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An. 4. Enc. Energ. Meio Rural 2002

 

Indicadores energético-ambientais

 

 

Mario Oscar Cencig

Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético - NIPE, Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, 13084-082 Campinas-SP tel: (19) 3289-3125 fax: (19) 3289-5499

 

 


RESUMO

Um dos grandes desafios atuais da humanidade é o de alcançar uma situação denominada desenvolvimento sustentável, como foi enfatizado na Eco92 realizada no Rio de Janeiro, nas sucessivas Conferências sobre Mudança do Clima e, mais recentemente, na Rio+10 realizada em Johannesburgo. Após a Eco92, diversas instituições, visando implementar a Agenda 21, vem realizando estudos sobre indicadores que possibilitem monitorar os progressos e auxiliem na tomada de decisões. Cabe destacar, dentre as várias iniciativas, da Organização das Nações Unidas que vem realizando um trabalho de grande importância na questão da avaliação de políticas, sistemas e modelos, tendo elaborado o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como uma ferramenta muito útil de avaliação. Neste trabalho são discutidos diversos aspectos dos indicadores, sendo que este constitui uma etapa inicial do programa de indicadores energético-ambientais em desenvolvimento no Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético - NIPE/UNICAMP.

Palavras chave: Palavra chave 1: energia. Palavra chave 2: meio ambiente. Palavra chave 3: indicadores. Palavra chave 4: desenvolvimento sustentável.


ABSTRACT

One of the greatest challenges faced by mankind today is to achieve sustainable development, as was pointed out at The Rio de Janeiro Conference in 1992, during several Conferences on Climatic Changes and, more recently at Johannesburg Rio+10. After Eco92, with the aim of implementing the Agenda 21, several institutions have started studies on indicators that allow for the advances to be monitored and guide us through the decision-making process. In light of great initiative, remarks for UN's important work on policy evaluation, systems and models, whose main tool is the Human Development Index (HDI). Thereafter, many indicators-related aspects to are discussed, as a first step in the program on energy-environmental indicators carried out by the Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético - NIPE/UNICAMP.


 

 

INTRODUÇÃO

No panorama mundial e nos mais diversos campos do conhecimento e da atividade humana observa-se uma tendência ao estabelecimento e uso dos mais variados indicadores e índices, com a finalidade seja de avaliação, seja de gestão. É bem conhecido o caso do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) desenvolvido pela ONU, cujo publicação a cada edição anual recebe grande cobertura da mídia e começa a fazer parte do cotidiano das pessoas.

Indicador. O Dicionário da Língua Portuguesa Aurélio traz várias definições para este termo [De indicar + -dor] sendo o primeiro deles o que diz "que indica", isto é, vem do verbo indicar [Do lat. indicare] cujos significados, entre outros, são tornar patente, demonstrar, revelar, denotar.

Índice. Este termo [Do lat. Indice] tem um conjunto grande de significados, destacando aqui alguns: "relação entre os valores de qualquer medida ou gradação", "tudo aquilo que indica ou denota alguma qualidade ou caracerística especial"; o dicionário detalha também uns 33 índices específicos, relacionados aos mais diversos assuntos.

Esses termos são utilizados para obter uma caracterização sobre as questões em estudo (indicadores), e quantificar essas características visando uma melhor compreensão e o estabelecimento de comparações.

Enfoque do PNUD

O PNUD [1] adotou dois índices para medir o desenvolvimento humano ou a qualidade de vida humana: o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH (Human Development Index, HDI) e o Índice de Liberdade Humana (Human Freedom Index, HFI). O IDH tem três componentes: longevidade, medida pela expectativa de vida ao nascer; conhecimento, medido pelo alfabetização e escolaridade; renda, medida pelo PIB per capita ajustado às condições nacionais.

A base do cálculo dos índices está baseada na fórmula seguinte:

onde V corresponde ao valor do indicador em questão, Vmínimo e Vmáximo são os valores mínimo e máximo, respectivamente, encontrados para os valores do indicador dentro do escopo da análise.

Este método permite a obtenção de índices padronizados, cujo valor sempre varia entre 0 e 1, independentemente da faixa de variação dos valores particulares; assim, para o menor valor de todos os comparados obtêm-se um índice igual a 0, e para o maior valor de todos, um índice igual a 1. Uma vez obtidos os três índices, eles são combinados de maneira a obter um único índice geral, denominado "Índice de Desenvolvimento Humano", o IDH.

Aqui entra o ponto central do modelo, já que nessa combinação final cada indicador entraria com um peso diferenciado de acordo à importância que fosse atribuída à questão por ele representada e, como é evidente, mudar o peso relativo de cada indicador alterará a resultado final a ser obtido no índice IDH. No caso, o PNUD dá o mesmo peso (importância) a cada um dos três indicadores, e, assim, o IDH é obtido como a média aritmética dos três valores:

No capítulo dedicado a energia e meio ambiente, são tabelados os seguintes indicadores: consumo de combustíveis tradicionais (como % do consumo total de energia), consumo de eletricidade per capita, PIB por unidade de energia, emissões de CO2 (como % do total mundial, e per capita), ratificação dos seguintes tratados: Convenção sobre Mudança do Clima, Protocolo de Quioto, Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio, Convenção sobre Diversidade Biológica.

O Banco Mundial desenvolveu uma metodologia baseada no Produto Interno Bruto - PIB (inicialmente Gross National Product, GNP em inglês, que agora mudou para Gross National Income, GNI, e Producto Bruto Interno, PBI em espanhol), um número que é a soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país no ano, sendo considerado a medida da riqueza das nações. Decorrente dele, obtinha-se o PIB per capita, obtido pela divisão desse número pela população do país, sendo considerado como a medida do bem-estar das pessoas e utilizado para comparar a qualidade de vida das sociedades, isto é, o PIB per capita era considerado sinônimo de qualidade de vida. É interessante observar que a classificação feita pelo Banco Mundial pode ser considerada, em certa medida, como uma ´redução´ do IDH, já que seria equivalente a considerar somente o último dos 3 índices na fórmula anterior.

Enfoque UICN - PNUMA - WWF

Cuidando do Planeta Terra [2] é um documento que foi lançado no dia 21 de outubro de 1991, em forma conjunta com as edições inglesa (Caring for the Earth) e francesa (Sauver le Planète).

O Anexo 6 trata dos "indicadores de sustentabilidade". Diz: "os conceitos de qualidade de vida e de sustentabilidade ecológica são mais amplos do que a sua medição. Por definição, os indicadores somente podem medir os componentes de um único conceito. A busca por indicadores de sustentabilidade confiáveis e eficientes está apenas começando. Os indicadores deveriam ser quantitativos e alguns, pelo menos, teriam que ser conversíveis a um valor monetário, para serem relacionados às contas nacionais. Sua quantificação não deveria ser por demais difícil ou cara. A seguinte lista de possíveis indicadores não é absolutamente abrangente. Alguns não satisfazem esses critérios".

Para a qualidade de vida, se baseiam no IDH.

Para que uma sociedade seja ecologicamente sustentável, enunciam:

a) conservação dos sistemas de sustentação à vida e da biodiversidade

• progresso na prevenção da poluição (4 itens)

• progresso na recuperação e manutenção da integridade dos ecossistemas (3 itens)

• progresso no desenvolvimento de um sistema abrangente de áreas protegidas (1 itens)

• progresso na recuperação e manutenção de espécies e patrimônios genéticos (8 itens)

b) assegurar que o uso de recursos renováveis seja sustentável e minimizar o esgotamento de recursos não-renováveis

• importância do setor para renda

• situação dos recursos do setor

• situação da infra-estrutura ecológica do setor

• a compatibilidade e os conflitos do setor com a sustentabilidade de outros setores

• principais influências sócio-econômicas na sustentabilidade do setor

c) respeitar os limites da capacidade de suporte dos ecossistemas

• consumo per capita de alimentos, água, madeira e minérios;

• uso per capita de energia;

• uso de energia por unidade de PIB;

• geração de resíduos municipais, per capita e por unidade de PIB;

• geração de resíduos industriais, per capita e por unidade de PIB;

• geração de resíduos nucleares descartados, por unidade de PIB e por unidade de energia;

• tendência populacional;

• taxa de fertilidade total;

• densidade populacional.

Enfoque da Qualidade de Vida

O ponto de partida de esta proposta [3] é o IDH que foi já mencionado, e "o conceito de qualidade de vida é aqui proposto como um conceito no qual a questão ambiental se agregue aos demais itens hoje mensurados pelo IDH". Para isso, se baseia em uma proposta de Cobb, quem lançou a idéia de um Indicador de Progresso Genuíno (Genuine Progress Indicator, GPI), a ser expreso em termos monetários, ou seja, "uma medida integrada que venha a combinar uma variedade de valores sociais e ecológicos em um único número, medido anualmente em termos monetários".

Esse índice IQV, levaria em consideração os seguintes aspectos:

• Qualidade habitacional,

• Qualidade educacional,

• Qualidade da saúde,

• Condições de trabalho,

• Diversidade e horizontalidade na comunicação social,

• Qualidade do transporte coletivo,

• Qualidade ambiental urbana,

• Qualidade ambiental não urbana,

• Qualidade, pluralidade e horizontalidade nos canais de decisão coletiva.

Enfoque do WWF

No conjunto de trabalhos realizados para implementar as decisões da ECO92, a WWF tem desenvolvido uma metodologia para medir a pressão humana sobre a Terra, e como ela está distribuída pelos diferentes países e regiões. O "Índice do Planeta Vivo" (Living Planet Index) [4] é uma medida do estado dos ecossistemas naturais, segundo a capacidade de suportar a abundância de espécies animais. A "Pegada Ecológica" (Ecological Footprint) estabelece a comparação entre o consumo que um país faz dos recursos naturais com a capacidade biológica do planeta para regenerá-los.

O primeiro índice é uma média aritmética de três índices, que medem, respectivamente, a abundância de espécies nas florestas, nas águas doces, e nos ecossistemas marinhos. O primeiro monitora 282 espécies, entre pássaros, mamíferos e répteis, o segundo monitora 195 espécies, entre pássaros, mamíferos, répteis, anfíbios e peixes que vivem em lagos, rios e terrenos alagados (wetlands). O terceiro monitora 217 espécies, entre pássaros, mamíferos, répteis, e peixes que vivem em ecossistemas costeiros e marinhos. O índice é acompanhado ao longo do tempo como forma de avaliar a melhoria dos sistemas naturais.

A "pegada" de um país é a área total requerida para produzir os alimentos e as fibras que o país consome, fornecer a energia consumida e o espaço necessário para a infra-estrutura, e varia com o tamanho da população, o consumo médio per capita, e a tecnologia utilizada. A capacidade biológica do planeta varia com o tamanho da área biologicamente produtiva e a produtividade média por hectare.

Enfoque do Fórum Econômico Mundial (World Economic Forum / Yale University)

Trata-se de uma pesquisa conduzida pelo Yale University Center for Environmental Law and Policy [5]. Está baseado na construção de um "índice de sustentabilidade ambiental" (Environmental Sustainability Index, ESI), que monitora 22 fatores chave (key factors) que tem influência na performance ambiental, tais como a qualidade do ar nas cidades, a saúde pública e a regulamentação ambiental, e os compara com 67 variáveis relacionadas à qualidade de vida, tais como níveis de dioxido de enxofre no ar urbano, taxa de mortalidade infantil, e percentual de terras protegidas.

Esse índice, que varia entre 1 e 100, permite monitorar a performance ambiental, e identificar como e onde melhorar o controle da poluição ambiental e o manejo dos recursos naturais, de maneira que cada país tem a ferramenta para agir sobre os impactos que a qualidade ambiental tem sobre o bem-estar das pessoas e da sociedade como um todo, e sobre a produtividade da terra.

Recentemente, o grupo está trabalhando em um "índice de performance ambiental" (Environmental Performance Index, EPI), uma versão ´resumida´ do ESI orientado à tomada de decisões no curto e meio prazo.

Enfoque da Sustentabilidade

"A análise sobre a sustentabilidade do setor energético é baseada em oito indicadores. Esses indicadores são agrupados em quatro categorias. A primeira categoria refere-se a aspectos ambientais: um indicador relativo ao meio ambiente global e outro relativo ao meio ambiente local. A segunda categoria compreende dois indicadores econômicos e a terceira categoria compreende dois outros indicadores sociais. Finalmente, a quarta categoria engloba aspectos tecnológicos do setor energético" [6].

Esses indicadores são:

Indicador 1: Emissões de CO2 do setor energético por habitante

Indicador 2: Poluente local

Indicador 3: Acesso à eletricidade no meio rural

Indicador 4: Consumo de eletricidade residencial per capita

Indicador 5: Vulnerabilidade energética

Indicador 6: Importância do setor público nos investimentos energéticos não renováveis

Indicador 7: Intensidade energética

Indicador 8: Difusão de energias renováveis.

Eles são números sem dimensão, calculados com a fórmula:

onde X é o valor do parâmetro em questão, Y é o valor desejado, e W é o valor de referência (status quo). Assim, a situação de I = 1 representa o status quo, sendo I = 0 a situação desejada, observando-se que I pode atingir valores negativos, na medida em que o valor do parâmetro (X) analisado seja menor que o valor de referência. As comparações são feitas colocando os valores em um gráfico de tipo radar com 8 eixos, um para cada um dos indicadores.

Uma outra linha de trabalho [7] está orientada a subsidiar às decisões da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima, visando estabelecer critérios para a avaliação dos projetos cabíveis no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), um dos mecanismos de flexibilidade do Protocolo de Quioto. São 8 indicadores de sustentabilidade: contribuição para a mitigação das mudanças climáticas globais; contribuição para a sustentabilidade ambiental local; contribuição para a geração líquida de empregos; impactos na distribuição de renda; contribuição para a sustentabilidade do balanço de pagamentos; contribuição para a sustentabilidade macroeconômica; custo-efetividade; contribuição para a auto-suficiência tecnológica; e 3 indicadores de viabilidade operacional: maximização dos benefícios nacionais provenientes da venda de CER´s; possibilidades de integração regional; potencial de inovação tecnológica. Os indicadores variam entre -3 (situação mais desfavorável) e +3 (situação mais favorável).

Enfoque MMA / IBAMA

Após a ratificação do Convenção sobre Diversidade Biológica, o Brasil assumiu o compromisso de proceder ao levantamento e monitoramento de sua biodiversidade. Assim, o IBAMA deu início a um processo de aprimorar o monitoramento das Unidades de Conservação, e a elaboração de um Sistema de Monitoramento de Biodiversidade - SIMBIO.

Após um processo em 3 fases que aconteceram ao longo de 1999, foi adotado [8] um conjunto de indicadores para o SIMBIO agrupados em 3 blocos:

Indicadores sócioeconomicos

• Situação fundiária (3 itens)

• Uso do solo no entorno da UC (3 itens)

• Uso do espaço aquático (2 itens)

• Usos incompatíveis (4 itens)

• Infra-estrutura (6 itens)

• Dados demográficos (8 itens)

• Poluição e degradação (7 itens)

Indicadores de desempenho institucional

• Atuação administrativa (6 itens)

• Atuação orçamentária e financeira (6 itens)

• Atuação da gestão (8 itens)

• Atuação política (4 itens)

Indicadores biofísicos

• Água (16 itens)

• Ar (8 itens)

• Solo (4 itens)

• Fauna (11 itens)

• Flora (27 itens)

Além dos indicadores, não foi definida uma metodologia para o seu processamento.

Enfoque da IAE

Trata-se de um Modelo Energético do Mundo (World Energy Model, WEM) [9]. É uma ferramenta para: realizar uma prospectiva global de energia (tendência da demanda, disponibilidade de suprimentos, comércio internacional, e balanços energéticos), analisar o impacto do uso da energia (emissões de CO2), efeito das políticas adotadas e das mudanças tecnológicas. Consiste em um modelo matemático composto por quatro sub modelos: o de demanda final, o de geração de energia e outras transformações, o de suprimento de combustíveis fósseis, e o do mercado das emissões.

Enfoque do CSD/DSD/UN

O estudo mais abrangente é o da Comissão sobre o Desenvolvimento Sustentável (Commission on Sustainable Development, CSD) da Divisão para o Desenvolvimento Sustentável da ONU [10]. Esta comissão foi criada após a ECO92 e começou o seu trabalho efetivo em 1995.

O primeiro resultado foi um conjunto de 134 indicadores, os quais foram testados por 22 países ao longo de 1996-99, a Tabela mostra o embasamento desses indicadores.

Para cada uma das quatro dimensões primárias do desenvolvimento sustentável, relaciona-se o correspondente capítulo da Agenda 21 que trata desse assunto, e para essas categorias são listados os indicadores segundo a sua característica.

 

 

Os indicadores de "pressão" representam o impacto das atividades, dos processos e dos comportamentos humanos, os de "estado" fornecem uma leitura da situação alcançada pelo desenvolvimento sustentável, e os de "resultado" representam as ações empreendidas para caminhar em direção ao desenvolvimento sustentável. É conhecida como "metodologia P-E-R".

A proposta atual da Comissão é uma evolução desses estudos, em função de uma maior ênfase em tópicos orientados à tomada de decisões. São 56 indicadores agrupados em 38 sub temas, os quais estão agrupados em 15 temas distribuídos entre as quatro dimensões do desenvolvimento sustentável.

Enfoque do "Modelo Latino-americano"

Nos anos 70 foi publicado o "Informe do Clube de Roma", onde, a partir de uma análise da situação do mundo nesse momento, fazia-se uma projeção de cenários possíveis e faziam-se uma série de recomendações, que ficaram conhecidas como o modelo do "crescimento zero" na medida em que preconizavam uma freada no ritmo de desenvolvimento econômico para evitar um futuro catastrófico. Essa proposta "congelava", em certa medida, a situação de desigualdades existente entre os países ricos e os pobres.

Uma das reações a esse estudo, foi a elaboração de um "modelo latino-americano" realizado pela Fundación Bariloche [11].

Nesse estudo, foram utilizados um conjunto de indicadores para elaborar um modelo explicitamente normativo, ou seja, a diferença básica com os outros trabalhos analisados é que, neste, é estabelecido um cenário desejado para a humanidade e o modelo matemático utiliza os indicadores para analisar a possibilidade desse cenário ser atingido, e quais seriam os caminhos correspondentes.

O modelo representa basicamente um sistema de produção, e assim são consideradas as necessidades básicas: alimentos, demografia e saúde, habitação, educação, e para cada um dos temas foi incluído um conjunto de variáveis mensuráveis (expectativa de vida ao nascer, conteúdo de proteínas nos alimentos, distribuição por faixa etária, número de moradias, etc.).

Enfoque do Ciclo de Vida

Este estudo [12] focaliza também a construção de um modelo, visando integrar os fluxos físicos (energia e materiais) com os fluxos monetários, e com os aspectos patrimoniais. A análise parte dos fluxos crescentes (extração) de minerais e sua distribuição assimétrica, mostrando o conflito entre uma ´eficácia pontual´ e a ´sustentabilidade global´, a primeira levando a "apoiar a economia na deterioração dos estoques de recursos naturais, e a segunda baseada no fluxo solar que possibilita a sua utilização reciclável.

O tratamento é termodinâmico, visando calcular o custo exergético de reposição dos recursos. Dessa maneira, poderia ser estimado com maior precisão o ´capital mineral´ do planeta, estabelecendo uma base objetiva para calcular o valor monetário dos recursos e poder atuar sobre os processos que influem na deterioração ambiental.

Enfoque Emergético

Em uma abordagem também termodinâmica, a análise emergética [13] objetiva determinar os fluxos de energia e materiais, e assim, todos os insumos, incluindo as contribuições da natureza e os produtos da economia, são contabilizados em termos de "energia solar agregada" (emergia).

Esses valores são estimados e quantificados, por meio de indicadores, denominados índices emergéticos. O ponto chave do modelo é o índice de transformidade, que estabelece um fator de conversão em energia para todas as variáveis em estudo; outros índices são a razão de rendimento emergético, a razão de investimento de emergia, a razão de intercâmbio de emergia, renovabilidade emergética.

Outros enfoques

A utilização de indicadores está bastante disseminada, e são construídas metodologias para atender objetivos específicos, como pôde ser observado em alguns poucos exemplos a seguir, que não pretendem, obviamente, abranger todas as questões, e não estão diretamente ligados à questão específica de energia e meio ambiente mas que são bastante ilustrativos da utilização ampla desta ferramenta.

Na literatura há, também, abordagens qualitativas para o tema dos indicadores. Assim, é lançado um olhar sobre a questão urbana, analisando experiências no nível do poder local, "através do estudo da formulação e implementação de políticas públicas com caraterísticas socioambientais" [14], ou seja, focam a atenção nas dimensões social e institucional anteriormente citadas.

Metodologia elaborada pela organização Transparency International em conjunto com a Gotingen University [15], vem publicando anualmente desde 1995 o Índice de Percepções de Corrupção (Corruption Perception Index, CPI). Trata-se de um índice padronizado, que varia entre 1 e 10, calculado com uma metodologia bastante elaborada. O material de trabalho são, entre outros, as pesquisas de opinião, que medem a percepção das pessoas, fazendo a sua ´tradução´ para números.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) foi desenvolvido pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) com o objetivo de avaliar e comparar as habilidades e conhecimentos de jovens de 15 anos. Compara, por meio de testes, os níveis de proficiência em leitura, matemática e ciência em 32 países. De acordo com a nota, os resultados são classificados em cinco níveis, para a próxima avaliação haverá maior ênfase no aprendizado na área de matemática [16].

Em 1990, realizou-se, organizado pela ONU, o Encontro Mundial de Cúpula pela Infância. Nessa reunião, os 139 países ali representados traçaram 27 metas, a serem atingidas até 2001, ligadas à sobrevivência, desenvolvimento e proteção de crianças, adolescentes e suas mães; e após uma década, o IBGE e UNICEF publicam [17] um conjunto de indicadores sobre a evolução dessa situação no país. Assim, são analisados os seguintes temas: demografia (4 indicadores), renda e pobreza (4 indicadores), saúde (5 indicadores), educação (15 indicadores), trabalho infantil (4 indicadores), sendo cada um desses indicadores um resultado de diversas variáveis e indicadores.

Demografia, migração, escolaridade, instalações sanitárias, renda, constituem os temas de um estudo [18] sobre a sustentabilidade de populações morando em municípios do Vale do Ribeira, onde os resultados são expressos em % para os indicadores considerados.

O grau de atuação dos congressistas no Brasil é avaliado anualmente pelo Datafolha, com base em informações coletadas pelo jornal na Câmara e no Senado, desde 1999. Os indicadores utilizados [19] incluem: cargos, responsabilidades em comissões, comparecimento, apresentação de projetos e proposições, votações e debates, e o ponto central da avaliação é a atribuição de pesos diferenciados para cada um dos indicadores. É obtida, assim, uma nota e os resultados são classificados em cinco categorias: muito atuante, atuante, atuação média, atuação fraca, atuação muito fraca. É interessante observar que há contestação, por parte daqueles com piores avaliações, seja em referência ao escopo de indicadores considerados, seja aos pesos atribuídos a eles.

 

COMENTÁRIOS

O documento Agenda 21 é um guia para a ação, e no seu último capítulo 40 trata da questão da informação e das metodologias de acompanhamento das ações realizadas, isto é, coloca a questão dos indicadores de desenvolvimento sustentável.

Os estudos sobre indicadores constituem um vasto e interessante campo de pesquisa, que vem sendo consistentemente trabalhado nessa última década, com diversas possibilidades para a realização de enfoques privilegiados: a questão energética, a questão ambiental, a sustentabilidade, a questão social, as políticas públicas, etc.

Entretanto, cada um destes estudos atende a um objetivo diferente e tem um âmbito próprio de aplicação. Alguns são, em certa medida, comparáveis nos seus resultados, a multiplicidade é grande e não há um conjunto de indicadores que seja universalmente aceito.

A proposta da Comissão para o Desenvolvimento Sustentável, se apresenta como aquela que inclui o maior número das outras propostas, ainda que, talvez, não seja possível estabelecer um conjunto único; é esta uma questão em aberto, a ser pesquisada e experimentada na prática.

Na abordagem de um dado problema, os indicadores devem ser, assim, definidos de forma concreta, em consonância com a questão a ser trabalhada, escolhendo, a partir das alternativas existentes, aquilo que melhor se adapte às características do problema em estudo.

 

REFERÊNCIAS

[1] PNUD, Informe sobre Desarrollo Humano, 2002 "Profundizar la democracia en un mundo fragmentado", Ediciones Mundi-Prensa, 2002, 286 páginas.

[2] UICN - PNUMA - WWF, Cuidando do Planeta Terra. Uma Estratégia para o Futuro da Vida, São Paulo, Brasil, Outubro de 1991, 246 páginas.

[3] HERCULANO, Selene, A Qualidade de Vida e seus Indicadores, Ambiente & Sociedade, Ano I - Nº 2, 1º semestre de 1998, pp. 77-99.

[4] WWF INTERNATIONAL, Living Planet Report 2002, 36 pages.

[5] Pilot Environmental Performance Index; An Initiative of the Global Leaders of Tomorrow Environment Task Force, World Economic Forum, Annual Meeting 2002, 27 pages.

[6] COSTA, Ricardo Cunha da - LA ROVERE, Emilio Lebre, Indicadores de Sustentabilidade para o Setor Energético Brasileiro, in "Soluções para a Energia no Brasil" Anais do IX Congresso Brasileiro de Energia e IV Seminário Latino-Americano de Energia, 20-22 de maio de 2002, Rio de Janeiro, Volume I, pp. 189-197.

[7] OLIVEIRA, Adriano Santiago de - RIBEIRO, Leonardo da Silva et al, Proposta de Critérios e Indicadores de Elegibilidade para Avaliação de Projetos Candidatos ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), in "Soluções para a Energia no Brasil" Anais do IX Congresso Brasileiro de Energia e IV Seminário Latino-Americano de Energia, 20-22 de maio de 2002, Rio de Janeiro, Volume I, pp. 165-173.

[8] Indicadores sócioeconomicos, institucionais, biológicos, ecológicos e biofísicos para o Sistema de Monitoramento de Biodiversidade - SIMBIO (3ª versão), Brasília, dezembro de 1999, 61 páginas.

[9] INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA), Toward a Sustainable Energy Future, OECD/IEA, 2001, 85 pages.

[10] UNIDO DEPARTMENT OF ECONOMIC AND SOCIAL AFFAIRS, Indicators of Sustainable Development: Framework and Methodologies, Background Paper Nº 3, April 2001, documento DESA/DSD/2001/3, 294 pages.

[11] HERRERA, Amílcar Oscar et al, Catastrophe or New Society? A Latin American World Model, 1976, International Development Research Centre, Canada, IDRC-064e, 108 pages.

[12] NAREDO, José Manuel, Cuantificando el Capital Natural. Más allá del valor, Ambiente & Sociedade, Ano II - Nº 3/4, 2º semestre de 1998 / 1º semestre de 1999, pp. 29-63.

[13] ORTEGA, Enrique, Contabilidade e Diagnóstico de Sistemas Usando os Valores dos Recursos Expressos em Emergia, 2001, 15 páginas.

[14] FERREIRA, Leila da Costa, Indicadores Político-institucionais de Sustentabilidade: Criando e Acomodando Demandas Públicas, Ambiente & Sociedade, Ano III - Nº 6/7, 1º semestre de 2000 / 2º semestre de 2000, pp. 15-30.

[15] LAMBSDORFF, Johann Graf, Background Paper to the 2002 Corruption Perceptions Index, July 2002, 15 páginas.

[16] FOLHA DE SÃO PAULO, 28 de setembro de 2002, Caderno C, página C5.

[17] UNICEF Brasil - IBGE, Indicadores sobre Crianças e Adolescentes, Brasil 1990-1999, 2001, 244 páginas.

[18] HOGAN, Daniel Joseph - CARMO, Roberto Luiz - ALVES, Humberto Prates F. - RODRIGUES, Izilda Aparecida, Sustentabilidade no Vale do Ribeira (SP): Conservação Ambiental e Melhoria das Condições de Vida da População, Ambiente & Sociedade, Ano II - Nº 3/4, 2º semestre de 1998 / 1º semestre de 1999, pp. 151-175.

[19] FOLHA DE SÃO PAULO, Olho no Voto, Caderno Especial, 27 de setembro de 2002, 56 páginas.