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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Aplicação da metodologia de análise do custo do ciclo de vida (ACCV) para o estabelecimento de padrões de eficiência energética: refrigeradores comercializados no Brasil

 

 

Herculano Xavier da silva juniorI; Guilherme de Castilho queirozII; Gilberto De Martino JannuzziIII

IUniversidade Estadual de Campinas - Estudante de Doutorado e International Energy Initiative - Research Student
IICentro de Tecnologia de Embalagens - CETEA - Pesquisador
IIIUniversidade Estadual de Campinas - Professor Doutor Adjunto e International Energy Initiative - Diretor Executivo

 

 


RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar o trabalho desenvolvido na dissertação de Silva Jr. (2005) que discute a aplicação da metodologia de Análise do Custo do Ciclo de Vida (ACCV) como ferramenta para propor padrões de eficiência energética, complementares as etiquetas voluntárias já existentes, nos refrigeradores brasileiros de uma porta. Um outro objetivo é estudar o papel desses instrumentos (Selos e Padrões de Eficiência Energética) como meios de fornecer subsídios técnicos para o estabelecimento de níveis máximos de consumo de energia elétrica para equipamentos consumidores de eletricidade comercializados no Brasil. A metodologia ACCV permite avaliar os impactos do aumento de eficiência energética nesses equipamentos, resultando em economias (de energia, financeiras, redução na emissão de dióxido de carbono, etc.) importantes para os consumidores e para o País. Os resultados alcançados nesse estudo apresentam importantes dados para subsidiar discussões mais aprofundadas com os fabricantes e governo para estipular padrões mínimos de eficiência energética para os refrigeradores brasileiros. Desta forma, com o aumento médio de 28,1% na eficiência energética dos refrigeradores de uma porta brasileiros em 2008, atinge-se valores de economia que podem ser da ordem de 54,6 TWh (com redução respectiva de demanda de energia elétrica de 208 MW), de US$ 6,23 Bilhões de dólares (R$ 17,2 Bilhões de Reais) de redução na conta de energia elétrica para a população e de aproximadamente 22 bilhões de toneladas de CO2 não emitidos ao ambiente após 30 anos de implantação do padrão. Valores estes que não podem ser desprezados pelos governantes, fabricantes e consumidores. Um outro interesse desse trabalho é começar a discutir a possibilidade da criação de etiquetas ambientais (por exemplo, o Green Seal - USA, Eco-label - EU etc.) que é um programa/metodologia adicional, na qual, pode ser utilizada como suporte para o desenvolvimento de tecnologias para o aumento de eficiência energética e ambiental dos equipamentos elétricos. Estas etiquetas são estrategicamente importantes para o Brasil ampliar os programas ambientais para seus produtos porque podem facilitar a inserção destes produtos no mercado internacional, ao mesmo tempo, que se ganha no aumento da qualidade (ambiental etc.) no país e promove desenvolvimento sustentável ao redor do mundo.

Palavras Chave: Selos e Padrões de Eficiência Energética, ACCV, Refrigeradores Eficientes.


ABSTRACT

The goal of this paper is to present the work in the thesis developed by Silva Jr. (2005) who discusses the application of the methodologies of Life Cycle Cost Analysis (LCCA) as a tool to propose energy efficiency standards, complementally to the voluntary labels already existing in the one-door Brazilian refrigerators. Another objective is to study the role of these instruments (energy efficiency labels and standards and environmental labels) as means to supply technical subsidies for the establishment of maximum level of electric energy consumption and environmental quality impact for electrical equipments in Brazil. The LCCA methodology allows to evaluate the impacts of the energy efficiency increasing in electrical equipments, resulting in important saving (energy, financial, carbon dioxide emissions avoided etc.) for the country and its citizens. The results reached in this studies offer important data to subsidize deepered discussions with manufacturers and the government to stipulate minimum energy efficiency standards for the Brazilian refrigerators. Thus, with increase of 28,1% on the energy efficiency of the one-door Brazilian refrigerators in 2008 to reach a values of savings that can be in order of 54,63 TWh (with respective reduction of demand power of 208 MW), of US$ 6,23 Billions of Dollar (R$ 17,2 Billions of Reais) of reduction in the account of electric energy for the population and of approximately 22 billions of tons of CO2 not emitted on the environment after 30 years of the implantation of standard. These values, that can't be despised by government, manufacturers and consumers. One other interest of this work is to start the discussion, the possibility of the creation of environmental labelling (e.g., Green Seal - USA, Eco-label - EU etc.) that is an additional program/methodology, which, it may be utilized as support for development of technologies and for the increase of energy and environmental efficiency of the electric equipments. These labels are strategically important for Brazil to amplify the environmental programs to their products because they can facilitate the insertion of these products in the international market, at the same time, that the country gets in the increase of the quality (environmental etc.) and promotes the sustainable development around the world.

Key Worlds: Energy Efficiency Label and Standards, LCCA, Efficient Refrigerators.


 

 

1. Introdução

Em 2001-2002 o Brasil passou por uma crise no setor elétrico que foi denominada popularmente de "Apagão". Inicialmente a ausência de chuvas foi apontada como causa do racionamento, isto devido ao parque gerador brasileiro ser constituído, aproximadamente, por 90% de usinas hidroelétricas. Posteriormente, foi detectado que o "Apagão" foi causado também por falta de investimentos no sistema elétrico interligado nacional. Na época, a necessidade de redução no consumo de energia elétrica era de até 20% na maioria dos Estados brasileiros, embora, alguns poucos Estados continuaram com seu consumo normal. As hidrelétricas continuaram com seus limites máximos de armazenamento de água e até sendo obrigadas a verter água. Estes acontecimentos contribuíram para que o País sofresse retração econômica, paralisando investimentos internos e externos e causando falências em empresas, desemprego e privação parcial da utilização do bem público, "Eletricidade", à maior parcela da população brasileira (SILVA Jr., 2005).

Acontecimentos como os citados anteriormente deveriam desencadear sentimentos voltados também para a necessidade de uma nova cultura de consumo sustentável1. Fazem-se necessárias, então, iniciativas governamentais para a criação de programas de conscientização da importância em se utilizar, de forma racional, os recursos naturais. Outro fator que deve ser considerado é o econômico, pois, hoje vem sendo disseminada a necessidade de se concentrar esforços para proteger o meio ambiente e, conseqüentemente, a sobrevivência da humanidade. Desta forma, muitos países já estão exigindo de seus fornecedores (de produtos variados) uma maior preocupação em produzir produtos de alta qualidade e, ao mesmo tempo, respeitando a natureza (CLASPONLINE, 17/09/2004). Isto vem sendo exigido através de programas nacionais de etiquetagem energética (selos de eficiência energética) e, mais recentemente, ambiental (rótulos Ambientais). O fabricante que não se adequar a estas exigências poderá ser impedido de comercializar seus produtos nestes países, ocasionando problemas econômicos e sociais para a empresa e para o seu país.

Atualmente no Brasil existem instrumentos modernos de incentivo (Lei de Eficiência Energética, investimentos obrigatórios em eficiência energética por parte das concessionárias de energia elétrica, Programa Brasileiro de Etiquetagem - PBE, Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica, etc.) à inovação tecnológica introduzindo com maior rapidez os produtos energeticamente mais eficientes no mercado consumidor.

Os programas de eficiência energética são ferramentas que auxiliam na redução de consumo garantindo conforto à população e crescimento econômico ao País (qualidade dos equipamentos, maiores investimentos privados, etc.). O Brasil já possui a Lei 10.295 (BRASIL, 2001a), regulamentada pelo Decreto 4.059 (BRASIL, 2001b) que dispõe sobre a "Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia" estabelecendo grupos de ações para estudar e estabelecer padrões mínimos de eficiência energética para equipamentos consumidores de energia elétrica que são comercializados no País.

Assim sendo, parcerias entre governo, fabricantes e as instituições de ensino e pesquisa podem contribuir para o desenvolvimento de equipamentos e metodologias que visem avaliar e disponibilizar recursos tecnológicos para este fim, além de propor padrões (indicadores) de eficiência energética capazes de serem atendidos pela indústria nacional.

Portanto, o estudo apresentado aqui propõe uma metodologia de apoio ao estabelecimento de normas de eficiência energética. Parte substancial do trabalho desenvolvido são os estudos e a aplicação da metodologia de Análise do Custo do Ciclo de Vida (ACCV) para o estabelecimento de padrões mínimos de eficiência energética (conhecido na literatura como MPES - Minimum Energy Performance Standards).

Os padrões e selos de eficiência energética sejam eles, voluntários ou compulsórios (obrigatórios), têm o objetivo de estabelecer referências para o consumo de energia elétrica. Esses instrumentos têm sido amplamente utilizados ao redor do mundo como instrumentos eficazes para a promoção da transformação da demanda elétrica no mercado de energia.

Desta forma, o principal objetivo deste trabalho é discutir a aplicação da metodologia Análise do Custo do Ciclo de Vida (ACCV), como ferramenta para propor padrões de eficiência energética complementar às etiquetas (selos) voluntárias já existentes e os possíveis rótulos ambientais, para os refrigeradores brasileiros de uma2 porta.

 

2. Selos e Padrões de Eficiência Energética

Aqui é apresentada uma breve revisão de alguns exemplos de programas de etiquetagem3 e padrões de eficiência energética aplicados ao redor do mundo e no Brasil.

2.1 Exemplos de alguns Selos no Mundo e no Brasil

Hoje no mundo existem vários países que aderiram aos programas de eficiência energética e muitos deles os fazem em caráter compulsório.Um dos mais conhecidos, segundo a CLASP (CLASP, 2001), é o selo comparativo de eficiência energética europeu, ilustrado na Figura 1.

 

 

O selo comparativo europeu classifica o consumo, em kWh/ano, dos equipamentos por categorias (A, B, C, D, E, F e G). Desta forma, os equipamentos que atingirem a categoria "A" serão os mais eficientes energeticamente que os encontrados na categoria "G". O Brasil adotou o modelo do selo comparativo europeu no Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE).

Encontram-se também em uso os selos denominados Endorsement Labels4 (JANNUZZI at al, 2003). Através deste selo o consumidor somente terá a informação (credibilidade) que o aparelho foi aprovado após ter passado por testes utilizando determinados critérios de eficiência energética. Para exemplificar tem-se o selo Energy Star (Figura 2) que tem sido muito utilizado em computadores e, atualmente vem sendo aplicado também na área de ventilação, aquecimento, ar condicionado, equipamentos para escritório (CLASP, 2001) e, mais recentemente em refrigeradores nos EUA (ENERGYSTAR, 04/02/2005).

 

 

Em 2000 foi implantado no Japão um programa de etiquetagem energética com caráter voluntário. O objetivo é incentivar os fabricantes a apresentar equipamentos com o mais baixo índice de consumo possível. O aparelho (modelo) que alcançar o menor índice de consumo receberá o selo exclusivo Top-Runner. Os outros modelos que não alcançaram o índice receberão uma outra cor de etiqueta, indicando o quanto eles são menos eficientes (em %) comparando com o Top-Runner. Esta é uma maneira de estimular a competição entre fabricantes e inovações tecnológicas em eficiência energética, porque o modelo que consumir menos energia em um dado ano se tornará o Top-Runner para o próximo ano.

O selo PROCEL/INMETRO de Economia de Energia (Selo Brasileiro - Figura 3) é um prêmio concedido anualmente aos equipamentos elétricos que apresentarem os índices mais satisfatórios de eficiência energética (Categoria "A" do Selo Comparativo - Figura 1) dentro das suas respectivas modalidades. A finalidade desta premiação é estimular a fabricação nacional de produtos eletrodomésticos mais eficientes no quesito energia economizada e orientar o consumidor, no momento da compra, a adquirir equipamentos que apresentem melhores níveis de eficiência energética (PROCEL, 04/03/2004).

 

 

2.2 Padrões de Eficiência Energética

Os padrões de eficiência energética tiveram seu início em 1962 na Polônia. O governo francês estabeleceu padrões para refrigeradores em 1966 e para freezers em 1978. Outros governos europeus, incluindo o da Rússia, introduziram legislações autorizando a exigência de informações referente à eficiência em selos e seu desempenho energético em padrões durante os anos 1960 e 1970 ((CLASP, 2001), (DOE, 1995)).

Nos países que praticam esses programas em caráter compulsório existe a proibição de venda de produtos que estão abaixo da eficiência energética mínima permitida pelo padrão (por exemplo, EUA, Canadá, França, etc.). Nos países que praticam programas de padrões de desempenho energético em caráter voluntário (por exemplo, Hong Kong, Japão, etc.) não está proibida, porém incentiva-se o consumidor a comprar os equipamentos com selo (mais eficientes) com programas de informação etc.

Os padrões prescrevem uma eficiência mínima (ou máximo consumo de energia) que os produtos incluídos no programa podem apresentar. Estes padrões permitem inovações e competição de projetos entre os fabricantes e a conformidade (credenciamento) é determinada por testes de laboratório. Exemplificando, cada unidade deve consumir não mais que um montante máximo de energia por ano, de acordo com testes pré-estabelecidos.

A Lei nº 10.295 dispõe que "O Poder Executivo estabelecerá níveis máximos de consumo específico de energia ou mínimos de eficiência energética, de máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no País, com base em indicadores técnicos pertinentes" (BRASIL, 2001a). Essa lei, regulamentada pelo decreto n° 4.059, delega responsabilidades a um comitê gestor coordenado pelo Ministério de Minas e Energia - MME (PROCEL, 04/03/2004). O motor elétrico foi o primeiro equipamento elétrico brasileiro para o qual se estabeleceu um padrão de eficiência energética, como dispõe o Decreto nº 4.508, "sobre a regulamentação específica que define os padrões mínimos de eficiência energética de motores elétricos trifásicos de indução rotor gaiola de esquilo, de fabricação nacional ou importados, para comercialização ou uso no Brasil...". Desta forma, os padrões mínimos de eficiência energética estabelecidos para os motores elétricos são de caráter compulsório. Assim, os fabricantes de motores elétricos (tanto brasileiros quanto estrangeiros) que desejarem comercializar seus produtos no Brasil estão obrigados a se adequarem às novas exigências estabelecidas pela Lei 10.295, e pelo Decreto 4.508. Estabelecimentos de padrões para outros tipos de aparelhos e equipamentos já estão em estudo no MME.

 

3. Metodologia Sugerida para o Estabelecimento de Padrões Mínimos de Eficiência Energética

A informação necessária para se analisar um padrão depende do método usado para seu estabelecimento ou dos recursos disponíveis para seu desenvolvimento. A Figura 4 é um diagrama esquemático que mostra as etapas envolvidas na escolha do método de análise ou estabelecimento de padrões.

Tais etapas são basicamente três:

Negociação para cada produto, que envolve o levantamento de informações sobre se o produto é produzido no País, se existem importações desse produto, quais são as características técnicas dos aparelhos, etc. Se um determinado produto ainda não possui selo de eficiência energética e/ou padrão, é recomendado se fazer uma análise simplificada5. Caso contrário, se passa para a etapa seguinte.

A segunda questão a ser respondida é se, dispõe-se, de dados sobre o projeto do produto. Não sendo possível se obter esses dados junto aos fabricantes, a análise estatística6 é escolhida para se propor o padrão. Em caso positivo, é escolhida a metodologia de Análise do Custo do Ciclo de Vida - ACCV (análise conjunta de engenharia/economia e período de retorno do investimento).

Para alguns países, pode não ser possível utilizar todos os passos indicados na Figura 4, devido à não existência de um bom histórico de dados necessários para aplicação dos métodos de Análise Estatística e ACCV. Contudo, pelo menos a análise simplificada deve ser utilizada em qualquer situação.

3.1 Metodologia ACCV

A metodologia de Análise do Custo do Ciclo de Vida é a fusão de três técnicas conhecidas, sendo elas: a Análise de Engenharia/Economia (busca de inovações tecnológicas), o Custo do Ciclo de Vida e o Payback Period. A seqüência de cálculos desta metodologia é efetuada após a finalização da Análise de Engenharia, denominada aqui de Etapa 0, em que são simuladas as possíveis inovações tecnológicas nos equipamentos analisados.

Etapa 1 - o Custo do Ciclo de Vida (CCV) é o gasto total do consumidor ao longo da vida do equipamento, incluindo não só o preço de compra, mas também os custos operacionais (consumo de energia elétrica e manutenção) descontados pelo tempo de compra do produto (Equação 1).

onde

A expressão 4 é denominada Fator de Recuperação do Capital (FRC) (KAPLAN, 1983):

Substituindo, então, a Equação 4 na Equação 3, obtém-se a Equação 5.

Etapa 2 - após determinar o CCV do produto (diferente para cada opção de inovação) é calculado o período de retorno do investimento (Payback Period = PAY). O PAY fornece o tempo necessário para que o consumidor recupere o investimento adicional decorrente do aumento de eficiência, graças aos menores custos de operação dos aparelhos e equipamentos. O PAY é obtido através da resolução da Equação 6 (DOE, 1995).

O ΔCO é a diferença dos custos de operação antes e após a inserção da inovação sendo analisada. Assumindo que a diferença do custo de operação ("CO) se mantém constante no tempo (t), a expressão passa a ter uma solução simples, do tipo:

 

4. Resultados Encontrados

A metodologia da ACCV tem um embasamento técnico oriundo de simulações de melhorias técnicas no refrigerador não desprezando cálculos econômicos que levam em consideração a vida útil do refrigerador, o tempo de retorno do investimento (Payback Period) para o consumidor, o custo por inovação técnica sugerida e o Custo do Ciclo de Vida (CCV), podendo obter, desta forma, a economia líquida do investimento que é a diferença entre a economia total obtida e os custos do projeto de eficiência (custos de operação somados aos custos das inovações). Estes cálculos econômicos são importantes para auxiliar na viabilização ou não do projeto de eficiência energética.

Desta maneira, é proposto pelo estudo de caso da ACCV que a eficiência energética do refrigerador de uma porta comercializado no Brasil poderia aumentar em média 28,1% no ano de 2008. Estes ganhos de eficiência podem ser alcançados através de inovações tecnológicas como a utilização de compressores mais eficientes e outras inovações, já existentes no mercado, como: aumento inicial de ½" e posteriormente de 1" nas espessuras do isolamento térmico das paredes, porta do refrigerador, etc. O padrão proposto pela ACCV mostra-se viável economicamente, com um tempo de retorno do investimento de 6 anos, aproximadamente 1/3 da vida útil de uma geladeira é estimada em 16 anos. No período de 2008 a 2038, a quantidade de energia economizada pode atingir o montante de 54,6 TWh, a quantidade de emissão evitada de CO2 pode atingir os 11 milhões de tCO2 e os consumidores brasileiros podem economizar aproximadamente R$ 17,22 bilhões de Reais nas suas contas de eletricidade. Com a obtenção do padrão foi estabelecido também, os Índices de Eficiência Energética para cada categoria do selo comparativo PROCEL/INMETRO para os refrigeradores de uma porta.

O exemplo a seguir objetiva facilitar a interpretação dos Índices de Eficiência Energética da Tabela 1. Desta forma, pegando-se o volume ajustado do refrigerador (por exemplo, 330 litros) dividindo-o pelo seu consumo mensal (por exemplo, 17,54 kWh/mês) é obtido o IEE = 17,10. Comparando o IEE = 17,10 com a Tabela 1 (Padrão no ano de 2008) o refrigerador encontra-se na categoria "F".

 

 

5. Conclusões

O uso de ferramentas e métodos que simulam o desempenho do refrigerador para propor inovações técnicas e o uso da metodologia ACCV que é possível se obter reduções significativas no consumo de eletricidade dos refrigeradores brasileiros. A grande vantagem da análise apresentada através da aplicação da metodologia ACCV é permitir avaliação do impacto de inovações (melhorias tecnológicas) economicamente viáveis (cost-effective) em refrigeradores (por exemplo, de uma porta), resultando em economias importantes para os consumidores brasileiros e para o País e para estimular a disputa de um mercado de qualidade para o setor (eletrodomésticos). Contudo, quando não for possível coletar os dados exigidos para aplicação da ACCV (dados técnicos de inovações, custos, etc.), pode-se recorrer à metodologia mais simplificadas como citadas anteriormente.

Fica então, a recomendação da implantação do padrão obtido com a ACCV de 28,10% na média do setor de aumento de eficiência energética e da proposta do Índice de Eficiência Energética (Tabela 1) para o ano de 2008.

Este estudo recomenda também, o desenvolvimento de uma etiqueta ambiental para os refrigeradores brasileiros. Estas etiquetas já estão sendo utilizadas por vários países no mundo (p. ex., Green Seal - USA, Eco-Label - EU etc.- Figura 5), incentivando os fabricantes a adequarem-se em suas normas para poderem comercializar seus produtos nestes países.

 

 

O Brasil ainda não possui este tipo de rotulagem ambiental para refrigeradores, mas se nada for feito para que esta situação possa mudar, os fabricantes de refrigeradores brasileiros poderão ter dificuldades, pelos países que exigirem a etiqueta ambiental, para exportar seus produtos (barreiras não tarifárias), os consumidores brasileiros continuarão adquirindo produtos com tecnologias inferiores e possivelmente com maiores impactos ambientais e o País continuará, por exemplo, sofrendo impactos ambientais decorrentes do aumento da demanda no consumo de eletricidade oriundo de aparelhos ineficientes energeticamente e ambientalmente. Contudo, não se pode apenas enfatizar o lado da estratégica econômica como vantagem para a utilização de programas de rotulagem ambiental. Estes programas visam principalmente diminuir os impactos ambientais gerados por toda cadeia de produtiva de um dado produto, visa a qualidade técnica do produto (programas de eficiência energética) e visa, também, a qualidade de vida e integridade física do consumidor (p.ex., preocupação com níveis de ruídos, com materiais que podem provocar alergia, que podem conter parte cabíveis de acidentes por perfuração, corte etc.).

Desta maneira, os programas de rotulagem ambiental possuem diferenças importantes perante os programas de eficiência energética porque englobam, não só, os aspectos técnicos de funcionamento de um equipamento elétrico (desempenho energético), onde os selos e padrões de eficiência energética são fundamentais, mas também, todos os aspectos do ciclo de vida do produto. Assim, estes programas possibilitam analisar e minimizar a parcela de responsabilidade de um produto nos impactos ocorridos ao meio ambiente, desde a retirada de sua matéria prima na natureza, passando por todo o seu processo produtivo, logística de distribuição e utilização junto ao consumidor até chegar ao fim da sua vida útil (seu descarte ou sucateamento), conforme ilustra a Figura 6.

Portanto, fica a recomendação, para próximos trabalhos, de um estudo sobre rótulos ambientais, que complementa a análise dos selos e padrões de eficiência energética, aqui apresentada. Serão necessárias, novas simulações, utilizando softwares específicos, novas considerações sobre inovações tecnológicas, estudo de melhoria de eficiência energética e de impacto ambiental também para outros equipamentos consumidores de eletricidade e até mesmo desenvolvimento e/ou adaptação das metodologias de programas de rotulagem ambiental internacionais para o caso brasileiro.

 

6. Referências Bibliográficas

(1) SILVA Jr., Herculano Xavier, Aplicação das Metodologias de Análise Estatística e de Análise do Custo do Ciclo de Vida (ACCV) para o Estabelecimento de Padrões de Eficiência Energética: Refrigeradores Brasileiros, Campinas: Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, 2005. 144 p. Dissertação (Mestrado)

(2) MMA, Ministério do Meio Ambiente, Políticas para o desenvolvimento sustentável: Guia de boas práticas para o consumo sustentável, URL: www.mma.gov.br/port/sds/guia.html , acesso em 28/04/2005.

(3) CLASPONLINE, URL: http://www.clasponline.org/standard-label/development/labeling/label-design2.php3 , acesso em 17/09/2004.

(4) BRASIL, Lei Nº 10.295, Dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia e dá outras providências, Subsecretaria de Informações do Senado Federal, 17 de outubro de 2001a.

(5) BRASIL, Decreto Nº 4.059, Regulamenta a Lei nº 10.295, de 17 de outubro de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, e dá outras providências, Subchefia para Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República, 19 de dezembro de 2001b.

(6) CLASP, Energy-Efficiency Labels and Standards: A Guidebook for Appliances, Equipment, and Lighting. Lead authors: WIEL, Stephen and MCMAHON, James E., Collaborative Labeling and Appliance Standards Program (CLASP), February, 2001, 205 p.

(7) JANNUZZI, Gilberto M., QUEIROZ, Guilherme de Castilho, VENDRUSCULO, Edson Adriano, SILVA Jr., Herculano Xavier, Padrões de Eficiência e Qualidade de Energia: Instrumentos para Política Pública de Inovação Tecnológica e Eficiência Energética, Primeiro relatório parcial - ano 1, FAPESP - Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, São Paulo, 2003, 44 p.

(8) ENERGY STAR, URL: www.energystar.gov, acesso em 04/02/2005.

(9) PROCEL, Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL/Eletrobrás), URL: http://www.eletrobras.gov.br/procel/1.htm , acesso em 04/03/2004.

(10) INMETRO - Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial, URL: http://www.inmetro.gov.br , acesso em 16/04/2004.

(11) DOE, U.S. Department of Energy, Technical Support Document: Energy Efficiency Standards for consumer products: Refrigerators, Refrigerators-Freezers, & Freezers, July 1995, 391 p.

(12) KAPLAN, Seymour, Energy Economics: Quantitative Methods for Energy and Environmental Decisions, McGraw-Hill, New York, 1983, 347 p.

(13) Eco-Label, URL: http://www.eco-label.com , acesso em 23/05/2005.

 

 

1 Consumo sustentável significa usar conscientemente os recursos naturais para satisfazer as necessidades atuais da população, sem comprometer as necessidades e aspirações das gerações futuras (2).
2 Neste trabalho, analisam-se, como um estudo de caso que aplica as metodologias propostas, os refrigeradores domésticos brasileiros de uma porta. A justificativa para essa escolha se dá porque os refrigeradores são ao lado dos chuveiros elétricos os maiores consumidores de eletricidade de uma residência, sendo que seu consumo de energia elétrica corresponde a 30% de toda a residência.
3 Os selos (etiquetas) de eficiência energética são concedidos aos aparelhos e equipamentos elétricos que participam de um programa de eficiência energética e que estão dentro dos níveis de consumo (energia elétrica) previamente estabelecidos. Os padrões de eficiência energética são procedimentos e regulamentos estabelecidos por instrumentos legais que determinam o desempenho mínimo de um produto fabricado de maneira compulsória ou não.
4 Endorsement Labels(selos de endossamento ou aprovação) são os selos que já possuem um critério de avaliação da qualidade e desempenho do produto pré-aprovado. Estes selos são tipicamente aplicados em produtos considerados topo de linha (Top-Tier), ou seja, os produtos mais eficientes de um referido mercado.
5 Esta análise consiste numa análise técnico-econômica simplificada, ou seja, coleta-se alguns modelos de um dado produto que é vendido no mercado e faz-se a comparação de desempenho energético entre eles.
6 A Análise Estatística consiste numa análise técnico-econômica menos detalhada que a ACCV, ou seja, coleta-se os modelos do mercado nacional e faz-se a comparação de desempenho energético entre eles através da geração de um gráfico. O passo seguinte é obter um nível de desempenho energético médio através de uma regressão linear de todos os modelos coletados para o estudo. Encontrando a equação do nível de desempenho energético médio, insere-se o ganho de eficiência pré-determinado pelo órgão regulador (p. ex. ganhos de eficiência de 10%, 15%, 20% etc.). Com a inserção do ganho de eficiência na regressão linear, encontra-se a reta padrão para os novos níveis de eficiência energética que serão utilizados como balizadores para o consumo de eletricidade dos novos equipamentos e aparelhos eletro-eletrônicos produzidos e/ou comercializados no País.