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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Pirólise rápida de biomassa em reator de leito fluidizado Unicamp-Brasil. Problemas, causas e soluções

 

 

Juan Miguel Mesa PérezI; Henry Ramón Marín MesaI; José Dilcio RochaII; Edgardo Olivares GómezIII; Luís Augusto Barbosa CortezIV; Fabio Rodrigo ShimabukuroIV; Marco Jim Gui VallinIV

IBioware Tecnologia, www.bioware.com.br, Campinas-SP, Brasil
IINúcleo interdisciplinar de Planejamento Energético - NIPE/UNICAMP e Bioware Tecnologia, www.bioware.com.br, Campinas-SP, Brasil
IIINúcleo interdisciplinar de Planejamento Energético - NIPE/UNICAMP
IVFEAGRI/UNICAMP, Universidade de Campinas-SP, Brasil

 

 


RESUMO

O reator de leito fluidizado desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp nas instalações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba-SP, é o primeiro reator de pirólise rápida de biomassa no Brasil para produzir bio-óleo. Neste trabalho são apresentados os problemas de operação com o Reator em funcionamento como o vazamento de gases produzidos na pirólise por meio do sistema de alimentação de biomassa, o travamento da rosca de alimentação de biomassa, sinterização do material inerte no leito, etc. As possíveis causas são descritas. Assim pôde-se solucionar os primeiros, seja pela diminuição da altura do leito de inertes, pelo aumento da porcentagem de enchimento da rosca, entre outras. Os resultados dos testes exploratórios possibilitaram o trabalho estável da planta, maior conhecimento dos fenômenos que ocorrem durante a pirólise rápida em leito fluidizado, assim como o estabelecimento de níveis adequados para os fatores independentes identificados durante os trabalhos experimentais restantes.

Palavras Chave: Reator, leito fluidizado, pirólise rápida, biomassa, bio-óleo


ABSTRACT

The fluidizated bed reactor developed by the researchers of the Unicamp in the installations of the Sugar Cane Technology Center (CTC), in Piracicaba-SP, is the first reactor of biomass fast pyrolysis in Brazil to produce bio-oil. In this work the problems of operation with the Reactor in functioning are presented as the emptying of gases produced in the pyrolysis by means of the biomass feeding system, the block of the thread of biomass feeding, the inert material sintering in the bed, etc. The possible causes are described. Thus it, the first ones could be solved, either by the reduction of the height of the inert bed, or by the increase of the wadding percentage of the thread, among others. Theese results of the exploratory tests make possible the steady work of the plant, greater knowledge of the phenomena that occur during the fast pyrolysis in fluidizated bed, as well as the establishment of adjusted levels for the identified independent factors during the remaining experimental works.

Keywords: reactor, fluidizated bed, fast pyrolysis, biomass, bio-oil.


 

 

1 Introdução

A produção de biomassa para fins energéticos é renovável, gera empregos e requer menor investimento por posto de trabalho criado do que os combustíveis fósseis. Além disso descentraliza a produção regionalmente, tem o ciclo do carbono fechado (o que significa diminuição das emissões de poluentes), economiza as fontes não renováveis, etc.

A pirólise se caracteriza pela degradação térmica do combustível sólido, a qual pode ser realizada em ausência completa do agente oxidante ou em uma quantidade tal que a gaseificação não ocorra extensivamente.

A pirólise rápida de biomassa para a produção otimizada da fração líquida aquosa orgânica (bio-óleo) é um processo de conversão termoquímica, ou seja, ocorre em temperaturas elevadas e envolve reações químicas. A tecnologia de leito fluidizado é interessante pela versatilidade da técnica, pela sua relativa simplicidade quando comparada com as demais opções (como a pirólise a vácuo, o cone rotativo, o vórtex ablativo, etc.) e aos custos atrativos de implantação (BRIDGWATER, 2001).

O Reator de leito fluidizado desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp nas instalações do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), em Piracicaba-SP, é o primeiro reator de pirólise rápida de biomassa no Brasil para produzir bio-óleo. O bio-óleo obtido pela pirólise de biomassa pode ser usado como combustível renovável em substituição ao diesel e ao óleo combustível na geração estacionária de energia em sistemas termelétricos.

Objetiva-se com este trabalho descrever os problemas de funcionamento apresentados durante a operação do Reator de leito fluidizado, definir as suas possíveis causas e as medidas adotadas como soluções aos primeiros. Estas análises possibilitarão maior conhecimento dos fenômenos que ocorrem durante a pirólise rápida em leito fluidizado, assim como o estabelecer níveis adequados para os fatores identificados durante os trabalhos experimentais.

 

2 Experimental

2.1 Planta de pirólise em escala piloto

Os testes exploratórios visando trabalho estável do reator foram realizados na planta de pirólise rápida da Unicamp, Brasil. A instalação experimental em escala piloto está baseada na tecnologia de leito fluidizado e utiliza ar como agente de fluidização. As principais partes que formam a planta são: sistema de alimentação de biomassa composto por esteira transportadora (1), silo (2), dosador de biomassa (3), rosca alimentadora (4); reator de leito fluidizado (5) com placa distribuidora de ar (6), dois ciclones em série para separar os finos de carvão (7), válvula amostradora de carvão (8) com tambores para armazenar o carvão (9), sistema de recuperação de finos de carvão via úmida (10), sistema de recuperação de bio-óleo (11) e chaminé (12) (Fig. 1).

 

 

O reator é cilíndrico e foi construído em aço carbono com diâmetro interno de 417mm, revestido internamente com isolamento térmico refratário. Sua capacidade nominal de alimentação é de 200kg.h-1 de biomassa polidispersa seca e utiliza um leito de material inerte durante a sua operação. O sistema de aquisição de dados registra e armazena a temperatura e a pressão estática ao longo da altura do reator e na saída dos sistemas de recuperação.

2.2 Procedimento Experimental

O reator é inicialmente aquecido utilizando-se finos de carvão vegetal oriundos do processo de carbonização da lenha de eucalipto, processo que continua até que o leito de areia sílica atinja uma temperatura média entre 550oC e 600oC. Nessas condições, e encontrando-se a vazão mássica de ar no valor estabelecido, alimenta-se a biomassa. Os produtos da pirólise tais como carvão, bio-óleo e agua ácida são produzidos continuamente e armazenados em reservatórios adequados.

2.3 Biomassa usada

A biomassa usada foi capim-elefante, da variedade Pennisetum purpureum com distribuição de tamanho de partículas entre 1.68 e 2.38 mm.

2.4 Material inerte usado como leito no reator

O material inerte utilizado é areia sílica (dióxido de silício = SiO2) com partículas de 0,164 mm de diâmetro médio e 0,6 de esfericidade média. A velocidade mínima de fluidização registrada a 25ºC é de 0,025 m/s.

 

3 Resultados e discussões

Para garantir a operação estável do reator de leito fluidizado da planta PPR-200 em regimem de pirólisis rápida foram feitos testes exploratórios. Na Tabela 1, resumem-se os principais problemas, suas possíveis causas e as soluções encontradas para cada um desses testes.

3.1 Vazamento de gases produzidos na pirólise por meio do sistema de alimentação de biomassa

Na Fig. 2, apresentam-se as características visuais do vazamento de gases da pirólise pelo sistema de alimentação. Quando isso acontece, os perfis de temperatura e pressão ao longo da altura do reator são instáveis, como se mostra nas Fig. 3 e 4.

 

 

Quando não ocorre vazamento, as características dos perfis de temperatura e pressão ao longo da altura do reator são representados nas Fig. 5 e 6.

Das soluções postas em prática com vistas à diminuição do vazamento de gases (Tabela 1), o aumento da porcentagem de enchimento da rosca com biomassa mostrou ser efetiva.

O duto no qual está situada a rosca sem fim é um caminho preferencial para o escoamento dos gases da pirólise. O vazamento de gases pelo sistema de alimentação torna inviável a operação do reator e do sistema de alimentação.

Na tabela 2 se mostram determinadas condições de operação nas quais não se verificou vazamento. Isso foi obtido com base em experimentos a quente realizados com capim-elefante.

Pode-se verificar que para todas as condições testadas (tabela 2), a porcentagem de porcentagem de enchimento da rosca esta na faixa de 33 a 40 %. A massa de biomassa necessária para obter 100% de enchimento da rosca (0,073m3) é de 4,1 kg.

O mesmo efeito pode ser logrado diminuindo a área efetiva do duto da rosca aumentando o diâmetro do eixo central, Fig. 7 a). Para manter a capacidade de alimentação da rosca pode ser incrementada a velocidade de rotação. Os testes de avaliação mostraram essa solução como efetiva. Na Fig. 7 b) se mostra a forma da rosca antes de ser modificada.

3.2 Travamento da rosca de alimentação de biomassa

O travamento da rosca aparece com maior freqüência quando a alimentação é realizada na fase densa do leito de inerte. Inicialmente, a biomassa acumula-se no interior do leito e, em seguida, compacta-se na ponta de rosca (Fig. 8). Se a alimentação continuar, tanto a rosca quanto o motor podem ser danificados.

 

 

3.3 Sinterização do material inerte no leito

A sinterização do material inerte ocorre quando a temperatura do leito é maior que a correspondente ao ponto de fusão da mistura areia-biomassa (Fig. 9 A e B). A presença dos elementos potássio e sódio nas cinzas diminuem o seu ponto de fusão. Outras impurezas presentes na biomassa, como pedras e terra, também contaminam o leito de inerte, dificultando a operação do reator (Fig. 9.C).

3.4 Verificação do fenômeno da segregação

A biomassa pode segregar-se na parte inferior do leito ou em sua superfície. Em ambas as situações, a temperatura do leito aumenta rapidamente na região onde a camada de biomassa se segrega. Se a velocidade superficial do gás é próxima à velocidade de mínima fluidização, a camada de biomassa se forma na parte superior do leito. Para velocidades superficiais do gás bem maiores que a velocidade mínima de fluidização, acontece a inversão da camada, ou seja, a biomassa segrega-se na parte inferior do leito de inerte.

Esses fenômenos foram estudados por M. G. RASUL (1999), com misturas binárias de materiais inertes e bagaço de cana-de-açúcar. O estudo demonstrara que a inversão da camada acontece para valores de velocidade superficial do gás entre a velocidade de mínima fluidização (umf) e a mínima de bolhas (umb) - essa última definida para a máxima porosidade da fase densa do leito de inerte. A relação umb/umf é uma medida do grau de expansão do leito de inerte.

A Fig. 10, publicada por M.G. RASUL (1999), mapeia o regime de mistura/ segregação do leito fluidizado para o sistema binário inerte-bagaço de cana-de-açúcar, onde é a relação entre as densidades da biomassa e do material inerte e a relação entre os diâmetros das partículas de biomassa e inerte.

 

 

3.5 Acúmulo de biomassa e carvão vegetal dentro do leito

Durante a partida do reator, se a temperatura do leito for menor que 400oC, a devolatilização das partículas carbonáceas não acontece de forma extensiva. Essa situação provoca o acúmulo da biomassa no reator e a diminuição da temperatura no leito (Fig. 11).

 

 

4 Conclusões

Os resultados dos testes exploratórios possibilitaram o trabalho estável da planta, maior conhecimento dos fenômenos que ocorrem durante a pirólise rápida em leito fluidizado, assim como o estabelecimento de níveis adequados para os fatores independentes identificados durante os trabalhos experimentais restantes.

A diminuição da área efetiva da rosca facilita o controle da operação do sistema de alimentação com o objetivo de reduzir o vazamento de gases produto da pirólise. Por outro lado, evita a operação do reator com rosca vazia (condição que favorece o vazamento de gases) ou com excesso de biomassa (o que provoca acumulo compactação e ruptura do acoplamento do motor rosca).

Outras mudanças na configuração da planta de pirólise da Unicamp são necessárias a fim de se efetivar sua viabilidade técnica para a obtenção de bio-óleo, como:

 

Referências Bibliográficas

BRIDGWATER, A.V. Fast pyrolysis of biomass: a handbook. [S.l.]: Aston University, Bio-energy research group.v.2, UK, 2002.

BRIDGWATER, A.V. Towards the bio-refinery fast pyrolysis of biomass. Renewable energy world, Jan.-Feb., 2001.

RASUL, M.G.; RUDOLPH, V. Fluidized bed combustion of Australian bagasse. Fuel, v. 79, p. 123-130, 2000.

MESA PEREZ. JM., Testes em uma planta de pirólise rápida de biomassa em leito fluidizado: Critérios para sua otimização., Tese de Doutorado, Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Agrícola, p 46-58, 2004.