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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Participação da energia fóssil no agroecossistema algodão em explorações agrícolas familiares

 

Participation of the fossil energy in cotton agro-ecosystem in family agricultural explorations

 

 

Osmar de Carvalho BuenoI; María Gloria Cabrera RomeroII

IFaculdade de Ciências Agronômicas - UNESP/Botucatu, Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial. Professor Assistente Doutor
IIFaculdade de Ciências Agronômicas - UNESP/Botucatu, Doutoranda em Agronomia, Área de Concentração Energia na Agricultura

 

 


RESUMO

Com o objetivo de apresentar a participação das diversas fontes de energia empregadas no agroecossistema algodão, este trabalho constitui-se numa contribuição a respeito da questão da sustentabilidade. Como ponto de enfoque desta pesquisa é analisada a exploração familiar, utilizando-se a categorização realizada pelo Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF). Foram utilizados dados primários de três explorações familiares do município de Leme/SP. Na construção da estrutura de dispêndios energéticos do agroecossistema algodão considerou-se os valores médios obtidos, em função destes agricultores apresentarem o mesmo itinerário técnico e estarem dentro da tipificação utilizada neste trabalho. Os resultados foram apresentados pela estrutura de dispêndios energéticos, por tipo, fonte e forma de energia. Considerando-se o agroecossistema algodão a partir do itinerário técnico apresentado, observou-se uma energia total de entrada igual a 51.961,63 MJ . ha-1, com uma participação de 34,21% e 65,79% das energias direta e indireta, respectivamente. O agroecossistema estudado dependeu fundamentalmente de fonte de energia industrial, particularmente inseticidas (39,71%) e fertilizantes químicos (19,88%) e de fontes fósseis (33,80%). Constatou-se, portanto, a dependência da energia industrial e da energia fóssil no agroecossistema algodão. Dessa forma, sugere-se a busca da utilização de outras fontes de energia que permitam a sustentabilidade energética no agroecossistema algodão em explorações agrícolas familiares.

Palavras-chave: Análise energética, algodão, sustentabilidade.


ABSTRACT

With the objective of presenting the participation of the several energy sources employees in the cotton agro-ecosystem, this work is constituted in a contribution regarding the subject of the sustain grow.As the focal point of this research, family exploitation is analyzed, with the use of the categorization done by the National Program for Strengthening Family Agriculture - ("Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - PRONAF"). Use was made of primary and secondary data from three family exploitations in the municipality of Leme/SP, Brazil. To construct the energy expenditure structure of the cotton agro-ecosystem, the mean values obtained were considered, since these agriculturalists present the same technical itinerary and are within the typification proposed in this study. The results were presented by the energy expenditure structure by type, source, form of energy. Considering the cotton agro-ecosystem from the technical itinerary presented, the input energy equal to 51.961,63 MJ . ha-1 was observed, with a participation of 34,21% and 65,79% of the direct and indirect energy respectively. The studied agro ecosystem fundamentally depended on the industrial source of energy, particularly insecticides (39,71%) and chemical fertilizers (19,88%) and fossil sources (33,80%). It was verified like this that the dependence of the industrial energy and of the fossil energy in the cotton agro-ecosystem. In that way, we suggest himself the search of the use of another types of energy that they allow the energy sustainability of this agro-ecosystems in family agricultural systems.


 

 

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da agricultura no mundo vem atravessando constantes mudanças. No Brasil, esse setor tem passado por profundas transformações que trouxeram aumentos de produtividade de alimentos e matérias-primas com a intensificação da utilização de recursos não renováveis, o que tem influência sobre a sustentabilidade de agroecossistemas.

A análise energética de um determinado sistema agrícola contribui na compreensão não apenas do sistema estudado, mas também da opção de desenvolvimento feita pela sociedade e, mais especificamente, nos seus desdobramentos, conseqüências e potenciais alternativas que envolvem o entorno desse sistema. Dessa forma, análises energéticas de culturas agrícolas devem ser consideradas de igual importância às demais, revelando de forma clara a relação estrutural da produção.

Parte dos processos produtivos no mundo, e em particular no Brasil, faz-se representar pela exploração agrícola familiar, podendo esta estar caminhando no mesmo sentido do modelo até agora predominante. Historicamente, este modelo vem-se mostrando pouco compromissado com a sustentabilidade de agroecossistemas, no qual ocorre intensa utilização de energia não renovável, particularmente aquelas derivadas do petróleo.

A cultura de algodão tem-se destacado na agricultura brasileira por sua importância econômica e social, ocupando mão-de-obra rural e gerando renda aos diversos agentes envolvidos no processo.

A reprodução do itinerário técnico de um agroecossistema define em termos de utilização de energia, graus de dependência com determinados sistemas produtivos. Portanto, do ponto de vista energético, não é recomendada a dependência de fontes de energia não renováveis que possam constituir-se como limitadores junto ao processo de produção agrícola.

A hipótese que orienta o presente trabalho é que a fonte fóssil tem uma destacada participação na matriz energética do agroecossistema algodão cultivado em explorações agrícolas familiares. O objetivo deste trabalho foi analisar a participação da fonte fóssil de energia empregada no agroecossistema algodão.

Os resultados obtidos subsidiam não apenas ações no interior do agroecossistema familiar, as quais possibilitem utilização mais racional de recursos naturais não-renováveis, particularmente os combustíveis fósseis, como também avaliação acerca do sistema de produção agrícola adotado pela exploração familiar.

 

2 Revisão Bibliográfica

Quando analisada a eficácia de um sistema agrícola de produção, no geral, consideram-se duas abordagens: a produtiva e a econômica. A primeira que diz respeito à produção física obtida (produtividade) e a segunda relacionada aos custos de produção e a lucratividade. As duas, além de serem importantes, complementam-se.

No entanto, a abordagem energética de agroecossistemas vem recebendo atenção de pesquisadores e da sociedade em geral, ainda que de forma conjuntural. Essa abordagem é tão importante quanto as duas primeiras, pois complementa análises mais aprofundadas sobre os agroecossistemas, particularmente no que diz respeito a sustentabilidade (BUENO, 2002).

Uma vez que a origem e a forma de utilização de energia nos agroecossistemas apresentam-se de maneira diferenciada faz-se necessário classificá-la para realizar análises energéticas.

Malassis (1973) considerou três os fluxos de energia existentes nos agroecossistemas: "fluxos externos", "internos" e "perdidos" ou "reciclados". A FAO (1976) classificou os recursos energéticos em "renováveis" e "não renováveis" e também assinalou a conveniência de estabelecer diferença entre recursos energéticos comerciais e não comerciais. Junqueira et al. (1982) apresentaram uma classificação da energia consumida nos processos produtivos levando em consideração seu destino ou uso.

Outros autores como Macedônio & Picchioni (1985) classificaram a energia em "primária" ou "secundária", segundo a forma que se apresenta na natureza. Ulbanere (1988), por sua vez, tipificou as energias em "diretas" e "indiretas" para posterior confecção da matriz energética.

Carmo & Comitre (1991) categorizaram as energias em três grupos segundo sua origem: "biológica", "fóssil" e "industrial". Comitre (1993) utilizando como referencial teórico Malassis (1973) apresentou a composição do fluxo externo contido num agroecossistema em dois tipos básicos: energia direta e energia indireta. Segundo a autora, os tipos de energia subdividem-se de acordo com a fonte e estas são especificadas segundo as formas nas quais se apresentam no processo de produção. A energia direta apresenta-se em três fontes: biológica, fóssil ou elétrica, enquanto a fonte industrial representa a energia indireta. Essa classificação tem sido utilizada por diversos autores (BUENO, 2002; CAMPOS et al., 2000; CLEVELAND, 1995; DELEAGE et al., 1979; PELLIZZI, 1992; SIQUEIRA, 1999; ZUCCHETTO & JANSSON, 1979).

Este trabalho considerou-se a classificação das formas de entrada energéticas adotada por Comitre (1993) e Bueno (2002). Assim, compõem formas biológicas, a mão-de-obra e as sementes; e formas fósseis são compostas por óleo diesel, lubrificante e graxa; ambas consideradas energia do tipo direta. Por sua vez, maquinaria e implementos, corretivo de solo, fertilizantes químicos e agrotóxicos são formas de energia industrial considerados do tipo indireta.

2.1 Análise energética

Hesles (1981) destacou que a análise energética quantifica de maneira estimada a energia diretamente consumida e/ou indiretamente utilizada em um processo produtivo, como parte integrante de fluxo global. Dessa maneira, a análise energética pode ser considerada como um processo de avaliação das "entradas" (inputs) e "saídas" (outputs) de energia de agroecossistemas, para posterior e concomitante integração com análise em outros campos.

Risoud (1999) chama atenção para as relações entre sustentabilidade e análises energéticas de explorações agrícolas, utilizando índices que captam o uso de energias renováveis no agroecossistemas.

A autora distinguiu como energias não renováveis, essencialmente, as fontes fósseis e nucleares. Da mesma maneira, o CENERGIA (2003) considerou como energias não renováveis, as energias conforme a fonte de origem, ou seja, solar (gás natural, petróleo cru, petróleo pesado, xisto, entre outros) e não solar (combustíveis nucleares).

Portanto e conforme o apresentado, este trabalho considerou-se como energias não renováveis as energias de fontes fósseis.

2.2 Estrutura de dispêndios energéticos

Neste item discrimina-se acerca das formas de obtenção dos conteúdos energéticos dos componentes de entradas calóricas. Considerou-se como entradas energéticas, mão-de-obra; sementes; combustível, óleo lubrificante e graxa; maquinarias e implementos; corretivo de solos; fertilizantes industriais; herbicidas; inseticidas; e, formicidas.

2.3 Análise energética

A revisão considerou diversos estudos que focalizaram a abordagem energética. Esta, diz respeito à relação de fluxos de energia, constituindo-se em parâmetros importantes ao observar a eficiência e sustentabilidade de agroecossistemas.

Pimentel (1980) apresentou uma coletânea de artigos sobre o uso de energia na agricultura. Utilizando dados disponíveis, esses artigos desenvolveram metodologias e mensuraram o emprego de diferentes fatores de produção do setor agropecuário. O processo de análise empregado abrangeu cerca de 90% do total de energia utilizada na agricultura, sendo necessária uma combinação das análises de processos e de insumo/produto para uma contagem de toda a energia gasta na produção agrícola.

Pesquisas foram realizadas para conhecer o potencial de produção energético de várias culturas, notadamente sob a ótica do balanço energético, pretendendo-se verificar a relação "outputs/inputs" energéticos. Essa série de trabalhos passou a analisar as mais variadas atividades também sob o ponto de vista da energia, permitindo assim, um aumento de opções quanto à tomada de decisões, dada a complementaridade entre as análises energética e econômica (CASTANHO FILHO & CHABARIBERI, 1982).

Comitre (1993) destacou que a avaliação do sistema sob os enfoques energético e econômico permite detectar as principais fontes de energias utilizadas e o respectivo grau de dependência do sistema em relação à disponibilidade e ao custo dessas energias. Bueno (2002), por sua vez, expôs que a eficiência de um sistema de produção agrícola abrange dois aspectos fundamentais: físicos, no que diz respeito à produção e produtividade obtidas e econômicos, relacionando custos e lucratividade. O desenho desses sistemas, em termos de utilização de energia define graus de dependência dessa categoria com determinados sistemas produtivos.

Do ponto de vista energético, portanto, não é recomendada uma dependência de fontes de energia não-renováveis que estabeleça limites rígidos em relação à produção física final, ou seja, que possam constituir-se como limitadores junto ao processo de produção agrícola. A análise energética justifica-se enquanto instrumento fundamental de avaliação do processo produtivo, principalmente no tocante ao item sustentabilidade.

2.4 Algodão: importância socio-econômica

Richetti & Melo Filho (2001) afirmam que o algodão é um dos produtos de maior importância econômica do grupo das fibras, pelo volume e valor de produção. Seu cultivo é também de grande importância social, pelo número de empregos que gera direta e indiretamente. O algodão é de relevante importância no Brasil e no mundo. Situa-se entre as dez maiores fontes de riqueza no setor agropecuário brasileiro (EMBRAPA, 2005).

Na crise dos 90, insere-se o estado de São Paulo pela drástica redução na área plantada, verificada nesse período. De acordo com o IEA/CATI, no triênio 1991/92-1993/94, foram plantados 170,2 mil hectares de algodão, passando a 92,4 mil hectares no triênio 1996/97-1998/99.

Nesse contexto, nos últimos dez anos, São Paulo cedeu suas fronteiras agrícolas para cana e laranja, que valorizadas, forçaram o aumento dos preços das terras, inibindo o avanço do algodão e outras culturas. Porém, no final dos anos 90, a melhoria tecnológica, com maior oferta de variedades resistentes a pragas e doenças, estimulou a retomada da cultura do algodão, onde se destacam cinco regiões de produção: Ituverava, Votuporanga, Holambra, Martinópolis e Leme. Em 2004, levantamento da CONAB, indicou que a área plantada em São Paulo para a safra 2004/2005 deveria atingir 78,3 mil hectares, um crescimento de 30% em relação à safra 2002/03.

A área plantada em 2004 foi de cerca de 1,2 milhões de hectares, com uma quantidade produzida aproximada de 4 milhões de toneladas e rendimento médio de 3.302 kg . ha-1, representando cerca de 3% na produção total brasileira (CONAB, 2004). A Associação Brasileira dos Produtores de Algodão apontam que o Brasil poderá dobrar a produção de algodão até 2010. Estima-se com isso, um aumento da exportação do produto.

Em 2005, a EMBRAPA apresentou a cultura do algodão como uma das 10 mais importantes do país, ocupando o quinto lugar mundial em superfície cultivada, gerando milhares de empregos diretos e indiretos. A produção de algodão herbáceo foi o destaque da safra nacional de 2004 que, por causa dos bons preços praticados, cresceu cerca 73% em relação a 2003, registrando aumento de aproximadamente 60% na área cultivada. Na região de Leme/SP, a economia agrícola é baseada na produção de cana-de-açúcar, laranja e algodão. Emprega-se por safra, aproximadamente, 4100 pessoas, na maioria das vezes migrantes da região nordeste de nosso país. O Município possui 859 propriedades rurais ocupando uma área de 38.88,7 ha. A cultura do algodão ocupa 8,6% da área total plantada (LEME, 2006).

2.5 A Agricultura Familiar

A importância e o papel da agricultura familiar vêm merecendo maior destaque nos últimos anos, impulsionada, principalmente, pelo debate sobre desenvolvimento sustentável, geração de emprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimento local. Devido a sua heterogeneidade, a definição de agricultura familiar encontra muitos conceitos. Lamarche (1993, p. 15) define a agricultura familiar com o termo "exploração familiar" como sendo (...) uma unidade de produção agrícola onde propriedade e trabalho estão intimamente ligados à família".

A agricultura familiar desempenha um importante papel na economia brasileira, sendo que sua produção representa 37,9% de toda a produção nacional, envolvendo 85,2% dos estabelecimentos rurais, embora desproporcional à sua participação na área total destes estabelecimentos (30,50%). É também a principal geradora de postos de trabalho no meio rural brasileiro (INCRA/FAO, 2000). Segundo dados da FAO/INCRA (1996), existiam no Brasil um total de 5.801.809 estabelecimentos familiares, dos quais 993.978 presentes na Região Sudeste.

Em 2003 as cadeias produtivas da agricultura familiar foram responsáveis por 10,1% do PIB nacional, o que corresponde a um valor adicionado de R$ 156,6 bilhões. Os dados complementam estudo realizado pela INCRA/FAO (2000) onde demonstrou-se que dispondo de 30,5% da área total, os estabelecimentos familiares foram responsáveis por quase 38% do valor bruto da produção agropecuária nacional. Fica evidente, assim, a importância da agricultura familiar na contribuição para o desenvolvimento do setor agropecuário nacional.

O dinamismo da agricultura familiar no último período pode ser atribuído, em grande parte, ao resgate de diversas políticas públicas, especialmente o crédito subsidiado por meio do PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar). Em 2003, as operações de crédito do PRONAF mantiveram 3,3 milhões de agricultores em seus postos de trabalho e geraram 650 mil novos empregos no campo (BCB, 2006). O PRONAF destina-se ao apoio financeiro das atividades agropecuárias e não agropecuárias exploradas mediante emprego direto da força de trabalho do produtor e de sua família.

A cotonicultura em São Paulo sempre foi ancorada na estrutura familiar e em pequenos e médios estabelecimentos, sistema que absorvia grande quantidade de mão-de-obra permanente e também um expressivo contingente de trabalhadores temporários, principalmente para a colheita manual (IEL/CNA/SEBRAE, 2000). No município de Leme, segundo Lamarche (1993), a organização do trabalho esteve intimamente ligada à família. O trabalho familiar organizou-se em torno do algodão. Dessa forma, a agricultura familiar foi solidamente implantada e caracteriza-se, atuamente, por sua estrutura de produção integrada à economia de mercado (algodão, soja, café e de frutos cítricos).

 

3 MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido junto à agroecossistemas algodão de exploração familiar localizados no município de Leme, região central do estado de São Paulo. Foram estudadas três explorações agrícolas familiares. A principal atividade agrícola destas famílias é o algodão. A safra estudada nesta pesquisa refere-se ao ano agrícola 2003/2004. A média de área cultivada por agricultor é de seis hectares.

Tendo em vista o enfoque na exploração familiar, optou-se por considerar uma das tipologias apresentadas pelo PRONAF.Considerou-se agricultores beneficiários do Programa e enquadrados no grupo "D". Este grupo compreende agricultores familiares que: a) explorem parcela de terra na condição de proprietário, posseiro, arrendatário, parceiro ou concessionário do Programa Nacional de Reforma Agrária; b) residam na propriedade ou em local próximo; c) não disponham, a qualquer título, de área superior a quatro módulos fiscais, quantificados segundo a legislação em vigor; d) obtenham, no mínimo, 80% da renda familiar da exploração agropecuária e não agropecuária do estabelecimento; e) tenham trabalho familiar como predominante na exploração do estabelecimento, podendo manter até 2 empregados permanentes, sendo admitido ainda o recurso eventual à ajuda de terceiros, quando a natureza sazonal da atividade o exigir; e, f) obtenham renda bruta anual familiar acima de R$ 10.000,00 e até R$ 30.000,00 excluídos os proventos vinculados a benefícios previdenciários decorrente de atividades rurais.

Nesta pesquisa, utilizou-se dados provenientes de fontes primárias e secundárias. A reconstituição do itinerário técnico do agroecossistema algodão e informações referentes à produção foram obtidas através de relatos orais e aplicação de questionários especificamente elaborados. Foram identificadas três explorações familiares como objeto de estudo. Na construção da estrutura de dispêndios energéticos considerou-se os valores médios obtidos, em função destes agricultores apresentarem o mesmo itinerário técnico e estarem dentro da tipificação proposta neste trabalho.

O itinerário técnico do agroecossistema algodão se compôs de 16 operações: limpeza do terreno, aração, calagem, gradagem, aplicação de herbicida, conservação de terraço, plantio e adubação, adubação em cobertura, aplicação de herbicida, aplicação de inseticida, combate à formiga, capina mecânica e manual, aplicação de desfolhante, colheita manual e transporte. Foi exceção o combate à formiga e aplicação de desfolhante, operações que eventualmente não foram realizadas em todos os agroecossistemas. A média aritmética das operações constituiu-se no resultado a ser considerado na construção da estrutura de dispêndios energéticos.

Cada operação foi descrita no sentido de identificar e especificar, o(s) tipo(s) e quantidade(s) de máquina(s) e implemento(s) utilizado(s) os insumos usados e a mão-de-obra envolvida, quantificando-a e determinando, individualmente, a massa, altura, idade e gênero dos agricultores(as) e trabalhadores(as). Converteu-se as unidades físicas encontradas em unidades energéticas. Determinou-se o tempo de operação por etapa e por unidade de área (ha). Assim também foi determinada a jornada de trabalho; os coeficientes de tempo de operação por unidade de área; a identificação da maquinaria, implementos e equipamentos, suas especificações e respectivos consumos de combustível, lubrificantes e graxas; além da quantificação da mão-de-obra utilizada.

A apresentação final dos dados foi em megajoules (MJ). Relevante ressaltar que os procedimentos metodológicos adotados foram embasados em revisão de literatura já consagrada.

 

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Visando atingir o objetivo proposto, os resultados são demonstrados e discutidos abrangendo cada uma das operações do itinerário técnico do agroecossistema algodão. Assim, pode-se observar na Tabela 1, a participação das diferentes operações do itinerário técnico.

 

 

A estrutura de dispêndios calóricos apresentada na Tabela 2, correspondente as médias dos agricultores estudados para uma produção física media de 1.337 arrobas (20.055 kg), ou seja, uma produtividade média de 224 arrobas . ha-1 (3.360 kg . ha-1). Observou-se uma participação de 34,21% e 65,79% da energia do tipo direta e indireta, respectivamente.

Assim, o agroecossistema estudado dependeu fundamentalmente de fonte de energia industrial, particularmente inseticidas (39,71%) e fertilizantes químicos (19,88%) e de fontes fósseis (33,80%). As fontes energéticas utilizadas no agroecossistema apresentaram-se pouco equilibrados (Figura 1).

 

 

Conforme pode ser observado na Figura 1, a participação procedente da energia de fonte industrial (65,79%) predominou sobre a energia fóssil e, por sua vez, ambas predominaram significativamente sobre a fonte biológica de energia utilizada (0,40%). Esse fato pode ser compreendido pela alta utilização de inseticidas (39,71%) e utilização de adubos químicos (19,88%), particularmente, nas operações de plantio e adubação em cobertura (Figura 3). Na estrutura de dispêndios calóricos, a energia proveniente da fonte fóssil participou com 33,80%, situando-se como segundo componente em participação.

Ao decompor a fonte fóssil (Figura 2), a utilização do óleo diesel resultou numa participação de 33,32% enquanto para os componentes lubrificante e graxa obteve-se 0,17% e 0,31%, respectivamente.

 

 

Uma análise detalhada das fontes de energia demonstra que o itinerário técnico utilizado pelos agricultores estudados, privilegiou o tipo de energia indireta tais como aplicação de inseticidas e herbicida, adubação química e mecanização, em decorrência a fonte fóssil, de energia direta, particularmente, óleo diesel. Sendo assim, a fonte biológica foi a de menor participação, observando-se a pouca representatividade da força de trabalho humana no agroecossistema estudado.

 

5 CONCLUSÕES

 

6 Referências

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