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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Mayo. 2002

 

Comunicação no currículo integrado do curso de graduação de enfermagem da Universidade Estadual Londrina

 

Communication in the integrated curriculum of the nursing graduation course at the State University of Londrina

 

 

Maria Cristina F. Fontes; Iwa Keiko Aida Utyama; Ines Gimenes Rodrigues

Docentes do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, Mestrandas na Área Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP

 

 


RESUMO

A comunicação é a essência da vida e inerente ao ser humano. O enfermeiro na sua praxis estabelece as relações humanas através dos meios de comunicação. Desta forma, enquanto docentes de uma Instituição do ensino superior, valorizando este instrumento básico de enfermagem, vimos a necessidade de consultar os atores envolvidos no Currículo Integrado do Curso de Graduação de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina e avaliar os tipos e a importância da comunicação utilizados nas disciplinas modulares, nos anos de 2000 e 2001. Observou-se que através da Pedagogia da Problematização os alunos têm utilizado a comunicação como um instrumento de humanização no cuidar.

Palavras-chave: comunicação, ensino, enfermagem


ABSTRACT

Communication is essential to life and inherent in the human being. Through communication, nurses establish human relations. Hence, being lecturers in a higher education institution who value this basic nursing instruments, we felt the need to consult the people involved in the Integrated Curriculum of the Nursing Graduation Course at the State University of Londrina, with a view to evaluating the types and the importance of the communication that has been used in the subject matters in 2000 and 2001. It was observed that, by means of Problematization Pedagogy, the students have used communication as a care humanization instrument.

Key words: communication, education, nursing


 

 

1. Introdução

Talvez não seja exagero afirmar-se que a comunicação seja a própria essência do relacionamento humano, desde que é através dela que os seres humanos trocam suas mensagens ou não, e assim afetam reciprocamente suas vidas e a de outros. Podemos argumentar que os problemas sociais mais prementes dizem respeito às relações entre pessoas e que estas, são uma parte essencial e central natureza humana.

A comunicação é um ato intrínseco ao existir do ser humano. Mesmo antes de nascer já estamos transmitindo e recebendo mensagens do mundo. Bittes e Matheus (1997) chegam a afirmar que o existir no mundo só é possível quando nos comunicamos.

A comunicação é processo pelo qual uma pessoa transmite pensamentos, sentimentos e idéias aos outros. É um instrumento que permite a uma pessoa, entender a outra, que aceite, ou seja, aceita, receba ou envie informações, dê ou receba ordens, ensine e aprenda. O enfermeiro comunica-se com o paciente e este com ele, tratando-se assim de um processo recíproco. Relaciona-se com os amigos e família do paciente, visitantes da instituição, com os membros da equipe e outros funcionários e ainda com inúmeras outras pessoas durante o correr do dia. Desse modo o enfermeiro deverá conhecer o processo de comunicação. O atendimento da área específica da assistência só pode ser efetuado por meio da comunicação. Ela, a comunicação, é também uma necessidade humana básica, sem a qual a existência do ser humano seria impossível (SILVA, 1996).

O processo de comunicação é composto de emissor, receptor e mensagem. Para que se inicie o processo comunicativo, o emissor envia uma mensagem. O receptor, por sua vez, recebe a mensagem e decifra-a com o objetivo de entendê-la. Mas, para que ocorra o processo comunicativo o receptor deve emitir uma resposta ao emissor (CIANCIARULLO,1996).

Stefanelli (1993) acredita que a troca de mensagens entre o emissor e o receptor pode ser alterada ou influenciada dependendo do contexto em que eles estejam vivendo, sendo assim, o contexto é um dos componentes da comunicação.

Mendes (1994) afirma que só haverá real interação entre a equipe de enfermagem e o paciente, se houver humanização, e não apenas uma comunicação entre emissor e receptor.

A comunicação é um processo interpessoal que envolve trocas verbais e não verbais de informações e idéias. Comunicação não se refere somente ao conteúdo, mas também aos sentimentos e emoções que as pessoas podem transmitir em um relacionamento. A comunicação é um dos mais importantes fatores usados para estabelecer um relacionamento terapêutico enfermeiro-paciente (POTTER; PERRY, 1997).

Portanto, a comunicação engloba todas as formas que uma pessoa utiliza para afetar o outro: verbal (falada e escrita) e não verbal (cinésia, toque e territorialidade) e paraverbal. A forma de transmitir uma mensagem sobre a qual temos consciência é a verbal ou lingüistica, e se refere à linguagem falada ou escrita. A linguagem é fortemente influenciada pela cultura, e grande parte das confusões e incomunicações que ocorrem entre as pessoas, tem como origem a própria linguagem. É bem provável que todos nós já tenhamos passado por esta experiência. Entretanto, as incomunicações também podem ocorrer em certas situações onde a palavra pode até ser do conhecimento do emissor e do receptor, porém ter um significado diferente para cada um deles (CIANCIARULLO, 1996).

O mesmo acontece quando escrevemos algo. Frases mal construídas, uso de palavras que podem dar múltiplos sentidos, ou o uso de termos próprios de uma área de conhecimentos, podem dificultar o entendimento de um texto.

Desta forma pode-se perceber que, se não estivermos atentos a todos os aspectos da comunicação, o processo comunicativo não ocorrerá, ou será ineficiente, causando frustração aos interlocutores. A estes aspectos Cianciarullo (1996) dá o nome de barreiras da comunicação. Segundo a autora estas são: falta de capacidade de concentração, a pressuposição do entendimento, ausência de significado comum, influência de mecanismos inconscientes e limitação do emissor/receptor.

Um dos principais requisitos do enfermeiro é o gerenciamento da assistência de enfermagem. Para desempenhar este papel vários autores como Galvão (1995), Trevizan (1998), Mendes (1994) e Silva (1996) falam da importância da liderança e da comunicação. Para Trevizan (1998), no âmago da liderança está a capacidade de comunicar. A comunicação é fundamental para o exercício da influência, para a coordenação das atividades grupais e para efetivação do processo de liderança.

O ensino e o desenvolvimento da habilidade de comunicação mostra que o enfermeiro possui pouco conhecimento sobre o assunto, não os percebendo nas suas interações com o paciente. Todavia, com esforço e estudos, o enfermeiro pode aprimorar sua capacidade de comunicar (SILVA, 1996).

Compartilhando e refletindo sobre as idéias dos autores citados, enfermeiros assistenciais, alunos e docentes do Curso de graduação de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina (UEL), durante a construção coletiva do Currículo Integrado de Enfermagem em 1999, sentiram a necessidade de formar um profissional, crítico e reflexivo, capaz de desempenhar o papel de líder da equipe de trabalho norteando a comunicação como um instrumento crucial no processo de liderança. Entretanto para o alcance desta meta, o Projeto Político Pedagógico do Currículo Integrado tem-se delineado como um dos papéis do aluno a participar ativamente do diálogo entre professores e seus pares com o objetivo de transformar-se e transformar a realidade.

Dentre os conceitos chaves deste Currículo, pode-se citar as habilidade afetivas, a relação das emoções e sentimentos, como um comportamento apreendido na relação do sujeito, consigo mesmo e com os outros., Implica em autoconhecimento e conhecimento do outro, limitações e possibilidades, respeito mútuo, trabalho em equipe, comunicação, criatividade, equilíbrio emocional, discernimento e outros. E, como desempenhos, habilidades de comunicação no relacionamento interpessoal e identificação dos meios de comunicação como instrumento de gerência.

Para implementação das disciplinas modulares foram delineados os conceitos chaves de comunicação em cada módulo contemplando o papel do enfermeiro na gerência do uso dos vários meios de comunicação. O presente estudo tem como objetivo apresentar como é desenvolvido o aspecto de comunicação nas disciplinas modulares vivenciadas pelos alunos e professores do Curso de graduação de enfermagem da UEL, através de um estudo retrospectivo desenvolvido nos anos de 2000 e 2001, dos módulos I à VI. Para análise deste tema, foram consultados docentes e alunos sobre os meios e métodos de comunicação utilizados nas disciplinas modulares.

 

2. Desenvolvimento

A) Apresentando o Currículo Integrado do Curso de Enfermagem da UEL

O Currículo Integrado foi implantado no ano 2000, após 2 anos de estudos, discussões e reflexões coletivas envolvendo docentes e alunos do Curso de Enfermagem da UEL e enfermeiros dos serviços de saúde do município de Londrina.

Dentro da flexibilização curricular proposta pela nova LDB, este novo currículo articula, de forma dinâmica o ciclo básico e clínico, ensino, serviço e comunidade, prática e teoria, através da integração de conteúdos, e abordagem de temas transversais como ética , comunicação e trabalhos em equipe (UTYAMA; MARTINS, 1999).

Neste Currículo, o papel do professor é o de orientador da aprendizagem. O papel do aluno é a busca pela sua aprendizagem. O conteúdo tem como principal função contemplar os conhecimentos, as atitudes e habilidades nos domínios cognitivos, afetivo e psicomotor (UTYAMA; MARTINS, 1999).

A pedagogia adotada é a problematização, a qual permite ao professor identificar as diferenças individuais entre os alunos, possibilitando o acompanhamento individualizado, exercendo a função de orientador do processo, organizando sistematicamente uma série gradual e encadeada de situações observadas numa realidade, através de sucessivas aproximações, desencadeando um processo de ação-refleção-ação (DAVINI, 1984).

A Pedagogia da Problematização permite também que o aluno desenvolva conhecimento partindo da observação da realidade. Consequentemente modifica a prática, propiciando uma relação harmônica entre o saber e o fazer, entre o teórico e o prático.

O Currículo é composto por treze módulos. Destes, seis já foram construídos e implementados e são assim denominados:

Módulo I: A Universidade e o Curso de Enfermagem;

Módulo II: Processo Saúde - Doença;

Módulo III: Processo Saúde Doença a partir do núcleo familiar;

Módulo IV: Avaliação do Estado de Saúde do Indivíduo;

Módulo V: Introdução à Saúde do Adulto;

Módulo VI: Saúde do Adulto I.

B) Desenvolvimento da comunicação nos Módulos I à VI

Como a enfermagem é gente que cuida de gente (HORTA, 1979) no exercício de suas atividades a enfermagem estabelece relações humanas com o paciente e equipe multidisciplinar. Estas relações são efetivadas através da comunicação escrita, falada, sinais corporais, audição e tato.

A comunicação não se caracteriza apenas na palavra verbalizada, estudos mostram que apenas 7 % dos pensamentos são transmitidos por palavras, 38% por sinais paralinguisticos/entonação de voz e 55% pelos sinais do corpo (fisionomia tensa, olhar triste) (SILVA,1996).

Portanto o profissional de enfermagem precisa ter a sensibilidade de decodificar, decifrar e perceber o significado que o outro emite, para intervir adequadamente na solução de problemas, e nas relações de ajuda e nas relações de trabalho multiprofissional.

Valorizando este instrumento básico de enfermagem, no Currículo Integrado a comunicação permeia em todos os módulos.

Nos módulos de I à VI, a comunicação verbal e não verbal são trabalhadas de uma forma dinâmica entre docentes e discente. Partindo do senso comum, teorização e aplicação. Em cada atividade programada há uma intencionalidade para que o aluno desenvolva as operações mentais de representação, relação e ação. Estas atividades são exercitadas pelos alunos por meio de relatórios escritos, apresentações orais, atividades lúdicas, visitas as organizações governamentais, não governamentais e núcleos familiares, resumos de livros e artigos de enfermagem, estudos de caso, e no cuidar do indivíduo, família e comunidade.

 

3. Considerações finais

Na avaliação dos docentes e alunos que vivenciaram os módulos, a comunicação desenvolvida através da pedagogia da problematização, que desencadeou a ação-reflexão-ação, com sucessivas aproximações com objeto tem possibilitado uma aprendizagem significativa da comunicação verbal, não verbal e paraverbal.

Esta metodologia de ensino tem oportunizado aos alunos a utilização da comunicação como um instrumento de humanização no cuidar vindo a corroborar com as reflexões de Mendes (1994).

O Currículo Integrado da UEL, caminha para formação de um profissional que valorize o cuidar humanizado, de saber ouvir, perceber, tocar, dialogar e prepara para formar um aluno bastante crítico das suas ações, transformando a si mesmo e ser um agente transformador do cuidar.

 

4. Referências bibliográficas

CIANCIARULLO, T. I. Instrumentos básicos para cuidar – Um desafio para a qualidade de assistência. São Paulo: Editora Atheneu, 1996.

DAVINI, M. C. Do processo de aprender ao ensinar. Capacitação pedagógica para instrutor/supervisor - área de saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 1984. p. 27-58

HORTA, W. A. Processo de enfermagem. São Paulo: EPU.EDUSP. 1979

MENDES, I. A.C. Enfoque humanístico à comunicação em enfermagem. São Paulo: Sarvier, 1994.

POTTER, P.; PERRY, A.G. Fundamentos de enfermagem – Conceitos, processos e Prática. 4.ed. São Paulo: Guanabara Koogan, 1997 .

SILVA, M. J. P. Construção e validação de um programa sobre comunicação não verbal para enfermeiros. São Paulo, 1993. Tese (Doutorado), Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo.

SILVA, M. J. P. Comunicação tem remédio – A comunicação nas relações interpessoais em saúde. 2.ed. São Paulo: Editora Gente, 1996

STEFANELLI, M. M. Comunicação com o paciente: teoria e ensino. 2 ed. São Paulo: Robe Editorial, 1993.

UTYAMA, I. K. A.; MARTINS, J. T. LDB e diretrizes curriculares: aplicação no Currículo integrado do Curso de Enfermagem da UEL. Olho Mágico, v.5, n.20, out.1999