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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Mecanismos financeiros para fontes de energia renováveis

 

 

Francisco David Moya Chaves

Doutorando em Planejamento de Sistemas Energéticos, UNICAMP

 

 


RESUMO

Neste trabalho pretende-se apresentar três diferentes mecanismos financeiros existentes no mundo como opções de investimento de geração de eletricidade a partir de fontes renováveis de energia. Apresenta-se uma descrição dos seguintes modelos implementados no mundo: "pagamento por capacidade", custos sociais da energia, e mercados de certificações de energias renováveis. Finamente, faz-se uma recomendação sobre a melhor opção que poderia ser implementada no Brasil.
Dada a importância da utilização das energias renováveis na geração de energia elétrica, a maioria dos sistemas elétricos no mundo tem criado mecanismos para incentivar a utilização de fontes renováveis de energia. Com o "pagamento por capacidade", as usinas que utilizam fontes renováveis de energia podem receber um pagamento como retribuição do seu investimento inicial. Uma das maneiras, poderia ser estabelecendo um imposto ou taxa sobre o consumo de eletricidade que utilizam combustíveis fosseis com o qual, poder-se-ia financiar as fontes renováveis de energia. Um mercado de energias renováveis através de certificados comerciais obriga os agentes compradores no mercado elétrico terem uma porcentagem do total de suas compras como produto de compra de energia sobre tecnologias a partir de fontes renováveis, dessa maneira, a compra obrigatória de energia elétrica de usinas que utilizam fontes renováveis de energia, permitindo assim a expansão destas tecnologias.

Palavras-Chave: Fontes de Energia Renováveis, Pagamentos por Capacidade, Certificados de Energia Renovável, Custo Social da energia.


ABSTRACT

This work presents three different financier mechanisms in the world as choices in the electricity generation investment from alternative energy sources. It shows a description of the following methods developed in the world: "Payment capacity", social costs of energy, and markets that trade renewable energies certificates. Finally, a recommendation about the best choice that could be implemented in Brazil is suggested.
Given the importance in the use of the renewable energy of generation electric energy, most of the electric systems in the world have developed mechanisms to encourage the use of alternative energies in the world. With the "capacity payment" the power plants that employ alternative sources, can receive extra payment as benefits for their initial investment. A possibility could be fixing taxes for the generation of electricity with fossil fuel that could finance the renewable energy sources. A renewable energy market dealing with tradeable certificates, forces the electricity purchasers to have a percentage from alternative energies of the totally energy acquired. In this way the forced purchasing of energy from power plants which use energy certificates allows the expansion of these technologies.


 

 

1 Introdução

As energias renováveis ajudam a diversificar a matriz energética. Estudos evidenciam que no mundo existe um grande potencial de energia que pode ser extraída de recursos renováveis, tem-se um potencial energético latente, que nas condições atuais não pode ser aproveitado, convertê-la em eletricidade utilizável pelos sistemas elétricos atuais, é um desafio.

O pagamento por capacidade dado às geradoras que utilizam energias renováveis é considerado não como um subsídio, mas como uma forma de internalizar o efeito que tem sobre o meio ambiente e sobre o bem-estar em geral (Oren, 2000). Ou seja, tem-se tomado consciência do impacto ambiental das energias convencionais, os riscos da energia nuclear e a dependência de combustíveis fósseis. O apoio do governo tem sido essencial para o desenvolvimento das tecnologias e os investimentos. O pagamento justo às energias renováveis implica em reconhecer o aporte que elas podem fazer no contexto energético atual e futuro. O "pagamento por capacidade" pode ser uma alternativa de pagamento às energias renováveis para fazer mais sustentável os investimentos nessas tecnologias no decorrer do tempo.

O custo social também é uma variável a estudar pelos impactos sobre o ecossistema. Os consumidores não pagam diretamente as repercussões ambientais, sociais e de segurança de suas opções energéticas, as externalidades representam custos não compensados que a sociedade em geral tem que assumir (Worldwatch, 2004). Uma das maneiras poderia ser o estabelecimento de um imposto ou taxa sobre o consumo de eletricidade negra (geração de eletricidade utilizando combustíveis fosseis), com o qual poder-se-ia financiar as Fontes de Energia Renováveis (FER). Segundo o anterior, pode-se tomar o custo social como um custo para as geradoras com Fontes de Energia Convencionais (FEC), isso ajustado ao princípio de "quem contamina paga" (visto também que os combustíveis fósseis incluam nos seus preços os danos causados ao meio ambiente)(Soliño, 2005). As FER podem também, receber subvenções por danos evitados. O anterior, deve-se ter em conta na normativa para o pagamento a energias renováveis. Os custos externos produzidos na geração de eletricidade podem criar mais de 200 impactos ambientais como: contaminação atmosférica, ruído, aquecimento global, efeitos sobre a água, etc. Além desses custos, pode-se considerar os efeitos positivos (tanto ambientais como sociais) da substituição de energias FEC por energias FER.

O terceiro mecanismo financeiro apresentado neste trabalho, consiste na criação de um Mercado de Energias Renováveis (MER) através de certificados comerciais. Este mecanismo obriga os agentes compradores no mercado elétrico a terem uma porcentagem do total de suas compras como produto de compra de energia sobre tecnologias a partir de FER. Este mecanismo funciona através da criação de um mercado no qual se comercializam Certificados de Energia Renováveis (CER) os quais são gerados pela certificação de sistemas que utilizem FER. A compra obrigatória de energia elétrica de usinas que utilizam FER permite a expansão destas tecnologias e diversificação da matriz energética. A Austrália é pioneira na implantação deste tipo de mercado (Gwen, 2001).

 

2 Pagamento Por Capacidade Como Mecanismo Financeiro No Incentivo De Investimento Na Geração

O "pagamento por capacidade" é definido como um pagamento feito às usinas geradoras, correspondente ao pagamento pelo aporte da usina à suficiência do sistema (Oren2000). O "pagamento por capacidade" corresponde a um incentivo do investimento, porque é um valor calculado segundo a capacidade de cada usina e entregue a elas por ter uma capacidade de respaldo (que pode não ser necessariamente utilizada). Seria feito então um "pagamento por capacidade" de geração declarada pela quantidade que exceder a demanda programada. Se uma usina de geração é construída e não consegue vender a possível eletricidade a fornecer pela competitividade de outros sistemas mais baratos, então nunca pode ter a retribuição de seus investimentos, mesmo assim, essa usina é importante para o sistema elétrico já que representa um nível de respaldo que pode ser utilizado em casos de contingências. Este pagamento, por exemplo, tem que ser feito aos geradores diesel já que eles têm que recuperar o investimento feito, dado que são fundamentais para o sistema, porém não são comumente despachados.

Segundo o que foi dito anteriormente, o termo "pagamento por capacidade" é um conceito remunerador orientado à consecução de uma garantia no longo prazo, especialmente em países onde se tem uma forte componente hidráulica como o caso Brasileiro. Nesses sistemas, a geração de tipo não hídrica, enfrenta uma volatilidade dos ingressos no mercado que somente pode combater com contratos de energia de longo prazo, e desse jeito, recuperar pelo menos, seu investimento inicial.

No mundo, a maioria dos sistemas elétricos incluem uma remuneração por capacidade (Cargo por Confiabilidade) com objetivos diversos, utilizando distintos tipos de mecanismos (Moyano2002). Embora, o objetivo primordial, seja identificar o investimento na geração. Em alguns dos países do mundo, já se tem implantado esse tipo de pagamento aos geradores, tanto de forma direta (existe um item de pagamento chamado "pagamento por capacidade") ou na forma indireta, onde é incluído o "pagamento por capacidade" dentro do pagamento da energia.

2.1 Pagamento Por Capacidade À Geração Com Energias Renováveis

Especificamente relacionado com o "pagamento por capacidade" a geradores renováveis, a Alemanha tem grande experiência (Morth2005). É o país com maior capacidade de geração eólica dentro de seu parque de geração. O "pagamento por capacidade" se efetua segundo o aporte que realiza a geração eólica à comunidade em geral, devido a sua condição de energia limpa, que no prejudica o meio ambiente .

O pagamento por capacidade dado às geradoras que utilizam energias renováveis é considerado não como um subsídio, mas como uma forma de internalizar o efeito que tem sobre o meio ambiente e sobre o bem-estar em geral. Ou seja, tem-se tomado consciência do impacto ambiental das energias convencionais, os riscos da energia nuclear e a dependência de combustíveis fósseis. O apoio do governo tem sido primordial para o desenvolvimento das tecnologias e os investimentos.

No final da década dos oitenta, o governo alemão, iniciou o programa "100 MW de vento". Depois em 1991 uma lei obrigava às empresas elétricas a comprar às empresas que geravam com usinas eólicas ao menos ao 90% do preço ao qual vendiam essa energia. Agora com uma nova lei, as turbinas que se instalem a partir do 2005, terão um pagamento de ao menos 0,0853/kW durante cinco anos. Se elas são instaladas alta mar, então esse pagamento se estende durante doze anos.

Outro recurso importante tem sido apoiado, é a energia solar, com o programa "100.000 tetos". Com esse programa se criaram más de 65.000 sistemas PV (celdas fotovoltaicas) com uma capacidade instalada de 342MW. O programa foi num principio incentivado por oferecimentos de empréstimos a dez anos sem juros, e se enfocava sobre sistemas que se instalavam em moradias. Recentemente se faz um pagamento base de 0,457/kWh para a energia extraída de centrais com sistemas PV. Há um pagamento extra dependendo do sistema, por exemplo, se é instalado em paredes em vez de tetos. Na atualidade, Alemã tem mais capacidade eólica instalada que qualquer país no mundo. Além disso, para o final do ano 2004, Alemã foi o segundo produtor de PV e primeiro instalador no mundo.

Dado que nos sistemas atuais desregulados, no se tem incluído especificamente a maneira de calcular o "pagamento por capacidade" às energias renováveis, a inclusão desse tipo de equipamentos, teria novos problemas à aplicação do pago por capacidade. O "pagamento por capacidade" de usinas com energias renováveis, corresponde a um tema com distintas dificuldades. O ideal, seria quantificar todos os efeitos que tem os diferentes tipos de energia no sistema de geração e na sociedade.

2.2 Encargos De Capacidade No Brasil

Embora no Brasil o "pagamento por capacidade" não tenha sido ainda implementado, um dos mecanismos utilizados mais próximos a este conceito foi a criação dos "encargos de capacidade e aquisição de energia elétrica emergencial" feitos pela "Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial" (CBEE). Entidade criada no ano 2001 para a viabilização do aumento da capacidade de geração e da oferta de energia elétrica de qualquer fonte em curto prazo e à superação da crise de energia elétrica e ao reequilíbrio de oferta e demanda de energia elétrica. Está planejada sua extinção em junho de 2006 (CBEE, 2006).

No ano 2001 foram feitos contratos pela CBEE para a construção de 54 usinas representando um aumento de 1827 MW na capacidade instalada total do Brasil. Todas as usinas entraram em operação no ano de 2002. Desta maneira, o ECE contribuiu ao investimento em novas usinas térmicas e no aumento na capacidade de reserva.

A usinas termelétricas contratadas receberam um monto econômico pela disponibilização de potência ("aluguel") e pela geração de energia para atendimento ao sistema brasileiro. O pagamento pela potência contratada foi custeado via o "Encargo de Capacidade Emergencial" (ECE, também conhecido como "seguro apagão"), pago por todos os consumidores de energia elétrica, exceto os pertencentes à Subclasse Residencial Baixa Renda (fixado em R$ 0,0085/kWh). O pago ECE, foi extinto por meio da Resolução Normativa da ANEEL n° 204, de 22 de dezembro de 2005.

As usinas emergenciais entram em operação quando ocorre o risco de falta de energia para o suprimento do país. Sempre que elas são chamadas a operar, é acionado outro encargo, o "Encargo de Aquisição de Energia Elétrica Emergencial" (EAE, definido pela ANEEL em R$ 0,004681/kWh, com vigência no período de 1° a 31 de janeiro de 2004), pago por todos os consumidores de energia elétrica, exceto os residenciais com consumo mensal abaixo de 350 kWh e os rurais com consumo mensal inferior a 700 kWh. Após o pagamento pelos consumidores, as distribuidoras repassaram os montantes arrecadados à CBEE para que esta realizara os pagamentos do "aluguel" e da geração de energia às usinas contratadas pelo programa emergencial.

 

3 Custo Social Da Eletricidade

Os custos sociais da geração de eletricidade, podem dividir-se em custos privados e custos externos como são apresentados na Figura 1. Os custos externos se decompõem em custos meio ambientais e não meio ambientais. Nos primeiros se incluem os danos pela contaminação atmosférica, mudança climática, sobre a paisagem, o meio natural, etc. Os custos não meio ambientais são os custos ou benefícios de natureza socioeconômica, como por exemplo: a insegurança de preços, a dependência energética, ou sobre o emprego, desenvolvimento rural, etc. Nesses casos, trata-se de impactos que não têm preço de mercado, também chamados externalidades. Os custos privados se originam do processo de obtenção da eletricidade como: custos de investimentos, compra de fonte energética primária, custos de infra-estrutura, etc.

 

 

No sistema de retribuição da eletricidade procedente das FER na Espanha, o preço de venda da eletricidade verde (sem utilizar combustíveis fosseis) não sempre compensa os custos privados dos produtores.

A intervenção pública sobre o mercado de eletricidade, através de um sistema de pagamentos à produção de energia utilizando FER (derivadas de um fundo dotado de cargos sobre todos os consumos de eletricidade) tem favorecido a expansão da geração eólica. Os custos privados das tecnologias em regime ordinário, (quer dizer geradores tradicionais e novos ciclos combinados) ascende a 3,74 c€/kWh, dos quais 3,13 c€/kWh corresponde a custos de produção, 0,48 c€/kWh a pagamentos por capacidade e 0,12 c€/kWh a pagamentos por serviços complementares. Os custos privados das tecnologias em regime especial (renováveis e cogeração) são de 6,22 c€/kWh, quer dizer, 66,57% superiores às tecnologias tradicionais. Os consumidores não pagam diretamente as repercussões ambientais, sociais e de segurança de suas opções energéticas. As externalidades representam custos não compensados que a sociedade em geral tem que assumir (Worldwatch, 2004).

Estabelece-se então a necessidade de fazer uma fiscalização na produção de energia elétrica, com o objetivo de valorar os custos externos e criar medidas para contribuir com o desenvolvimento das FER. Poderia se estudar que as energias rentáveis financiassem o desenvolvimento das energias renováveis, que não tem benefícios como as energias convencionais de apoios sistemáticos". As ajudas que facilitem maior participação das FER nos mercados, são consideradas ajudas para a melhora do meio ambiente. Esses apoios reduzirão a diferença entre os custos privados da geração de energia das FER e os preços de mercado. Pode-se então, fundamentar os apoios nos custos externos de todas as energias alternativas. Uma das maneiras, poderia ser o estabelecimento de um imposto ou taxa sobre o consumo de eletricidade negra com o qual, poder-se-ia financiar as FER. Isso ajustado ao principio de "quem contamina paga", visto também como os combustíveis fosseis incluam nos seus preços, os danos causados e que as FER, recebam subvenções por danos evitados.

Esse sistema já está funcionando na Espanha, onde os ingressos dos produtores de eletricidade verde, derivam-se da suma do preço de mercado mais um subsídio fixado pelo governo anualmente. Na fatura elétrica dos consumidores, inclui-se atualmente um cargo energético-ambiental sobre todo o consumo elétrico, destinado a criar um fundo destinado aos subsídios para a produção de eletricidade em regime especial (Soliño, 2005).

A comissão da Europa, mediante o projeto ExternE (European Commission, 2003), estimou os custos externos produzidos na geração de eletricidade com oito (8) tipos de fontes de energia diferentes (carvão, lignitos, petróleo, gás natural, nuclear, biomassa, hidráulica e eólica). Determinou-se mais de 200 impactos ambientais agrupados assim: i) contaminação atmosférica, ii) acidentes e saúde laboral, iii) ruído, iv) aquecimento global, v) efeitos sobre a água, vi) efeitos sobre o meio ambiente marinho. A Figura 2 apresenta os custos calculados no projeto ExternE mediante uma função de danos de baixo para cima ao longo das etapas do ciclo de vida combustível-eletricidade.

 

 

Alem desses custos, pode-se considerar os efeitos positivos (tanto ambientais como sociais) da substituição de energias FEC por energias FER. Esses efeitos podem ser contabilizados dentro de dois conceitos como: custos externos evitados (por exemplo, os custos sociais de importar hidrocarburos) e benefícios externos criados (por exemplo, a criação de empregos na zona rural no caso da biomassa).

 

4 Mercado De Certificados Comerciais De Energias Renováveis

A Austrália é o primeiro país no mundo a criar um mercado de energias renováveis (MER) através de certificados comerciais. Por lei, os agentes compradores no mercado elétrico, estão obrigados a terem uma porcentagem do total de suas compras, como produto de compra de energia sobre tecnologias a partir de fontes renováveis (Gwen, 2001). Este mecanismo funciona através da criação de um MER no qual se comercializam Certificados de Energia Renováveis (CER) que são gerados pela certificação de sistemas que utilizam FER. Esse mercado também é chamado Mercado de Eletricidade Verde (GEM, Green Electricity Market).

Em novembro de 1997, imediatamente após a assinatura do protocolo de Quioto, o governo Australiano estabeleceu como meta para o ano 2010, a introdução das FERs na sua matriz energética em 12,5%. Com o objetivo de atingir essa meta, foi criado o MER.

4.1 Marco regulatório

A legislação no MER inclui dois decretos principais: o decreto de energia renovável que estabelece o marco regulador para a medição de metas, e o decreto de cargo por energia renovável, o qual estabelece a taxa da penalidade por não atingir essas metas. O objetivo do primeiro decreto é a redução das emissões poluentes através da geração de energia elétrica com FER e a construção de usinas ecologicamente sustentáveis. Esse decreto, tem como meta, o incremento no fornecimento da eletricidade em 9500 GWh/ano para o ano 2010 através das FER.

A legislação criou um órgão chamado Regulador de Energias Renováveis (RER), autoridade que certifica às usinas de geração, valida certificados, fiscaliza participantes e impõe penalidades.

4.2 Certificados de Energia Renováveis (CER)

Os CERs são criados pela certificação de novas usinas geradoras de energia elétrica que utilizam FER. Um CER é equivalente a um megawatt hora de uma nova usina com FER. A fontes para criação de CERs contemplam todas as tecnologias, e também podem ser criados a partir da instalação de um certo número de aquecedores de água solares baseados na quantidade de energia elétrica evitada. Para que uma usina possa ser certificada, tem que ser cadastrada ante o RER, o qual confirma a nova energia adicionada ao sistema. O processo da certificação é apresentado na forma geral na Figura 2.

 

 

Os agentes compradores no mercado elétrico, estão obrigados a comprar energia elétrica gerada através das FRE numa porcentagem de sua compra total de energia. Essa energia pode ser comprada no mercado elétrico ou diretamente de um gerador. A porcentagem de compra obrigada, é estabelecida para cada ano (com o fim de atingir a meta para o ano 2010) e é utilizado para determinar as metas e as penalidades.

A medição das metas e imposição das penalidades são feitas cada ano por parte do RER. Se um agente comprador não atendeu sua meta, ele é penalizado e tem que atingir essa meta num programa estabelecido para os seguintes três anos.

Os preços das CERs, são estabelecidos pelo mesmo mercado, sendo as empresas instaladoras de aquecedores de água solares as que têm imposto o preço base para sua venda. Este mercado foi criado no ano 2001 e ainda está em processo de estabilização.

 

5 Processo De Análise Para O Brasil

A implantação dos mecanismos financeiros no Brasil (além dos já existentes) apresentados anteriormente, precisa de uma extensa análise na procura da melhor opção. Precisa-se fazer um plano de trabalho com todos os entes do setor com o fim de estabelecer a melhor metodologia. Por exemplo, as dificuldades principais ao desenvolver um "pagamento por capacidade" são: a determinação da quantidade total de remuneração que o pagamento terá em conta e a definição do método com o qual será feita a repartição entre as diferentes unidades geradoras (Rivier2000). Nesse tema, o Brasil pode utilizar a experiência internacional para fazer os estudos necessários. Uma das experiências a ser levada em conta, é o estudo atual realizado na Colômbia para fazer uma re-valoração sobre o "pagamento por capacidade" estabelecido desde o ano 1996 e que deve ser redefinido para o ano 2007 (CREG, 2005).

Para acrescentar os níveis atuais de investimento nas FER no Brasil, poder-se-ia estabelecer uma combinação dos mecanismos apresentados. O atual modelo elétrico, pode dar um pagamento extra aos geradores como retribuição a seus investimentos inicias, em especial para usinas que utilizem FER. Pode-se implantar uma taxa aos tipos de geração negra criando um fundo que possa financiar a construção de novas usinas que utilizem FER. Alem disso, pode-se exigir as concessionárias, certificados que garantam a compra de energia de tipo FER.

Com o objetivo de redefinir do melhor modo um mecanismo financeiro para incentivar o uso das FER adicionais aos já existentes no Brasil, necessita-se procurar uma metodologia de trabalho para o desenvolvimento do novo mecanismo. Essa metodologia também pode levar em conta a participação da indústria como orientadora.

Alguns dos princípios que devem estar presentes nos mecanismos de financiamento, são os seguintes:

 

6 Conclusões

Nas atuais condições do sistema elétrico do Brasil, onde não se tem clareza sobre os novos investimentos para a expansão desse setor, a necessidade de criar mecanismos que estimulem os investimentos no longo e mediano prazo nos sistemas elétricos, se torna de importância indiscutível.

O "pagamento por capacidade" justificaria o investimento no setor gerador como elemento de recuperação do capital, mais ainda para as tecnologias FER, as quais têm custos de operação maiores que os das tecnologias com FEC. O pagamento por capacidade dado às geradoras que utilizam energias renováveis, é considerada não como um subsídio, mas como uma forma de internalizar o efeito que tem sobre o meio ambiente e sobre o bem-estar em geral. O pagamento justo às energias renováveis, implica reconhecer o aporte que elas podem fazer no contexto energético atual e futuro.

É importante que a legislação contemple o "pagamento por capacidade" de todo tipo de tecnologias como aquelas que utilizam FER, dado que isso representa um incentivo para os investidores. Além disso, o fato de contar com uma maior quantidade de atores na parte de geração do sistema, permite criar maior competição, diversificando assim a matriz energética.

Os consumidores poderiam pagar diretamente as repercussões ambientais, sociais e de segurança de suas opções energéticas. Poderia ser estabelecido um imposto ou taxa sobre o consumo de eletricidade negra (com o qual poder-se-ia financiar as FER), tomar o custo social como um custo para as geradoras de tipo FEC. Isso ajustado ao principio de "quem contamina paga" tendo em conta que os custos externos produzidos na geração de eletricidade podem criar mais de 200 impactos ambientais. Além disso, pode-se considerar os efeitos positivos (tanto ambientais como sociais) da substituição de energias FEC por energias FER.

A compra obrigatória de energia elétrica de usinas que utilizam FER, permite a expansão destas tecnologias e diversificação da matriz energética. Essa compra obrigatória pode ser feita implementando mercados de certificados comerciais de energias renováveis, onde os agentes compradores do mercado elétrico, devem ter uma porcentagem do total de suas compras, como produto de compra de energia sobre tecnologias a partir de FER.

 

7 Referências

[1] WorldWatch Institute. La situación del Mundo. Fuhem-Icaria. Barcelona, 2004.

[2] Oren, Shmuel S. Capacity Payments and Supply Adequacy in Competitive Electricity Markets. VII Simpósio para especialistas em planejamento da operação e expansão elétrica. Curitiba, Brasil, 2000.

[3] Soliño Mario, Prada Albino. Costes Sociales de la Electricidad Verde e Intervención Pública: Aplicación al caso de la Biomasa Foretal. VII Jornadas de Política Economica. Vigo, Espanha. Novembro de 2005.

[4] Gwen Andrews. Market Based Instruments: Australia´s Experience with Trading Renewable Energy Certificates. Workshop on Goog Practices in Policies and Measures. Copenhagen, Austrália. October 2001.

[5] Moyano Pérez Francisco J. Pagamento por capacidade Considerando Disponibilidade de Centrais Elétricas. Tese de Graduação Pontifica Universidade Católica de Chile, 2002.

[6] Morth R. Ricardo, Lira Francisco. Pagamento por capacidade a Geração com Energias Renováveis. Trabalho de Mercados Elétricos Pontifica Universidade Católica de Chile, 2005.

[7] Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial. Informação Geral. www.cbee.gov.br

[8] European Commission. External Cost. Research Results on Sócio-Environmental Damages Due to Electricity and Transport. Office for Official Publications of the European Communities, Luzembourg. 2003.

[9] Rivier Michel, Pérez A. José I. "Estúdio cargo por capacidade em Colômbia". Pontifica Universidade de Comillas, Madrid Espana,2000.

[10] CREG , Comisión de Regulación de Energía y Gas. Presentación Documento CREG-072 de 2005 Cargo por Capacidad. Bogotá Colômbia, 2005.