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An. 4. Enc. Energ. Meio Rural 2002

 

Micro rede suprida por energia alternativa

 

 

Carlos D'Alexandria Bruni

Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia, Departamento de Eletro-Eletrônica. Rua Emídio dos Santos s/nº - Barbalho, 40.300-010 - Salvador -Bahia. Tel. (071)242-0522 r156, nucapp@cefetba.br

 

 


RESUMO

Este Trabalho visa demonstrar a viabilidade econômica da oferta de energia elétrica nos padrões comerciais da concessionária local, mediante micro rede suprida por energia alternativa: solar, biogás, biomassa, eólica, e PCH ou mesmo um sistema híbrido, de acordo com as disponibilidades energéticas da comunidade beneficiada. Para facilitar a compreensão, associar-se-á à demonstração, com a concepção de uma empresa permissionária de energia elétrica dentro da atual legislação do setor energético nacional.

Palavras chaves: Micro Redes, Energia Alternativa, Sistemas Híbridos.


ABSTRACT

An off-grid electric power plant supplied by a photovoltaic (PV) system or by another way is the solution for small community. On behalf of the feasibility of a PV or hybrid the system is described in detail concerning its technical specifications, its operation constraints and its energy demand. Furthermore the photovoltaic or hybrid system power supply is described in detail. With simulations it is shown how the system is designed to guarantee a reliability in power supply.


 

 

INTRODUÇÃO

Com a vigência da nova legislação do Setor Elétrico Nacional Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, surgem novas oportunidades de negócios na área das energias renováveis (PROINFRA), motivando o empresariado já estabelecido a investir neste mercado cada vez mais promissor e ainda a possibilidade de constituição de novas empresas no setor.

No estado da Bahia, mesmo após a eletrificação de 158.000 domicílios via projeto "Luz no Campo" e atingindo em 2002 a instalação de 11.000 sistemas solares domiciliares, ainda assim, grande parte da população rural está sem oferta de energia elétrica suprida convencionalmente, variando este percentual de 28 a 37%, dependendo da região do Estado, correspondendo a uma população estimada em 2 milhões de pessoas, distribuída em 450.000 domicílios sendo que, deste total, 95 comunidades estão constituídas em torno de 22 domicílios num raio de ação entre 1,4 e 4,7 km da RD mais próxima, o que qualifica para uma geração distribuída.

 

MICRO-REDES COMO SOLUÇÃO

Por ocasião de um curso, promovido pela Winrock International para a capacitação de empreendedores na área de energias renováveis, em parcerias com a IIE e USAID, atribuindo-se a tarefa de demonstrar a viabilidade técnica e econômica da oferta de energia elétrica na modalidade de micro redes supridas por energia alternativa. Tendo-se como base mercadológica a opção de comercializar a prestação de serviços de suprimento energético e não a simples comercialização de pequenos sistemas isolados, na sua maioria domésticos, cujas estatísticas nacionais e internacionais, demonstram percentuais elevados (maior que 50%) de instalações com funcionamento irregular ou que simplesmente não servem mais para nada. Conforme relato em ciclos de palestras, "já foram servidos cafezinhos em bandejas construídas a partir de painéis fotovoltaicos", instalados por iniciativa governamental o que, para os pesquisadores e educadores, significa uma barreira a mais para se levar adiante a nossa tarefa de difundir e implementar tal tecnologia no meio rural.

Resultando tal estudo na oferta de energia elétrica na modalidade de micro redes, com instalações residenciais e de distribuição secundária nos padrões da concessionária local, de acordo com a legislação do município no qual se insere a comunidade beneficiada, sobretudo, com responsabilidade profissional já que os investimentos a serem implementados assumem valores significativos sob uma gestão voltada para a sustentabilidade de cada projeto nas comunidades beneficiadas não só no aspecto energético, mas, também, sob a ótica do desenvolvimento local sustentável, da geração de emprego e renda, premissa de suma importância para o sucesso do empreendimento. "A energia a ser disponibilizada exige dos parceiros uma consciência que só através da Educação Ambiental e do trabalho organizado coletivamente pode ser viabilizada".

 

OPORTUNIDADE DE NEGÓCIOS

Em decorrência da Lei Nº 10.438, de 26 de abril de 2002, "da série apagão", surge um novo ator no cenário energético brasileiro, anteriormente já estimulado através do Programa de Mercados Sustentáveis de Energia Renovável (MSES) - MME, 1998, tendo como finalidade a prestação de serviços na qualidade de "Permissionária", a qual receberá a permissão da ANEEL para atuar diretamente nas áreas onde não houver contrato de exclusividade e da concessionária local de energia nas demais áreas. Atuando na universalização da oferta de energia elétrica à população rural, na prospecção de novos consumidores cujos perfis de demanda, após o período contratual (10 a 20 anos) tornem-se significativos para justificar novos investimentos na oferta de energia elétrica interligada ao Sistema Elétrico no modo convencional ou, em casos mais relevantes, a ampliação do sistema já implantado, mantendo-se o suprimento por fontes alternativas.

Nos seus artigos 3º, 13 e 15 a Lei n° 10.438, de 26 de abril de 2002, sinaliza um primeiro passo para incrementar a parcela referente à utilização de energias alternativas na Matriz Energética Brasileira, cabendo-nos a busca por novos avanços tais como: a criação de Fundos tipo "capital paciente" a exemplo do E+CO e outros sugeridos pelo B-REED pois, como sabemos, inúmeros são os projetos que abarrotam as gavetas dos pesquisadores e empreendedores nesta área, os quais, na sua maioria, vêem seu trabalhos frustrados diante das elevadas taxas de juros, curtos prazos e carências, até mesmo quando se tratam de Instituições Financeiras Governamentais, pois algumas exigem do solicitante até 125% do valor do empréstimo como garantia da transação, o que inviabiliza o financiamento de projetos nos moldes aqui apresentados.

Vale salientar que, uma vez beneficiado pela energia elétrica, o cidadão ou cidadã, doravante denominado "consumidor", terá necessidade cada vez maior, da posse de aparelhos eletro-eletrônicos para lazer e conforto familiar ou para iniciativas empreendedoras junto à comunidade. Conforme pesquisa recente, realizada pela Secretaria de Infraestrutura do Governo da Bahia - SEINFRA entre a população rural, 87 % deseja uma TV, 84 % um rádio, 35 % um liquidificador (!) e 0,2% uma máquina de costura.

 

UMA DECISÃO INTELIGENTE

A modalidade em estudo é, sem dúvidas, uma ótima opção para o suprimento de instalações comunitárias tais como: assentamentos rurais, cooperativas, associações de produtores rurais a exemplo da APAEB em Valente-Ba, que retrata com sucesso a importância da energia elétrica no meio rural associada ao processo organizativo e educativo dos trabalhadores, tendo sido iniciado com o suprimento de energia alternativa e constituindo-se, hoje, em um premiado empreendimento sisaleiro, quer pelos financiadores do projeto ou pela satisfação dos trabalhadores rurais associados à APAEB.

A forma de geração de energia elétrica a ser adotada em projetos de micro-redes (BRUNI, 2002) é flexível quanto a tecnologia a ser implementada, podendo ser fotovoltaica, eólica, micro ou pequena central hidroelétrica (PCH), biomassa, biogás, etc., sendo criteriosamente definida pela equipe técnica, após estudo da oferta energética local. Entretanto, seja qual for a opção escolhida ou combinada (híbrida), sempre na forma alternativa (limpa), serão respeitados os preceitos da sustentabilidade e desta maneira o serviço poderá ser oferecido sob as mais diferentes formas de geração, porém, respeitando os valores culturais, éticos e estéticos e os padrões técnicos de qualidade e distribuição da energia da concessionária.

 

AS FONTES DE ENERGIA

Diversas formas de energias estão disponíveis na área rural (CERQUEIRA,2002), no qual: nos casos onde a opção energética for o biogás, obtido da fermentação de materiais orgânicos, por exemplo, 1 kg de esterco bovino produz 40 litros de biogás num período de 50 dias, ocupando de 3,5 a 7m3 pelo biodigestor e sendo alimentado por pelo esterco de 2 a 4 vacas. Gás este, que em quantidades mais importantes pode acionar diretamente geladeiras e freezer rurais, fogões para a fabricação de doces, conjuntos motor-gerador e até mesmo microturbinas. Para os aproveitamentos eólicos recomenda-se locais com uma velocidade média anual de pelo menos 6m/s com um custo de US$ 600.00 a US$ 800.00/Kw para turbinas e de US$ 1.000.00 a US$ 1.200.00/Kw para instalação total enquanto que, para a utilização de micro e pequenas centrais hidroelétricas (PCH), as quais têm no seu custo aproximado de U$100 - 1,200/kW instalado seu maior atrativo. São algumas das opções energéticas simples e economicamente viáveis as quais, somadas ou não à geração fotovoltaica se constituem na oportunidade de negócio ora proposto.

Veja o que respondeu Lerter Brown, do Worldwatch Institute - (WWI), quando questionado sobre qual seria o papel do Brasil no contexto mundial das Energias Renováveis? Respondeu: "Talvez a coisa mais importante que o Brasil possa fazer seja desenvolver suas fontes naturais de energia renovável. O país adquiriu bastante conhecimento em energia hidrelétrica e álcool (biomassa), duas fontes de energia renovável, e é líder mundial na produção de etanol. Mas não desenvolveu a energia eólica e fez muito pouco em termos de energia solar. Veja bem, o Brasil tem muitos recursos, muita energia solar nas regiões Sul e Nordeste, ventos de sobra na linha costeira e, provavelmente, bastante vento nos cerrados. Bem, se está claro que o vento será a base das novas energias, o Brasil e o mundo só têm a ganhar com isso."

 

RESPEITO AO MEIO-AMBIENTE

Imagine tal metodologia sendo aplicada a um vilarejo, a uma cooperativa agro-industrial, a uma casa de farinha, etc, situada, por exemplo, na área da Mata Atlântica (UMA, 2002), hoje com apenas 7 % da sua área original. O suprimento de energia gerada localmente eliminaria a destruição de milhares de espécimes vegetais e animais no trecho destinado à RD (Rede de Distribuição) convencional, opção esta, preferido pelos construtores uma vez que, pelas tabelas indenizatórias atuais, "sai mais barato derrubar a mata nativa do que atravessar uma área particular de pasto ou culturas como do mamão, manga e outras", segundo "tabelas técnicas", árvores nobres têm um custo menor do que coqueiros, pés de mamão e até mesmo nas áreas de pasto.

Nas áreas pouco habitadas como o sertão nordestino e na região do semi-árido, as grandes distâncias inviabilizariam qualquer investimento na oferta de energia elétrica na forma convencional, restando à geração distribuída a solução para a universalização da oferta de energia elétrica, sendo este fato do conhecimento das autoridades governamentais e se constitue nos fundamentos dos projetos governamentais do tipo "Luz no Campo", "Prodeem", PRODUZIR, etc.

Na hipótese de um vilarejo (arraial), típico da zona rural cujo perfil será descrito a seguir se encaixam milhares de comunidades (DÓREA,2002) construídas à beira de estradas vicinais ou antigas rotas de transporte animal, constituídas na sua maioria, por aproximadamente vinte residências, uma igreja e um pequeno estabelecimento comercial tipo mercearia (venda de bebidas e/ou alimentos), uma escola rural e uma pequena praça central, esta descrição será utilizada na demonstração deste trabalho.

Considerando-se uma demanda inicial estimada de 10 kwh por residência/mês, se suprida pela concessionária representaria uma receita mensal de R$ 2,50 totalizando R$50,00 nas 20 moradias, mesmo acrescentando subsídios governamentais e subindo a tarifa para o mínimo contratual, certamente inviabilizaria um investimento em termos de redes de distribuição (RD) pois os custos, conforme gráfico abaixo, tornariam inviável tal opção energética, condenando a comunidade ao "isolamento e exclusão social".

 

 

A opção por sistemas solares domiciliares, além de importar num custo elevado, em pouco ou quase nada modificaria o padrão de qualidade de vida da população beneficiada, enquanto que, se somarmos os painéis fotovoltaicos e as baterias, poderíamos construir um arranjo fotovoltaico com capacidade para suprir um empreendimento coletivo, gerando renda com a agregação de valor aos produtos agrícolas e, propiciando um retorno para a comunidade. No caso de 20 sistemas solares domiciliares com painéis de 55W e baterias de 100Ah poderíamos instalar uma usina geradora comunitária de 1,1kWp com 2000Ah de capacidade do banco de baterias, o que daria tranqüilamente para suprir uma instalação coletiva para fins empreendedores.

 

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS DO SISTEMA EM MICRO-REDE

De nada adianta uma boa intenção social se no projeto técnico pelas mais diversas razões, formos obrigados a utilizar materiais e equipamentos sem garantia da qualidade necessária. Os custos com a manutenção e operação poderão inviabilizar o empreendimento. Neste sentido, sugerimos a utilização de equipamentos certificados por instituições nacionais ou internacionais e funcionamento garantido, pois não estaremos construindo "plantas pilotos acadêmicas" e sim a "usina geradora" de uma comunidade.

Desde 1997 o autor acompanhou diversas instalações supridas por energias alternativas, em sua maioria sistemas solares domiciliares, tendo encontrado as mais diversas modalidades de instalações, porém, nenhuma atendendo às normas técnicas atuais relativas às instalações elétricas.

Teve ainda a oportunidade de encontrar em projetos governamentais, sistemas domiciliares supridos por painéis fotovoltaicos fixados com pregos a alguns barrotes de madeira, outros, de uso particular, que mesmo sendo de custo elevado, estavam instalados diretamente no chão, sem proteção para o contato de pessoas e animais. Em algumas instalações para bombeamento de água, de uso coletivo, construídas dentro das normas, porém o responsável pelo sistema não só permitia como ele mesmo usava o espaço como curral.

 

AS BATERIAS

Outra grande fonte de problemas nas instalações visitadas foi a utilização, "sob a alegação de menor custo" de baterias automotivas em lugar das estacionárias, "mais caras", residindo neste item a maioria das causas de problemas nos sistemas defeituosos ou mesmo desativados.

Cabe aqui um breve comentário que normalmente não é observado, as baterias "mais baratas" precisam ser agitadas periodicamente para evitar a sulfatação o que é feito no tráfego normal dos veículos, não ocorrendo enquanto estacionárias e, "sem motivo aparente", principalmente as do tipo "freedon", entram em curto-circuito acarretando defeitos nos controladores de carga. Outra grande desvantagem é que as baterias automotivas são construídas para suportarem as grandes correntes dos motores de partida (SCHMID,2000) , atingindo valores de centenas de Ampéres desta maneira, suas placas são fabricadas para atenderem a esta demanda, implicando numa redução da eficiência da bateria no que diz respeito ao processo de carga e descarga. Portanto, as baterias automotivas exigem das fontes geradoras um esforço maior para a sua carga.

 

 

Deve-se atentar para a expectativa de duração do projeto, 10 a 20 anos, logo, vale à pena a utilização de baterias estacionárias por suportarem os regimes de carga e descarga diárias, em valores os mais diversos e permitindo um melhor planejamento da sua substituição.

No gráfico que se segue, temos uma bateria "de marca", 45Ah, 12V, com 4 anos de uso em simulação a um sistema fotovoltaico domiciliar. Imaginem as conseqüências se ocorrer um ou dois dias nublados.

 

 

Outro ponto a ser observado é o fato de estarmos disponibilizando uma tecnologia de ponta para uma população, que em sua grande maioria, desconhece os aspecto tecnológico e somando-se a isto o fato dos sistemas terem sido "doados", pertencerem ao governo ou às ONGs, os mesmos não são valorizados e devidamente cuidados. Cabendo uma especial atenção para sensibilizar os usuários quando da implantação de novos projetos.

 

OS INVERSORES

Têm como função transformar a corrente contínua armazenada no Banco de Baterias na corrente alternada (AC) adotada pelo município seja 220V, 127V ou 120V na freqüência de 60Hz e forma senoidal.

Sugere-se a opção pelos inversores vetoriais pois a carga resultante do sistema elétrico vista pelo inversor, é complexa exigindo as correções elétricas necessárias para que todo o sistema trabalhe livre das interferências indesejáveis. Recomenda-se ainda, que os inversores sejam modulares, permitindo a ampliação do sistema com facilidades técnicas e menor impacto econômico.

No aspecto da manutenção, em caso de pane em um dos inversores modulares, a comunidade continuaria a ter fornecimento mesmo que limitado na sua demanda, até a solução final, o que seria impossível com um único inversor com potência total.

Alguns inversores permitem a comunicação via rede AC OU telefônica, facilitando o monitoramento do sistema à distância, subsidiando assim a empresa com as informações de todos os sistemas instalados, independente da sua localização.

 

A MICRO - REDE DE DISTRIBUIÇÃO

Nesta parte do sistema serão utilizados os padrões da Concessionária local no que se refere a postes, cabos, estruturas e padrões de entrada. Apenas o sistema de proteção e "limitadores de demanda" serão específicos para cada consumidor por dependerem do consumo contratado junto à empresa ou pela especificidade dos equipamentos eletro-eletrônicos envolvidos nas diversas etapas do sistema.

Deve-se atentar para o fato de que se trata de um sistema de "baixa inércia", sensível às interferências provenientes da operação dos equipamentos, recomendando-se o uso de equipamentos tipo partida suave quando do acionamento de motores, por exemplo.

Luminárias e lâmpadas especiais fornecerão a iluminação pública sendo seus custos diluídos com toda a comunidade.

 

A GERAÇÃO

Pode ser do tipo fotovoltaica, eólica, PCH (LHPCH,1998), biogás, biomassa, etc, podendo ser híbrida ou seja, combinando duas ou mais fontes alternativas, atentando para as questões do impacto ambiental, a garantia do fornecimento e a relação custo benefício. A modularidade também aqui deve ser observada, pois o crescimento da demanda será estimulado no projeto social integrado e existem equipamentos disponíveis no mercado capazes de resolverem facilmente este problema.

Deve-se prever ainda, um acréscimo na geração para atender à prestação de serviço de carga de baterias para as residências do entorno da comunidade já beneficiada, podendo constituir-se em uma micro-empresa local.

Na qualidade de Permissionária, a empresa será a responsável pelos prejuízos causados pela falta de energia ou pelo fornecimento em desrespeito às cláusulas contratuais com os consumidores. Neste sentido, sempre que possível, deve ser incorporado ao projeto de geração um sistema de backup adequado.

 

 

AS INSTALAÇÕES ELÉTRICAS

O comércio dispõe das mais diferentes linhas de produtos para instalações elétricas (ALVES, 2000), certificadas, de maneira que não dá apara aceitar uma instalação elétrica, nos padrões de tensão comercial (220/127V) com as perigosas improvisações que o autor teve a oportunidade de constatar nos sistemas solares domiciliares (12V).

O atendimento às Normas Técnicas Brasileiras NBR5410, pelo menos, deve ser exigido.

Visando exemplificar a proposição de forma simplificada, propõe-se a estruturação de uma empresa para a exploração do mercado de suprimento de energia na forma Permissionária. O modelo apresentado a seguir, não é uma exigência da Lei 10.438 de 26 de abril de 2002 e pode ser substituído por qualquer outro, com idêntico propósito e metodologia própria a exemplo dos modelos adotados pelo Programa de Desenvolvimento de Empresas de Energia Rural no Brasil ( B-REED,2002).

 

PRESSUPOSTOS PARA O PLANO DE NEGÓCIOS COM ENERGIAS RENOVÁVEIS

MISSÃO DA EMPRESA

"Promover o desenvolvimento local sustentável de comunidades isoladas, gerando emprego e rendas, supridas por energias renováveis"

DESCRIÇÃO DO NEGÓCIO

"Empresa especializada em fornecimento de energia elétrica para comunidades rurais através de fontes de energias renováveis, preferencialmente na modalidade de micro-redes (micro grid)"

OBJETIVOS

"Suprir as comunidades isoladas com energia elétrica, prevendo-se um incremento na oferta, no decorrer do prazo contratual, visando iluminação, geração de emprego e renda e/ou entretenimento, em área definida mediante contrato permissionário com a ANEEL ou Concessionária detentora dos direitos sobre a área".

ESTRATÉGIA

Direcionar os poucos recursos existentes para as atividades produtivas e geradoras de emprego e renda, estimulando o desenvolvimento local sustentável.

PLANO DE MARKETING

- Demonstrações com pessoal qualificado, sobre os benefícios decorrentes da energia elétrica (TV, VÍDEO e ILUMINAÇÃO) através de unidades móveis visando:

- Estabelecer estreito relacionamento com as associações comunitárias de moradores;

- Distribuição de cartazes e folhetos explicativos entre as comunidades que não dispõem de energia elétrica;

- Adotar o planejamento participativo e o progresso dos serviços de instalação das mini-redes elétricas;

- Demonstrar as experiências e resultados dos projetos nas comunidades já atendidas;

- Demonstrando as perspectivas de desenvolvimento econômico da comunidade através da disponibilidade da energia elétrica e das oportunidades de geração de emprego e renda e, conseqüentemente, a melhoria da qualidade de vida da população.

EQUIPE OPERACIONAL

- Decisões tomadas em grupo tanto ao nível do Conselho de Diretores como, nas reuniões das Equipes Técnicas; Diretor Administrativo / Financeiro;

- Pessoal altamente qualificado, de preferência pelos fabricantes dos equipamentos, por estarem "interessados" no sucesso dos projetos com energia renovável.

- Equipes polivalentes, capazes de resolverem as mais diversas situações junto às comunidades bem como, sanarem no mais curto espaço de tempo as eventuais panes no sistema oferecido.

PLANO FINANCEIRO

Elaborado após as reuniões com a comunidade, deve atentar para os pressupostos que levem à sustentabilidade dos projetos e respeite as parcerias envolvidas.

Os prazos de carências oferecidos pelas diversas instituições e Fundos, devem ser utilizados para a capitalização do projeto de geração de emprego e renda da comunidade assegurando o pagamento do empréstimo e os lucros operacionais.

ESTRATÉGIA PARA A MITIGAÇÃO DE RISCOS

- Elevado nível de capacitação da equipe técnica;

- Uso de equipamentos testados e certificados por instituições de renome nacional e internacional;

- Monitoramento e avaliação contínua da qualidade dos equipamentos e da qualidade dos serviços prestados;

- Respeito aos critérios de avaliação utilizados para testar a capacidade de pagamento pela comunidade.

PLANO ESTRATÉGICO DO EMPREENDEDORISMO

A empresa deve buscar uma excelente relação com Concessionárias de Energia, fornecedores, órgãos governamentais federais, estaduais e municipais, fabricantes e fornecedores, associações de moradores e ONG locais e internacionais, atuando como integradora junto às diversas parcerias.

Da ação de integração surgem novas oportunidades de negócio e conseqüentemente outras receitas: junto aos fabricantes pela compra em quantidade, junto a outras empresas, por exemplo, do segmento das telecomunicações, dos eletro-eletrônicos, etc.

 

CONCLUSÕES

Acreditando que os princípios destacados neste trabalho possam ser aproveitados não só pelas empresas que já atuam no setor de energias alternativas bem como para estimular o surgimento de novas empresas especializadas na comercialização dos serviços relativos ao suprimento de energia elétrica, universalizando a oferta à população rural. Tem o autor a certeza de que esta população, estimulada e valorizada, contribuirá para o desenvolvimento local, regional e da Nação. Portanto, se o trabalhador rural optar pelo uso do candeeiro, que seja pelo romantismo, muito bem retratado nas músicas de Humberto Teixeira e tão bem cantadas pelo Luiz Gonzaga, "O Rei do Baião", nunca como símbolo de exclusão social.

 

AGRADECIMENTOS

À Comissão Organizadora do VI Seminário Energia no Meio Rural, pela oportunidade impar de apresentar este Trabalho.

Aos Colegas do NUCAPP / CEFET-BA que sempre acreditaram no nosso trabalho com energias alternativas e que de forma multidisciplinar se organizam numa troca de experiências singular.

A todos que direta ou indiretamente buscam soluções para a melhoria das condições sócio-econômica da população rural.

Em especial Profª Aurina Oliveira Santana, Profº Ronaldo Maia França e Sra. Rosa Virginia Pinheiro pelo paciente trabalho de revisão e sugestões.

 

REFERÊNCIAS

[1] DÓREA, Eduardo - Mercado de Energias Renováveis na Bahia - SEINFRA - Secretaria de Infra Estrutura do Estado da Bahia - Fundação Luis Eduardo Magalhães, maio 2002, www.flem.org.br

[2] BROWN, Lester - WORLD WATCH INSTITUTE - junho 2002, www.uma.org.br

[3] SCHMID, Aloísio Leoni - WINROCK INTERNATIONAL, 2000, Capacitação de Multiplicadores em Sistemas Fotovoltaicos.

[4] CERQUEIRA, Davi - ECO-ENGENHO, Alagoas-Brasil, 2002, www.eco.engenho.org.br

[5] UMA - Universidade Livre da Mata Atlântica — www.wwiuma.org.br, Bahia-Brasil

[6] - EIC - Energy International Corporation -

[7] - LHPCH e Grupo de Energia da Escola Federal de Engenharia de Itajubá, www.efei.br.

[8] - Plano de Ação do MME para o Desenvolvimento de Mercados Sustentáveis de Serviços de Energia Renovável para Comunidades Isoladas - Banco Interamericano de Desenvolvimento Mundial (BID) - DOE - 1998

[9] MORANGO DO NORDESTE SOLAR LTDA - Bruni, Carlos d´A.; Haddad, Carla; Cadidë, José Geraldo; Alpha Marcos; Alpha Sebastião; França Gerson. - 2000, Salvador-Bahia

[10] B-REED - Programa de Desenvolvimento de Empresas de Energia Rural no Brasil - www.eco@brasus.nt

[11] ALVES, Affonso José - Projeto Elétrico Residencial, Editora Oficial da Bahia, março 2001, Salvador - Bahia - Brasil

[12] BRUNI, Carlos d'A.. - Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia, www.cefetba.br e nucapp@cefetba.br

[13] SODRÉ, Jaime - Mapa Eólico do Estado da Bahia, UFBA, 1974.