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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Avaliação em ciência e tecnologia: o papel dos pares na elaboração de pareceres com fim de publicação em revistas científicas

 

Evaluation in science and technology: the peers' role in reviewing papers for publication in journals

 

 

Annelita Almeida Oliveira ReinersI; Aldenan Lima Ribeiro Corrêa da CostaII; Ilza dos Passos ZborowskiIII; Maria Regina LourençoIV; Priscilla HortenseV; Roberta Paula de Melo Sant'AnnaVI

IEnfermeira, Docente da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da UFMT, Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP. R. Zulmira Canavarros, 313 Centro 78005-390 Cuiabá-MT annelitaa@yahoo.com.br
IIEnfermeira, Docente da Faculdade de Enfermagem e Nutrição da UFMT, Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP
III
Enfermeira, Coordenadora de Educação Continuada do Hospital Austa de São José do Rio Preto, Mestranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP
IVEnfermeira, Gerente do Serviço de Enfermagem da Santa Casa de Misericórdia de São José do Rio Preto, Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP
VEnfermeira, Mestranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP
VIEnfermeira da Fundação SOBECCan, Hospital do Câncer, Doutoranda do Programa de Enfermagem Fundamental da EERP-USP

 

 


RESUMO

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica desenvolvida no período de março a maio de 2001 que teve o objetivo de descrever o papel dos pareceristas responsáveis pela elaboração de pareceres com fim de publicação em revista científicas. Foram realizadas consultas em livros, revistas científicas, em endereços eletrônicos na Internet, bem como, com editores e pareceristas de revistas. As autoras concluíram que o papel dos pareceristas é importante e imprescindível. Sua contribuição é relevante para os autores na medida em que, com suas críticas e sugestões favorecem a qualificação deles. Da mesma forma, ajudam a avaliar a ciência contribuindo para seu desenvolvimento e colaboram com a manutenção do padrão de qualidade das revistas.

Palavras-chave: parecer, parecerista, revistas científicas


ABSTRACT

This is a bibliographical research carried out from March to May 2001 whose aim was to describe the peers' role in reviewing papers for publication in journals. Books, journals and Internet sites were consulted; as well as journal referees and editors. The authors concluded that the referees' role is important and indispensable. Their contributions are for the authors to the extent that their criticism and suggestions enhance the authors' qualifications. Likewise, the referees help to evaluate science, contributing to its development, and collaborate in maintaining the quality of the journals.

Key words: review, referee, journals


 

 

I. Introdução

Em seu livro, Ziman (1981) relata que a única forma de transmissão rápida dos achados científicos, até o final do século XVII, eram as cartas particulares, nas quais os cientistas escreviam a seus pares sobre os progressos obtidos em suas experiências ou mesmo para trocar idéias. Os Anais ou Atas das reuniões científicas que eram transcritos manualmente, e posteriormente impressos, também serviam para consultas e referências. Depois disso, os periódicos especializados se constituíram na forma mais usual de divulgação do conhecimento científico.

De acordo com a NBR- 6021, periódico é uma "publicação seriada de periodicidade pré-fixada, cujas unidades são geralmente constituídas por textos de autoria diversa. É objeto de ISSN (numeração internacional padronizada de publicações seriadas)" . Existem periódicos de diversos tipos, como revistas, boletins e jornais. O enfoque deste trabalho será sobre revistas. Sua importância está no fato de que é um arquivo de diversos trabalhos científicos da mesma área ou sub-áreas de conhecimento que, além de facilitar a comunicação entre estudiosos, vai assegurar a prioridade da autoria.

Conforme Lewis Joel Greene, Editor Científico da revista Brazilian Journal of Medical and Biological Research, "as funções de uma revista em todo o mundo, geralmente, podem ser resumidas como memória da ciência e como meio de divulgação de resultados de pesquisa para a comunidade científica e para a sociedade. Além disso, a revista pode fornecer parâmetros para a avaliação da produção científica dos pesquisadores e das instituições" (1998, p. 230).

Neste sentido, uma pessoa que pretende publicar o seu trabalho científico deve certificar-se de que a revista seja conceituada, prioritariamente indexada, isto é, que esteja catalogada em uma base de dados, pois terá garantido não somente uma ampla divulgação do seu trabalho como também um adequado controle de qualidade dele. Isto porque "o nível da revista depende do Corpo Editorial e consultores que escolham textos que revelem sua relevância e preencham lacunas de conhecimento específico" (Secaf, 2000, p. 70).

Pouco se sabe sobre o papel que os pareceristas desempenham em uma revista. Na realidade, na maioria das vezes, esse é um trabalho anônimo. A fim de conhecer mais sobre a atividade dessas pessoas, nosso objetivo neste trabalho será descrever o papel dos pareceristas responsáveis pela elaboração de pareceres com fim de publicação em revistas científicas.

Este trabalho é o resultado do requisito de avaliação da disciplina Administração de Projetos de Pesquisa em Enfermagem do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto.

 

II. Sobre a metodologia

A descrição que as autoras fazem a seguir foi fruto de pesquisa bibliográfica desenvolvida no período de março a maio de 2001 a partir de consultas em livros, revistas científicas, bem como, em endereços eletrônicos na Internet. As revistas científicas pesquisadas foram a Revista da Escola de Enfermagem da USP, a Revista Latino Americana de Enfermagem, a Journal of Comparative Biology, a Arquivos Brasileiros de Cardiologia, a Scientia Agrícola e a Brazilian Dental Journal.

Além disso, editores e pareceristas de revistas de Enfermagem, Odontologia, Medicina e Biologia foram consultados a fim de que informações adicionais fossem obtidas.

O protocolo utilizado para a coleta de dados compreendeu as seguintes perguntas sobre os pareceristas e seu trabalho: No que consiste um parecer para fins de publicação em periódicos e qual a sua finalidade? Quem são os pareceristas e como são escolhidos para esta tarefa? Quais são as funções do parecerista? Quais os critérios utilizados pelo parecerista quando elabora um parecer e em que eles são baseados? Existem formulários específicos para elaboração de pareceres? Como eles se apresentam? Quantos pareceres um parecerista costuma fazer e em quanto tempo? O que é um consultor "Ad hoc"? A fim de ser publicado, quais os trâmites de um trabalho científico, desde sua chegada à revista até depois de passar pela avaliação do parecerista? Qual o tempo médio gasto nestes trâmites?

 

III. Sobre pareceres e pareceristas

De modo geral, o Editor ou a Comissão de Editoração ao receber um artigo faz uma pré-análise que pode incluir a sua adequação às normas do periódico, se o tema do trabalho está de acordo com o escopo da revista e, ainda se, no momento, o assunto é a prioridade da revista. Posteriormente, o artigo é remetido a um ou mais consultores para que procedam a leitura crítica e dêem o parecer técnico.

De acordo com a definição encontrada no MiniAurélio (Ferreira, 2000, p. 515), parecer é "uma opinião fundamentada sobre dado assunto" . Segundo a Presidente da Comissão de Editoração da Revista Latino Americana de Enfermagem, em entrevista concedida ao grupo no dia 28/03/2001, um parecer, no contexto da revista, é o resultado da apreciação do artigo por pesquisadores experientes recebido para publicação de acordo com critérios pré-estabelecidos.

Ziman (1981) diz que o editor de uma revista para manter seu padrão de qualidade começou solicitando auxílio de alguns colegas para esta tarefa criando-se assim o atual sistema de árbritos ¾ "peritos anônimos encarregados de ler os artigos apresentados para serem publicados, recomendando sua aceitação ou rejeição" (1981, p. 118). Estes peritos são chamados revisores, relatores, consultores ou pareceristas; em inglês, referee, que quer dizer, árbrito ou juiz. Neste trabalho estaremos utilizando o termo parecerista.

Os pareceristas são pesquisadores de reconhecido saber em uma determinada área do conhecimento, escolhidos por seus pares cujo papel é o de avaliar o mérito e o rigor científico dos trabalhos enviados à revista, a sua adequação às normas de publicação da revista, a sua originalidade e a sua contribuição para o crescimento da ciência e das profissões. Assim, avaliam trabalhos que sejam de qualidade e tenham embasamento científico. Na maioria dos casos, têm a titulação mínima de Doutor e podem ser estrangeiros.

Na maioria das vezes, fazem parte do Corpo Editorial da revista, entretanto, em determinadas situações, utiliza-se um tipo específico de consultor denominado consultor "Ad hoc", que não faz parte do Conselho Editorial, designado para dar pareceres quando o artigo trata de temática para a qual não há pareceristas que a dominam, ou quando existe um volume muito grande de trabalhos a serem analisados.

A escolha dos pareceristas pode ser feita tomando em consideração a reconhecida experiência no assunto do trabalho submetido tendo publicações na área ou não; disposição em colaborar no processo de revisão da revista; não pertencer ao mesmo serviço dos autores e não haver conflito de interesse potencial com o tema ou autores de um artigo. "Está implícito que só pesquisadores produtivos têm habilidade para avaliar e indicar outros para emitirem pareceres", diz Greene (1998, p. 231).

Segundo a COMISSÃO INTERNACIONAL DE EDITORES DE REVISTAS MÉDICAS (1998) "o número dos revisores, os processos de revisão e a utilização que é dada aos pareceres dos revisores podem variar, pelo que cada revista deve anunciar publicamente a sua política nas suas instruções aos autores, para benefício dos leitores e dos potenciais autores" .

Seguindo os trâmites, os responsáveis pelo controle de qualidade da revista, geralmente a Comissão de Editoração ou o Editor, após uma pré-análise do artigo, envia-o ao consultor, mantendo o anonimato do autor, juntamente com uma carta na qual são feitas recomendações tais como a observância dos prazos estabelecidos para devolução dos pareceres, a adequação do texto analisado às normas de publicação da revista (em algumas revistas esse trabalho é do editor ou Comissão Editorial), aos aspectos éticos relacionados a pesquisas com seres humanos, assim como, a solicitação de comentários que possam guiar os autores durante o processo de correção do artigo.

Em relação ao número de pareceristas aos quais são enviados os artigos para serem avaliados, há revistas que os enviam para dois e consultam um terceiro quando existe discordância nos pareceres. Mas, há aquelas que enviam apenas a um parecerista cabendo ao editor a função de dar o parecer final sobre a publicação ou não do trabalho.

O anonimato do parecerista é outra questão que também pode ser diferente de uma revista para outra. Na maioria das vezes não é revelado o nome de quem deu o parecer, entretanto, existem revistas que deixam que o parecerista decida se prefere manter sua revisão anônima ou não; algumas até mesmo exigem que o parecerista assine os pareceres enviados aos autores.

Pode haver ou não um instrumento de análise do artigo. Quando existe ele é um formulário com tópicos e questões a serem respondidas pelo parecerista após a leitura do texto, baseados em critérios estabelecidos pela Comissão de Editoração, a partir do que considera como sendo a estrutura formal de um trabalho científico.

Existe a preocupação de que o parecerista faça muito mais do que preencher no formulário os campos reservados para sua avaliação; espera-se que ele contribua com sugestões para o autor refletir e, provavelmente, reformular o texto. Além disto, há o espaço para o parecer final do parecerista, podendo ser este favorável (aprovado) ou não (rejeitado). Existe, ainda, o parecer com restrições no qual é recomendado ao autor que reapresente o artigo após as modificações sugeridas.

Por fim, quando o parecer é devolvido ao Editor ou à Comissão de Editoração, ele é enviado ao autor, juntamente com o artigo, que deverá fazer as reformulações sugeridas, caso necessário, ou aguardará a sua publicação quando o parecer for favorável.

 

IV. Sobre o que o editor espera dos pareceristas

Ziman (1981, p. 118-9) comenta que "o mais discutido e controvertido tópico relativo à comunicação científica refere-se ao papel dos árbritos, ao perigo que representam como censores de idéias novas" . De fato, no material que pesquisamos existe a preocupação dos Conselhos Editorias em recomendar aos pareceristas o respeito às opiniões do autor do texto, seu estilo e metodologia adotada no desenvolvimento do artigo. Pede-se cordialidade e que as críticas sejam construtivas.

É apropriado colocar-se aqui a observação que está na carta enviada aos pareceristas do periódico Revista Latino-Americana de Enfermagem e Revista da Escola de Enfermagem da USP que retrata bem a preocupação que se tem com o parecer (Anexo II): "Alguns relatores têm apresentado inúmeras alterações aos artigos de tal modo que os mesmos perdem suas características originais; se o autor for acatar todas as sugestões o artigo se tornará um outro trabalho de pesquisa, diverso daquele pretendido pelo autor" (item 3).

A preocupação que os editores têm com o parecer se estende mais além. Há casos em que o editor não concorda com pareceres negativos e não justificados ou quando percebe que o parecerista está defendendo ou protegendo um autor ou bloqueando uma idéia nova. Além disso, pode acontecer que haja conflito de interesses entre o autor e o parecerista, seja de ordem pessoal, econômica, ideológica e cultural. Nesse caso, editores enfrentam a difícil tarefa de detectá-los e contorná-los a fim de garantir a qualidade e a credibilidade da revista.

Em relação a isso, nas Normas para Apresentação de Artigos Propostos para Publicação em Revistas Médicas (Normas de Vancouver) (COMISSÃO, 1998), existe a recomendação de que

"os revisores pares exteriores deverão declarar aos editores quaisquer conflitos de interesses que possam enviesar as suas opiniões sobre o manuscrito, e deverão desqualificar-se para a revisão de manuscritos específicos se pensarem que tal é apropriado. Os editores devem ser postos ao corrente de conflitos de interesses dos revisores para interpretar os seus pareceres e decidirem por si se o revisor deverá ser desqualificado. Os revisores não devem usar o seu conhecimento de um trabalho antes de sua publicação para favorecer seus interesses".

Não existe um número estipulado de pareceres que cada parecerista deve dar. Isto vai depender do próprio parecerista, pois um outro aspecto a ser considerado é o prazo de devolução dos pareceres ao editor. Há pareceristas que obedecem ao prazo estipulado pela revista e aqueles que, por motivos diversos, não o fazem. Segundo a Presidente da Comissão de Editoração da Revista Latino Americana de Enfermagem, ocorre, algumas vezes, que o parecerista ainda possui um trabalho que está em processo de análise e recebe um novo artigo para avaliar. Isso ocorre pela estratégia usada pela revista de permitir a devolução do artigo para o autor, no máximo, três vezes e em ocasiões de realizações de eventos temáticos quando muitos artigos da mesma área são enviados para publicação.

No sentido de agilizar a sua devolução à revista, os editores têm encorajado o uso da tecnologia pelo parecerista que pode emitir seu parecer por meio de fax e correio eletrônico.

Um último aspecto a ser considerado é que o editor espera que o parecerista seja ético respeitando os direitos dos autores não se apropriando de suas idéias antes da publicação do artigo ou mesmo discutindo-o em público. Espera ainda, que o parecerista não compartilhe o artigo com outra pessoa ou faça cópia dele.

 

V. Conclusão

Uma importante questão a ser considerada é a oportunidade que autores e pareceristas têm dentro desse processo de revisão que é o aprendizado. Um aspecto extremamente positivo pois, quando visto nesta perspectiva, pode-se aprender a analisar textos científicos, a escrevê-los e fazer julgamentos. Greene (1998, p. 230) considera que "as revistas podem ajudar a consolidar áreas de pesquisa, além de treinar revisores e autores por meio das análises dos trabalhos. São essas análises que permitem o desenvolvimento do senso crítico, atuando na formação de autores e revisores".

Enfim, o papel das pessoas responsáveis pela elaboração de pareceres com fim de publicação em revistas, os pareceristas, é importante e imprescindível. Pareceristas que emitem pareceres criteriosos e de forma ética freqüentemente dão uma contribuição relevante para os autores na medida em que, com suas críticas e sugestões favorecem a qualificação deles; ainda, ajudam a avaliar a ciência contribuindo para seu desenvolvimento e colaboram com a manutenção do padrão de qualidade das revistas.

 

VI. Referências bibliográficas

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6021 /1994 - Apresentação de periódicos. Rio de Janeiro: ABNT; 1994.

COMISSÃO INTERNACIONAL DE EDITORES DE REVISTAS MÉDICAS. Normas para apresentação de artigos propostos para publicação em revistas médicas. In: Miranda J. A. Normas de Vancouver. 1998 Fev 14: (69 ecrans). Disponível em: URL: http://homepage.esoterica.Pt/~jmiranda/Normas.Html. Acesso em: 24 mar. 2001.

MINIAURÉLIO século xxi: o minidicionário da língua portuguesa / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro (RJ): Nova Fronteira, 2000. 515 p.

GREENE, L. J. O dilema do editor de uma revista biomédica: aceitar ou não aceitar. Ci. Inf., Brasília, v. 27, n. 2, p. 230-32, 1998.

SECAF, V. Artigo científico: do desafio à conquista. São Paulo: Reis Editorial; 2000. 92 p.

ZIMAN, J. A força do conhecimento. São Paulo: Edusp; 1981. 375 p.