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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Mayo. 2002

 

Trabalhando em grupo na pós-graduação: conciliando teoria e prática

 

Working in group in post graduation courses: integrating theory and practice

 

 

Lúcia Helena GrandoI; Elizabeth Perez GalastroII; Marta Araújo AmaralIII; Maria Júlia Paes da SilvaIV

IEnfermeira chefe do Instituto de Psquiatria do HC-FMUSP. Profa. da Universidade Guarulhos. Doutoranda da EEUSP
IIProfa. Assistente do Departamento Materno Infantil da EEUFMG. Doutoranda da EEUSP
IIIProfa. Assistente do Departamento Materno Infantil da EEUFMG. Doutoranda da EEUSP
IVProfa. Associada do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEUSP

 

 


RESUMO

O objetivo deste trabalho foi relacionar o aporte teórico referente ao tema Trabalho de Grupo com a vivência dos discentes que participaram da disciplina "Comunicação na Saúde do Adulto I - A Interação da Linguagem Verbal e Não-Verbal nas Relações Interpessoais" do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem da USP. Os dados foram submetidos à análise de conteúdo segundo Bardin, numa abordagem qualitativa. Os procedimentos éticos foram respeitados. Os resultados apontaram como fundamentais para o funcionamento do grupo, a definição e clareza dos objetivos a serem alcançados e para a importância do coordenador reconhecer as diferenças individuais e promover a criatividade, o respeito e solidariedade entre os participantes.

Palavras-chave: trabalho de grupo, comunicação


ABSTRACT

This study aims to report about the theoretical contribution concerning Group Work to the experiences of students who participated in the subject matter " Communication in Adult Health I - The Interaction of Verbal and Nonverbal Language in Interpersonal Relationships", taught in the Post Graduation Program of the Nursing School at São Paulo University (USP). Data were submitted to Bardin's content analysis in accordance with a qualitative approach. Ethical procedures were respected. The results pointed out the need for defining and clarifying the objectives to be achieved by the group as well as the importance of the coordinator recognizing individual differences and promoting participants' creativity, respect and solidarity as essential for group functioning.

Key words: group work, communication


 

 

Introdução

Sabe-se que desde os primórdios dos tempos a humanidade tem vivido em grupos, inicialmente como meio de vencer os desafios da vida primitiva e garantir a sobrevivência grupal. Com a evolução da civilização, os homens foram se afastando uns dos outros, vivendo enclausurados em si mesmos e cada vez mais se individualizando. Entretanto, as exigências do mundo moderno e a complexidade do conhecimento vem forçando o ser humano a buscar parcerias, ou seja, a trabalhar em grupo. Aprender a conviver é um desafio também dos novos tempos. Na Enfermagem o trabalho em equipe faz parte da rotina dos profissionais que atuam em hospitais, ambulatórios e na comunidade. Nem sempre esta é uma tarefa fácil e as dificuldades apresentadas quanto aos aspectos de organização e operacionalização do trabalho de grupo são pouco refletidas e valorizadas, principalmente para o enfermeiro que atua como coordenador e que se depara com situações que exigem sua intervenção.

Na disciplina "Comunicação na Saúde do Adulto I - A Interação da Linguagem Verbal e Não-Verbal nas Relações Interpessoais" do Programa de Pós Graduação da Escola de Enfermagem da USP o tema TRABALHO DE GRUPO foi amplamente discutido e paralelamente vivenciado pelos discentes, o que estimulou a elaboração deste estudo. Optamos por apresentar uma breve revisão de literatura sobre o tema e os resultados da pesquisa realizada durante o desenvolvimento da disciplina.

 

Revisão de Literatura

O conceito de grupo é apresentado por diferentes autores de forma distinta. Para Zimerman et al. (1997) a definição do termo grupo pode designar diferentes acepções; tanto pode se constituir de duas pessoas como uma família, uma turma, uma classe de aula, uma gangue, uma fila de ônibus, uma torcida no estádio etc. Pode ainda ser um conjunto de pessoas sintonizadas num mesmo programa de rádio, televisão.

Na concepção de Contreras (1999) a definição de grupo não está relacionada ao número de indivíduos que o compõe, mas ao conjunto de sujeitos que interagem movidos por um fim comum a todos eles. Para este autor cada indivíduo influencia o grupo a que pertence e recebe, reciprocamente, a influência do mesmo.

Também para Aubry e Saint-Arnaud (1978), a definição de grupo não se apóia na soma de indivíduos, mas depende intimamente das relações que se estabelecem entre os diferentes indivíduos. Os membros do grupo devem aceitar o trabalho comum, participar da responsabilidade coletiva e somar seus esforços para a realização deste trabalho.

Compartilhamos com estes autores que grupo é mais que uma soma de indivíduos. Um grupo se forma quando um conjunto de pessoas busca um objetivo comum. Por nossa experiência sabemos que cada grupo tem um ritmo próprio, formula exigências diferentes e reage de forma distinta.

A essência dos fenômenos grupais é, para Zimerman et al. (1997), a mesma em qualquer tipo de grupo; o que determina as diferenças entre os distintos grupos é a finalidade para o qual foram formados. Para os autores ao se criar e compor um grupo devemos estar atentos e prontos a responder algumas perguntas referentes ao seu planejamento, como: para o que e para qual finalidade o grupo está sendo criado? Para quem ele se destina? Como ele funcionará? Onde, em quais circunstâncias, e com quais recursos? Quem vai ser o coordenador? Outro aspecto importante destacado diz respeito ao estabelecimento de um enquadre e a necessidade de sua preservação para o bom funcionamento do grupo. O enquadre pode ser definido como a soma de todos os procedimentos que organizam, normatizam e possibilitam o funcionamento grupal, assim também denominado de "setting" ou "regras do jogo". No enquadre alguns elementos podem ser considerados, incluindo desde o espaço físico no qual os encontros transcorrerão até as combinações prévias de horário, freqüência, duração, além da própria composição do grupo.

Ortis (1992) conceitua enquadre como a delimitação clara e precisa de uma tarefa e destaca que o estabelecimento do mesmo tende, desde o primeiro encontro, a diminuir as angústias e temores dos participantes.

Zimerman et al. (1997) enfatizam outras condições básicas para a formação de um grupo, seja ele de natureza operativa ou terapêutica. O tamanho do grupo não pode exceder o limite que interfira negativamente na comunicação. Afirma que em todo grupo coexistem duas forças contraditórias permanentemente em jogo, a coesão e a desintegração. A coesão se tornará evidente na proporção que cada membro se sinta parte efetiva do grupo e que defenda os objetivos do mesmo. Enfatizam a importância do coordenador do grupo operativo ou terapêutico, que deve dispor de uma logística e uma técnica definida, assim como os recursos táticos e estratégicos para garantir a integração do grupo.

Para Maihiot (1973) esta integração ocorre gradualmente num grupo apresentando três fases distintas:

A) Fase individualista - Independente da natureza da tarefa e estrutura da organização formal do grupo, inicialmente seus elementos têm a tendência a agir de forma individualizada. Esta fase durará até que cada membro tenha conseguido se fazer aceitar como indivíduo. O coordenador deverá reconhecer a importância dessa fase, para que os componentes do grupo se conheçam melhor, se aceitem reciprocamente e descubram as possíveis contribuições de cada um para a realização da tarefa.

B) Fase de identificação - Uma vez aceitos como indivíduos, os membros do grupo tendem a se integrar em sub grupos com aqueles que experimentam temores, apreensões e vivências semelhantes. Cabe ao coordenador estimular e valorizar a participação de cada membro nas decisões do grupo. Esta fase terá tendência a se prolongar quanto mais heterogêneo for o grupo.

C) Fase de integração - Um grupo atinge esta fase quando cada um dos seus membros se sente plenamente aceito. O coordenador do grupo, ao buscar o clima propício à integração, deve estar atento a duas leis fundamentais. A primeira consiste em aceitar e fazer aceitar pelos outros membros os momentos de ansiedade inerentes a todo processo de crescimento psíquico; a segunda lei é a da complementaridade, na qual cada membro percebe-se como diferente, mas incompleto e cada um dos seus outros membros como seu possível complemento. As divergências de opiniões não são vistas como conflito ou tensão, mas como possibilidade de complementaridade entre os membros na busca de soluções dos problemas. Caso a integração do grupo não ocorra, a tendência dos membros é a de voltar-se para si mesmo e negligenciar a tarefa a ser executada.

Outro aspecto importante para se entender a dinâmica do trabalho de grupo são os papéis desempenhados pelos seus membros. Para Pichón-Rivière (1991) cada um dos participantes do grupo constrói seu papel em relação ao outro e destaca quatro papéis básicos presentes nos processos grupais:

No processo grupal esses papéis podem ser melhor identificados a partir de um número maior de encontros ou quando se cria um clima mais participativo.

Cavalcante (1999) enfatiza que os papéis de líder, porta voz, bode expiatório e sabotador não são estanques em um grupo e que a troca de papéis entre os participantes constitui um movimento fundamental dentro da estrutura interna da dinâmica grupal.

A importância desse fenômeno grupal é perceber que o indivíduo certamente executa os mesmos papéis nas diferentes áreas de sua vida familiar, profissional, social etc (PICHÓN-RIVIÈRE, 1991).

Para Zimerman et al. (1997) um coordenador de grupo deve apresentar diferentes atributos e funções, como por exemplo: gostar e acreditar em grupos; ser continente (ter a capacidade de conter as angústias e necessidades dos outros, e também às suas próprias); empatia (poder colocar-se no lugar do outro e assim manter uma sintonia afetiva); boa comunicação (tanto como emissor ou receptor, com a linguagem verbal e não-verbal, com a preservação de um estilo próprio); senso de humor (um coordenador pode ser firme sem ser rígido, flexível sem ser "frouxo", bom sem ser bonzinho e, da mesma forma, pode descontrair, rir, brincar, sem perder o seu papel e a manutenção dos limites necessários); integração e síntese (é a capacidade de extrair o denominador comum das mensagens emitidas pelos diversos componentes do grupo e de integrá-las em um todo coerente e unificado).

Outro aspecto que merece ser destacado é a avaliação como um processo dinâmico e contínuo no trabalho grupal. De acordo com Contreras (1999), a análise sistemática de todos os processos do grupo é fundamental para uma constante adequação do trabalho. O processo de avaliação possibilita novos questionamentos, ajuda na tomada de decisões, contribuindo para as mudanças metodológicas e para o crescimento do grupo. Destaca ainda que os sistemas de avaliação do trabalho e controle devem ser conhecidas pelo grupo; mais ainda: o grupo deve participar deles. Os métodos de avaliação são os mesmos para qualquer atividade. Não devemos cair na armadilha de aniquilar ainda mais o que não funcionou, nem nos empenhar em buscar os culpados. Devemos desenvolver as avaliações de uma forma positiva, pensando sempre em soluções.

 

Objetivo

Correlacionar as vivências dos alunos matriculados na disciplina "Comunicação na Saúde do Adulto I - A interação da Linguagem Verbal e Não-Verbal nas Relações Interpessoais" com o texto intitulado "LIÇÃO DOS GANSOS", (autor desconhecido: Texto extraído do livro Oficina de Dinâmica de Grupos para empresas, escolas e grupos comunitários (MIRANDA, 2000 p.31), identificando aspectos necessários para o desenvolvimento do trabalho em grupo.

 

Caminho metodológico

Optamos pela pesquisa qualitativa por ela nos permitir compreender as experiências vivenciadas pelo grupo de alunos de Pós-Graduação que, em 2001, participaram da disciplina Comunicação na Saúde do Adulto I - A Interação da Linguagem Verbal e Não-Verbal nas Relações Interpessoais. Koizumi (1992) ressalta que "o método qualitativo é uma abordagem sistemática, subjetiva, usada, para descrever as experiências de vida e dar-lhes significado".

Aos 20 alunos inscritos foi exposto o objetivo do estudo e solicitado a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, deixando-os decidirem livremente pela participação, sendo garantido o anonimato dos mesmos. Todos receberam todas as informações e foram instruídos quanto ao preenchimento do formulário, sendo solicitado que eles estabelecessem um paralelo entre os enunciados contidos na "Lição dos gansos" com as experiências vivenciadas durante a disciplina. Para análise dos dados optamos por utilizar a técnica de análise de conteúdo, pelo fato dessa técnica possibilitar a busca dos significados a partir dos discursos do sujeitos entrevistados.

Bardin (1979) refere-se à análise do conteúdo como "um conjunto de técnicas de análise das comunicações, com o objetivo de obter, por meio de procedimentos sistemáticos e objetivos, a descrição do conteúdo das mensagens, os indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens".

 

Resultados e discussão

A análise foi realizada com base em 12 formulários devolvidos pelos sujeitos participantes da pesquisa. Tendo em mãos os formulários, realizamos uma leitura vertical das respostas buscando correlacionar com os cinco enunciados e destacando, nos discursos, as falas mais expressivas referentes às vivências do grupo. Posteriormente, buscamos na literatura elementos para interpretação final.

As etapas de análise processadas possibilitaram chegar aos seguintes resultados:

Enunciado nº 1: No outono, quando se vê bandos de gansos voando rumo ao sul, formando um grande "V" no céu, indaga se o que a ciência já descobriu sobre o porquê de voarem desta forma. Sabe-se que quando cada ave bate as asas, move o ar para cima, ajudando a sustentar a ave imediatamente detrás. Ao voar em forma de "V", o bando se beneficia de pelo menos 71% a mais de força de vôo do que uma ave voando sozinha.

O trabalho de grupo se fortalece na medida em que os objetivos dos participantes se tornam comuns. A partir do momento que os integrantes apresentam suas experiências e expõem suas opiniões, cria-se um clima de confiança, de cumplicidade impulsionando o mesmo ao crescimento. Quando os participantes caminham na mesma direção os objetivos são mais rapidamente alcançados. As falas seguintes ilustram esta constatação.

"No início cada um tinha um objetivo. A partir da troca de experiência o grupo se tornou coeso e se fortaleceu".

"A troca de experiências pessoais enriquece, estimula, fortalece o alcance da meta que é um relacionamento interpessoal saudável e feliz".

Os sujeitos destacam também a possibilidade do trabalho se tornar mais prazeroso e menos árduo ao ser compartilhado com o grupo.

"A participação do grupo torna o aprendizado mais fácil, leve e prazeroso".

"Ajuda mútua leva a uma ação transformadora e os desafios se tornam mais leves".

Aubry e Arnaud (1978) consideram que para uma reunião de pessoas se constituir em um grupo, é necessário que estes tomem consciência de que buscam um objetivo comum e que haja entre eles uma inter-relação psicológica autêntica. Os autores afirmam ainda que para se formar um grupo seus membros devem aceitar o trabalho comum, participar da responsabilidade coletiva e conjugar seus esforços na realização de um trabalho que seja produtivo e prazeroso.

Enunciado nº 2: Sempre que um ganso sai do bando, sente subitamente o esforço e a resistência necessário para continuar voando sozinho. Rapidamente, ele entra outra vez em formação para aproveitar o deslocamento de ar provocado pela ave que voa imediatamente à sua frente.

Quando os participantes realmente se integram e se sentem parte do grupo, os sentimentos de força, poder e segurança surgem espontaneamente, reforçando o trabalho grupal e desta forma sendo mais fácil prosseguir num caminho onde os interesses são comuns e compartilhados.

As falas seguintes contextualizam esta situação:

"No trajeto do processo ensino-aprendizado, pensamos em alguns momentos que nosso conhecimento nos permite voar sozinhos. Porém, ao trabalhar grupo, percebemos que há mais coisas para aprender, que podemos aproveitar as experiências das colegas, conseguindo superar limitações e desenvolver mais o nosso potencial".

"Enfrentar os problemas de comunicação de forma isolada se torna mais difícil. Os encontros com o grupo fortalece e recompõe as forças necessárias".

Maihiot (1973) refere-se aos critérios de integração do grupo e destaca que na medida que a comunicação se estabelece no interior de um grupo é possível atingir alto grau de coesão, possibilitando uma sincronização e sintonização dos membros do grupo em relação ao cumprimento de uma tarefa.

Lição nº 3: Quando o ganso líder se cansa, ele muda de posição dentro da formação e outro ganso assume a liderança.

A troca de papéis dentro do grupo suaviza o cumprimento de tarefas e enriquece o trabalho conjunto. Os sujeitos apontam que no trabalho do grupo as lideranças se alternaram durante os seminários, aulas ministradas pela docente e convidados externos.

"Com os seminários os alunos se preparam para assumir a liderança do grupo".

"Existe mais de um líder no grupo. Isto pode ser positivo e pode levar ao crescimento do grupo".

A organização da disciplina estimula os alunos a se prepararem para assumir a liderança, bem como revezarem nesse papel. A troca de liderança favorece o crescimento do grupo.

"Todos os participantes assumem a liderança em diferentes momentos. O que se torna evidente na apresentação dos seminários".

"Todas as pessoas têm potencial para liderança. É uma questão de descobri-lo e de trabalha-lo".

"A troca de papéis é fundamental para o crescimento do grupo".

Cavalcante (1999) enfatiza que a troca de papéis entre participantes constitui um movimento fundamental dentro da estrutura interna da dinâmica grupal e promove o crescimento de seus membros.

Há que se ressaltar que na fala dos sujeitos se evidencia a importância da comunicação do processo grupal:

"No grupo a comunicação é mais efetiva quando se pode falar e ouvir o outro".

"Todos falam, todos escutam, mas cada um no seu tempo".

Silva (1996) ao se referir ao processo de comunicação grupal também enfatiza que os participantes do grupo devem dar espaço para que os outros verbalizem o que pensam e sentem.

Lição 4: Os gansos de trás gritam, encorajando os da frente para que mantenham a velocidade

Todos os participantes necessitam ser reforçados com apoio ativo e encorajamento dos companheiros. De modo geral os sujeitos correlacionam a lição com a necessidade de reforço positivo para impulsionar o crescimento do grupo. Como podemos observar nas falas:

"Reforço positivo é fornecido a cada pessoa ou grupo participante no seminário. Isto motiva o grupo a manter-se unido em busca do objetivo comum".

"Todos nós precisamos de apoio e reforços positivos. É mais gostoso aprender quando somos estimulados e encorajados".

Ortiz (1992) assinala a importância do coordenador estimular, elogiar a atuação dos participantes. Ao se realizar a retroalimentação o coordenador/facilitador deve destacar os avanços que progressivamente vão sendo obtidos pelo grupo.

Silva (1996) destaca que as pessoas gostam e precisam de reforços positivos; que recebendo esforços positivos, aprendem a usa-los também. No grupo em questão percebemos que a retroalimentação partiu não somente do coordenador, mas também de todos os participantes.

Lição nº 5: Finalmente, quando um ganso fica doente, ou ferido por um tiro e cai, dois gansos saem da formação e o acompanham para ajuda-lo e protege-lo. Ficam com ele até que consiga voar novamente, ou até que morra. Só então levantam vôo sozinhos ou em outra formação a fim de alcançar seu bando.

A solidariedade foi o sentimento mais emergente nas falas dos participantes ao se referirem às dificuldades presentes no grupo. Sentimento este traduzido em: companheirismo, estar atento às falas dos colegas, apoio, estímulo, compreensão, acolhida.

"A disciplina mobiliza no aluno o senso de solidariedade e principalmente de amor, sem os quais o ser humano embrutece a vida em grupo e fracassa".

"A solidariedade foi marcante em todos os momentos. Quando um membro expressava seu pensamento, o grupo ficava atento, escutando e partilhando de sua história e ajudando-o a retornar ao grupo".

Maihiot (1973) refere-se que numa fase inicial de trabalho os membros tendem a assumir papéis individuais que satisfaçam suas necessidades pessoais. No entanto, na medida que os elementos do grupo se sentem aceitos ocorre à integração, novos papéis são assumidos os quais denomina papéis de solidariedade.

Silva (1996) enfatiza a importância de estarmos atentos e abertos para compreendermos a posição do outro. Aceitar as diferenças, respeitar o sentimento alheio gera confiança no grupo, podendo levar a um trabalho mais participativo, espontâneo e criativo.

 

Considerações finais

A possibilidade de aprofundarmos aspectos teóricos referentes ao trabalho de grupo e de participarmos paralelamente de uma experiência de grupo enquanto alunos da Disciplina, proporcionou-nos uma vivência e uma reflexão sobre o processo grupal. Como enfermeiros, vivenciamos no nosso cotidiano várias situações onde atuamos como coordenadores de grupos e nem sempre estamos preparados para desempenharmos este papel. Acreditamos que a preparação do enfermeiro se torna fundamental, para que ele possa compreender a dinâmica do grupo e contribuir de forma mais eficiente para o crescimento do mesmo.

Apesar de cada grupo se comportar de uma forma distinta, alguns princípios são comuns para o trabalho como: clareza na definição de objetivos que se desejam alcançar, importância de se estabelecer o enquadre, avaliações periódicas e sobretudo que se cultive um espírito de respeito, confiança e solidariedade entre os membros do grupo.

 

Referências bibliográficas

AUBRY J.M.; SAINT-ARNAUD Y. Dinâmica de grupo. 6 ed. São Paulo: Loyola, 1978.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1979.

CAVALCANTE M.B.G. O grupo operativo como estratégia de enfermagem: A prática revelando caminhos para mudanças no cotidiano dos pacientes com transtorno mental. São Paulo; 1999. [Dissertação de mestrado - USP, Escola de Enfermagem].

CONTRERAS J.M. Como trabalhar em grupos: introdução à dinâmica de grupos. 2 ed. São Paulo: Paulus, 1999.

KOIZOUMI, M.S. Fundamentos Metodológicos da pesquisa em enfermagem. Ver. Esc. Enf. USP., v. 26, p. 33-47, 1992. Número especial.

MAIHIOT G.B. Dinâmica e gênese dos grupos. 2 ed. São Paulo: Livraria duas cidades, 1973.

MIRANDA, S. Oficina de dinâmica de grupos para empresas, escolas e grupos comunitários. 7a ed., Campinas: Papirus, 2000.

ORTIZ, F.C. Creatividad + Dinámica de Grupo = Eureka. Habana> Editorial Puebolo y Educación, 1992.

OSÓRIO, L.C. Grupos: Teorias e Práticas. Acessando a era da grupalidade. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1991. p. 87-98.

SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. 5a ed., São Paulo, Gente, 1996.

ZIMERMAN, D.E.; et al. Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre. Artes Médicas, 1997.