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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Melhoria da competitividade do etanol nas exportações

 

 

Felipe Moreton Chohfi; Luis Augusto Barbosa Cortez

Laboratório de Termodinâmica e Energia, Universidade Estadual de Campinas

 

 


RESUMO

A produção e uso do etanol como combustível renovável no setor de transportes vem se expandindo em muitos países do mundo e a sua eficiência na substituição da gasolina já é provada. No entanto, a sua produção pode ser inviável economicamente em alguns países. Por outro lado, o etanol produzido através da cana-de-açúcar no Brasil reúne condições que o fazem o mais competitivo do mundo. O seu baixo custo, tem levado a uma grande expectativa por parte de alguns países desenvolvidos de importar este produto do Brasil em um potencial mercado internacional emergente. Este estudo sugere uma alternativa de minimização de custos de produção do etanol para um valor que justifique melhor a sua exportação em grandes quantidades no futuro. Dos vários itens que compõem o custo do etanol, os correspondentes à sua produção são significativos. Grandes destilarias centrais com produtores independentes de xarope no campo são propostas. O xarope seria transportado em menos viagens e gerando ganhos em escala industrial e eficiências de conversão na destilaria. A viabilidade de implementação desta estratégia concorrente frente à prática atual na agroindústria canavieira será discutida através de uma análise econômica.

Palavras-chave: Custos do etanol, agroindústria, economias de escala, transporte de cana, mercado internacional


ABSTRACT

The production and use of fuel ethanol as a source of renewable energy in the transport sector has been expanding in many countries of the world and its efficiency in the substitution of gasoline is already proven. However, its cost of production in some countries is quite high. On the other hand, in Brazil, ethanol for some reasons is very competitive from the economic point of view. This low cost, has lead an interest by developed countries to import this product from Brazil in a potential market. From the varios itens that compose the cost of ethanol production are important and will be analysed in this work. Large distilleries with surrounding independent producers of sugarcane syrup are proposed. The syrup would be transported saving in transport costs. Saving due to economies of scale and conversion efiiciencies can be significant in these distilleries due to the great quantity of raw-materials processed. The viability of implementation of this competing strategy instead of the present in the sugarcane agroindustry will be discussed through an economic analysis.

Key-words: Ethanol costs, agroindustry, economies of scale, transport of cane, international market


 

 

I) Introdução e objetivos

O uso do etanol como combustível no setor de transportes tem merecido maior destaque na agenda global em face de vários fatores como, por exemplo, a sua natureza renovável e a alta nos preços do petróleo e gás natural. Apesar das barreiras existentes, o Brasil, além de ser o maior produtor de cana do mundo e grande conhecedor da tecnologia de produção do etanol, reúne condições sociais e edafo-climáticas que o fazem o único país do mundo com potencial de ofertar este combustível em grandes quantidades num futuro fazendo uma contribuição significativa para a substituição do petróleo em todo mundo. Além disso a competitividade e sustentabilidade do etanol Brasileiro conta com o programa do álcool que atualmente mistura 26% de etanol na gasolina.

De acordo com a Política Energética dos Estados Unidos, até 2020, a produção americana de petróleo deve cair de 5,8 para 5,1 milhões de barris de petróleo por dia. Porém, a demanda deve aumentar para 25,8 milhões de barris por dia. Neste caso, a política energética americana deve incluir, em maior escala combustíveis alternativos como o etanol, o que vai favorecer a diversificação no setor de transportes. Atualmente, o etanol produzido nos EUA já está contribuindo significativamente na redução da dependência energética americana e custos com defesa. Este enorme mercado potencial, tem demonstrado grande interesse na importação deste produto em grandes quantidades, se dispondo, a negociar um corte na tarifa cobrada através de acordos diplomáticos com o Brasil.

Porém, para que esta parceria com os Estados Unidos ocorra, o etanol teria que ser competitivo com a gasolina em Nova Yorque e, para isto, os custos de produção deste produto precisariam baixar para uma margem de R$0,15 até R$0,24 por litro de álcool (Lester, L, 2005). Neste sentido, o grande desafio imposto ao Brasil mostra a importância deste estudo cujo objetivo é o de avaliar o potencial desta alternativa inovadora na redução dos custos do etanol de forma significativa a fim de obter um custo mais baixo, necessário para a exportação deste produto. A análise econômica visa a discussão da viabilidade de implementação da alternativa através dos custos e benefícios e o tempo de retorno do investimento.

 

II) Revisão bibliográfica das alternativas a serem analisadas

Tamanho ótimo da usina para o transporte de cana

Existe um tamanho ótimo da lavoura de usinas sucro-alcooleiras a partir do qual torna-se inviável o transporte da cana após a colheita. De acordo com a Cooperativa dos Plantadores de Cana de Guariba, o raio de distância entre a usina e o ponto de colheita da cana não influencia os custos de corte e carregamento, porém, tem um efeito importante nos custos de transporte. Como demonstrado na tabela 1 abaixo, o custo de transporte da cana, pode chegar a representar 29,31% do preço de produção de cana a 30 kilometros de distância da usina.

 

 

O transporte da cana-de-açúcar representa 15 a 20% do seu custo. Isto, se a distancia do canavial até a moenda for de 20 a 30 kilômetros, mas há usinas que chegam a transportar cana por até 50 ou 100 kilômetros. As usinas estão abrindo mão deste custo, responsabilizando-se, apenas por transporte de cana com corte mecânico em canaviais mais próximos à industria (www.lula.org.br/assets/politic_setor_sucroalcooleiro.pdf, acessado em 15/03/2005).

Ganhos de escala e eficiências de conversão

Quando o custo total médio de longo prazo declina enquanto a produção aumenta, diz-se que existem economias de escala (Mankiw, 2001). Assim, grandes indústrias podem operar em vantagem em relação às menores, pela diluição de seus custos fixos com o aumento da produção. Ao produzirem vários produtos, o custo médio de produção cai por razões técnicas, gerenciais, financeiras e até comerciais entre outras.

A Chaves Planejamento e Consultoria estudou os custos de industrialização de pequenas, médias e grandes usinas canavieiras no Brasil com capacidades médias de moagem de 1,202, 2,190 e 4,828 milhões de toneladas de cana. Os resultados obtidos mostram um ganho de escala, com custos industriais médios de R$7,74, R$6,18 e R$5,90 por tonelada de cana. Se for considerado apenas os custos industriais de entressafra, os ganhos de escala ficam ainda mais evidentes: pequenas usinas com R$2,97, médias R$1,99 e um custo de apenas R$1,78 por tonelada de cana nas grandes usinas canavieiras.

Tratamento de vinhaça

Dos resíduos da fabricação de açúcar e álcool, a vinhaça é sem dúvida dos mais importantes, não só em termos do enorme volume gerado, mas pelo elevado poder poluidor a ela agregada (Camargo, 1990). O alto potencial poluidor associado a este resíduo, devido à presença de, por exemplo, carboidratos não-fermentados, pode causar graves impactos ao meio ambiente se este resíduo não for administrado adequadamente.

Na maioria das usinas Brasileiras este resíduo é aplicado diretamente na lavoura como fertilizante, o alto teor de potássio em sua composição é um grande incentivo para o seu uso como fertilizante. De acordo com Rossillo-Calle (2005) o entanto, existem outras tecnologias de aproveitamento como a biodigestão, ração animal, produção de fungos, material de construção e incineração.

 

III) Metodologia

A metodologia deste trabalho está focalizada na avaliação de ciclo de vida para determinação dos efeitos adicionais das atividades incluídas na cadeia produtiva do sistema concorrente proposto (Figura 1) em substituição ao sistema agroindustrial convencional em usinas canavieiras. Serão discutidas todos os ramos da produção do etanol desde a sua origem ao seu termo, respeitando as características específicas da agroindústria canavieira. O sistema inovador será investigado por suas diferenças, especialmente no que diz respeito aos custos. No fluxograma da figura 1, cada retângulo representa um processo de onde uma informação será obtida de todos os fluxos de insumos e produtos, sejam estes ambientais, sociais, técnicos e econômicos. A fronteira agrícola mostra os ramos da produção que ocorrem na lavoura no caso específico do sistema proposto.

 

 

O sistema concorrente (figura 1) consiste da edificação de unidades de moagem e concentração de caldo a um raio de distancia superior a 30 kilometros da usina. A matéria-prima que seria extraída com um teor correto de umidade e açúcares redutores poderia ser transportada em menos viagens por causa de seu estado mais leve e denso em comparação aos colmos. Pode-se ainda evitar perdas de colmos no gerenciamento do xarope através do uso de tubulações. A palha próxima a cada fábrica de xarope pode ser coletada e usada para gerar energia distribuída diretamente na rede de transmissão. A produção de torta de filtro e água de condensação em cada unidade pode ser usada na lavoura. O geração de grandes quantidades de vinhaça seria um incentivo para o seu melhor tratamento.

A discussão irá avaliar a eficiência do sistema proposto para minimizar os custos do etanol frente à prática atual em destilarias autônomas. Além disso, a viabilidade de implementação desta alternativa de redução de custos será mostrada através do balanço entre os investimentos e os benefícios, o que possibilitará a determinação do retorno econômico.

Discussão dos resultados esperados

Como mostrado na tabela 2 o custo de transporte de cana constitui 14,1% do custo do etanol. Se for considerado, que cada viagem de xarope equivale e 6 viagens de treminhões com cana e que os caminhões transportadores têm o mesmo consumo de combustível, é possível transportar seis vezes mais matéria-prima de uma vez assim reduzindo o numero de viagens, o tempo gasto e o consumo de combustível. Assim, o custo de transporte poderia ser reduzido para R$0,022/litro/ano o equivalente a 2,35% do custo do etanol.

Através do desenho de um gráfico, que utiliza os dados de escala obtidos em Chaves Planejamento e Consultoria pode-se fazer uma projeção dos custos industriais para uma usina com capacidade para aproximadamente 10 milhões de toneladas de cana. Os custos industriais, que de acordo com a tabela 2 compõem aproximadamente 18% dos custos do etanol poderiam cair para R$0,1123/litro/ano o que constitui 12,48% do custo do etanol.

A suposição de que uma usina sucro-alcooleira poderá ter uma redução de custo no gerenciamento e cultivo da plantação com aplicação de torta de filtro, coleta de palha e irrigação foi feita para fins deste trabalho. Estima-se que o custo de produção de cana poderá cair em aproximadamente R$0,0198/litro/ano para R$0,2712 o que constitui 2,12% do custo do etanol.

 

Conclusões

As usinas canavieiras incorrem em custos para produzir o etanol. Estes custos são um determinante chave quanto a fixação do preço final do etanol no mercado internacional e por isto devem ser reduzidos na medida do possível. A previsão do preço de venda final do etanol (ex-usina) que deve ser obtido com a implementação desta estratégia é de R$0,5865 o que representa uma redução significativa. No entanto, mesmo este preço final obtido ainda é bem superior ao necessário para exportação aos Estados Unidos da América. Esta previsão do custo final que pretende ser implementada neste estudo tem um tempo de retorno do investimento de 6 a 8 anos.

Porém, deve ser considerado o mercado Japonês e Europeu. A curto prazo, a taxa de cambio esta favorecendo as exportações Brasileiras para a Europa e não para o EUA. Além disso, o Brasil deve considerar a competitividade no mercado Francês e Japonês já que os preços da gasolina nestes dois países são bem mais altos que os registrados no EUA.

A eficiência de extração do caldo na moagem é sem dúvida a maior barreira para implementação desta alternativa proposta. Os vários termos de embebição e extração na indústria conseguem uma eficiência de extração próxima a 98% fato que pode não ser igualado pelas unidades de moagem na lavoura. Além disso, a maior demanda de vapor na indústria teria que ser considerada, com o uso de palha. O investimento na implementação da alternativa proposta é outra barreira e pode ser tarefa dos produtores independentes. Os produtores independentes de cana fornecem cerca de 25% da matéria-prima de usinas canavieiras no Estado de São Paulo (Macedo 2005). Os produtores rurais são potenciais investidores neste sistema e poderiam beneficiar aumentando sua renda com a venda da matéria-prima de uma forma mais elaborada.

A redução de custos de produção do etanol não é tarefa fácil. Ao longo dos últimos 20 anos grandes progressos tem sido feitos, e grandes reduções nos custos tem sido conseguidas especialmente ao longo dos anos 80. Merecem ser destacadas as áreas de cogeração de energia e venda de excedentes, uso de resíduos, eficiências de processos, expansão do uso de novas tecnologias e desenvolvimento de novas variedades de cana.

 

Referências

REIS E GUIMARÃES, Custos de produção na agricultura, Belo Horizonte

LEFTWITCH. O sistema de preço e a alocação de recursos, São Paulo, 1991

FRANK ROSILLO-CALLE, et al. Uso da biomassa para produção de energia na indústria brasileira, Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2001

MACEDO, I. A energia da cana-de-açúcar, doze estudos sobre a agroindústria da cana-de-açúcar no Brasil e a sua sustentabilidade, São Paulo, SP, Berlendis &Vertecchia, ÚNICA, 2005

LESTER, L. The role of ethanol in na oil-hungry world, green design institute, Carnegie Mellon University, 2005

COPLANA, Cooperativa dos Plantadores de cana de Guariba, Não existe mais poesia na agricultura.

CHAVES DE SOUZA, I. Qual é o tamanho ótimo, Chaves Planejamento e Consultoria, estudo da série benchmarking, http://www.chavesconsultoria.com.br/qto1.htm , acessado em 13/03/2006.

GONZAGA DE SOUSA, L, Economia industrial, crescer pelos ganhos de escala, www.eumed.net/libros/2005/lgs-ei/7i.htm, 2005

CAMARGO, C. Conservação de energia na indústria do açúcar e do álcool, Instituto de Pesquisas Tecnológicas, São Paulo, 1990

MANKIW, N. Introdução à economia: princípios de micro e macroeconomia, tradução da 2ª edição. Editora campus, Rio de Janeiro, 2001

BANCO MUNDIAL www.bancomundial.org.br/index.php/content/view_document/2614.html, acessado em 13/03/2005

GRAZIANO DA SILVA, José (coordenador) et al. Política para o setor sucro-alcooleiro frente à crise: uma proposta alternativa para o Estado de São Paulo (www.lula.org.br/assets/politic_setor_sucroalcooleiro.pdf acessado em 15/03/2006)