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 ISBN 978-85-60944-12-5

An 7 Col. LEPSI IP/FE-USP 2009

 

8/11 - COLÓQUIO - COMUNICAÇÕES LIVRES

 

"Ladainha de professor", qual o assento desse discurso?

 

 

Ana Carolina C. S. de Camargo

Mestranda – FEUSP

 

 


RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de apresentar parte da reflexão desencadeada por dois textos veiculados pela revista Veja no início de 2008 – o artigo de um economista da educação, seguido da entrevista concedida pela secretária de Educação do Estado de São Paulo –, ambos opondo-se às manifestações reivindicatórias dos funcionários da educação para a melhoria do ensino. Talvez o tom explicitamente agressivo e arrogante adotado pelos autores tenha nos impelido a estender a teoria dos discursos de Lacan sobre essa discussão no campo da educação, levando-nos a atentar aos aportes de tais opiniões, sobre quem seus discursos recaem, produzindo o quê, já que todo discurso tem uma mola propulsora como verdade, um agente do discurso, um outro a quem se dirige, a fim de atingir uma determinada produção. A atitude midiática e política de acachapar a palavra reivindicatória de uma categoria de cidadãos que extravasa em muito os limites da educação no Estado de São Paulo nos pareceu, além de deselegante, no mínimo temerária, porque contribui para o desbastamento crescente da figura do professor, num movimento intimidador, de fazer calar, em nome do cientificismo amalgamado ao discurso do capitalista, onde o sujeito do desejo não existe e onde a verdade é produzida no rechaço do recalque, da castração, num movimento sinistro de destruição do laço social. Em contrapartida, um dos maiores legados de Freud para a cultura foi mostrar a importância de fazer falar aquele que se angustia, para que no exercício da escuta o psicanalista, mantendo-se desalienado do discurso histericizado do analisante, possa fornecer as condições para o sujeito fabricar novos significantes mestres para sua história.

Palavras-chave: Psicanálise – Educação – Neoliberalismo


 

 

Em janeiro de 2008, a revista Veja, edição 2043, publicou o artigo "Educação de quem? Educação para quem?" de um economista, consultor do Banco Mundial para o MEC, opondo-se às reivindicações dos profissionais do ensino propostas como estratégias para a melhoria da qualidade da educação no país. Menos de um mês depois, a revista veiculou entrevista concedida pela secretária de Educação do Estado de São Paulo defendendo a necessidade de combater o que chamou de "corporativismo", caracterizando as tais reivindicações como "ladainha" de professores medíocres.

O mal-estar provocado pelas afirmações agressivas e desrespeitosas em rechaço ao que reivindicam "os funcionários da educação" motivou-nos a buscar alinhavos entre a psicanálise e isto que aparece como contribuição midiática e oficial para a desqualificação crescente da palavra do educador na contemporaneidade. Procuramos, assim, a teoria dos discursos de Lacan, a qual permite pensar sobre o lugar de onde falam ambos os autores, assim como o que produzem com sua retórica.

Como é possível identificar nas argumentações dos autores, ambos embasam seus discursos em dados numéricos sobre a Educação no país. Onde pontuam afirmações e certezas, gráficos e tabelas, reabrimos com interrogantes. A verdade que apresentam sobre a realidade do ensino e possíveis soluções, é verdade de quem? Para quem? Para quê?

Há que se ter atenção: números podem indicar tendências, variâncias, médias, probabilidades e porcentagens "empíricas", entretanto é bom fazer lembrar que o levantamento de dados não prima pela assepsia. Sabe-se o quanto as estatísticas podem ser metodologicamente fabricadas e manipuladas em análises – estados totalitários sempre foram experts no assunto. Dados, ainda que rigorosamente "empíricos", não falam, são falados, usados para corroborar a criação de realidades muitas vezes inexistentes.

 

O assento do discurso

Entre 1969 e 1970, após o movimento 68 ocorrido na França, Lacan proferiu o Seminário 17 – O avesso da psicanálise, no qual explicita sua teoria dos quatro discursos – do mestre, da histérica, da universidade e do analista – interessado não na palavra em si, com ocorre na lingüística e filosofia, mas para além dela, já que é possível discursar sem palavras, em última instância, no campo gozo como lembra Quinet: "Mesmo que não se diga nada, no momento em que se está dentro de uma relação com outra pessoa, se está inserido num discurso em que os atos importam mais do que as palavras, onde aparecem modalidades de gozo distintas (...) o campo do gozo é, antes de tudo, um campo operatório e conceitual 'aparelhado' pela linguagem".

Retornando ao Mal Estar na Civilização de Freud, Lacan diz que o mal-estar é representado na teoria dos quatro discursos por um elemento que chamou de "objeto a" que expressa a parte excluída da linguagem, o recalcado, porque o exercício da civilidade exige do homem a renúncia ao gozo de certos objetos – objeto "mais-de-gozar" –, o que explicita o laço social essencialmente fundado na linguagem, uma vez que a lógica do significante estrutura não apenas o inconsciente "individual", como permeia e (des)ordena as relações entre humanos.

A teoria dos discursos introduzida por Lacan acaba sendo a extensão da articulação entre inconsciente e linguagem para o campo dos liames sociais (cf. Jorge: 2003). De fato, é por meio da linguagem que o sujeito é enlaçado e enlaça-se não só aos outros, mas ao Grande Outro, isto que Lacan explica, dentre outras formas, como o tesouro de significantes. Linguajando, sujeitos procuram dar conta do que percebem na "consciência" do cotidiano de uma vida, mas também do que lhes escapa, do impossível, daquilo que está para além do princípio do prazer a causar angústia, desejo, sintoma, esquecimento, engano: gozo. Falar é gozar, afirma Lacan, mostrando que tentamos tamponar a falta-a-ser através da linguagem. Mas gozar como?

Pois bem, a teoria lacaniana descreve quatro modalidades por meio das quais discursamos e fazemos algo com este impossível "objeto a", objeto causa de desejo. São modalidades que permitem pensar a posição que os sujeitos tomam em relação ao saber impossível sobre o desejo e a diferença sexual desconhecida pelo inconsciente. Para tratar delas, Lacan cria inicialmente quatro matemas (depois acrescenta mais um), cujos elementos são quatro (objeto pequeno a, sujeito barrado ($), significante mestre (S1) e o conjunto de significantes do Outro(S2)), posicionados de quatro maneiras distintas. A variação da modalidade discursiva ocorre de acordo com o lugar que cada elemento ocupa na estrutura fixa do discurso, já que todo e qualquer discurso é sempre movido por uma verdade – sua mola propulsora – sobre a qual está assentado um agente, que se dirige a um outro a fim de obter deste uma produção" (cf.Jorge, 2003: p.46). A estrutura dos discursos é representada assim:

No Seminário 20, Lacan explica que as setas mostram o enlaçamento dos elementos par em par e que as direções desses vetores apontam o sentido da determinação entre os elementos, com exceção da posição da verdade, indeterminada por ter sofrido a ação do recalque, este que impede o agente de dizê-la por inteiro, em decorrência do que perdeu na operação de corte da castração simbólica. Caso a verdade fosse determinada por algum outro elemento, deixaria de ser a mola propulsora do discurso. Lembremos que Freud demonstrou exatamente esse funcionamento, pois é no desenrolar da fala em associação livre que escorrega – e escapa – a verdade interditada pelo aparelho psíquico do sujeito. Essa verdade impalpável, possível de ser só meio-dita, seria o assento do discurso, o lugar de sua fonte.

 

Quatros discursos, mais um

No discurso do mestre, o sujeito fala tomado pela certeza de quem sabe sobre o outro, embora tenha sob a barra do recalque inconsciente a inquietação do sujeito cindido, faltoso.

Quando aquele que fala toma a posição de S1, a verdade apesar de transparecer como absoluta é uma verdade meio-dita, pois seu discurso está ancorado nas (im)próprias experiências de um sujeito recalcado. A verdade que alimenta esse discurso marcado pela certeza imposta ao outro nasce do próprio agente enquanto sujeito do desejo, pelo saber em gozo sobre o Outro, que transparece em no tom persuasivo de convencimento: Sou o mestre porque sei e a prova do que digo está em mim.

Sendo assim, por buscarem legitimidade retórica na veracidade empírica dos dados fornecidos e produzidos pelo MEC, os textos da revista não configuram o discurso do mestre. Ao imporem certezas validadas pelo instrumental estatístico, apontam para algo que, em aparência, estaria no registro do discurso universitário.

O discurso universitário origina-se retroagindo os quatro elementos em um quarto de giro a partir do discurso do mestre. O lugar do agente passa a ser ocupado por S2 – cadeia de significantes do Outro – em direção ao outro objetificado, pequeno a, não mais persuasível ou sugestionável, mas controlado e produzido como sujeito que pensa em conformidade ao saber do agente que discursou, na exatidão do conhecimento erudito da ciência, ao qual o aluno deve aprender assujeitar-se, alienando-se ao mandato do discurso do agente:

O significante mestre (S1) passa a assumir o lugar da verdade científica estabelecida. Desta feita, no discurso da universidade não sobra mais lugar para o sujeito, já que o que resta como posição de produção do mais gozar é a posição para reiterar o enunciado do agente – em termos subjetivos iso não passa de um engodo, pois repetir enunciados não configura o exercício subjetivo de ex-isitência, ou seja, de um existir desalienado do Outro. Na universidade, em nome da ciência, o que se pede ao aluno é que renuncie sua palavra e aprenda a seguir normas e programas validados pela comunidade acadêmica. Segundo Nogueira (1999), o discurso da universidade segue o comando do saber estabelecido na pretensão de dar conta/produzir o desejo adaptado, o que é contraditório, pois o desejo por definição é sempre inadaptável, incontrolável, jamais presumível. Escreve Sonia Alberti (2000), "(...) no discurso universitário são os títulos que garantem o valor [de verdade] de um saber. O que é bem diferente de dizer que é a inquietação do sujeito sempre divido, embaraçado, que está no lugar da verdade no discurso do mestre. Ao contrário, no discurso universitário, o saber se conta em títulos acadêmicos, pouco importando se esses títulos efetivamente condizem a algum estofo do sujeito.

Todavia, embora o discurso disponível na revista seja modulado em torno de um ideal "científico" e acadêmico, uma leitura atenta mostrará que os autores utilizam dados levantados pelas próprias instituições que os contratam (seja o Estado ou o Banco Mundial) o que não configura uma atitude muito "científica", digamos assim, para a validade dessas análises e propostas de políticas públicas. Portanto, os discursos proferidos por ambos os autores, apesar de sua aparência, tampouco configuram o discurso universitário, uma vez que estão inaptos a engrossar o estofo de enunciados estabelecidos pela Ciência, no máximo do cientificismo, a fim de atingir uma outra produção: "Quando o discurso do mestre se coloca a serviço do cientificismo, (...) reduz tudo a números, a estatísticas, a unidades de valor e o outro passa a ser mera unidade de valor de forma que até mesmo o mais-de-gozar passa a ser contabilizado" Alberti (2000).

Por conseguinte, acabamos próximos àquilo que Lacan, somente em 1972, pôde denominar Discurso do Capitalista, este que se origina por uma mudança sutil na estrutura do discurso do mestre: S1 e $ trocam de lugar, assim como o sentido de sua seta. "Alguma coisa mudou no discurso do mestre a partir de certo momento da história (...) a partir de um certo dia, o mais-de-gozar se conta, se totaliza. Eis quando começa o que chamamos a acumulação de capital", diz o autor.

Atentemos para o direcionamento das setas à esquerda. O lugar da verdade, onde encontra-se S1, não determina mais o que está acima da barra, o $, porque este repudia a determinação que nos outros discursos vem deste lugar, mutando a lógica da estrutura fixa do discurso. A verdade passa a ser dirigida pelo agente, em um movimento que se mostra sinistro, pois a manipulação da verdade recalcada não passa do rechaço à castração, pondo em xeque o próprio laço social.

No discurso do capitalista é o agente que determina a verdade, manipulando-a, na desconsideração do recalque. A verdade produzida por ele nada tem de inconsciente, a não ser a inconsciência da própria determinação realizada pelos objetos que ele mesmo criou para o consumo. Este discurso funciona em looping, feito circuito fechado, porque obtura através da produção de objetos para gozar, a falta imposta pela indeterminação da verdade como ocorre nos outros discursos. Na modalidade capitalista desaparece a barreira entre o produto do discurso e a verdade – até porque não há mais a verdade recalcada, propulsora. Ao contrário, a verdade passa ser determinada pelo sujeito para fazer o outro consumir ininterruptamente, na ilusão de aplacar a falta-a-ser. Conclusão, o sujeito é transformado em consumidor e deixa de poder articular a ex-istência, já que o Outro o aplaca com suas ofertas. "É um discurso sem lei, que não tem regulação alguma e que, longe de regular as relações entre os homens, segrega. Sua única via de tratar as diferenças é pela segregação imposta pelo mercado, determinando os que têm ou não acesso aos produtos da ciência. Daí a proliferação do sem: terra, teto, emprego, comida, documentos, [educação], etc" (cf. Quinet, s/ data).

Neste circuito fechado de gozo, o laço social perde a tecitura de sua trama restando o onanismo do consumo rápido e descartável de bugigangass tecnologicamente modernas e supérfluas – mas também de parceiros, teorias e multi produtos da indústria cultural, por exemplo. Transformados em meros objetos consumidores, sujeitos passam a serem contabilizados. Tudo e todos são valorados pelo mercado. A objetalização dos sujeito em consumidor, esgarça o liame social, mas fortalece o capital. S1 se dirige a S2, pondo o gozo deste a seu serviço. Eis o circuito sinistro e perverso capitalista que no lugar da renúncia, instiga a pulsão e o gozo, alimentando a pulsão de morte (cf. Alberti, 2000). Ou seja, o que vemos no discurso veiculados pela revista é o amálgama entre o capitalismo e o campo-científico, num discurso que contribui para amordaçar a voz de toda uma categoria de cidadãos através de "ladainhas" políticas características do Pensamento Únicoi.

 

Frente a sintomas, fazer falar

A psicanálise surgiu, pode-se dizer, entre aquela que, na busca por arrefecer seus sofrimentos, punha-se a falar a alguém que, por sua vez, não encontrando nos saberes estabelecidos as respostas para aquela que sofria, acabou por adotar o lugar de uma escuta flutuante, na esperança que algo novo se desdobrasse. Se não nos enganamos, este continua sendo um precioso exercício que Freud nos legou: fazer falar/aprender a escutar, uma vez que o psicanalista se dirige ao outro de uma forma radicalmente nova na cultura: toma o sujeito falante como capaz de produzir, pelo processo de análise, significantes fundantes de uma ex-istência (c.f. Jorge, 2003:49). Nesse sentido, o discurso do analista é o único a levar a palavra do outro nas contas do desejo, de maneira oposta aos discursos do mestre, da ciência ou do capitalista.

Este último circuito estampa o funcionamento do discurso da histérica em análise, ao imaginarizar que o outro-analista trabalhe para ela na produção de um saber que explicite o Real do sintoma que a faz girar em círculos, em gozo. Diz Maurano (s/d), "A histérica, partindo de sua divisão subjetiva, questiona o mestre, ou seja, questiona tudo o que está estabelecido. É inegável que tal posição discursiva produza resultados preciosos para o saber e a ciência". Não por acaso o advento da psicanálise se deu como efeito do o entrelaçamento entre esses dois discursos: da histérica e do analista.

O que a psicanálise sinaliza como importante na abordagem dos sintomas – e isso entendemos importante, quer apareçam no âmbito pessoal, cultural ou das práticas sociais – , é justamente o estofo de verdade não-sabida que se deve reconhecer na palavra histericizada dos sujeitos implicados nas situações, sejam estas da vida cotidiana, da produção artística ou de um movimento social reivindicatório, por exemplo. Se há problemas no sistema educacional, da creche à universidade, a atitude retórica de esculhambar a palavra dos sujeitos que dão suporte ao (des)encontro transferencial junto aos que estão em formação é, no mínimo, temerária. O discurso da histérica nos ensina o quanto seu efeito em análise acaba provocando a emersão e mesmo criação de outros saberes, uma vez que o lugar de histérico – e não do político, nem do mestre ou do universitário – desafia a autoridade das teorias pré-estabelecidas, propondo insistentemente a dúvida sobre o saber do Outro (c.f. Ziliotto, 2005), guardando afinidades com o autêntico "espírito científico", quando este é desdobrado e pode gerar o inesperado. O discurso histérico, no embate com o discurso analítico, revela-se discurso de um buscador que, somente após atravessar sua fantasia chegará ao final de (uma) análise, passando a outro estatuto de sujeito agente e, enfim, a ex-istir. Enquanto não se aproxima de uma verdade que seja sua, barrando o Grande Outro e produzindo um novo significante mestre, seguirá em círculos, buscando respostas na religião, em estatísticas pré-fabricadas, nas profecias auto-realizadoras, variâncias do quintal vizinho. "Tomando o outro como sujeito falante, o discurso do psicanalista leva o sujeito a bem-dizer o próprio sintoma e a atravessar sua fantasia" (cf. Jorge, 2003: 49-50). O analista só é analista se puder, de fato, oferecer-se como objeto que (não)sabe para que o analisante possa, tomado como sujeito de desejo e de saber, desalienar-se de seu primeiro significante mestre.

Voltamos a Quinet (s/d) para o último ponto de nossa trama reflexiva: "O discurso do analista se coloca como a modalidade de tratamento do mal-estar que considera o outro como um sujeito – sujeito do inconsciente, do desejo, mas também de direito e da história. Contra o imperativo do discurso do capitalista, a psicanálise propõe essa falta que se chama desejo, sempre singular e plural, e a gestão não do capital financeiro, mas do capital da libido que por definição está sempre no negativo. Contra a segregação que do discurso do capitalismo deriva, a psicanálise traz a ética da diferença."

Em Televisão, texto de 1974, Lacan se refere pela última vez ao discurso do capitalista: "Quanto mais somos santos mais rimos, é o meu princípio, ou seja, é a saída do discurso do capitalista, o que não constituirá um progresso se for somente para alguns". Segundo Alberti (2000), o santo a que Lacan se refere é o lugar do psicanalista no discurso do psicanalista, rebotalho que não faz caridade e que se torna a única saída para a ausência de saída do discurso (em looping) do capitalista. Ao se oferecer ao analisante como objeto a, não se identificando com o discurso do analisante, o analista subverte e barra o discurso do capitalista. Por isso o riso irônico do analista, riso de quem não dá crédito às falsas verdades, inverdades, (des)verdades...

Em publicação da Associação Científica do Campo Psicanalítico, encontramos o texto de Simey Soeiro, "Há lugar para a psicanálise na escola?", cujas respostas apontam, em parte, na direção do que tentamos desdobrar aqui. Soeiro ressalta: embora o discurso do analista seja o único a operar no sentido da desalienação do sujeito, em educação não se pode operar dentro do mesmo dispositivo, pelas especificidades do campo pedagógico – e aqui sugerimos a ampliação do foco para outras práticas sociais –, embora possamos ter a psicanálise como referencial de leitura, já que algo pode ser histericizado no campo da pedagogia, território onde imperam o discurso do mestre, mas também o da universidade, como não é difícil reconhecer. Nesse sentido, a presença da psicanálise na escola – e em âmbito mais amplo, na educação – torna-se válida e oferece sua contribuição quando faz abrir espaços de fala-e-escuta: "Afirmamos não se tratar do ato psicanalítico, que pressupõe o discurso do analista na sua radicalidade (...), mas um fazer do psicanalista no contexto escolar. Um fazer específico, particularizado, diferenciado dos outros fazeres em jogo na escola, preocupado com a escuta dos envolvidos na situação escolar (alunos, professores, coordenação, em sua condição de sujeitos, em funcionamento da subjetividade), localizando a dificuldade central e a relação de cada um com o problema em questão. (Soeiro, 2003: 53).

 

Referências Bibliográficas

ALBERTI, S. . (2000) O discurso do capitalista no mal estar da cultura. (Apresentação de Trabalho/Congresso). Disponível em http://www.etatsgeneraux-psychanalyse.net/mag/archives/paris2000/texte210.html

ALEMÁN, J. et LARRIERA, S. (1996) Lacan: Heidegger. Buenos Aires: Ediciones del Cifrado.

FREUD, S . (1930[1929]) O mal-estar na civilização. In: Edição Standard brasileira das Obras Psicológicas completas de Sigmund Freud. Vol XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1977.

JORGE, M.A.C. (2003) Discurso e liame social: apontamentos sobre a teoria lacaniana dos quatro discursos. In: Revisa Humanidades, n. 49, Brasília: UnB, p.40-53.

LACAN, J. (1991). Seminário 17: O avesso da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

__________. Seminário 20: Mais, ainda. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1975.

__________. O Discurso Capitalista – Discurso na Universidade de Milão em 12 de maio de 1972. Publicado na Revista: Lacan na Itália Paris,1978.

__________(2003). Televisão. In: Outros escritos, Rio de janeiro: Jorge Zahar.

MAURANO, D. (s/d) Um Estranho no Ninho ou A Psicanálise na Universidade. http://209.85.165.104/search?q=cache:ZkYD7ajoc8EJ:www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/semiosfera45/conteudo_exp_dmaurano.htm+o+significante+mestre&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=3&gl=br. Acesso em 2/08/2008.

NOGUEIRA, Luiz Carlos. (1999) O Campo Lacaniano: Desejo e Gozo. Psicologia - USP, São Paulo, v. 10, n. 2.

QUINET, A. (s/d) Desejo como Poder. Disponível em: http://br.geocities.com/jacqueslacan19011981/sobrelacan/desejocomopoder.htm. Acesso em 2/08/2008.

SOEIRO, S. Há lugar para a psicanálise na escola?. In O ato psicanalítico. Salvador: Associação Científica Campo Psicanalítico, 2003.

ZILIOTTO, Denise Macedo. (2005) A Posição do Sujeito na Fala e seus efeitos: uma reflexão sobre os quatro discursos. Psicologia USP, São Paulo, v. 15, n. 1/2, p. 215-224.

 

NOTAS

i Ver "Balanço do Neo-liberalismo", de Perry Anderson in Pós-Neoliberalismo – As políticas sociais e o Estado democrático, de Emir Sader e Pablo Gentilli. São Paulo: Paz e Terra, 1995; "Neoliberalismo e Educação", de Sônia Alem Marrach. In: GHIRALDELLI Jr. (org.) Infância, Educação e Neoliberalismo. São Paulo: Cortez, 2000; e O Pensamento Único e os Novos Senhores do Mundo, de Ignácio Ramonet disponível em:www.culturabrasil.org/pensamentounico_ramonet.htm+o+que+%C3%A9+pensamento+%C3%BAnico+neoliberal&hl=pt-BR&ct=clnk&cd=13&gl=br&lr=lang_pt. Acesso 4/08/2008