6, v.1Cenários para a agricultura mundial e o programa brasileiro de biocombustíveisConfecção e avaliação de um sistema de remoção do CO2 contido no biogás índice de autoresíndice de assuntospesquisa de trabalhos
Home Pagelista alfabética de eventos  





An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Compostagem como fonte térmica de energia para aquecimento de água na aqüicultura

 

Composting as thermal source of energy for heating the water in the aquaculture

 

 

Samuel Nelson Melegari de SouzaI; Guilherme NeitzkeII; César Ademar HermesIII

IEngenheiro Mecânico, Professor Adjunto, CCET, Campus de Cascavel, UNIOESTE, Cascavel, PR. e-mail: ssouza@unioeste.br
IIAluno Bolsista PIBIC/UNIOESTE-CCET, Acadêmico de Engenharia Agrícola, Cascavel, PR. e-mail: guilherme_neitzke@yahoo.com.br
IIIEngenheiro de Pesca; Especialista em Piscicultura; Mestre em Engenharia Agrícola (UNIOESTE/Cascavel); Doutorando em Aqüicultura (UNESP/Jaboticabal), e-mail: cahermes@ibestvip.com.br

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi utilizar a compostagem como fonte térmica de energia na manutenção de organismos aquáticos. A Região de Toledo possui temperatura média anual do ar de 20,5ºC e média no trimestre quente de 27ºC e no frio de 16,5ºC. O material experimental utilizado consistiu de caixas de água, tubos de alumínio, feno de gramíneas, esterco de vacas e suínos, compressores de aquário, mangueiras e tubos, pedras porosas, alevinos de tilápia e termômetro. Foram monitoradas as temperaturas do ar, do composto, da água com e sem aquecimento pelo composto. As temperaturas médias foram de 20,9 e 31,1ºC, para o ar e o composto, respectivamente. A diferença de peso entre os alevinos foi de 24,0%. Concluiu-se que a compostagem pode ser uma fonte de energia térmica na aqüicultura.

Palavra chave: temperatura, crescimento, reprodução.


ABSTRACT

The objective of the work is to use the composting as thermal energy source in the maintenance of aquatic organisms. The area of Toledo possesses annual medium temperature of the air of 20,5ºC and average in the hottest quarter of 27ºC and in the more cold of 16,5ºC. The used experimental material consisted of boxes of water, pipes of aluminum, hay of grassy, manure of birds and swine, aquarium compressors, hoses and pipes, porous stones, fish lingers and thermometer. The temperatures of the air, the composition and the water without heating were monitored. The medium temperatures obtained were of 20,9 and 31,1ºC, for the air and the composition, respectively. The averages of temperature of the water with heating and without heating were of 22,0ºC and 20,0ºC. The weight difference among the fish lingers was of 24,0 %. It is ended that the composting can be a thermal source of energy in the aquaculture.

Key word: temperature, growth, reproduction.


 

 

INTRODUÇÃO

A região sul do Brasil responde por uma parte razoável da produção aqüícola brasileira. É uma atividade que, tanto do ponto de vista econômico, como social, ajuda a fixar o homem no campo, evitando o êxodo rural. Segundo dados da EMATER-PR, existem, no Paraná, 22.930 piscicultores, que produziram na safra 2003-2004 em torno de 16.597 toneladas (OSTRENSKY & VIANA, 2004)

Utilizando compostos orgânicos oriundos de sete diferentes materiais compostados, SEDIYAMA et all. (2000) avaliaram a concentração de nutrientes e obtiveram concentrações disponíveis de N entre 3,4 e 4,4 g kg-1. Portanto, esse material é uma alternativa, após a estabilização do processo de compostagem e a temperatura ter atingido níveis muito baixos para aquecer a água, para ser utilizado como fonte de nutrientes em sistemas de cultivo, onde se faz necessária a fertilização da água.

O presente trabalho teve por objetivo verificar a possibilidade de utilizar o processo de compostagem como fonte de geração de calor de baixo custo, para aquecimento de pequenos módulos de água utilizados na aqüicultura, principalmente na manutenção de reprodutores, larvicultura e alevinagem inicial de organismos aquáticos susceptíveis a stresse ambiental em função das baixas temperaturas da água durante os meses de inverno, nos estados do sul do Brasil.

Especificamente, pretende-se avaliar se existe incremento de temperatura em um corpo de água, sob efeito da temperatura ambiente e aquecido por parte do calor gerado durante a compostagem de um pequeno módulo de composto e observar se há diferença significativa em relação ao comportamento de outro corpo de água sob efeito unicamente da temperatura ambiente, além de verificar o reflexo deste incremento de calor sobre o crescimento de alevinos de tilápia Oreochromis niloticus.

 

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A compostagem pode ser considerada como um dos processos biotecnológicos mais antigos da humanidade e consiste na transformação de materiais grosseiros, como palha e estercos animais, em materiais orgânicos utilizáveis na agricultura. Ele envolve transformações extremamente complexas de natureza bioquímica, promovida por microorganismos do solo que têm na matéria orgânica in natura sua fonte de energia e nutrientes. Dessa forma, é possível afirmar que o composto é o resultado da degradação biológica da matéria orgânica, em presença de oxigênio do ar, sob condições controladas pelo homem. Os produtos do processo de decomposição são: gás carbônico, calor, água e a matéria orgânica "compostada" O principal característica de que está ocorrendo um processo de compostagem em um resíduo orgânico, é a elevação de temperatura do meio, atingindo temperaturas de aproximadamente 65º a 70ºC no interior do composto (GOTTSCHALL, 1990; KIEHL, 1998, VAN GINKEL et al., 2001; MIYASHITA et al., 2001).

Durante o processo de compostagem, ocorre o processo de cura ou maturação, que pode ser classificado em três fases. A primeira fase é conhecida como fitotóxica, caracterizada pelo desprendimento de calor, vapor d´água e gás carbônico, porque nesta fase desenvolvem-se diversos ácidos minerais, que possuem efeito danoso sobre as plantas, principalmente no concernente a germinação das sementes e crescimento das raízes. Nessa fase, a temperatura fica em torno de 25 a 40ºC. A segunda fase é conhecida como de semicura; após 10 a 20 dias o material entra no estado de bioestabilização, onde o composto atinge temperaturas de 50 a 55ºC, mais elevadas, portanto, que na fase anterior. Na terceira fase ou fase de maturação, ocorre a degradação da matéria orgânica, quando o composto adquire as propriedades físico químicas e biológicas de húmus, as principais alterações que ocorrem no composto durante o processo de compostagem referem-se à temperatura, umidade, pH e relação carbono/nitrogênio (C/N) (KIEHL,1998)

As Tilápias nilóticas são peixes tropicais, oriundos dos rios e lagos da África, Israel e Jordânia e devido a seu potencial para a aqüicultura tiveram a sua distribuição mundial expandida nos últimos cinqüenta anos. Para estes animais, o apetite fica extremamente reduzido e aumentam os riscos de doenças em temperaturas abaixo de 20ºC. É comum no inverno no sudeste e sul do Brasil, a temperatura da água atingir 18ºC. Sob essas condições, os peixes ficam menos tolerantes ao estresse do manejo e transporte e mais susceptíveis as doenças. Assim, o manuseio e transporte destes peixes nos meses de inverno e início da primavera (mesmo se as temperaturas já ultrapassaram 22ºC), invariavelmente resultam em grande mortalidade devido a infecções bacterianas e fúngicas. As temperaturas na faixa de 8 a 14ºC geralmente são letais, dependendo da espécie, linhagem e condição dos peixes e do ambiente. Com a temperatura abaixo de 22ºC geralmente a reprodução não é observada. Isso acontece pois, sob baixas temperaturas, a espermatogênese (síntese de espermatozóides) é desacelerada e a vitelogênese (produção do vitelo, material que nutre o embrião e a larva) é completamente inibida (KUBITZA, 2000; BEUX et al., 2001). Segundo SCHULZ (1982), citado por GOTTSCHALL (1990), teoricamente, é possível aproveitar no máximo em torno de 50% da energia produzida e a utilização de maiores percentuais da energia térmica produzida implicaria na não aeração do composto.

 

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido na região de Toledo, no Oeste do Estado do Paraná, possui localização hipsométrica de +500 a +600 m, temperatura média anual do ar de 20 a 21ºC, e média no trimestre mais quente de 26 a 28ºC, e no trimestre mais frio 16 a 17ºC, possuindo classificação climática de Cfa (Clima subtropical, sempre úmido com verões quentes), pelo método Köppen (IAPAR, 2000). Duas etapas foram desenvolvidas. A primeira etapa, ocorreu no período de 1º de setembro a 21 de outubro de 2003, na UNIOESTE/Toledo e a segunda etapa, no Colégio Agrícola Estadual de Toledo, no período de 23 de setembro a 22 de outubro de 2004.

O material experimental da primeira etapa consistiu em seis caixas de água, de 310l de capacidade, tubos de alumínio (1,5 m de comprimento, diâmetro interno de 0,5 mm), feno de gramíneas, esterco de galinhas de postura, três compressores de aquário, mangueiras plásticas de 4 mm de diâmetro, tubos de P.V.C. de 25 mm de diâmetro, pedras porosas (utilizadas em aquários para peixes) e um termômetro de mercúrio com escala de 0 a 100ºC. As medas de composto tinham 1,70 x 0,8 x 0,9 m de comprimento, largura e altura, respectivamente.

Na segunda etapa, foram utilizados duas caixa de água, de 310 l de capacidade, tubos de alumínio, cama de criação de suínos (constituída de uma mistura de raspa de madeira e esterco suíno, semi-curtido), esterco de bovinos, um compressor de aquário, mangueiras plásticas de 4 mm de diâmetro, tubos de P.V.C. de 25 mm de diâmetro, pedras porosas (utilizadas em aquários para peixes), gaiolas confeccionadas em tala plástica de malha 0,5mm e com 0,9 m de altura e 0,3 m de diâmetro, 64 alevinos de tilápia Oreochromis niloticus revertidos sexualmente, ração comercial para peixes com 32% de proteína, balança digital com precisão de 0,001 gramas, um termômetro de mercúrio com escala de 0 a 100ºC. As medas de composto tinham as mesmas dimensões da primeira etapa.

Primeira etapa

O experimento consistiu de um fator (temperatura), com dois níveis (efeito do composto e efeito do ambiente) e três repetições para cada nível. A variável reposta foi a temperatura da água. O experimento possuía seis caixas de água de 310 l, sendo que a temperatura de água de três caixas estava sob influência da temperatura ambiente e a água das outras três caixas estava sob influência do calor gerado pelo processo de compostagem. A temperatura da água das seis caixas era monitorada diariamente, além da temperatura ambiente, da temperatura interna da compostagem (próximo aos tubos de alumínio), da temperatura da água na entrada e na saída dos tubos de alumínio.

Os materiais orgânicos (feno e esterco de aves) foram arranjados em camadas sucessivas, iniciando com uma camada de feno, de aproximadamente 20 cm de altura, em seguida uma camada de esterco de aves, de aproximadamente 10 cm de altura. Essas camadas foram arranjadas, até atingirem uma altura de aproximadamente 0,9 m (altura da caixa de água). O material foi umedecido após a disposição de cada camada. Foram gastos aproximadamente 30 l de água, 30 kg de esterco de aves e 25 kg de feno (2,5 fardos de feno) por meda.

As medas foram mantidas úmidas durante todo experimento, para garantir a umidade mínima à atividade microbiana. Como as medas possuíam dimensões razoavelmente pequenas, nos dias de chuvas pesadas, elas eram cobertas com plástico para evitar o encharcamento dos compostos e conseqüente diminuição da atividade bacteriana. Nas caixas que estavam ligadas ao composto, em sua parte interna, foram instalados dispositivos que visavam forçar o fluxo de água pelos tubos de alumínio. Esses dispositivos consistiam de um recipiente plástico, de 2 l, acoplada a um tubo de P.V.C. de 25 milímetros em uma das extremidades e outro tubo de 25 milímetros colocado do lado externo, por dentro do qual passava uma mangueira de plástico de 4,0 mm (mangueira para compressor de aquário); em uma das extremidades dessa mangueira, estava acoplado um compressor de aquário e na outra extremidade havia uma pedra porosa, dentro do tubo de P.V.C.

Esse dispositivo foi instalado de tal forma, que parte do recipiente plástico estava 8 a 10 cm acima do nível da água da caixa, ficando o restante mergulhado na água. Quando o compressor de aquário era acionado, injetava ar no interior do tubo externo, formando um fluxo ascendente de bolhas de ar, que arrastavam a água até a outra extremidade do tubo. O deslocamento de água provocado pelas bolhas era suficientemente forte para elevar a água por dentro do tubo externo a aproximadamente 8 a 10 cm acima do nível de água da caixa, descarregando a água dentro do recipiente plástico. Dessa forma, o nível dentro do recipiente plástico permanecia acima do nível da água da caixa, forçando a circulação da água por dentro dos tubos de alumínio e retornando a caixa.

O sistema para a captação do calor gerado pela compostagem consistiu em tubos de alumínio, de 1,5 m de comprimento e 5,0 mm de diâmetro interno, com paredes de 0,05 mm de espessura, que estavam acomodados no meio do material a ser compostado. Em cada meda, havia dois grupos de tubos, com quatro tubos de alumínio em cada. Em uma das extremidades, esses tubos estavam ligados a um tubo de P.V.C. de 25 mm de diâmetro, que por sua vez estava acoplado a uma caixa de água de 310 l de capacidade.

Uma vez que os tubos de alumínio não são flexíveis, eles eram ligados nas suas extremidades, às mangueiras do tipo cristal, de 3 mm de diâmetro, que faziam a conexão com os tubos de P.V.C. e entre os tubos de alumínio.

As temperaturas do composto, do ar, da água da caixa sob efeito da temperatura ambiente, da água da caixa sob efeito da temperatura da compostagem e da água ao entrar no composto e logo após sair do composto foram medidas uma vez ao dia, entre 12 h e 13 h. A cada 8 a 10 dias, o composto era revolvido, para permitir uma boa oxigenação do material a ser compostado, umedecido e acrescentado uma nova porção de feno e esterco de aves.

Segunda etapa

Nesta etapa, o esquema experimental foi organizado da forma semelhante à primeira etapa, utilizando os mesmos dispositivos para movimentar a água por entre os tubos de alumínio.

Para montar a meda de composto, em torno de 45 kg de cama de criação de suínos e 28 kg esterco de bovinos fresco foram misturados e, após acomodar uma parte desse material no local do composto, o primeiro grupo de tubos de alumínio, acoplado a região inferior da caixa de água, foi disposto por cima desta camada e em seguida acrescentada mais uma camada de material previamente misturado e disposto o segundo grupo de tubos de alumínio, acoplado a região superior da caixa de água, e finalmente, mais uma camada de material a ser compostado, para não deixar os tubos de alumino expostos às intempéries. Os tubos de alumínio foram conectados a uma das caixas de água, da mesma forma que na primeira etapa. A outra caixa de água não possuía nenhuma conecção com o composto.

Foram acomodadas quatro gaiolas de tela plástica em cada caixa de água, e em cada gaiola, oito alevinos de tilápia, com peso médio de 0,8±0,16 g, alimentadas at libitum com ração comercial duas vezes ao dia (às 09 h 40 min e às 15 h 30 min). Os alevinos eram pesados a cada sete dias em balança digital, com precisão de 0,001 g.

Análise dos dados

A análise dos dados obtidas na experimentação consistiu em avaliar a diferença estatística entre as temperaturas obtidas e o desempenho dos alevinos de tilápia, através da análise de variância ANOVA (BANZATO & KRONKA, 1992) e para verificar o crescimento de uma variável em função a outra variável, foi utilizado o coeficiente de correlação conforme VIEIRA & HOFFMANN (1986).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A coleta dos dados somente teve início após o terceiro dia, quando a temperatura do composto atingiu 35ºC. A temperatura do ar manteve médias de 20,5-ºC e 21,3ºC durante os meses de setembro e outubro/2003, respectivamente. Estas médias estão de acordo com previsões do IAPAR (2000), para a região de Toledo, PR. No período de 04 a 09 de setembro/2004, houve um contínuo declínio na temperatura do ar, atingindo uma temperatura de 10ºC; como as medas de composto possuíam um volume muito pequeno (aproximadamente 1,2 m3), o declínio da temperatura do ar induziu uma diminuição drástica das temperaturas neste período, das três medas de composto. Em medas de composto de maior volume, provavelmente, este declínio na temperatura seria menor. Observou-se temperaturas médias gerais de 20,8ºC, 31,0ºC, 31,9ºC e 31,4ºC para o ar e as medas 01, 02 e 03, respectivamente, durante todo período experimental (Figura 01 e Tabela 01).

 

 

Pela ANOVA, não houve variação significativa entre as temperaturas das medas dos três compostos (P-value >0,05). Entre a temperatura do ar e a média de temperatura das medas dos três compostos, houve diferença significativa (P-value<0,05) e considerando que o coeficiente de correlação entre as duas médias foi igual a 0,393, pode-se concluir que houve pouca influência da temperatura do ar sobre a média de temperatura das medas dos compostos.

As temperaturas médias obtidas nas três medas de composto foram bem menores do que o esperado. Outro aspecto a ser observado, é que parte do calor gerado estava sendo absorvido pelos tubos de alumínio para aquecer a água. Este aspecto é abordado por SCHULZ (1982), citado por GOTTSCHALL (1990), considerando que a retirada de energia térmica do sistema, implica em uma menor aeração, pois diminui a troca de ar por convecção. Nas caixas de água com aquecimento, obtiveram-se médias de temperatura ao longo do experimento de 22,0ºC para a caixa 01, caixa 02 e caixa 03 (Tabela 02).

 

 

Não houve diferença significativa na média entre as três caixas de água com aquecimento (P-value > 0,05; Figura 02).

Os coeficientes de correlação entre a caixa 01 e a meda 01, a caixa 02 e a meda 02 e a caixa 03 e a meda 03, foram de 0,560, 0,506 e 0,666, respectivamente. Não podem ser considerados valores muito expressivos de correlação, mas levando em consideração o pequeno volume das medas de composto e os resultados obtidos sobre o crescimento dos alevinos de tilápia, podem ser considerados aplicáveis.

Nas três caixas de água sem aquecimento, ou seja, sob efeito direto da temperatura atmosférica, as temperaturas de água obtidas foram praticamente iguais ao longo de todo o período de monitoramento, com variações de uma caixa para outra de menos de 0,5ºC (Figura 03).

O coeficiente de correlação existente entre a temperatura do ar e as caixas sob efeito da temperatura ambiente foi de 0, 480, menor que o coeficiente de correlação existente entre as caixas de água com aquecimento e seus respectivos compostos; ou seja, a compostagem foi mais significativa na determinação da temperatura da água do que a temperatura ambiente. Não houve diferença significativa entre as três caixas de água sem aquecimento e a temperatura ambiente (P-value > 0,050).

Nas caixas de água sem aquecimento, as temperaturas variaram menos (coeficiente de variação de 14,98%) que a temperatura da água com aquecimento (coeficiente de variação médio de 17,2%); como o composto, após aquecer a água das caixas, em função do pequeno volume, não conseguiu manter a temperatura da água aquecida, em alguns períodos de temperaturas mais frias, a amplitude foi maior para a água aquecida do que para a água sem aquecimento (Tabela 03), refletindo os respectivos valores do coeficiente de variação.

 

 

A média de temperatura da água após passar pelos tubos de alumínio foi de 23,3ºC, 23,5ºC e 23,7ºC, para as saídas da meda 01, meda 02 e meda 03 (Tabela 04). Não houve diferença significativa entre as três saídas de água (P-value > 0,05).

 

 

Entre a temperatura da água no instante de saída da compostagem e a temperatura das caixas de água com aquecimento houve uma diferença média de 1,5ºC (Figura 04). Essa diferença se manteve praticamente constante ao longo de todo o experimento.

Aplicando a equação de correlação, obtém-se um coeficiente de 0,69, demonstrando haver uma correlação positiva (Figura 05), próxima de +1, indicando um alto grau de correlação entre os valores médios de temperatura obtidos da água no momento em que sai do sistema de tubos e a temperatura média do composto. É possível afirmar, portanto, que a temperatura do composto provocou um aumento na temperatura da água que passava pelos tubos, e um amento na temperatura do composto será acompanhado por um aumento proporcional na temperatura da água que sai dos tubos de alumínio.

A temperatura do composto oscilou entre 30 e 34ºC, com média de 31,2±1,85ºC, durante o período de monitoramento nictimiral, apresentando o menor coeficiente de variação em relação aos outros parâmetros analisados. Durante a noite e nas primeiras horas da manhã, a temperatura do composto manteve-se em 30ºC, aumentando gradativamente ao longo do dia e atingindo o máximo de 34ºC, diminuindo a temperatura a partir das 16 h 30 min.

A inércia térmica mantém a temperatura no interior de um determinado material bastante estável em relação às variações da temperatura externa, ou seja, durante o aquecimento o calor vai sendo transferido para o interior do material, causando um aumento progressivo da temperatura no interior do mesmo, em um processo de transferência de calor lento. Freqüentemente este processo inverte o seu sentido após a diminuição da temperatura externa e inicia-se um processo de transferência de calor no sentido inverso, com o calor fluindo do interior do corpo para o exterior.

Devido à incidência da radiação solar, a superfície do composto sofreu um processo de aquecimento; considerando que o fluxo de calor acontece na direção do corpo de maior temperatura para o de menor temperatura, o calor existente na superfície do composto foi progressivamente sendo conduzido ao interior do mesmo. Nesse momento, observou-se uma influência significativa da radiação solar sobre a temperatura do composto (Figura 06).

A partir das 16 h 30 min, a temperatura do composto começa a diminuir, pois a incidência solar é bem menor e inicia-se um fluxo de calor do interior para o exterior, uma vez que a parte externa está mais fria que a parte interna.

A água da caixa com aquecimento pela compostagem manteve uma temperatura média de 25,1±3,55ºC, com mínima de 21,0ºC e máxima de 30,0ºC, enquanto que a água da caixa sem aquecimento pela compostagem manteve uma média de 22,6±3,66ºC, com mínima de 18,0ºC e máxima de 27,5ºC (TABELA 05).

 

 

Considerando os parâmetros ideais para cultivo e reprodução da maioria das espécies de animais aquáticos cultiváveis, a situação de temperatura da caixa com aquecimento da água pelo composto, é mais interessante, pois está mais próxima da zona de conforto desses animais (TAMASSIA, 1996; VALENTI, 1998; ARANA, 1999; KUBITZA, 2000)

O peso inicial médio dos alevinos foi de 0,85±0,14 gramas para o sistema com aquecimento e 0,82±0,18 gramas para o sistema sem aquecimento (Tabela 06). Não houve diferença significativa de peso inicial entre os lotes de alevinos (P-value > 0,05).

 

 

Houve diferença significativa entre o peso final dos lotes cultivados (P-value < 0,05). O peso final médio dos indivíduos, no corrente trabalho, foi de 1,46 ± 0,295 para o sistema de cultivo com aquecimento pela compostagem e 1,18±0,256 para o sistema de cultivo sem aquecimento, influenciados unicamente pela temperatura ambiente, resultando em uma diferença na média do peso entre os alevinos dos dois tratamentos de aproximadamente 24,0% (Figura 07).

Nesse sentido Hamilton et al. (1998), afirma que a temperatura é um fator muito importante na aqüicultura, pois influencia diretamente nos processos fisiológicos dos organismos aquáticos.

 

CONCLUSÕES

A temperatura da água sofreu influência da compostagem, permitindo um diferencial de 2,0ºC. Em função do pequeno volume dos componentes do sistema, houve uma significativa variação de temperatura entre os períodos com e sem incidência de radiação solar.

O incremento em peso dos alevinos de tilápia cultivados neste sistema foi de aproximadamente 24,0%. Desta forma, o sistema com aquecimento de água pela compostagem possui condições mais adequadas ao desenvolvimento dos animais, pois a temperatura da água encontrou-se numa faixa mais apropriada ao seu desenvolvimento se comparada à faixa de temperatura da água sem aquecimento.

 

REFERÊNCIAS

ARANA, L. V. Aqüicultura e desenvolvimento sustentável: subsídios para a formulação de políticas de desenvolvimento da aqüicultura brasileira. Florianópolis, SC; Ed. da UFSC, 1999.

BANZATO, D. A.; KRONKA, S. N. Experimentação agrícola. Jaboticabal, FUNEP. 1992.

BEUX, L. F.; CAMPAGNOLO, R.; BOMBARDELLI, R. A.; HERMES, C. A.; BOSCOLO, W. R. Característica de Carcaça da Tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) em Diferentes Categorias de Peso. In: XII CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE PESCA, Foz do Iguaçu. 2001.

COSTA, E. C. Arquitetura ecológica: condicionamento térmico natural. São Paulo; Ed. Blücher, 1982.

GOSTTSCHALL, R. Kompostierung: optimale Aufbereitung und Verwendung organischer Materialien im ökologischen Landbau. Ralf Gottschall. 4ª Aufl. Karlsruhe: Müller, 1990. 296 p.

HAMILTON, S.; PEREIRA, J. A.; SILVA, A. L. N. Cultivo de tilápia vermelha (híbrido de Oreochromis spp) em viveiros estuarinos: Estudo de caso. In: CONGRESSO SUL-AMERICANO DE AQÜICULTURA, 1, Recife, 1998. Anais...Recife, p. 727- 735.

HU, D.; WANG, R.; YAN, J.; XU, C.; WANG, Y. A pilot ecological engineering project for municipal solid waste reduction, disinfection, regeneration and industrialization in Guanghan City, China. Ecological Engineering 11 (1998) 129-138.

IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná. Cartas Climáticas do Paraná. CD room, Versão 1.0. não paginado. 2000.

KIEHL, E. J.. Manual de Compostagem: maturação e qualidade do composto/Edmar José Kiehl, Piracicaba: E. J. Kiehl. 1998. 180 p.

KUBITZA, F. Tilápia: Tecnologia e Planejamento na Produção Comercial. Fernando Kubitza. Jundiaí, SP. 1º edição. 2000.

LAM, T. J.: Environmental influences on gonadal activity in fish. In: Fish Physiology. Vol. IXB, p. 65-116, 1983.

MIYASHITA, C. M.; ROSSINI, E.; CUNHA, E. Q.; IWATA, M. K.; MALUF, W. R. Compostagem e sua aplicação. Universidade Federal de Lavras. Boletim técnico de Hortaliças Nº 66; 1ª Edição, 2001.

ODUM, E. Ecologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara Kogan, 1983.

OSTRENSKY, A.; VIANA, L. S.; VIDAL JUNIOR, M. V. A dança dos números da Piscicultura Paranaense. Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro, v.14, n.84, p. 28-32, 2004.

SEDIYAMA, M. A. N., GARCIA, N. C. P., VIDIGAL, S. M. Nutrientes em compostos orgânicos de resíduos vegetais e dejeto de suínos. Sci. agric., jan./mar. 2000, vol.57, no.1, p.185-189.

TAMASSIA, S. T. J. Carpa comum (Cyprinus carpio): produção de alevinos. Florianópolis: EPAGRI, 1996. 75 p. (EPAGRI. Boletim Técnico, 76).

VALENTI, W. C.; MALLASEN, M.; SILVA, C. A. Larvicultura em sistema fechado dinâmico. Carcinicultura de água doce: Tecnologia para a produção de camarões/ editado por Wagner Cotroni Valenti - Brasília: Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. 1998.

VAN GINKEL, J. T.; VAN HANEGHEM, I. A.; RATAS, P. A. C. Physical Properties of Composting Material: Gas Permeability, Oxygen Diffusion Coefficient and Thermal Conductivity. Biosystems Engineering 81 (1), p.113 - 125, 2001.

VIEIRA, S.; HOFFMANN, R.. Elementos de Estatística. São Paulo: Atlas, 1986.