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 ISBN 978-85-60944-12-5

An 7 Col. LEPSI IP/FE-USP 2009

 

8/11 - COLÓQUIO-COMUNICAÇÕES LIVRES

 

A criança-sujeto, ou…pode uma criança ser sujeito numa instituição educativa ?

 

 

María Teresita Pullol

Lic. En Psicología. Psicoanalista. Docente UNMdP , Mar del Plata, Argentina, mt_pullol@hotmail.com

 

 


RESUMO

Através deste trabalho tentará-se encontrar um enlace entre Psicanálise e Educação por meio da temática do fracasso escolar.
Entender o fracasso escolar como síntoma permitirá-nos questioná-lo e não deixá-lo estancado como um simples rótulo na prática educativa.
Assim como desde a Pedagogia os standars estão pré.fixados no quanto as metas a serem atingidas pelas crianças, desde a Psicanálise abordamos outros tempos, tempos lógicos que permitirão o surgimento do Sujeito.
Diferenciando Saber de Conhecimento, o fracasso escolar poderá se vislumbrar como algo que permitirá emergir um Real, que ao não ser ligado, obstaculiza as práticas.
Proporá-se como mediante o trabalho em instituições e promoviendo a escuta analítica a os diferentes profissionais que desenvolvem-se em torno á criança-sujeito como objeto de estudo, podem-se quesionar os saberes encarnados, para dar lugar a outros dizeres.
E no meio deste enlace? Sempre fica a criança, que, no melhor dos casos, poderá asomar como Sujeito do Desejo.

Palavras-chave: fracasso escolar, sintoma, saber.


 

 

A partir do titulo do Coloquio do Lepsi, pretendo refletir sobre a forma como uma Criança pode ser Sujeito. Posicionados na clinica psicanalitica, sabemos que um Sujeito constitui-se em relação a um significante: um Sujeito constitui-se no campo do Outro.

Na consulta clinica vemos que a criança neste campo pode ser localizada em diferentes lugares, lugar a trabalhar na análise: se ela posiciona-se como um síntoma de seus pais, ou num lugar fálico, ou coagulada no fantasma materno.

Seja qual for o sofrimento da criança, é estrutural, por isso não vale a utilização da idéia de um sujeito armado e que deve ser curado; debe ser feito um trabalho da articulação do significante na estrutura, utilizando as operações lógicas que delimitarão o gozo do Outro. Por límite nesse deslizamento metonímico dado pelo Outro permitirá abordar um fantasma, embora relacionado com a fantasmatica de seus pais, mais diferente dele.

Conforme Alba Flesler, "a psicanálise atende a criança, mais aponta ao sujeito" (Flesler, 2007: 24) ( destaque é meu para ressaltar o título oferecido pelo Lepsi).

Quando essa criança atinge a consulta, é necesario trabalhar a ferida narcisistica no seus pais, na medida medida em que este filho começa a mostrar outras cossas que eles pensaran dele, mesmo que não responder a esta ilusão de integridade no momento da abertura da relação mãe-filho. Em suma, trabalha-se sobre o incalculável de uma criança que apresenta-se na vida quotidiana, uma falha que mostra que bem na criança bem no adulto, algo não se da.

Do mesmo modo, quando o trabalho é feito dentro de uma instituição educacional, o sujeito também constitui-se no campo do Outro, aqui representado pela instituição escola ou pelo sistema escolar em si. Este sistema escolar é concebido como um marco simbólico dentro do qual todos os membros da comunidade educativa desejan alcançar determinados objectivos intelectuales e sociales.

A época e a cultura também condensan crenças e modas onde o sujeito está imerso, porém elas poden funcionar como rótulos, fechando o trabalho possível. Assim, uma criança -Juan- passa a ser um TGD, ou Pedro desaparece por detrás de um diagnóstico de TDAH. Nesse sentido, cancela-se o interrogatorio pelo subjetivo, tendo acesso ao conhecimento, mas fechando o caminho para o saber,

Quando operar estos rótulos, varre-se os traços subjetivos que podem aparecer nas crianças, e as estratégias abertas são apenas do orden da reabilitação.

Se a falha de uma criança demostra-se no tecido educativo, a criança que atinge a consulta é "uma criança que não aprende". E se a criança não aprende, diz algo com esse não aprender.

Podemos distinguir aqui entre o saber e o conhecimento do tecido educativo. Conhecer referirá a processos cognitivos que envolven a aquisição, justamente, de conhecimentos, basta repetir, assimilar, memorizar, lembrar, esquecer, etc. O saber irá além deste conhecimento: o saber refere á estrutura do inconsciente, na medida em que ele refere-se ao desejo.

Se, tal como explicado anteriormente, a psicanálise visa ao sujeito, o sujeito que estamos a discutir é o sujeito do inconsciente, e por tanto esse conhecimento não é apoiado por uma pessoa, mais pelo mismo dizer dos enunciados que estão em circulação. Se um sujeito é o que representa um significante para outro significante, o sujeito é producido nesse espaço de significação, então, aceitar e apoiar este movimento resulta em que o conhecimento não pertence a ninguém, pois ele se torna ao longo do tempo. Será um saber que o sujeito não sabe que tem, pela sua divisão constitutiva.

Se não adviene esse saber, a sexualidade reaparece nos processos secundarios, favorecendo a formação de síntomas, causando algumas das frecuentes perturbações no aprendizagem.

Na educação, a chamada função paterna e suas falhas são fundamentais: pensamos que os problemas de aprendizagem estão ligados á manera da inscrição desta castração simbólica. Conforme a Jorge Sosa: "educação aponta a uma regulação e em certa medida a um sometimento da vida pulsional da criança com o objectivo de producir um sujeito ordenado de acordo com o regimen de gozo de uma cultura determinada" (Sosa, 2001: 82).

O fantasma recalcado aparecerá nas diferentes dificultades que "sofrem" as crianças na escola: comprender, asimilar, ejemplificar, extrair imformação, porque estas funções do pensamento são desviadas do seu funcionamento normal ao estar condicionadas á satisfação do fantasma. Difíciles serão as posibilidades para o aprendizagem senão se produz a fisura pela qual inscribe-se a falta no Outro.

Em Imfancia e Ilusão (Psico)Pedagógica (2002), e de volta para a diferença entre os sexos levantada por Freud, de Lajonquiere delineia que o que a criança aprende na escola é a noção de diferença. Por tanto, a lei marca a diferença simbólica entre o proibido e o permitido. Refere-se á forma como a operação simbólica da castração introduz o mundo do significante no real do corpo.

Na educação não tratará-se de Outro que sabe tudo, sim de Outro que não sabe tudo.

Quando o nosso trabalho é também dentro de uma instituição educativa, a possibilidade de colocar um dispositivo de escuta analitica instituicional gera um espaço para desandar o fracasso escolar nos seus vários aspectos. Haverá questões que remeterão ao trabalho clínico, mas outras assoman como o síntoma de uma civilização que nega o real do sexo e da morte: pode-se iniciar um processo para descifrar o que está escondendo o síntoma e assim començar a circular outros dizeres.

Ao escutarlo, percebemos que o fracasso escolar não só adviene do lado dos alunos ou dos recursos educacionais que mudam constantemente em busca de uma melhor "qualidade educativa"; é um significante que toca cada um de tudos os envolvidos na escola, e interroga-nos porque compromete a subjetividade de nossa época.

Um exemplo desta situação é o significante "repetição" circulando pela escola, não apenas a partir da repetição de um curso, mas o número de exercícios, lições que se repetem, Além disso, nos últimos anos, este significante foi substituido por "permanência", e depois por "continuidade". Sabemos o que repetição, permanencia e continuidade representam no trabalho psicanalítico. Se isso vai para a escola, a escola está coagulando esse síntoma, onde debería cuestionar-se. Onde deveria surgir uma pregunta, existe algo que se repete ou um lugar para ficar.

Em "Algunas reflexões sobre a psicologia do escolar" (1914), Freud diz sobre a aquisição do conhecimento como estreitamente vinculada ao tipo de relacionamento mantido com o profesor, em uma espécie de transferencia para o mestre. Assim, a remoção desse lugar de Ideal anteriormente tinha dado ao pai, faz com que a criança vire notros idealizados temporariamente. Mas tal como o pai renúncia esse lugar (o melhor dos casos), e o analista não deve manter-se nesse lugar de Ideal (também no melhor dos casos!), da mesma forma o profesor não debe enraizar-se nesse lugar, senão sair dali, com a consecuente demissão narcisística. Se isso não ocorrer, se esta ilusão é ainda operacional, trará desconhecimento, já que existe um outro saber em jogo, que é o saber do inconsciente.

Em "O futuro de uma ilusão" (1927), Freud diz que a educação não teria uma outra finalidade que a mesma desilusão promovida pela psicanálise.

Se a escola garante sucesso para todos, também seria uma ilusão, porque aludiria bem em uma borda da rede complexa, tendo en conta apenas os métodos de ensino innovadores e de competências dos profesores em termos de transmissão.

Na relação pedagógica, o inconsciente do professor mostra ter mais peso de que todos os seus anelos concientes. Se um professor da sala de aula, nega isso, a educação é obstaculizada. Sosa diz: "Ter em conta a realidade do inconsciente é algo que pode lançar novas luces em outras práticas e especialmente em aquelas que, como a pedagogía, não são redutíveis a uma técnica, mas envolvem uma aposta, porque há algo dos resultados que não pode-se calcular de forma anticipada e, portanto, a única coisa que pode sustentar o praticante é o seu desejo" (Sosa, 2001:83).

Se no texto citado de Lajonquiere afirmou que educar é transmitir marcas simbólicas que permitem á criança conquistar um lugar na história, mais ou menos familiar, e portanto ser capazes de se lançar ás empresas do desejo, em "Educação, religião e cientificismo" diz:

"Se o objetivo visado é o desejo, então, pode acontecer uma educação. Pelo contrário, se a intervenção dos adultos junto as crianzas está atravessado pela recusa inconsciente destes ao desejo, então, difícilmente a educação pode se dar. Em outras palabras, a educação pode revelar-se um fracasso".

Neste sentido, a palabra con chances de educar é essa palabra que leva a marca da sujeição do adulto: a castração.

Em seu texto "Podem os legos exeicutar psicanálise?" (1926), Freud postula que aos médicos escapou como a psicanálise pode ser aplicada a outros campos como a pedagogía, mais quem quiser entrar nesse dominio não pode esquecer que além dos conhecimentos adquiridos, será conducido pela própria análise.

De acordo con de Lajonquiere, o interesse pedagogico psicanalítico seria dado pelo questionamento que promove, tanto a través da possibilidade de uma análise pessoal, como em questionar o que a criança representa dentro do discurso (psico)pedagogico hegemonico. Isso permitiria uma espécie de "reconciliação" do mundo adulto com o seu pasado, assumindo essa responsabilidade pelo velho mundo em que introduz as crianças. Como isso "era", nada impide que "vir novamente", mas desta forma não é a priori uma ilusão, mas talvez uma tarefa quotidiana. Assim, a educação reserva-se o directo de introducir uma falta na criança e seu mundo: a falta dos directos que são só para os adultos. A criança quer hoje o que agora é prohibido, e hoje também obedece, mas espera chegar este manhã prometido.

Se o fracasso escolar é, então, tomado como um síntoma, pode ser escutado e lido a partir de uma outra perspectiva. Os síntomas mostram que existe uma realidade do inconsciente que se esforça por aparecer, realidade psiquica que enfrenta-se á realidade objectiva que pretende sufocá-la.

Ouvir ao síntoma e fazerlo falar permete a possibilidade de fazer metáfora, e por o limite ao Outro, acotando o gozo metonimico de que falávamos no início deste trabalho.

A escola, então, pode atuar como lei simbólica, incentivando a circulação de outros significantes, trabalhando sobre a angústia, perdas, morte, no caminho da simbolização. Desta dorma, a escola torna-se alvo simbólico de uma função paterna eficaz, já que é "uma saída real que duplica encarnadamente a saída do fantasma parental" (Casas de pereda, 2000: 102), do que falávamos no início.

O incalculávei de uma criança, então, levaria a uma produção subjetivante de onde ela aparece, com suo próprio desejo.

E não a partir do rótulo de moda de uma realidade que o define, mas a partir da cada subjetividade de cada Criança-Sujeito.

 

Bibliografia

CASAS DE PEREDA, Myrta. En el camino de la simbolización. Paidós, Buenos Aires. 2000.

DE LAJONQUIERE Leandro. Infância e Ilusão (Psico)Pedagógica. Escritos de psicanálise e educação. Editora Vozes, Petrópolis. 2002.

DE LAJONQUIERE, Leandro. (2006). Educação, religião e cientificismo. Em: Revista Biblioteca do professor.N° 1. Ed. Segmento.

FLESLER, Alba. El niño en análisis y el lugar de los padres. Paidós, Buenos Aires. 2007.

FREUD, Sigmund. (1913-1914). Sobre la psicología del colegial. En Obras Completas, tomo XIII. Ed. Amorrortu, Buenos Aires. 1984.

FREUD, Sigmund. (1926) ¿Pueden los legos ejercer el psicoanálisis? Diálogos con un juez imparcial. En Obras Completas, tomo XX. Ed. Amorrortu, Buenos Aires. 1984.

FREUD, Sigmund. (1927).El Porvenir de una ilusión. En Obras Completas, tomo XIX. Ed. Amorrortu, Buenos Aires. 1984.

SOSA, Jorge. Un síntoma de nuestra civilización. En: Temas cruciales III Fracaso escolar. Ed Atuel. 2001.