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ISBN 978-85-60944-35-4 versión on-line

An 9 Col. LEPSI IP/FE-USP 2012

 

Um lugar para o sujeito no ensino da medicina

 

 

Beatriz Cauduro Cruz GutierraI; Gabriela Xavier BragaII; Paula Tatiane Pereira dos SantosII

IPsicanalista, doutora USP, docente UNINOVE
IIPsicóloga

 

 


RESUMO

Nosso trabalho consiste em uma reflexão acerca do ensino da medicina nos primeiros anos da formação médica e os efeitos deste modo de ensino no estilo de atuação do futuro médico. Discutiremos a experiência do Grupo de Reflexão – Medicina... e agora? realizado junto aos alunos ingressantes do Curso de Medicina numa universidade de São Paulo. Neste inicio de curso os jovens sofrem um grande impacto, devido a necessidade de criação de novas estratégias de estudo e de lidar com a pressão dos professores e avaliações. Com base na escuta psicanalítica realizada por alunos concluintes do curso de Psicologia, buscou-se ofertar um espaço de fala e intercâmbio entre os estudantes sobre as questões que os afligiam o que permitiu que simultaneamente pudéssemos refletir sobre o estilo de transmissão da medicina e suas conseqüências. Nota-se que a medicina contempla as três fontes do mal-estar na civilização assinaladas por Freud (1930) – o próprio corpo, o mundo externo e o relacionamento com os outros homens. Assim, sua transmissão inclui não apenas os conhecimentos teóricos, mas também as estratégias que se criaram no campo médico para lidar com o mal-estar. Se por um lado este mal-estar abriu espaço para enigmas que instigam o avanço da medicina, tal qual o discurso da histérica promoveu o avanço da psicanálise; por outro, se este saber se apresenta na transmissão como um saber universitário, estático, temos como conseqüência um estilo de transmissão que "escraviza", à maneira do discurso do mestre. O estudante se transforma num a-studante (trocadilho francês em Lacan, seminário 17), ou seja, torna-se puro objeto sendo sua singularidade expelida do aprendizado, restando a ele assumir dogmaticamente os conteúdos transmitidos. Estas estratégias de lidar com o mal-estar impressas na transmissão não são sem conseqüências para o estilo de atuação do futuro médico... Assinalamos, como conclusão, a importância de haver no curso de medicina um lugar para o sujeito e seu discurso, seja através de grupos de acolhimento e incluída na dinâmica de transmissão de saber no interior do curso de medicina. Afinal, "todos os avanços médicos não sanam o mal-estar" (Freud, 1930,p. 107), no entanto, diante disto, o médico não precisa se transformar num "deus de prótese" (Freud, 1930, p. 111).

Palavras chave: psicanálise, medicina, formação médica.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

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BIBLIOGRAFIA

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