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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Demandas energéticas de uma comunidade isolada - ARIXI/AM1

 

 

Elen Jane de Abreu FerreiraI; Sônia Regina da Cal Seixas BarbosaII, 2

IMestranda em Planejamento de Sistemas Energéticos - FEM - UNICAMP
IIProfessora colaboradora no Programa de Pós-graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos FEM - UNICAMP

 

 


RESUMO

As comunidades isoladas energeticamente na região amazônica são assim consideradas por não estarem conectadas à rede de geração e distribuição de energia do restante do país. Sendo assim, o Governo Federal propõe a distribuição igualitária para todos a fim de trazer desenvolvimento econômico e social. Inserida neste contexto, a comunidade de Arixi é foco do projeto "Produção de Energia Alternativa a partir de Células a Combustível e Gás Natural no Estado do Amazonas - CELCOMB", uma pareceria entre a Universidade Federal do Amazonas e a Universidade Estadual de Campinas, que objetiva produzir energia alternativa a partir de célula a combustível e gás natural. Este artigo tem por objetivo analisar os aspectos energéticos da comunidade de Arixi, Amazonas e conjuntamente a isso observar sua demanda atual de energia. Para tanto, o presente trabalho foi baseado em projeto de dissertação de mestrado em andamento e em pesquisa de campo na própria comunidade. Assim, apesar de fazer parte de um trabalho mais amplo, a análise dos dados energéticos e de suas demandas atuais nos permite observar quais são as reais necessidades no que tange o aspecto energético de uma comunidade isolada na Amazônia.

Palavras-Chave: Comunidades Isoladas, Amazonas, Energia Elétrica, Desenvolvimento.


ABSTRACT

Isolated energy communities in the Amazon are known by not being integrated to the rest of the net country of generation and distribution of electric energy. Therefore, Federal Government proposes an equal electric energy distribution for everyone in the country in order to bring social and economic development, mainly to the isolated energy communities. In this context, the isolated Arixi Community, a small village in the Amazon, is focus of the project "Alternative Production Energy from Cell Fuel and Natural Gas in the Amazon State - CELCOMB", a partnership between Federal Amazon University and State University of Campinas, which has the objective of producing alternative energy from cell fuel and natural gas. The objective of this article is to analyze the energy aspects of the Isolated Community of Arixi in the Amazon, and also get to know its energy demand. To do so, this article is based on an in course master dissertation and also in community field research. So, despite of the fact that this article is part of a larger project, by analyzing energy datas and nowadays demands of the community, we will be able to examine what are the real electry energy requirements of an isolated community in the Amazon.


 

 

Ambiente X Desenvolvimento

Alcançar níveis cada vez mais altos de desenvolvimento tem sido uma das metas do homem enquanto sociedade Este desenvolvimento pode ser econômico, social, intelectual, cultural, etc. Entretanto, parece estar presente a incompatibilidade de coexistência equilibrada entre meio ambiente preservado e conservado e desenvolvimento. O ser humano parece não encontrar algum tipo de desenvolvimento que não cause impacto ao meio ambiente.

Tal questão é fomentadora de diferentes opiniões e discussões nos mais diversos segmentos da sociedade. Algumas a favor do desenvolvimento a qualquer custo, outras contra qualquer degradação ambiental em prol do aumento da produção deste ou daquele bem e/ou serviço, e há ainda aqueles que procuram um meio termo entre os dois pensamentos. Qualquer que seja a opinião é inegável que a existência do ser humano, por si só, já é impactante e não há algum tipo de desenvolvimento que não contribua para tal feito. Tendo isso sido acordado, resta-nos, enquanto sociedade, sabermos optar entre os diversos modelos de desenvolvimento, tendo em vista as diferentes intensidades dos impactos que cada um dos modelos oferece. Contudo, surge ainda outro questionamento quando se trata das ações humanas enquanto coletividade: está a sociedade mostrando-se suficientemente apta a lidar com questões tão delicadas quanto o paradoxo entre o desenvolvimento e a questão ambiental?

É certo que, quanto mais unido um corpo social é maior a possibilidade deste alcançar resultados que agradam a maioria. Sendo assim, parece correto afirmar que quanto mais fragmentada uma sociedade é, mais vulnerável ela se torna. Observando o comportamento social como um todo, parece que sempre somos levados a crer que a sociedade vê o impasse ambiental como algo insolúvel, portanto o melhor a se fazer é não tomar atitude alguma. No entanto, ao observar seguimentos específicos da sociedade brasileira, ainda encontramos movimentos que procuram soluções para certas carências específicas. Não se propõe discutir aqui a eficácia de tais movimentos. O ponto em questão é a motivação e a percepção que uma classe cria de uma carência em comum e que a leva à ação.

Assim, uma vez reconhecido a existência de um paradoxo entre ambiente e desenvolvimento, o objetivo passa a ser a escolha de um modelo de desenvolvimento que traga menos impacto para o meio ambiente. Neste sentido, está sendo desenvolvido um projeto que visa a geração de energia elétrica a partir do hidrogênio e que procurará atender uma comunidade isolada no interior do Estado do Amazonas na cidade de Anamã.

 

2. O Projeto Celcomb

O projeto "Produção de Energia Alternativa a partir de Células a Combustível e Gás Natural no Estado do Amazonas - CELCOMB", uma parceria entre a Universidade Federal do Amazonas e a Universidade Estadual de Campinas, aprovado pelo edital CT - Energ MME CNPq 03 2003 tem como objetivo conciliar as necessidades energéticas de uma comunidade isolada, no caso Arixi, comunidade do Município de Anamã, partindo do uso do gás natural, com a nova tecnologia das células a combustível, uma vez que tal comunidade esta localizada na área de influência do gasoduto Coari-Manaus. Do ponto de vista energético, o aproveitamento deste combustível na Amazônia Legal se configura como uma opção importante frente ao óleo Diesel. Dentre outros fatores, a utilização de tal tecnologia é ambientalmente menos poluente - uma vez que, quando usada apenas para ativar a célula a combustível, não são produzidos poluentes e nem dispersados gases de efeito estufa no meio ambiente - e mais eficiente do que tecnologias baseadas em combustão. Do ponto de vista tecnológico esta é uma oportunidade para testar, em condições reais, a tecnologia de células a combustível. Com isso se estaria garantindo não apenas o atendimento elétrico na comunidade isolada, mas também possibilidades de desenvolvimento econômico e social e de redução de impactos ambientais. É importante mencionar o fato de que o projeto não visa o abastecimento individual dos moradores da comunidade, mas sim o abastecimento de pontos comunitários, preservando, dessa forma, a estrutura comunitária existente. O projeto envolve inicialmente a análise sócio-econômica e ambiental da comunidade, com o intuito de conhecer quais são suas reais necessidades do ponto de vista energéticos e sócio-ambiental. Em pesquisa de campo foi possível observar questões sócio-ambientais fundamentais que serão levadas em conta quando da implantação da tecnologia.

2.1 O sistema de reforma do gás natural

A reforma é definida como a conversão de um combustível líquido, sólido ou gasoso, para um gás combustível reformado disponível para a reação anódica da célula a combustível. O processo compreende a limpeza e remoção de componentes prejudiciais no combustível primário, de acordo com as especificações de cada célula a combustível. Dependendo do tipo célula, certos elementos presentes nos gases reformados podem ser extremamente prejudiciais. O sistema de geração de energia elétrica objeto deste projeto, pode ser separado em quatro fases, como mostrado na Figura 13.

Etapa 1: ocorre a limpeza e conversão do combustível primário como a remoção de enxofre, haletos e amônia para prevenir o envenenamento dos catalisadores do reformador. A conversão de um combustível hidrocarboneto para um gás reformado rico em hidrogênio (gás de síntese - GS);

Etapa 2: ocorre a alteração do gás reformado com a conversão do monóxido de carbono(CO) e água (H2O) presentes no gás reformado para hidrogênio (H2) e dióxido de carbono (CO2) via uma reação chamada de reação de shift: oxidação seletiva para reduzir o CO para uns poucos ppm ou remoção da água por condensação para aumentar a concentração de H2;

Etapa 3: A célula a combustível produz energia elétrica em corrente contínua com a reação do hidrogênio produzido nas etapas anteriores com o oxigênio do ar;

Etapa 4: Nesta etapa há a conversão da tensão CC gerada na célula a combustível em tensão CA que será introduzida na rede de energia elétrica.

 

3. Estudo do Sistema Elétrico no Amazonas

O sistema elétrico brasileiro possui dois grandes blocos interligados, o Sistema Interligado Sul/Sudeste/Centro-Oeste e o Sistema Interligado Norte/Nordeste, e uma região de sistemas de geração não interligados a estes dois blocos, o Sistema Isolado (SILVA e CAVALIERO, 2001). A maior parte deste Sistema Isolado está situada na região denominada Amazônia Legal, a qual compreende os estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia e aproximadamente metade dos estados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, pois as outras metades já se encontram conectados aos Sistemas Interligados.

O Estado do Amazonas possui um sistema de geração de energia baseado, quase exclusivamente, na utilização dos derivados de petróleo, óleo Diesel e óleo combustível, sendo atualmente estruturado da seguinte maneira:

Até recentemente a ELETRONORTE era responsável pelo sistema da capital Manaus, estando a maior parte do interior a cargo da empresa estadual CEAM. A ELETRONORTE foi incluída no Plano Nacional de Desestatização e foi dividida em empresa a ser privatizada: Manaus Energia, a qual iniciou suas atividades como empresas independentes em 1998. Na capital do Estado do Amazonas, a geração de energia encontra-se dividida entre empresas privadas e uma estatal. A Manaus Energia S/A, subsidiária da ELETRONORTE, dispõe de um parque térmico composto pelas seguintes usinas: Aparecida (120 MW), Mauá (136MW) e Electron (120MW). A Usina Hidrelétrica de Balbina, com capacidade instalada de 250 MW, constitui a única usina hidrelétrica do Estado, e pertence à Manaus Energia S/A (FIGUEIREDO, 2003).

Além dessas usinas, existem as plantas dos produtores independentes, que são empresas estrangeiras que obtiveram concessão para a geração de energia para o sistema Manaus, fato ocorrido em face da falta de investimento no setor por parte do Governo Federal, agravado pelo racionamento a que se submeteu a cidade durante meados de 1997. Atualmente existem três empresas estrangeiras operando na capital amazonense, utilizando em suas plantas de geração termelétrica tanto turbinas a gás, quanto motores Diesel.

No interior, o sistema de geração de energia, na sua quase totalidade, é bastante precário e mantido pela CEAM (Companhia Energética do Amazonas), ex-empresa do governo estadual e já federalizada, que é a responsável pelo fornecimento de energia a todos os municípios do interior. A CEAM atende a tais localidades através de sistemas térmicos isolados à base de óleo diesel, formando o chamado "Sistema CEAM", que representa a quase totalidade dos municípios existentes no interior do Estado. Fatores como a grande extensão territorial do estado e a pequena densidade populacional, dificultam ainda mais uma manutenção eficiente dos sistemas de geração do interior, pois o alto custo operacional dos geradores, aliado à grande distância a ser coberta pelos meios de transporte, tende a encarecer ainda mais esse modelo de geração de energia.

De acordo com dados da SEPLAN/AM e da ANEEL, verifica-se que o "Sistema CEAM" (interior do Estado) é responsável por apenas 13% do consumo de energia no Estado do Amazonas. O restante do consumo subentende-se que é de Manaus. Daí observam-se as razões que têm levado à priorização do suprimento da capital em detrimento ao interior.

Porém, ainda há um número significativo de população residente no interior do estado e que justifica a distribuição de energia elétrica a tais pessoas, e não apenas durante algumas horas do dia, como hoje ocorre. O Estado do Amazonas constitui-se de 62 municípios. A população residente total de tais municípios, segundo o IBGE, para o ano de 2000 foi de 1.406.722, representando cerca de 49,98% do total da população do Estado do Amazonas, que era de 2.812.557.

 

4. A Comunidade de Arixi - Município de Anamã

O município de Anamã, que possui uma área territorial de 2.464,80 Km2 e dista da Capital do Estado do Amazonas 168 km em linha reta e 188 km via fluvial. A sede do município está localizada à margem direita do paraná do Anamã, afluente do rio Solimões e limita-se com os municípios de Manacapuru, Anori, Beruri, Caapiranga e Codajás. Segundo o IBGE sua população estimada em 2004 foi de 6.818 pessoas, porém, em entrevista concedida no dia 25/07/05, o então secretário do meio-ambiente de Anamã afirmou que a população residente no município é de aproximadamente 8.000 habitantes. Anamã possui por nove comunidades, as quais são: Barroso, Alexandre, Igarapé Grande, Nova Brasil, Vila São José, Mato Grosso, Primavera, Socó e a comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, também conhecida como comunidade de Arixi (objeto da pesquisa), sendo essa a maior e mais organizada.

A comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, também conhecida como Comunidade de Arixi, fica localizada no município de Anamã, no Estado do Amazonas. Esta foi escolhida pela sua estratégica localização na área de influência do gasoduto Coari-Manaus, além de outros aspectos com infraestrutura e organização.

Em entrevista gravada no dia 18 de Julho de 2005 e concedida à equipe de campo, o morador Sr. Manoel Mota informou que em 1959 foi construída a primeira igreja no local onde mais tarde seria desenvolvida a comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Quatro anos depois a comunidade foi beneficiada pela aquisição de um motor a diesel para a geração de energia elétrica. Em 1974 foi construída a primeira escola da comunidade. Demoraria ainda 18 anos para que a comunidade recebesse outros benefícios por parte do Governo. Em 1994 houve a construção de uma outra escola, um pequeno posto de saúde, um poço artesiano e a instalação de um telefone público.

4.2 Aspectos Sócio-Ambientais

Durante a pesquisa de campo realizada entre 15 e 30 de Julho de 2005, foram informadas aproximadamente 85 famílias residentes na comunidade, formando um total aproximado de 600 habitantes. A comunidade é formada, basicamente, por pessoas que lá nasceram e/ou moradores que migraram de outras comunidades próximas, ainda dentro dos limites do município de Anamã. Na pesquisa de campo foram entrevistadas 49 famílias, representando uma amostra de 275 pessoas, sendo que destas 127 eram do sexo feminino e 148 do sexo masculino. Sob essa população, foi registrado que 114 pessoas ainda estudam, sendo 93 pessoas no Ensino Fundamental, 16 no Ensino Médio, 2 no Ensino Superior, 1 em Telecurso e 2 fazem cursos profissionalizantes por correspondência.

No setor econômico, a comunidade de Arixi pratica a agricultura essencialmente de subsistência. Alguns poucos plantam com a finalidade de comercializar, como é o caso da cultura da pimenta-de-cheiro, da macaxeira, da mandioca, da melancia, porém, sempre em pequena escala. A demanda por carne animal é parcialmente suprida pela pesca, também de subsistência. Não é permitida a pesca no Lago de Arixi para fins comerciais, pois a própria comunidade fiscaliza a área devido ao número reduzido das populações de peixes. O comércio local também supre, em parte, a demanda por carne bovina e/ou por aves, no entanto, tal prática é dificultada pela falta de energia elétrica ininterrupta na comunidade, algo indispensável para a conservação de tais carnes.

A arquitetura de Arixi é quase totalmente constituída por construções de madeira.As únicas construções de alvenaria são o posto de saúde, as escolas de ensino fundamental e médio e a igreja católica. A estrutura da comunidade conta ainda com um engenho de cana manual, onde são produzidos "aguardente", melado e rapadura; uma casa de farinha comunitária; duas igrejas, sendo uma católica e a outra evangélica, poço artesiano, um centro paroquial, um telefone público, três escolas e um posto de saúde. Uma das escolas é de Ensino Fundamental e a outra de Ensino Médio. A Escola D. Isabel Batista é de gestão municipal e a Escola D. Maria Nogueira Marques é de gestão governamental. A terceira é uma escola maternal e de coordenação da própria comunidade. Registrou-se ainda que uma quarta escola, de responsabilidade do Governo do Estado, estava com seu processo de construção em andamento, sendo que esta irá dispor de seis salas de aulas mais dependências.

Como o objetivo deste artigo é priorizar os aspectos energéticos da comunidade, têm-se, a seguir, dados fundamentais para a compreensão do abastecimento atual de energia elétrica da comunidade, assim como suas demandas energéticas.

4.2 Aspectos Energéticos

Arixi nunca contou com oferta ininterrupta de energia elétrica. As primeiras formas de geração de energia supriam apenas as necessidades da igreja local e pouquíssimas casas que ficavam na proximidade. Em 1990 foi adquirido um motor gerador de eletricidade MW de 40KVA. O fornecimento foi feito por tal motor a diesel durante dez anos e este fornecia energia elétrica durante 5hs diárias, porém, poucos na comunidade podiam ser beneficiados com eletricidade devido a baixa potência do motor.

Em 2001 foi adquirido um motor MW de 80KVA. A comunidade ainda conta com tal motor gerador, alimentado com óleo diesel e que produz energia elétrica atualmente de segunda à sexta-feira, das 18:00 às 23:00 horas e aos sábados e domingos das 18:00 às 22:00 horas. Mensalmente a comunidade utiliza em torno de onze tambores de diesel, sendo que destes a Prefeitura de Anamã doa 6 e ½ tambores, a Câmara Municipal doa ½ tambor e à comunidade fica o dever de complementar sua demanda com a compra de 3 e ½ ou 4 tambores, conforme a necessidade do mês. Cada tambor possuiu capacidade para 200 litros de diesel. Pelo uso da energia elétrica gerada é cobrada uma taxa para cada família, a qual varia de acordo com os eletrodomésticos que esta possui. A folha de pagamento mensal de energia elétrica da comunidade é de R$ 1.414,00, segundo o próprio arrecadador de taxa de energia elétrica. Esse total é utilizado para a compra dos tambores de óleo diesel que são de responsabilidade da comunidade. A taxação foi acordada entre os próprios moradores locais, conforme tabela 1:

 

 

A demanda por energia elétrica em Arixi, do ponto de vista comunitário, é representada pelo maquinário da casa de farinha, pelo posto de saúde, pelas escolas, dentre outras. A falta de energia elétrica em Arixi prejudica a utilização inclusive de máquinas e equipamentos comunitários em sua totalidade, como é o caso da casa de farinha e do engenho de cana-de-açúcar. Isso acaba fazendo com que apenas as máquinas manuais sejam utilizadas. Em relação a utilização de energia elétrica em pontos comunitários, surgiram algumas sugestões como por exemplo a construção de uma mini-fábrica de gelo, a qual seria usada principalmente para a conservação de alimentos perecíveis, uma serralheria e uma movelaria. A tabela 3 fornece detalhes sobre as sugestões por parte dos moradores tanto para uso doméstico quanto para uso comunitário da energia elétrica.

 

 

 

 

Em relação ao uso domiciliar foi observado que a demanda pessoal por energia elétrica por parte dos moradores concentrou-se principalmente para a compra e/ou utilização de eletrodomésticos. A seguir, a tabela 3 fornece informações detalhadas sobre a demanda atual de equipamentos de uso domiciliar.

 

5. Considerações Finais

O precário fornecimento de energia elétrica em Arixi dificulta, entre outros fatores,  a geração de renda para a vila de Arixi,  fato que ficou demonstrado na impossibilidade de uso do maquinário elétrico da casa de farinha e do engenho de cana-de-açúcar. Além disso, há outros aspectos que também prejudicam a comunidade, como por exemplo, a área de saúde pública. O fato de não haver fornecimento de energia elétrica durante o dia impossibilita a conservação de medicamentos e vacinas no posto de saúde da vila. Em face da possibilidade de fornecimento diário de energia elétrica oferecida pelo projeto CELCOMB, os próprios moradores de Arixi fizeram algumas sugestões para utilização dessa energia tanto nos pontos comunitários já existentes quanto em possíveis novos pontos. Uma das sugestões feitas foi a construção, pela própria comunidade, de uma mini fábrica de gelo que pudesse abastecer a demanda local, possibilitando, dessa forma, a conservação de alimentos, etc.

Ainda há muito pra se discutir sobre alternativas de geração e distribuição de energia elétrica para comunidades isoladas a fim de melhorar as condições social e econômica de tais populações, que ainda têm oferta de energia elétrica muito aquém das suas necessidades. Essas reflexões fazem parte de uma referência mais ampla e que não se esgota neste artigo. No entanto, o que se buscou evidenciar são as reais necessidades energéticas que uma comunidade isolada no interior do Amazonas, no caso Arixi, além de uma reflexão mais ampla em relação aos avanços na área de estudos dos impactos sócio-econômicos e ambientais na aplicação da tecnologia de células a combustível na produção de energia elétrica.

 

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1 O presente artigo é parte da dissertação de Mestrado Demandas Sócio-Ambientais e Energéticas na Produção de Energia Alternativa - Arixi/AM.
2 Doutora em Ciências Sociais, Unicamp. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (NEPAM) - UNICAMP. Professora colaboradora no Programa de Pós-graduação em Planejamento de Sistemas Energéticos (FEM) Unicamp, orientadora da dissertação. Professora do Doutorado Ambiente & Sociedade, NEPAM-IFCH-UNICAMP (srcal@unicamp.br)
3 Relatório Projeto do Sistema de Reforma de Gás Natural e Desenho dos Componentes.