época das grandes navegações. O vento tem sido, depois da força animal, a fonte de energia de uso mais prolongado. O moinho de Surrey, na Inglaterra, construído em 1665, talvez seja a mais antiga máquina motriz ainda em operação após três séculos.

O lugar que a geração de energia eólica vai ocupar no futuro próximo ainda não está claro, no entanto o espaço a ser ocupado se abre pela necessidade de reduzir a participação da queima de combustíveis fósseis, pela rejeição justificada ou não aos sistemas nucleares, pelo elevado custo dos sistemas solares fotovoltaicos e pela dificuldade de construir hidroelétricas com cada vez maiores perdas de terra.

 

O AEROGERADOR DE HOJE

A evolução dos antigos moinhos que ponteavam todos os quadrantes da Europa de quatro séculos atrás, e que se tornaram um ícone daquela época, até as máquinas atuais se deu a partir de algumas inovações tecnológicos dos quais convém destacar; o uso de pás com perfil em formato de aerofólio provocando o surto de instalações das décadas de 30 e 40, e a aplicação dos imãs de alta potência que dão competitividade às máquinas de hoje.

O uso de perfis aerodinâmicos idênticos aos usados em asas de aviões deu um primeiro impulso aos sistemas de captação de energia eólica, no entanto logo os centros de pesquisa se voltaram para a busca de perfis mais adequados ao uso em aerogeradores, seja por permitirem a limitação de velocidade pelo fenômeno do "stall", seja por limitar o ruído causado pelas altas velocidades das pontas das hélices.

Outro foco de pesquisa tem sido os alternadores, nos quais a busca de topologias mais adequadas às condições baixas velocidades permitem a construção de máquinas mais leves.

Finalmente o acoplamento elétrico ás redes de distribuição constituiu-se em área de amplos estudos, visto que por sua natureza permanentemente variável o vento oferece uma curva de potência aleatória, obrigando os sistemas elétricos a desconfortáveis movimentos de ajuste.

Ao analisarmos a tendência dos modernos aerogeradores teremos que observar por ângulos diferentes as grandes e as pequenas máquinas.

As grandes máquinas se tornam cada dia maiores em uma escalada sem precedentes. Há muito pouco tempo um aerogerador de 150 Kw era imenso, hoje ele perde a expressão diante das máquinas de 1 MW que, no momento, são o padrão. Em 2002 será testado um protótipo de 4,5 Mw com 112 m de diâmetro. Os problemas de adaptação a redes elétricas vêm sendo resolvidos, restando para a engenharia especializada duas questões; como faze-los maiores e menos caros. Em nossos dias duas barreiras estão sendo rompidas. O custo do Kwh em algumas situações está perto de 3 cent de dolar o que o torna competitivo com outras fontes e a causa disso é que o custo do Mw instalado está cruzando a marca do milhão de dolares. O que se conseguir a partir desse ponto dará extrema competitividade a essa fonte de energia.

A fabricação de grandes eareogeradores é negócio para grandes corporações que cresceram com eles (Woben,Micon,Vestra.. ) ou grandes corporações que não querem ficar fora do negócio (ABB, Mitsubishi,..).Por outro lado as geradoras que usam esses sistemas costumam ter a participação de seus estados nacionais numa visão de infraestrutura em lugar de simples iniciativa privada.

Alguns fatos revelam o ímpeto do crescimento da nova fonte de energia nos últimos cinco anos:

- 35 milhões de pessoas consomem esse tipo de energia.

- 55.000 turbinas operam.

- 70.000 pessoas trabalham na chamada indústria do vento.

- 35 % tem sido a taxa de crescimento anual da indústria de aerogeradores.

- 2000 novos aerogeradores foram conectados, em 2001, às redes de destribuição da Alemanha.

- 10% será a participação da energia eólica na demanda da Alemanha em 2010.

- 10% da demanda total foi a meta do governo da Dinamarca em um programa lançado em 1981 para ser alcançado em 2000, com a construção de 60.000 aerogeradores de 15 Kw. A meta foi alcançada em 1997 com a instalação de somente 5000 máquinas.

Vale a pena focalizar alguns aspectos sobre o programa da Dinamarca. Ele tornou aquele país lider mundial na fabricação de grandes aerogeradores derrubando vários tabus quanto a dificuldade de operar sistemas com grande participação de energia eólica. Atualmente, em noites de vento favorável, o componente eólico do sistema da Dinamarca chega a 50%. Em quinze anos ocorrerão momentos de total suprimento de fonte eólica. Outro grande feito da Dinamarca foi a credibilidade na população. O Campo de 40 Mw existente junto a Copenhagem pertence a uma cooperativa com 8500 associados.

No Brasil o Proeolica prevendo a instalação de 3600 Mw colocaria o país em posição de destaque no mundo. Um problema que emperra o programa brasileiro é a absoluta falta de oferta de equipamentos de grande porte. A Petrobrás ao buscar comprar equipamentos para o sitio de Macau, com 3 Mw, foi informada pela empresa que fabrica pás em Sorocaba que sua carteira apresentava uma fila de dois anos para atendimento.

Na área dos pequenos geradores prevalece a busca da máquina ideal; boa, bonita, barata. Boa o bastante para atender as espectativas de suprimento elétrico do proprietário, convertendo em Kwh qualquer brisa disponível, respeitadas as leis da física. Bonita pois quem compra um pequeno aerogerador vai ocupar um espaço importante com ele, vai vê-lo com muita freqüência, vai ouvi-lo e, na maioria das vezes, vai gostar dele. Tem que ser barato sem prejuízo da qualidade pois a maioria das decisões de compra de pequenos aerogeradores ocorre dentro de um elenco de prioridades onde o balanço utilidade e custo pode ficar muito apertado. Convém lembrar que a compra de um pequeno aerogerador raramente se faz em contexto do tipo; eu tenho vento, eu tenho dinheiro e não tenho energia.

Em contraste com os grandes aerogeradores a produção de equipamentos de pequeno porte é negócio de pequenas empresas. Algumas se tornam maiores pelo tempo de maturação, há casos de empresas com mais de 50 anos no ramo. Existem fabricantes em todos os continentes, inclusive alguns na África e vários na Austrália.

O cliente para esse produto é o particular freqüentemente do tipo com pouco vento, pouco dinheiro e com energia. Geralmente esse cliente padrão busca uma alternativa para a sua total dependência de uma fonte pouco amigável e a posse de uma pequena geradora de energia.

Outros clientes são aqueles que tendo ou não dinheiro, têm vento e não têm energia. Nesses casos os pequenos aerogeradores são uma ótima opção.

O problema dos clientes que não têm dinheiro e precisam da energia não tem sido bem resolvido em nosso país, mas essa não é a regra em outros lugares onde uma compra desse tipo recebe grandes estímulos.

Existe uma lógica mista para a faixa intermediária de aerogeradores que situaríamos entre 20 Kw e 60 Kw . De uma maneira geral o custo dessas máquinas afasta o cliente particular.

 

DESENVOLVIMENTO DE UM PEQUENO AEROGERADOR

A primeira questão que ocorre quanto ao desenvolvimento de um pequeno aerogerador para uso em nosso país é por que fazê-lo?

O apagão de 2000 não influenciou pois o desenvolvimento começou antes dele. A melhor justificativa passa por uma paixão mal resolvida por aviões e a vontade de atuar na área de energia.

Resolvido que faríamos um aerogerador desde o projeto básico até a fabricação total do equipamento chega-se a primeira questão prática. De quê tamanho?

O critério para definição do porte do equipamento decorreu da conjugação de três fatores. O primeiro foi o custo do desenvolvimento . o segundo o custo do produto final e, finalmente, o uso do aerogerador.

Considerando razões meramente econômicas deveríamos ter optado pela máquina de 500 watts pois é sabido que, pelo seu preço, é o aerogerador mais vendável. Não foi essa a nossa decisão pois sabemos que essa máquina não tem potência para aplicações de grande interesse social como escolas, instalações rurais, bombeamento etc.

Considerando apenas a utilização, a opção teria sido por um aerogerador de 10 kw, no entanto uma máquina desse porte teria o preço em uma faixa que dificilmente encontraria clientes particulares em um mercado onde tais equipamentos não têm tradição. Convém ressaltar que, apesar do custo, essa é a máquina que vem aumentando mais rapidamente a participação em áreas onde o uso de aerogeradores é comum.

Dentro desse balizamento optamos pela máquina de 1000 watts que associa utilidade com baixo custo e constitui uma boa plataforma para o desenvolvimento das outras.

Outra decisão importante relacionava-se com a disposição do conjunto captador eólico (pás ou hélices) com relação a direção do vento.

A primeira idéia era criar um aerogerador traseiro (downwind) com controle centrífugo do passo das hélices, no entanto o exame do mercado e dos equipamentos existentes mostrou que tal máquina não seria competitiva. Optamos, então por uma máquina frontal (upwind) com controle aerodinâmico de velocidade (stall).

O desenvolvimento de um aerogerador envolve a aplicação de três campos tecnológicos: aerodinâmica, máquinas elétricas e eletrônica de potência. A alternativa de buscar elementos prontos e integra-los existe mas levaria a uma máquina muito pesada. Captadores eólicos ou conjuntos de hélices podem ser comprados na Dinamarca ou na China, alternadores podem vir da China ou Inglaterra e controladores são comuns no mercado americano.

Desprezando essa alternativa por aquela razão e porque nossos impostos quase dobram o custo dos insumos optamos pelo desenvolvimento total do equipamento.

Com a opção de pesquisar, projetar e construir todos os elementos para um aerogerador de 1000 watts partimos para nossa empreitada trabalhando mais ou menos em paralelo nos três campos: aerodinâmica, máquina elétrica e eletrônica.

 

AERODINÂMICA

Essa é sem dúvida a área em que as informações são mais acessíveis. Cursos, simuladores, projetos prontos informações de centros de pesquisa são encontrados com facilidade na internet. È surpreendente o grau de sofisticação existente, por exemplo, no campo da aerodinâmica para aeromodelismo.

A única área que apresentou dificuldade por ocasião do início do projeto foi a relativa a tabelas polares para aerofólios específicos para aerogeradores. Recentemente essas informações também foram disponibilizadas na internet.

O projeto aerodidâmico do captador eólico de um aerogerador parte de duas decisões importantes, a primeira se refere a velocidades, envolvendo o valor de projeto para velocidade do vento, a velocidade de ponta de pá e a sobrevelocidade admitida. O fato mais importante com relação a essa decisão é que ela define o projeto do alternador que é item que mais influencia o custo do final do equipamento.

Uma decisão conservadora quanto às velocidades de projeto concorre para a criação dos chamados pequenos aerogaradores pesados, com fama de grande durabilidade, custo elevado e dificuldade de instalação.

Nossa decisão foi o sentido de uma velocidade conservadora para o vento no ponto de projeto e uma posição mais arrojada quanto a sobrevelocidade de ponta de pá. Com isso procuramos garantir parâmetros favoráveis para o projeto do alternador sem prejuízo da aplicabilidade do equipamento em ventos moderados.

A Segunda decisão envolve a escolha do aerofólio para a construção do perfil da pá. Adotando uma sobrevelocidade de ponta de pá um pouco elevada nossa preocupação foi encontrar um perfil de baixo nível de ruído, o que costuma estar associado a uma perda de rendimento. Considerando que queríamos dar ao projeto boas características partida em baixa velocidade, concluímos que não havia perfil para atender essas condições. A solução foi adotar perfil variável com o aerofólio bem cheio no centro da pá, propiciando a partida em baixa velocidade e aerofólio com inversão de concavidade na ponta da pá. Como esses perfis não se harmonizam fomos obrigados a fazer uma composição de cinco aerofólios de uma mesma família. Mesmo com esse artifício tivemos dificuldade de fazer a transições entre as várias seções.

O resultado final tem sido bastante positivo. A pá resultante do projeto tem apresentado bom rendimento, excelente nível de ruído e propiciou boa característica mecânica, resistindo a aplicação de carga de 100 Kg no centro, quando apoiada em dois cutelos, sem apresentar deformação permanente.

Considerando nossa pouca experiência com montagem de pás optamos por um acoplamento rotativo no cubo o que permite girar cada pá até encontrar o ângulo ideal.

 

MÁQUINA ELÉTRICA

Essa é a parte mais difícil do projeto de um aerogerador. As informações são poucas e, quando existem são incompletas, quando não enganosas.

A máquina padrão para o uso em aerogeradores de paqueno porte é o gerador de magnetos permanentes (PMG). Essa máquina pode ser construida segundo uma série de topologias que podem ser grupadas em duas grandes famílias, as radiais e as axiais conforme a direção segundo a qual o fluxo magnético intercepta os condutores.

Um PMG para atender à um determinado projeto de aerogerador deve ter uma curva característica (potência-rotação) compatível com a do captador eólico e um torque de partida tão baixo quanto possível.

Existem três caminhos para se dispor de um PGM; compra-se um, adapta-se um motor elétrico para operar como PMG ou cria-se um a partir do zero. As duas primeiras altenativas levam a uma máquina pesada pois o arranjo típico dessas máquinas não permite adotar as montagens mais favoráveis a um aerogerador. A terceira alternativa nos leva a um terreno desconhecido e traiçoeiro.

Optamos pela construção de uma máquina que melhor se adaptasse ao conjunto de nosso projeto limitando algumas de suas dimensões á capacidade das máquinas disponíveis.

Quanto ao componente magnético optamos pelo uso de neodímios buscando ter segurança de alcançar a potência necessária.

Por não dispormos de um laboratório de máquinas com condições de realizar medições magnéticas a alternativa foi a fabricação de uma série de protótipos caminhando por meio deles para o projeto final.

Nossa primeira tentativa foi uma máquina radial com grande número de pólos . A opção por uma máquina radial foi determinada pela facilidade de operar com pequenas aberturas de entreferro (gap) sem risco de roçamento interno.

O resultado foi desanimador com peso de 19 Kg geramos pouco mais de 100 watt com um torque de partida elevadíssimo. Com essa máquina aprendemos quase tudo o que não deveríamos fazer.

A partir dessa experiência passamos a construir protótipos em escala reduzida (menor número de pólos e maior rotação).

A Segunda topologia foi a axial, bifásica, com bobinas toroidais. Essa construção prometia ser interessante pois ao usar o mesmo sistema magnético para exitar duas bobinas independentes permitia uma grande economia de neodímios que são os itens de custo mais elevado no conjunto da máquina.

Depois de muitos testes, com vários protótipos em escala reduzida e resultados interessantes, construímos uma primeira máquina nas dimensões definitivas. Na verdade construímos meia máquina pois segundo a fonte na qual buscamos as informações sobre esse equipamento , para completá-la bastaria acrescentar a segunda bobina.

Os testes com esse protótipo nos ensinou muito sobre fuga magnética, superaquecimento e uso de plástico na construção de geradores. Aprendemos, o que foi importante para a continuidade dos trabalhos, a construir mancais de escora para máquinas axiais.

Quando acrescentamos a segunda bobina para nos aproximar da potência final descobrimos um fato importante que foi cuidadosamente omitido por nossa fonte. O acréscimo de uma segunda bobina não produz a soma algébrica da potência. A máquina seria viável mas teríamos que aumentar muito o volume de neodímio e, por conseqüência, o custo.

Outro aspecto que nos levou a outra topologia foi a dificuldade construtiva do caminho magnético em chapas de ferro silício.

Considerando que a essa altura já estávamos em condições iniciar testes em vento com o aerogerador resolvemos completar a construção do primeiro protótipo acrescentando um segundo rotor e fugindo do efeito que reduzia a potência da máquina.

Esse gerador pesava 28 Kg e tinha 900 watt de potência. Outra caracteristica interessante dessa máquina era o elevado nível de tensão alcançado.

Quando começamos os testes ao vento do aerogerador já estávamos testando uma terceira topologia. A decisão de testar o PMG de fluxo axial e ferro toroidal decorreu da boa classificação que esse gerador teve em análise comparativa de torque e custo com relação a volume quando comparado com outras topologias. Outra vantagem apresentada era o baixo custo e facilidade construtiva do estator. Por fim esse é o gerador de menor torque de partida.

Ao lado dessas vantagens tínhamos enormes dificuldades construtivas a enfrentar, decorrentes do nível de esforços que a atração magnética provoca sobre o estator.

A partir desse ponto testamos uma dezena de protótipos variando: número de pólos, dimensão de neodímios, dimensões do estator, diâmetro do fio do enrolamento e folga do entreferro.

Em paralelo com os testes variando as características elétricas e magnéticas testamos muitas alternativas de ligação entre o estator e a carcaça da máquina.

A construção com estator toroidal, em que esse elemento é totalmente blindado, apresenta uma grande vantagem com relação a resistência a corrosão pois os estatores convencionais são as peças mais atacadas pela ferrugem nas condições de severa exposição a intempéries comuns a aerogeradores.

Também o conjunto de rolamentos fica extremamente protegido pela estrutura em balanço que caracteriza essa máquina.

O resultado final foi uma máquina com 12 Kg, trifásica, desenvolvendo 1200 watt no ponto de operação e 2000 watt a 1000 rpm sem sinal de superaquecimento.

Outra característica interessante dessa topologia é a forma final do gerador que praticamente se reduz a um cilindro de 270mmde diâmetro por 60 mm o que facilita a criação de um perfil aerodinâmico para a nacele do aerogerador.

A possibilidade de criar um perfil aerodinâmico de pouco arraste para o corpo do gerador nos levou a fazer uma opção pouco comum, senão única, para abrigar a cabeça rotativa (swivel). Integrando essa peça à torre e não ao corpo do gerador encontramos uma solução que produz interferência mínima á passagem do ar.

 

ELETRÔNICA

Com a inexistência, no Brasil, de uma legislação que estimule a ligação de pequenos aeroegeradors à rede elétrica resolvemos optar pela configuração gerador-baterias-inversor.

Definida a configuração faltava especificar o nível de tensão do sistema o que poderia ser feito entre 12, 24 ou 48V considerando os sistemas de baterias disponíveis.

No caso de geradores nessa faixa de potência existe uma recomendação de especialista de usar 12V se o sistema tiver perspectiva de ampliação acima de 1500 watt.

Na verdade a importante decisão quanto ao nível de tensão se faz balanceando as desvantagens das altas amperagens que ocorrem quando se opera em 12V com o não aproveitamento dos ventos de baixa intensidade que ocorre em 24V.

Em nosso desenvolvimento começamos como sistema em 12 V mas a medida que começamos a lidar com as perdas no cabeamento e constatando que o nosso gerador apresentava uma reserva de potência bastante significativa resolvemos passar para 24V.

Atualmente estamos estudando alternativas para aproveitar a energia dos ventos de baixa intensidade, que podem chegar a 150 watt, acoplando ao gerador sistemas de aquecimento resistivos ou sistema secundário de acumulação em 12V.

Face a existência de um sistema acumulador de energia composto por baterias geralmente chumbo ácidas, e considerando que elas são alimentadas por uma ponte de diodos acoplada a um gerador de velocidade variável, torna-se inevitável a existência de um dispositivo para gerenciar o carregamento com o objetivo básico de proteger as baterias.

Lembramos que um PGM não pode simplesmente ser desligado quando o vento está mantendo sua operação. Quando desligamos as baterias a carga tem que ser desviada para outro uso ou para uma resistência de dissipação que simplesmente joga a energia fora.

As funções mínimas que um sistema de gerenciamento deve executar são: o desacoplamento da carga elétrica quando o sistema atinge o nível mínimo, o reacoplamento da carga quando a voltagem atingir o mínimo mais delta de segurança, o desacoplamento do gerador quando quando a voltagem do sistema atingir o máximo admissível e o reacoplamento do gerador quando a voltagem atingir a máxima menos o delta de segurança.

Para dispor de um sistema de gerenciamento de carga adotamos duas alternativas, construímos a nossa própria placa eletrônica acrescentando um circuito tacômetro com o objetivo transferir a carga da bateria para a resistência de dissipação e vice versa ao ser atingido determinado nível de rotações por minuto do gerador. Nessa placa comparadores de voltagem se incumbem de fazer os acoplamentos e desacoplamentos, alimentando relés apropriados. Essa placa tem a vantagem de permitir o ajuste das voltagens de acoplamento e desacoplamento.

Outra alternativa foi o uso de uma placa para carregamento de baterias de tração, comercialmente disponível, que foi adaptada pelo fabricante para uso em aerogeradores. Essa placa se caracteriza por ter os pontos de acoplamento e desacoplamento definidos desde a fábrica, por software.

A impressão que fica é que o gerenciamento do carregamento e de cargas é um campo que permanecerá aberto seja porque os recursos eletrônicos mudam propiciando melhor desempenho e menor custo, seja porque outras funções podem ser incorporadas em benefício do usuário.

 

OUTROS COMPONENTES

Além dos componentes já apresentados o aerogerador básico requer mais três elementos para funcionar, são eles; sistema de direção e desvio do fluxo, cabeça rotativa e torre.

Nossa opção de construir um equipamento de orientação frontal (upwind) em que o captador eólico fica na frente da torre acarreta a necessidade de termos um dispositivo ativo, normalmente eletromecânico, para orientar o gerador em permanente oposição ao vento ou um dispositivo do tipo passivo, normalmente um leme que se mantém na direção do vento.

Buscando o máximo de simplicidade para o projeto optamos pelo uso de um simples leme como dispositivo de orientação. Complementando função orientadora introduzimos, como geralmente é feito, um mecanismo de desvio de fluxo que funciona pelo dobramento da haste do leme quando a velocidade do vento atinge intensidade perigosa. Face às características de nosso projeto foi possível dotar a base da haste do leme com um prato rotativo de forma a podermos escolher a velocidade de desarme do equipamento.

A cabeça rotativa localizada no topo da torre cumpre três funções; em primeiro lugar promove a livre rotação do aerogerador na busca da direção do vento, complementando ela encerra os carvões contactores que promovem o permanente contato elétrico, independente da direção do vento. No nosso projeto usamos carvões duplos, por fase, de forma reduzir o afeito de centelhamento. Finalmente a cabeça rotativa contém o elemento padronizado de acoplamento a torre. Por meio desse elemento é possível adaptar o aerogerador a extremidade de um tubo de 100 mm mediante a realização de seis furos de 15 mm com o uso de um simples gabarito de papel.

O aerogerador em questão pode ser montado no topo de qualquer torre que termine em um tubo de 100 mm e que resista ao esforço de 150 Kg aplicados, em qualquer direção, no topo.

Nos casos de áreas abertas a torre tubular estaiada é uma excelente solução, permitindo a elevação de sistemas com 25 metros de altura sem muita dificuldade.

Nos casos de áreas urbanas e restritas, onde o estaiamento tem limitações, cada caso será um caso. Nessas situações aparecem as torres treliçadas, com ou sem estaiamento, as torres basculantes e até as torres retrateis.

Com esse conjunto gera-se energia elétrica trifásica que pode ser utilizada diretamente em algumas aplicações como aquecimento resistivo, situações especiais de iluminação e acionamento direto de motores que podem funcionar com velocidade variável.

A figura 1 apresenta uma visão geral do aerogerador cujo desenvolvimento apresentamos ao longo do texto.

 

 

Outra alternativa para uso da energia gerada é a adoção de acumuladores que cumprem a dupla tarefa de acumular energia para uso em outro momento e estabilizar a tensão em um nível fixo.

Complementando o sistema com baterias pode-se acrescentar um inversor que eletronicamente converte a energia para o sistema alternado de uso comum.

 

CONCLUSÕES

O gerador de 1000 watt é um ponto de partida apropriado tanto para o desenvolvimento de máquinas maiores como menores.

Acreditamos que uma máquina de 10 kw pode ser construída com os mesmos recursos tecnológicos o que pode não ser valido para potências muito maiores. Nossa intenção é desenvolver essa máquina no próximo ano.

Quanto a uma máquina de 500 watt nossa intenção é avaliar um pouco melhor o mercado antes de investir em uma máquina que só teria sentido se seu custo fosse muito baixo.