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An. 6. Enc. Energ. Meio Rural 2006

 

Principais culturas para obtenção de óleos vegetais combustíveis no Brasil

 

 

Anna Lúcia Mourad

Doutoranda do Departamento de Energia da Faculdade de Engenharia Mecânica da DE/FEM/UNICAMP e Pesquisadora Científica no Centro de Tecnologia de Embalagem do Instituto de Tecnologia de Alimentos CETEA/ITAL. Av. Brasil, 2880, Campinas, SP, Brasil Fone: 19 3743-1910 e-mail: anna@ital.sp.gov.br

 

 


RESUMO

Neste trabalho procurou-se identificar como o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel, pode se desdobrar nas diferentes regiões geográficas, a partir das características específicas de cada cultivo e do panorama atual de produção dos mesmos. Combinando-se as produções de dendê, amendoim, milho, soja, côco-da-baía, algodão, mamona, girassol e canola de cada região geográfica com os rendimentos médios em óleo para o ano de referência de 2004, calculou-se que o potencial de geração de óleo para as regiões Sul (32,9%) e Centro-oeste (40,8%), regiões de alta renda per capita, são bem maiores que as regiões Norte (3,4%) e Nordeste (10,1%), em função principalmente das elevadas produções de soja e milho. Considerando a participação de todas estas oleaginosas, estimou-se que seria necessário aumentar cerca de 5% da produção das mesmas para posterior transformação em combustível vegetal para suprir a demanda. Esta modesta estimativa de crescimento exige prudência por parte dos agricultores e transformadores, que devem dimensionar seus investimentos corretamente, para que suas produções possam ser absorvidas. O rendimento em óleo e o uso de terra por tonelada de óleo produzida são indicadores de grande importância a serem considerados no programa governamental para avaliação de viabilidade econômica, social e ambiental.

Palavras chave: óleos vegetais combustíveis, mamona, soja, girassol, milho, dendê, amendoim, canola, côco-da-baía..


ABSTRACT

This paper tries to identify how the National Program of Production and Useof Biodiesel may unfold itself in different geographical areas starting from the specific characteristics for each cultivation and volume production of each plant at present. By combining the production of palm, peanut, corn, soy beans, coconut, cotton, castor beans, sunflower and canola, of each geographical area, with the average oil yield as compared with the production of 2004, it has been calculated that the potential of oil production from areas in the South (32,9%) and Middle west (40,8%), having a high per capita income, are much higher than the areas the North (3,4%) and Northeast (10,1%), mainly due to the high soy bean and corn production. Considering the participation of all these oleaginous raw materials, it has been considered that it would be necessary to increase about 5% of the actual production of these plants for a later transformation in fuel to supply the biodiesel demand. This modest growth estimate requires caution on the part of the farmers and oil crushers and converters for they must project their investments correctly, so that their production can be absorbed by the market. The oil yield per hectare and the land use per biofuel ton are indicators which have a great importance to be considered in the National Program to evaluate aspects of economic, social and environmental feasibility.


 

 

Justificativa

A introdução do biodiesel na matriz energética brasileira dá-se efetivamente através da Lei 11.097/2005, que dispõe sobre a introdução deste biocombustível na matriz energética brasileira. A Lei prevê a obrigatoriedade da adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor final em todo o País a partir de 2008. (MME, 2005).

A matéria prima para a produção do biodiesel pode ser qualquer um dos óleos vegetais, como os óleos vegetais de soja, mamona, girassol, palma (dendê), algodão, milho, babaçu, amendoim, canola, gordura animal, óleos residuais e outras oleaginosas(LADETEL, 2005).

 

Objetivo

A introdução de biocombustíveis na matriz energética brasileira tem sido incentivada principalmente pela ação governamental, que prevê um desenvolvimento econômico e social para o país bem como a possibilidade de reduzir a dependência externa do diesel. Este trabalho procura identificar como o PNPB que possibilita a produção dos combustíveis oriundos de várias oleaginosas, pode se desdobrar nas diferentes regiões geográficas, a partir das características específicas de cada cultivo e do atual estágio de produção das mesmas.

Características gerais dos algumas culturas

Soja

Em 2004, o Brasil foi o segundo maior produtor mundial de soja, com produção de 50 milhões de toneladas ou 25% da safra mundial, estimada em 200 milhões de toneladas.

A soja, bem como seus subprodutos são largamente usados na alimentação humana. É rica em proteínas de boa qualidade, ácidos graxos e compostos fitoquímicos. Pesquisas têm demonstrado que as isoflavonas da soja reduzem os riscos de alguns tipos de câncer.

A soja adapta-se bem em uma ampla faixa de clima, sendo que as temperaturas ótimas para o melhor desenvolvimento da soja estão entre 20 e 35° C. Precipitações pluviométricas anuais de 700 a 1.200 mm bem distribuídas preenchem perfeitamente suas necessidades hídricas. Regiões com excessiva umidade não são adequadas para o seu cultivo.

Além das necessidades climáticas, a cultura da soja somente é economicamente viável em áreas que possibilitam a mecanização, com infra-estrutura, recursos humanos e financeiros disponíveis.

O plantio de soja exige como premissas básicas a correção da acidez do solo, a não existência de solo compactado, a constante diminuição da infestação de ervas daninhas e a cobertura do solo com alguma cultura de inverno. O controle das ervas daninhas que infestam o solo é feito com o uso de herbicidas.

A maioria dos solos com a cultura da soja plantada constituem-se em solos ácidos e deficientes em alguns nutrientes. A correção da acidez é feita através da calagem, ou seja, adição de calcário. A adubação requer adição de enxofre, fósforo e potássio. Em solos deficientes em manganês, também é necessária sua correção (EMBRAPA SOJA, 2006).

O rendimento em óleo é 18,5% da massa do grão, com geração de 78% de farelo (BRUM, 2006).

Girassol

O girassol é uma das quatro culturas oleaginosas produtoras de óleo vegetal comestível em utilização no mundo. Do girassol, quase tudo se aproveita. As raízes, do tipo pivotante, promovem reciclagem de nutrientes. As hastes podem ser usadas para forração acústica, além de juntamente com as folhas, poderem ser ensiladas para formação de adubo verde. Das flores, podem ser extraídos de 20 a 40kg de mel por hectare plantado e das sementes, fabrica-se o óleo para consumo humano. A alta relação de ácidos graxos insaturados em relação a de saturados (7,8:1) confere-lhe boas características para consumo humano quanto a prevenção do colesterol (UNGARO, 2000).

O girassol é uma cultura que se adapta bem a diversos ambientes, podendo tolerar temperaturas baixas e períodos de estresse hídrico, em função principalmente de seu sistema radicular profundo e altamente ramificado. Em geral, 500 a 700 mm de água, bem distribuídos ao longo do ciclo, resultam em rendimentos próximos ao máximo (EMBRAPA SOJA, 2005).

A temperatura ótima para o seu desenvolvimento situa-se entre 27 a 28ºC. O girassol é uma planta sensível à acidez do solo, geralmente apresentando sintomas de toxidez em pH menor que 5,2 exigindo a correção da acidez do solo.

Embora não requeira solos de alta fertilidade, além da exigência de que o solo não apresente acidez, o mesmo não deve estar compactado e deve bem drenado para o bom desenvolvimento de suas raízes, evitando o tombamento da planta. A deficiência em nitrogênio tem sido apontada como a desordem nutricional mais freqüente do girassol, afetando o rendimento da mesma. A deficiência em fósforo causa problemas de crescimento e a deficiência de potássio está relacionada à resistência da haste (UNGARO, 2000). Em geral, aplica-se entre 40 a 60 kg/ha de nitrogênio, de 40 a 80 kg/ha de P2O5 e 40 a 80 kg/ha de K2O (EMBRAPA SOJA, 2005).

O conteúdo de óleo nos aquênios das variedades mais comercializadas varia entre 38 a 48% de óleo (UNGARO, 2000).

Coco

O coqueiro também é uma planta de funções múltiplas, pois a partir da mesma pode-se obter bebidas, alimentos, madeira, fibra, combustível, ração animal, cosméticos, remédios, álcool, óleo entre outros produtos. No Brasil, entretanto, a quase totalidade da produção é destinada ao fornecimento da água de coco para consumo in natura.

As fibras duras e rígidas encontram utilização no isolamento térmico e acústico

Para que o coqueiro manifeste sua potencialidade máxima em termos de produção, a temperatura média anual deve estar em torno de 27°C, com temperatura mínima mensal igual ou superior a 18° C. O período de insolação deve estar entre 1800 e 2000horas anuais. A precipitação pluviométrica considerada ideal está entre 1.500 e 1.800 mm/ano, com distribuição mensal nunca inferior a 130 - 150 mm. As maiores plantações brasileiras encontram-se na faixa litorânea do nordeste, que contribui com aproximadamente 81% da produção nacional. Estas características favorecem sem dúvida o plantio nas regiões mais quentes e quase a inviabiliza na região sul.

Dendê

O dendezeiro está entre as oleaginosas tropicais de maior rendimento em óleo existente, com produção entre 3500 e 6000 kg/ha O óleo obtido é utilizado de duas formas básicas: puro, o conhecido "azeite-de-dendê", que é extraído da polpa do fruto do dendezeiro, com sabor de sabor doce, cheiro forte e alta consistência, bastante utilizado na culinária. O óleo industrializado, que após refino e desodorização, é utilizado como matéria prima para a industrialização de maioneses e margarinas. No Brasil, atualmente, as maiores plantações de dendê estão concentradas no Pará, no Amazonas, no Amapá e na Bahia. (EMBRAPA RONDÔNIA, 2006).

O dendezeiro é uma palmeira que atinge até 15 m de altura, cultura permanente de vida útil de 25 anos, sendo a produção de cachos iniciada 3,5 anos após o plantio. Requer uma cultura em solos profundos, não compactos, médias mínimas de temperatura superiores a 24Cº, precipitações acima de 2000 mm/ano, distribuídos durante todos os meses. Requer baixa mecanização e pequena quantidade de defensivos agrícolas. Tais características fazem do Estado do Amazonas um potencial perfeito para prática de tal cultura, pois possui todas as características climáticas necessárias a seu pleno estabelecimento (SANTOS, 2005).

Do fruto são retirados o óleo de palma da polpa e o óleo de palmiste da amêndoa que são utilizados em produtos alimentícios, cosméticos, lubrificantes de máquinas, etc. As fibras das folhas e os cachos vazios são utilizados como tampas de lareiras, o troco da palmeira na confecção de móveis, a torta de palmiste resultante da extração do óleo é aproveitada como adubo orgânico e ração para animais. A fibra seca e a casca do fruto são usadas como combustível na caldeira sendo as cascas aproveitadas também como matéria para carvão ativado (SANTOS, 2005).

Canola

A cultura de canola constitui lucrativa e vantajosa alternativa de cultivo de inverno no norte do Rio Grande do Sul (TOMM, 2004)

Os grãos de canola produzidos no Brasil possuem em torno de 24 a 27% de proteína e 34 a 40% de óleo. O óleo de canola é um dos mais saudáveis, pois possui elevada quantidade de Ômega-3 (reduz triglicerídios e controla arteriosclerose), vitamina E (antioxidante que reduz radicais livres), gorduras mono-insaturadas (reduzem LDL) e o menor teor de gordura saturada (controle do colesterol) de todos os óleos vegetais. Médicos e nutricionistas indicam o óleo de canola como o de melhor composição de ácidos graxos para as pessoas interessadas em dietas saudáveis. O farelo de canola é um excelente suplemento protéico na formulação de rações para bovinos, suínos, ovinos e aves (EMBRAPA TRIGO, 2005).

A lavoura ainda tem custos elevados, exigindo cuidados especiais no cultivo. Requer solos úmidos, mas não tolera chuvas em excesso ou geadas durante a fase inicial de crescimento. O cultivo de canola reduz a ocorrência de doenças, contribuindo para que o trigo semeado no inverno subseqüente produza mais e tenha melhor qualidade e menor custo de produção. As pesquisas sobre o cultivo e colheita estão sendo intensificadas para aumentar a confiabilidade dos agricultores, que a consideram arriscada.

Rendimento de grãos superiores a 2.000 kg/ha obtido por determinados agricultores e em parcelas experimentais evidenciam que o potencial de rendimento de canola nas condições do Sul do Brasil supera a produtividade média obtida no Rio Grande do Sul e no Paraná, entre 700 e 800 kg/ha em 2000 (TOMM, 2000). O rendimento da semente em óleo gira em torno de 40 a 45%.

Panorama da produção atual das principais oleaginosas

Quando se avalia a quantidade produzida de algumas das principais oleaginosas, observa-se que dentre os cultivos que tem potencial para produção de óleo, há uma diferença grande no volume de produção atual: a produção do milho e da soja situa-se entre 40 e 50 milhões de toneladas de grãos nos últimos anos. Em patamares bem inferiores, na faixa de 1 a 2 milhões, está a produção de côco-da-baía (Figura 1).

A produção de dendê é da ordem de 900.000 toneladas, enquanto que a produção de amendoim gira em torno de 240.000 toneladas.

Dentre as culturas aqui consideradas no período de 1995 e 2004, a mamona é uma das que apresenta maior oscilação entre as produções anuais, tendo sido registrados aumento e queda consecutivos, oscilando entre 70.000 e 140.000toneladas. A produção de algodão (em caroço), a menor dentre estas, também sofreu grandes oscilações nos últimos anos. Em 2000, atingiu produção máxima, de 8.000 toneladas anuais, enquanto que no ano interior, a produção não alcançou 1.000 toneladas (Figura 2).

Distribuição geográfica das principais oleaginosas

A avaliação da distribuição destas culturas pelas regiões geográficas (Figura 3) mostra que:

- a região nordeste é a maior produtora de mamona (91,3%), côco-da-bahia (70,6%) e algodão arbóreo (~100%)

- a região norte produz a maior parte (81,2%) do dendê no país

- a região sudeste é a maior produtora de amendoim (81,1%) e também tem participação significativa na produção de milho (25,7%)

- a região centro-oeste tem expressivas produções de soja (48,5%) e milho(22,7%)

- a região sul destaca-se na produção de milho (42,0%) e soja (33,1%).

A avaliação dos rendimentos médios (Figura 4) mostra que o rendimento da cultura de côco-da-baía cresceu cerca de 45% entre 2000 a 2004 em relação a média dos anos anteriores, mostrando que a mesma vem sendo otimizada no período avaliado. As culturas de dendê, amendoim, milho e soja tiveram crescimento no rendimento nos mesmos períodos variando entre 0 e 23%. A cultura do algodão embora tenha praticamente triplicado o seu rendimento nestes mesmos períodos tem um baixo rendimento por hectare comparado as demais culturas.

A partir do rendimento médio obtido no país no período compreendido entre 2000 e 2004 e do conteúdo médio de óleo de cada cultura, avaliou-se o potencial de produção de óleo, como mostrado na Tabela 1.

Os valores aqui apresentados são apenas indicativos, uma vez que é possível obter cultivares com maiores produtividades tanto da cultura como em óleo. Estes valores mostram, entretanto, a ordem de grandeza do potencial de cada matéria prima. O dendê e o côco-da-baía apresentam elevado potencial de geração de óleo, da ordem de 1800kg/hectare. Logo abaixo, vem o amendoim, com cerca de 800kg/hectare. A soja, o girassol e a canola ficam na faixa entre 500 e 600 kg por hectare. A mamona e o milho, entre 200 e 300kg/hectare. O algodão tem a menor produtividade em óleo dentre os avaliados.

Cabe lembrar que algumas culturas estão próximas ao rendimento máximo em função do atual estágio de produção e pesquisa. Outras, bem abaixo do esperado. Há experimentos regionalizados onde o rendimento da canola foi o dobro do aqui apresentado, mas a cultura necessita ainda de maior volume de pesquisas para melhoria das técnicas e cultivares empregados.

O rendimento da mamona, por outro lado é fortemente afetado pela região de cultivo: enquanto que na região nordeste a produtividade média foi de 636 kg/ha, na região sudeste, na mesma safra de 2003/04, a produtividade média foi de 1167 kh/ha, devido principalmente a adoção de técnicas agrícolas mais modernas e uso de sementes selecionadas (SAVY, 2005).

Considerando-se a quantidade produzida de cada uma destas culturas nas diferentes regiões geográficas e o rendimento médio em óleo das mesmas no Brasil, estimou-se qual seria o potencial de participação das regiões geográficas, se todas estas culturas fossem usadas como matéria-prima para a produção de biocombustível, como mostrado na Tabela 2.

Esta distribuição mostra que se a participação de todas estas oleaginosas tornar-se efetiva, as regiões sul e centro-oeste seriam as principais potenciais fornecedoras de óleo do programa, fato fortemente influenciado pelas produções de soja e milho, muito superiores as demais. Embora o programa governamental tenha forte apelo de desenvolvimento social para as regiões Norte e Nordeste, regiões onde se registram as menores rendas per capita do país, as regiões Sul e Centro-oeste, têm maior potencial de fornecimento destes combustíveis que as demais, neste programa que possibilita a produção de combustíveis vegetais a partir das múltiplas fontes.

Estimativa do aumento da produção de oleaginosas para suprir demanda de biocombustíveis

A partir do volume atual de produção das oleaginosas e do rendimento em óleo de cada cultura, estimou-se que seria necessário aumentar ou redestinar cerca de 5% da produção das mesmas para posterior transformação em combustível vegetal para suprir a demanda de biocombustível, estimada em 813 milhões de litros para o ano de referência de 2004, considerando-se a obrigatoriedade de adição de 2% de combustível vegetal (Lei 11097/05 DE 13 DE JANEIRO DE 2005) ao diesel de petróleo.

Muitos produtores estão investindo na produção destes cultivos acreditando num crescimento de mercado que talvez não ocorra nas proporções esperadas.

É importante dimensionar este mercado para que não se crie uma falsa expectativa de crescimento na produção destas oleaginosas num país onde historicamente o produtor tem sido um dos elos da cadeia produtiva, mais afetado pelo planejamento agrícola inadequado.

Rendimento em óleo & aspectos ambientais

O rendimento em óleo por hectare parece ser apenas mais um dos números que circulam no emaranhado de informações existentes. Entretanto, muitos aspectos sociais e ambientais decorrem destes números, poucas vezes comentado.

O rendimento em óleo está relacionado, em primeiro lugar, à extensão de terra que será destinada ao cultivo agrícola. Os óleos obtidos a partir de algodão, milho e mamona necessitam respectivamente de 14,5 / 4,7 / 3,4 hectares para a produção de 1 tonelada de óleo, enquanto que, em outro oposto, as culturas de dendê, côco-da-baía, amendoim, girassol e canola usam no máximo 2 hectares para a produção da mesma tonelada de óleo.

Seria racional criar um programa de produção de óleo vegetal a ser queimado como combustível a partir de cultivos com baixa rentabilidade no mesmo?

Grandes áreas de plantação estão associadas geralmente a um maior grau de mecanização agrícola, maior transformação da terra e degradação do solo pelo uso de equipamentos pesados e menor possibilidade de viabilização da agricultura familiar.

Neste sentido, cabe também diferenciar as lavouras que são perenes das que são temporárias O IBGE classifica como cultivo de lavoura temporária as plantas com ciclo vegetativo em geral menor que um ano, efetuado em áreas extensas, com necessidade de tratos culturais menos intensivos e sistemáticos do que na horticultura. Os cultivos de lavoura permanente consistem nas plantas de ciclo vegetativo de longa duração, que produzem por vários anos e que necessitam de tratos culturais somente a cada safra.

Portanto, as lavouras permanentes como as de dendê, côco-da-baía e algodão arbóreo, por não serem anuais, não exigem preparação do solo todo ano, revolvimento das terras, elevada quantidade de defensivos agrícolas, etc. Já as lavouras temporárias como amendoim, soja, girassol, canola, mamona, replantadas anualmente, são em geral, mais agressivas ao meio ambiente, pois exigem maiores movimentações de terra, aumentando as possibilidades da ocorrência de processos erosivos.

Ainda, associada a rentabilidade em óleo, está a geração de subprodutos, como as tortas resultantes do processo de esmagamento e extração dos óleos. Assim, quanto menor a rentabilidade em óleo, maior é a quantidade dos subprodutos formados, que devem ter a sua cadeia de aproveitamento também estruturada para evitar acúmulo de resíduos e também viabilizar economicamente o cultivo.

 

Conclusão

O PNPB - Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel vem incentivando a produção de combustíveis a partir de diferentes oleaginosas, apoiado sobre premissas de um acentuado desenvolvimento econômico e social.

Em função das características agronômicas de cada vegetal e das condições climáticas, as regiões geográficas se diferenciam na produção dos diferentes vegetais.

Diferentes rendimentos podem ser obtidos por cada cultura: o dendê e o côco-da-baía apresentam elevado potencial de geração de óleo, da ordem de 1800 kg/hectare. Logo abaixo, vem o amendoim, com cerca de 800 kg/hectare. A soja, o girassol e a canola ficam na faixa entre 500 e 600 kg por hectare. A mamona e o milho, entre 200 e 300 kg/hectare. O algodão tem a menor produtividade em óleo dentre os avaliados.

Combinando-se as atuais produções das regiões geográficas com os rendimentos médios em óleo, observou-se que o potencial de geração de óleo para as regiões Sul (32,9%) e Centro-oeste (40,8%), regiões de alta renda per capita, são bem maiores que as regiões Norte (3,4%) e Nordeste (10,1%), em função principalmente das elevadas produções de soja e milho destas regiões.

A partir do volume atual de produção das oleaginosas e do rendimento em óleo de cada cultura, estimou-se que seria necessário aumentar ou redestinar cerca de 5% da produção das mesmas para posterior transformação em combustível vegetal para suprir a demanda de biocombustível.

O correto dimensionamento deste mercado é necessário para que não se façam investimentos em produções que não possam ser absorvidas, prejudicando os agricultores, que historicamente têm sido afetados por planejamento agrícola inadequado.

O rendimento em óleo e o uso de terra por tonelada de óleo produzida são indicadores de viabilidade econômica, social e ambiental, muito importantes, que devem ser bem avaliados, pois estão relacionados a viabilidade da agricultura familiar e ao uso e transformação da terra.

 

Referências :

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