7A educação e a verdade: entre o desejo, o saber e o cuidado de siFormação de professores: subjetividade e práticas docentes author indexsubject indexsearch form
Home Pagealphabetic event listing  




 ISBN 978-85-60944-12-5

An 7 Col. LEPSI IP/FE-USP 2009

 

8/11 - COLÓQUIO-COMUNICAÇÕES LIVRES

 

Pensando a formação da identidade docente: o que um espaço de escuta analítica pode propiciar a jovens estudantes de Pedagogia

 

 

Tatiana Karinya Rodrigues

Psicóloga e Psicoterapeuta Mestre em Educação – FE-USP tatiana@tatikarinya.com.br - www.tatikarinya.com.br

 

 


RESUMO

No processo de investigação realizado durante a pesquisa de campo feita para o mestrado, ofereci a um grupo de estudantes de Pedagogia um espaço de escuta analítica que lhes permitiu questionar aspectos relacionados à constituição da identidade docente. No decorrer desse trabalho, as jovens estudantes propuseram temas que tinham relação direta ou indireta com a constituição de suas identidades como professoras, questões estas que emergiram do contato com a escola em que estagiaram, a mesma em que estudaram quando mais jovens.
O primeiro destes temas foi a própria sexualidade das jovens, pois elas sabiam que em determinado momento de sua atuação docente iriam se deparar com a sexualidade infantil. Por essa razão, para elas, era preciso que estivessem bastante tranquilas em relação a sua própria sexualidade. Também discutimos metodologia de pesquisa, pela necessidade que elas tinham em saber como realizar uma pesquisa e interpretar a realidade. Em outro momento do grupo fizemos a leitura de trechos de um romance do Jorge Amado - Capitães de Areia - o que contribuiu para que as jovens pudessem elaborar, através do distanciamento imposto pela via literária, algumas experiências vividas no estágio. Finalmente, assistimos juntas ao filme "Eu, Christiane F.", pois queriam discutir o uso de drogas ilícitas e suas conseqüências.
Além de propiciar um espaço em que estas jovens pudessem elaborar suas angústias, advindas do enfrentamento com a realidade escolar, no término da minha pesquisa de campo pude vivenciar um momento de revelação da práxis, quando elas participaram politicamente da desapropriação de parte da favela do Real Parque, lugar em que moram. Apropriando-se de sua consciência ideológico-política, saíram em defesa dos direitos de uma população, diante da qual se viram colocadas na posição de lideranças. Promoveram um protesto que parou por um dia a cidade de São Paulo. Dessa maneira, assumindo plenamente a responsabilidade pelo mundo.

Palavras-chave: identidade, psicanálise, professores


 

 

No processo de investigação realizado durante a pesquisa de campo do mestrado1, ofereci a três estudantes de Pedagogia um espaço de escuta analítica que lhes permitiu questionar os diferentes aspectos envolvidos na constituição da identidade docente.

A fim de compreender de maneira profunda os questionamentos a que estas jovens se colocavam, além do espaço de escuta analítica, participei da pesquisa "Culturas Juvenis X Cultura Escolar: como repensar as noções de tradição e autoridade no âmbito da educação" (Fapesp, 2006-2008), realizado com o apoio do Programa de Melhoria do Ensino Público da FAPESP, sob coordenação da Profa. Dra. Mônica do Amaral, pertencente à Faculdade de Educação da USP. Em linhas gerais pode-se dizer que este projeto pretendeu investigar em que medida a cultura escolar poderia se beneficiar das culturas juvenis existentes na escola, em especial na EMEF – José de Alcântara Machado Filho, localizada no Real Parque, um bairro nobre da cidade de São Paulo.

A escola acima citada era a mesma em que as jovens pesquisadas haviam estudado e feito estágio posteriormente. Então, participar desta pesquisa tinha como objetivo inicial estabelecer um contato mais aproximado com a realidade descrita por estas jovens, a fim de compreender com mais profundidade as questões explicitadas no espaço de escuta analítica.

Os encontros com as jovens foram feitos inicialmente no "Projeto Casulo", instituição em que trabalhavam, localizado no mesmo bairro da escola. À medida que fomos tratando de questões que envolviam uma crítica ao próprio trabalho, as jovens sugeriram que os encontros fossem realizados cada dia na casa de uma delas. Percebi que neste pedido estava implícita a necessidade de se fazerem conhecer mais intimamente e também construir um espaço em que pudessem falar abertamente das questões vividas também no Casulo.

Apoiada em Herrmann (1991), mais especificamente em seu conceito de clínica extensa, aceitei a proposta das jovens. Este autor aponta para a extensão do método psicanalítico ao campo sociocultural, ou seja, ele acredita que este método pode ser utilizado em diferentes contextos que vão além do clínico, pois em outros âmbitos também é possível explicitar as relações de sentido emergentes.

Outro conceito que apoiou minha decisão de acompanhar a pesquisa realizada na escola foi o que Herrmann (2003) apontou como perda de substância social associado ao prejuízo da noção intuitiva de substância da realidade. Segundo este autor, com o avanço tecnológico ocorrido no último século pode-se observar uma "crise de desrealização" produzida pela alienação decorrente deste movimento da ciência associado à maneira como as histórias cotidianas têm sido passadas aos seus "herdeiros". Esta crise de desrealização torna a realidade uma representação produzida artificialmente.

Ao me aproximar da realidade vivida por estas jovens, em seus mais variados âmbitos, pude, juntamente com elas, tratar da chamada "crise de desrealização" em alguns de seus aspectos, propiciando nelas [e também em mim] uma capacidade de discernimento daquilo que é a realidade e o que é produzido artificialmente pelas diferentes instituições em que as jovens se envolveram no decorrer de sua formação como docentes, que ia desde a escola em que estudaram e depois estagiaram, até o trabalho com a biblioteca do Projeto Casulo e sua própria formação oferecida pelo Instituto Singularidades, uma faculdade localizada em Pinheiros, na cidade de São Paulo, que lhes ofereceu bolsa de estudos. Então, mergulhada na realidade destas jovens, pude compreender os conflitos existentes em seu cotidiano, do ponto de vista delas, e foi desse modo que pude ter acesso à psique do real, em suas faces identitária (relativo ao mundo interno) e da realidade (relativo ao mundo externo).

Herrmann (2003) aponta ainda para a "perda de substância política das decisões sociais", o que podemos pensar como sendo uma consequência desta crise de desrealização, pois se não sou capaz de distinguir a realidade, como posso apossar-me dela de maneira a responsabilizar-me por ela?

A partir do momento em que ofereci às três jovens a possibilidade de questionar suas próprias vivências, pudemos explicitar as incoerências existentes no mundo, bem como explicitar os discursos existentes em cada uma das instituições acima mencionadas. Foi observada uma escola que se propunha a alfabetizar crianças, mas tinha dificuldades em atingir este objetivo e não se preocupava em saber os motivos que levavam as crianças a não aprenderem a ler e escrever. Observaram também uma ONG que tinha como proposta "o desenvolvimento da comunidade para promover a emancipação dos jovens a ela pertencente", porém, quando as jovens defendiam a população pertencente a essa comunidade no processo de desapropriação feito indevidamente pela Prefeitura de São Paulo, foram criticadas por esta instituição. Finalmente, viram-se solitárias na faculdade, pois a realidade colocada na escola era bastante diferente daquela proposta pelas teorias pedagógicas. Diante disso, as jovens exigiram um espaço de supervisão dos estágios, porém o que obtiveram como resposta a esse pedido foram instruções e regras pedagógicas a respeito de método de ensino, o que as forçava desconsiderar totalmente a realidade que encontravam na escola, que envolvia uma complexidade muito maior do que era visto nas teorias.

Ao participar do mundo destas estudantes de Pedagogia consegui compreender seus questionamentos a respeito da realidade em que se inseriam, mas era preciso ter uma noção da dimensão interna de cada uma delas. Para ter acesso ao imaginário destas jovens, baseei-me em um estudo realizado por Loss e Sapiro (2005) em que as autoras defendem que através do método psicanalítico de investigação é possível fazer aflorar o imaginário dos sujeitos pesquisados. Porém, antes que isso fosse feito era preciso que o sujeito fosse ouvido. No estudo realizado por estas pesquisadoras elas propuseram aos jovens uma "oficina de rap" em que foram elaboradas letras de músicas e, a partir disso, realizaram discussões sobre os temas abordados nestes textos. De forma semelhante, primeiramente escutei as jovens em seus questionamentos, e em seguida, a partir do que elas traziam, montava dinâmicas que pudessem facilitar o acesso ao imaginário delas. No primeiro encontro, pedi que elas fizessem em uma folha em branco a representação que tinham do passado/presente/futuro no que dizia respeito à escolha profissional. Em seguida, discutimos longamente o material representado por cada uma delas. Dessa maneira pude ter acesso a conteúdos mais pessoais que retratavam suas angústias internas a respeito da escolha feita pela carreira docente.

Realizado este primeiro momento, os encontros que se seguiram tiveram como base as questões apontadas pelas jovens durante as conversas do encontro anterior. Dessa maneira pudemos discutir os mais variados temas que, de alguma maneira, tinham relação com a constituição da identidade docente destas moças. No primeiro encontro, durante a discussão feita sobre o que era ser estagiária de Pedagogia na EMEF - José de Alcântara Machado Filho, uma delas colocou para o grupo a seguinte questão: Como posso lidar com a sexualidade das crianças, que sabemos estar ali independente de qualquer coisa, se mal sei lidar com a minha própria sexualidade? A partir desta questão, no encontro seguinte, levei diversos livros que abordavam a sexualidade de maneiras bem distintas. Alguns propunham uma orientação sexual para jovens e três tipos de literatura sobre o mesmo tema, porém originários de três culturas distintas.

Depois de examinar cada um dos livros, as três jovens optaram pela literatura de diferentes culturas. Então, nos três encontros seguintes discutimos sexualidade. No primeiro destes encontros conversamos a respeito da concepção de sexualidade segundo a tradição judaico-cristã, a partir da leitura do livro bíblico "Cântico dos Cânticos", que trata da descrição do amor sexual entre um casal de amantes. Discutimos, além desta narrativa, a incidência destes escritos na tradição cultural judaico-cristã proposta pelas religiões Católica e algumas religiões protestantes, que tratam a sexualidade como um tabu, uma proibição fora do casamento. Em especial no Catolicismo Apostólico Romano, o sexo é admitido apenas para a procriação, o que contrasta e muito com o texto de cunho erótico que encontramos no Cântico dos Cânticos.

No encontro seguinte, propus a leitura de trechos do Kama Sutra, um livro pertencente à tradição hinduísta, feito com a intenção de aproximar o casal nos mais variados âmbitos da vida, dando uma ênfase especial no aspecto sexual. Segundo os hinduístas, o ser humano é constituído por três princípios, que devem estar em constante equilíbrio e desenvolvimento. São eles: Dharma (virtude ou mérito religioso), Kama (prazer e gratificação sexual) e Artha (riqueza mundana). Portanto para esta tradição a sexualidade faz parte dos aspectos fundamentais a serem desenvolvidos pelo ser humano, tornando-se imprescindível para a se atingir a felicidade. O contrário das religiões derivadas das tradições judaico-cristãs, o hinduísmo propõe uma sexualidade vivida mais amplamente, sem considerar os aspectos morais, embora o Kama Sutra proponha regras de relacionamento bastante claras entre homens e mulheres.

No encontro seguinte discutimos outra concepção de sexualidade, também pertencente a uma tradição oriental, porém dando ênfase no funcionamento do corpo em relação à sexualidade. Apoiamos nossas reflexões na leitura de trechos do livro "O Orgasmo múltiplo do casal", que trata da sexualidade sob o ponto de vista do taoísmo, uma filosofia chinesa do século V a. C., bastante influenciada pela literatura do Kama Sutra, que concebe a relação sexual como fazendo parte da natureza humana, dissociando-a completamente da moralidade. Para esta filosofia, a sexualidade é relacionada tanto à saúde física quanto à emocional e espiritual. Os médicos seguidores desta filosofia chegavam até a determinar uma posição no ato sexual como remédio para uma doença.

Terminadas estas discussões as jovens foram tomadas pelas exigências da faculdade, pois estavam bastante envolvidas com o término do Trabalho de Conclusão de Curso. Elas já haviam feito a coleta de dados e precisavam escrever a respeito do que haviam pesquisado. Neste momento quiseram discutir mais profundamente sobre as questões que haviam pesquisado e o quanto estas investigações a haviam mobilizado. Propus que discutíssemos em grupo o que era "metodologia de pesquisa" e depois discutiríamos individualmente cada um dos projetos de pesquisa a fim de aprofundar os esclarecimentos a respeito de cada uma das investigações realizadas na escola, além de ampará-las nas angústias emergentes do contato com os alunos durante o período de estágio na escola.

Cada uma destas pesquisas realizadas pelas jovens estudantes de Pedagogia revelou a importância de se conhecer a realidade vivida pelas crianças fora do ambiente escolar. Em vários momentos as jovens contaram que facilitou muito a compreensão delas, conhecer a realidade vivida pelas crianças da escola, já que pertencem à mesma comunidade. Ao mesmo tempo, as jovens se surpreenderam com o nível de desconhecimento demonstrado pelos professores desta escola a respeito de seus próprios alunos. Com o intuito de ressaltar a importância de se conhecer a realidade das crianças, propus a leitura de alguns trechos do livro de Jorge Amado, Capitães de areia, em que descreve com rigor e delicadeza a forma como meninos de rua foram tratados pela sociedade baiana da década de 1930 e como estas crianças e jovens sentiam diante do abandono vivido pelo poder público e local, pelas respectivas famílias, etc. Desse modo, as jovens puderam elaborar, através do distanciamento imposto pela via literária, as próprias experiências vividas nos estágios realizados na escola.

Em nosso último encontro as jovens sugeriram que assistíssemos "Christiane F.", um filme que havia sido doado para a biblioteca do Casulo naquela mesma semana, que descreve como uma jovem berlinense entrou para o mundo das drogas ilícitas. Discutimos no espaço de escuta analítica como a protagonista enfrentou suas dificuldades familiares e de que maneira os alunos das jovens pesquisadas enfrentam seus próprios conflitos e se a escola oferece um amparo para que se sintam aptos a enfrentar o mundo e suas vicissitudes.

Vale lembrar que as crianças e jovens adolescentes frequentadores da escola mencionada pertenciam à comunidade da favela do Real Parque que tem a presença do tráfico de drogas, o que aproxima estes jovens desta realidade retratada no filme alemão da década de 1980, guardadas as devidas diferenças culturais. Ao longo das discussões realizadas no grupo com as jovens estudantes de Pedagogia explicitei as diferenças culturais existentes entre a Alemanha do tempo descrito no filme e a São Paulo dos dias atuais, salientando as diferenças de tradição e costumes.

Finalmente, a fim de dar um contorno para todas as discussões que havíamos realizado nos mais variados âmbitos da formação docente, propus, para o término do espaço de escuta analítica, algumas questões a respeito da carreira docente: 1. Como escolhi a carreira docente?, 2. Qual é o ideal de aluno?, 3. Qual é o ideal de professor?

Com isso pretendi retomar a questão colocada inicialmente (como cheguei à carreira docente, como tenho me preparado para esta profissão e o que espero dela) e ressaltar que os temas discutidos no espaço de escuta analítica, dentre eles, a sexualidade do professor, o desejo pela carreira docente, a compreensão das questões relativas à juventude, como drogas e sexualidade, o posicionamento do jovem na sociedade, a formação docente, discutida a partir da realização do Trabalho de Conclusão de Curso, contribuíram para a formação da identidade docente destas três jovens.

A partir da compreensão do conceito de identidade de Ciampa (1996), pude repensar a constituição da identidade destas jovens levando em conta a multiplicidade de temas abordados em nossas discussões.

Segundo este autor, a identidade é um conjunto características substantivas e adjetivas que podem modificar-se com a ação (o verbo). Os aspectos substantivos se referem às características estáticas que atribuem ao objeto uma dada forma, como o nome, o tempo, o espaço, a origem. Os adjetivos atribuem uma qualidade aos aspectos subjetivos. Para que haja uma vida é preciso que se tenha VERBO. Portanto, é através da ação (verbo) que o indivíduo constitui sua singularidade. Ciampa (1996) ressalta ainda que as pessoas não são definidas apenas por uma afirmação daquilo que elas fazem ou são, mas também por aquilo que elas negam. Nesse sentido foi importante o trabalho de escuta analítica com as jovens estudantes, pois elas puderam perceber a tensão existente entre as exigências estabelecidas pelas instituições educacionais (escola, faculdade, comunidade, Ong) no que se refere à constituição da identidade do professor e as necessidades impostas pela realidade em que encontraram nestes mesmos ambientes.

A concepção de identidade de Ciampa (1996), fundamentada na ideia de que a ela se constitui por meio das relações sociais, que estão em constante interação, torna este conceito dinâmico, enunciando um caráter de metamorfose peculiar a ele. Ao ser capaz de mudar de forma, a partir da relação com o outro, a identidade também se deixa influenciar pelo tempo e espaço a que está submetida. Pude perceber, na pesquisa realizada, que as jovens tiveram suas identidades de professoras metamorfoseadas na medida em que tiveram a oportunidade de questionar os mais variados aspectos relativos à prática docente vividos no estágio e demais contextos educacionais podendo, desta maneira, elaborar suas questões no espaço de escuta analítica oferecido a elas.

Neste sentido, a metamorfose é compreendida como um "(...) processo histórico e social, que se dá fundamentalmente como produção de sentido – o que é próprio do agir comunicativo" (Ciampa, 1998, p. 93). É a partir da produção de sentido que o sujeito se torna humano, ou seja, produto e produtor do mundo que o cerca, lembrando da concepção dialética do mundo em que a Psicologia Social está sustentada. Esta ideia se aproxima em muito da compreensão da psique do real concebida por Herrmann (1991) em que a identidade é entendida como uma articulação entre a subjetividade e a objetividade.

Portanto, ao recorrer a autores como Herrmann (1991, 2003), Loss e Sapiro (2005), Ciampa (1996, 1998) construí uma metodologia de investigação que pudesse oferecer um espaço de escuta analítica que levasse em conta tanto os aspectos subjetivos, relativos ao imaginário destas jovens no que dizia respeito à prática docente, quanto os aspectos objetivos encontrados nos diversos locais de atuação e formação profissional (escola, faculdade, Ong) permitindo que estas jovens elaborassem as questões emergentes entre as tensões existentes do encontro destas duas esferas.

Como resultado mais relevante posso apontar para um fato que pude presenciar, uma revelação da práxis por meio da atuação das jovens pesquisadas no momento da desapropriação de parte da favela do Real Parque em novembro de 2007. Durante este episódio o poder público aproveitou para desapropriar uma área que já estava regulamentada pela própria prefeitura. Embora os moradores apontassem para este fato, a polícia militar entrou na favela munida de armas e atirando bala de borracha nos moradores, inclusive em uma mulher grávida que perdeu o bebê. Tomadas pela consciência de que eram líderes desta comunidade, as jovens pesquisadas foram pedir ajuda aos representantes do poder público ali presentes, porém, como não foram ouvidas, assim como a comunidade, elas foram até a Marginal de Pinheiros e interditaram a pista local, provocando um enorme congestionamento refletido em toda a cidade de São Paulo. Dessa maneira, apropriando-se de sua consciência ideológico-política, saíram em defesa dos direitos de uma população, promovendo um protesto e assumindo plenamente a responsabilidade pelo mundo, demonstrando maturidade no enfrentamento com o mundo que as cercava, produzindo um sentido para sua ação no mundo.

 

Notas:

1. Rodrigues, Tatiana Karinya. A metemorfose de jovens lideranças que querem ser professoras: como a escuta analítica propicia a potência crítica da práxis. São Paulo: FEUSP, 2008.

 

Bibliografia:

ABRAMS, Douglas et al. O orgasmo múltiplo do casal: prazer intimidade e saúde – como aproveitar o máximo a vida a dois. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

CIAMPA, Antonio da Costa. A estória de Severino e a história de Severina – um ensaio de Psicologia Social. São Paulo: Brasiliense, 1996.

______________________ Identidade humana como metamorfose: questão da família e do trabalho e a crise de sentido no mundo moderno. In Interações, vol. III, nº6, jul/dez, 1998.

DANE, Lance und PINKNEY, Andrea. Kama Sutra – Die Kunst der Liebe. München: Knesebeck GmbH&Co. Verlags KG, 2002.

GORGULHO, Gilberto da Silva et al. A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Sociedade Bíblica Católica Internacional e Paulus, 2000.

HERRMANN, Fabio. O método da Psicanálise. São Paulo: Brasiliense, 1991.

_________________ Psicanálise e Política – no mundo em que vivemos. Revista Trieb, Rio de Janeiro, v. II, n. 2, p. 235-263, 2003.

JEAMMET, Philippe. Respostas a 100 questões sobre a adolescência. Rio de Janeiro: Vozes, 2007.

LOSS, Maria Aparecida and SAPIRO, Clary M. As possibilidades do engravidamento na adolescência: considerações sobre a construção da sexualidade feminina em contextos de periferia.. In: SIMPOSIO INTERNACIONAL DO ADOLESCENTE, 2., 2005, São Paulo. Proceedings online... Available from: http://www.proceedings.scielo.br/ scielo.php?script=sci_arttext&pid=MSC0000000082005000200042&lng=en&nrm=abn>. Acess on: 14 Apr. 2009.

RODRIGUES, Tatiana Karinya. A metamorfose de jovens lideranças que querem ser professoras: como a escuta analítica propicia a potência crítica da práxis. São Paulo: FEUSP, 2008.

VATSYAYANA. Kama Sutra, Porto Alegre: L&PM, 2006.