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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Mayo. 2002

 

Dimensão do processo de comunicacão na produção científica de enfermagem neonatal

 

The communication process dimension in scientific production about neonatal nursing

 

 

Ana Paula AlmeidaI; Amélia Fumiko KimuraII

IAluna de iniciação científica do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da USP
IIDocente, Profa Dra do Departamento de Enfermagem Materno –Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da USP. Av. Dr. Enéas Carvalho Aguiar, 419 – CEP:05403-000 São Paulo/SP. Email: aninhapaulaalmeida@ig.com.br/ fumiko@usp.br


RESUMO

O processo de comunicação é um tema que emergiu da análise dos dados da pesquisa bibliográfica desenvolvida pelas autoras sobre produção científica em enfermagem neonatal. As questões que justificam este estudo foram: descobrir o sentido desta produção e conhecer como o tema comunicação se configura na produção científica da enfermagem neonatal. Apresentou como objetivos: Descrever a dimensão do processo de comunicação na produção científica de enfermagem neonatal e verificar a freqüência de publicações segundo ano, país, idioma e tipo de publicação. Analisaram-se 1.940 resumos de publicações sobre enfermagem neonatal e identificou-se a comunicação como tema central emergente em 81 resumos. A dimensão do processo de comunicação foi composta por quatro categorias analíticas que se articularam entre si e demonstraram o estado atual do conhecimento da comunicação na enfermagem neonatal. A autoria da maioria das publicações foi norte-americana e o idioma mais adotado nas publicações foi o inglês.

Palavras-chave: comunicação, enfermagem neonatal, produção científica


ABSTRACT

The communication process is a theme that emerged from the data analysis of the bibliographic research carried out by the authors with respect to scientific production about neonatal nursing. The questions that justified this study were: to discover the meaning of this production and to understand how the communication theme figures in scientific production about neonatal nursing. This study aimed to describe the communication process in scientific production about neonatal nursing and verify publication frequency according to year, country, language and publication type. 1940 neonatal nursing abstracts were analyzed, and communication was identified as the central theme in 81 of them. The dimension of the communication process was composed by 4 analytical categories. These categories were interrelated and show the current state of neonatal nursing communication knowledge. The majority of the publications originated in the USA and the majority of the abstracts were written in English.

Key words: communication, neonatal nursing, scientific production


 

 

INTRODUÇÃO

No esteio da transformação que vem ocorrendo na ciência da enfermagem, acompanhando o desenvolvimento tecnológico que se processou no campo da saúde nas últimas décadas, especialmente em neonatologia, o conhecimento acumulado é notório. Tal fato contribui para que os enfermeiros que atuam nesta especialidade necessitem ter acesso disponibilizado ao material de referências bibliográficas produzidos para acompanharem e suplementarem seus conhecimentos (KENNER , 2001).

Ao realizarmos um levantamento da produção científica desenvolvida durante a década de 90 utilizando as bases de dados informatizadas, relativa à área de enfermagem neonatal e ao analisarmos comparativamente os resumos destas publicações, foi possível identificar dezenas de temas que abrangem os campos de saber que vêm sendo investigados e trabalhados pelos profissionais. Dentre eles, destacamos o referente a "Processo de Comunicação", pois julgamos de fundamental importância analisar, com mais detalhes, e buscar o sentido da produção do conhecimento dos processos comunicacionais em enfermagem neonatal.

Segundo Carlson (1984), para se atingir a excelência no cuidado de enfermagem há necessidade da enfermeira ter "algo mais" que conhecimento profissional. O autor elabora a hipótese de que esse "algo mais" seja a competência em comunicação, o âmago da profissão de enfermagem.

A descoberta do tema "Processo de Comunicação" na produção científica da enfermagem neonatal levou-nos a buscar referências na literatura de enfermagem em alguns autores que se dedicam a estudar a comunicação para fundamentar a análise dos dados do estudo bibliográfico que vinha sendo realizado.

Um dos autores que explicita um conceito de comunicação é Menezes (1973), "Comunicação significa estar em relação com, representa a ação de pôr em comum, de compartilhar as nossas idéias, os nossos sentimentos, as nossas atitudes. Nesse sentido, identifica-se com o processo social básico: a interação. É uma troca de experiências socialmente significativas; é um esforço para a convergência de perspectivas, a reciprocidade de pontos de vista e implica, dessa forma, certo grau de ação conjugada e cooperação".

Segundo Stefanelli (1993), comunicação é um processo de compreender, compartilhar mensagens enviadas e recebidas, e as próprias mensagens e o modo como se dá o intercâmbio exercem influência no comportamento das pessoas nele envolvidas, a curto, médio ou longo prazos.

A comunicação é adequada quando se consegue usá-la para diminuir conflitos e desentendimentos com o propósito de atingir objetivos definidos, a fim de solucionar problemas detectados na interação com o indivíduo (SILVA , 1996).

Conhecer como se processa a comunicação em uma área emergente da enfermagem pode contribuir para compreender os conflitos, avanços e retrocessos, fatores que interferem na qualidade da assistência em saúde, subsidiar a avaliação da formação e capacitação dos profissionais, bem como no desenvolvimento de pesquisas que tenham impacto para a melhoria da saúde da população.

Tornar disponível aos enfermeiros e compartilhar o processo desenvolvido de desvelar o processo de comunicação na produção do conhecimento em enfermagem neonatal foram os fatores motivadores para a realização do presente trabalho, cujos objetivos explicitamos a seguir.

 

OBJETIVOS

 

METODOLOGIA

O levantamento da produção científica foi delineado na busca bibliográfica e levantamento dos resumos e abstracts realizados nas bases de dados informatizados LILACS, MEDLINE E CINAHL utilizando-se as palavras-chave Enfermagem Neonatal e Neonatal Nursing no período compreendido entre 1990 e 2000. Foi possível obter 1940 resumos e abstracts para serem analisados. A análise desse material permitiu identificar dezenas de unidades temáticas que, por sua vez, convergiram em 13 temas. Neste estudo, abordaremos o tema Processo de Comunicação na produção científica em Enfermagem Neonatal .

Para se chegar à identificação do tema "Processo de Comunicação" foram empregados, durante a leitura e análise dos resumos e abstracts, a estratégia de formular algumas questões: "Do que trata o resumo?" "Qual o propósito de se investigar o objeto em estudo?" "Em que contexto foi realizado ou se aplica o conteúdo do resumo?" Tais questões auxiliaram na compreensão e interpretação do conteúdo dos resumos de enfermagem neonatal e, assim, identificar as unidades temáticas.

Após esta primeira etapa, procedeu-se a uma análise comparativa entre as unidades temáticas verificando-se as suas propriedades e dimensões. Para isto formularam-se algumas questões: O que esta unidade temática expressa? Que relações se estabelecem entre as unidades temáticas? Apresentam similaridades e ou diferenças? A estratégia de análise indutiva possibilitou identificar a emergência de quatro categorias que articuladas compuseram a dimensão "Processo de Comunicação" na produção científica de Enfermagem Neonatal.

Após a identificação das categorias, foram quantificadas as publicações por ano, país, idioma e tipo de publicação das unidades temáticas que compõem cada categoria e que são apresentadas sob a forma de quadro a seguir.

 

RESULTADOS E ANÁLISE DOS DADOS

A análise indutiva dos resumos das referências bibliográficas permitiu-nos identificar que o "Processo de comunicação", no contexto da Enfermagem Neonatal, é composto por quatro categorias: 1. AGENTES, INSTRUMENTOS, RECURSOS, ESTRATÉGIAS E FATORES INTERVENIENTES/CORRELACIONAIS DO CUIDAR EM ENFERMAGEM NEONATAL; 2. RELACIONAMENTO INTERPROFISSIONAL; 3. DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS TEÓRICOS; 4. MODELOS ASSISTENCIAIS.

Optamos por apresentar dados quantitativos das referências bibliográficas que compuseram cada categoria porque concordamos com Rocha et al. (1999) de que os dados quantitativos não são relevantes por si mesmo, mas um indicador das questões mais emergentes, refletindo os problemas levantados pelos pesquisadores em decorrência das necessidades vivenciadas na prática.

Foram identificadas 101 referências bibliográficas nas três bases de dados, 45 no MEDLINE, 54 no CINAHL e 2 no LILACS. Do total citado, 20 referências constavam em mais de uma base de dados. Assim, analisaram-se 81 resumos/abstracts.

Em relação ao país, idioma e tipo de publicação observamos que a maioria das publicações foram produzidas nos Estados Unidos da América com 54 (66,66%) referências bibliográficas, 73 (90,1%) publicações em idioma Inglês e 51 (62,96%) eram artigos.

A categoria AGENTES, INSTRUMENTOS, RECURSOS, ESTRATÉGIAS E FATORES INTERVENIENTES/CORRELACIONAIS DO CUIDAR compõe o maior número de publicações quando comparada com as demais categorias analíticas. Este dado aponta para uma maior preocupação dos profissionais e pesquisadores, autores das publicações com as questões clínicas que envolvem o cuidado direto com o recém-nascido e o processo de comunicação, considerando a potencialidade interacional do recém-nascido com a sua unidade familiar e com o profissional e, deste, com os familiares que vivenciam situações de doença do bebê. O volume maior de publicações explica-se pelo fato de que a comunicação é um instrumento utilizado pelo profissional para que o processo de cuidar se concretize. Vale ressaltar ainda que esta categoria revela o modelo de processar o assistir/cuidar empregado tradicionalmente pelos profissionais de saúde, no âmbito das instituições de saúde, sendo os elementos que compõem o processo de trabalho de assistir o cliente/paciente, objeto e razão do seu ofício.

A categoria AGENTES, INSTRUMENTOS, RECURSOS, ESTRATÉGIAS E FATORES INTERVENIENTES/CORRELACIONAIS DO CUIDAR é composta pelas unidades temáticas: O enfermeiro na promoção do relacionamento intrafamiliar; O enfermeiro como recurso comunicacional aos familiares; Equipe profissional como recurso de apoio aos pais para o enfrentamento da doença do recém-nascido; Avaliação do relacionamento mãe/pai/profissional-recém-nascido; Instrumentos comunicacionais; Intervenção sensorial do recém-nascido; Práticas assistenciais de promoção/preservação da interação familiar; Relacionamento profissional-cliente/paciente no cuidado do recém-nascido; Fatores intervenientes no relacionamento mãe/pai-filho. Esta primeira categoria diz respeito à produção científica de comunicação em enfermagem neonatal que focaliza o enfermeiro e ou a equipe assistencial que implementa práticas assistenciais de promoção e preservação da interação ou vínculo intrafamilial, ora colocando-se como recursos de apoio à família do recém-nascido, ora utilizando-se de instrumentos que avaliam as condições e evolução da interação intrafamilial. Esta categoria também compreende os fatores que interferem e os que se correlacionam com o resultado da interação entre o recém-nascido e os familiares.

 

Quadro 1

 

A categoria RELACIONAMENTO INTERPROFISSIONAL é composta pelas unidades temáticas: Desenvolvimento de pesquisa, cooperação e divulgação interprofissional; Relações profissionais e interdisciplinaridade; Procedimento assistencial e relações multiprofissionais; Grupo de apoio interprofissional. Refere-se às produções científicas que abordam as atitudes de reciprocidade, de ligação mantidas entre profissionais que atuam em grupo ou equipe multiprofissional e ou interdisciplinar e às dinâmicas relacionais decorrentes desse vínculo que se concretizam sob a forma de cooperação e conflitos, dificuldades e ajustes na implementação de condutas assistenciais ou de pesquisa que interferem na eficácia e efetividade dos resultados esperados. As publicações em que emergem a relação de cooperação, partilha e acolhimento como estratégia de enfrentamento das situações críticas vividas pelos profissionais no cotidiano do trabalho de assistência direta ao recém-nascido-família e as dinâmicas relacionais interprofissionais decorrentes da prática assistencial também estão contempladas nesta categoria.

Baseadas nos resultados obtidos na pesquisa realizada por Coriani et al. (2000), as autoras consideram que a comunicação aliada à liderança é a ferramenta que pode auxiliar os enfermeiros a se transformarem em agentes de mudança no contexto da enfermagem. Acreditamos que a competência em comunicação do enfermeiro líder não se restringe apenas à equipe de enfermagem mas, à toda equipe multiprofissional.

 

Quadro 2

 

A terceira categoria - DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS TEÓRICOS - é composta pelas unidades temáticas Descrição do desenvolvimento do vínculo mãe-filho e Referencial teórico do processo de cuidar. Esta categoria refere-se às publicações que tiveram como objetivo a elaboração de conceitos teóricos, o delineamento de fenômenos e processos com base em dados substantivos referentes às experiências de interação entre pais e recém-nascido no contexto dos serviços de saúde e de busca de perspectivas teóricas/filosóficas para análise e interpretação das percepções e ações dos sujeitos das pesquisas.

 

Quadro 3

 

Segundo Sandoval (1992), a prática profissional em enfermagem tem encontrado desafios teóricos e metodológicos reconhecidos por todos. Esta constatação não é diferente na enfermagem neonatal e para responder a tais desafios, vem ocorrendo uma necessidade de estudos rigorosos sobre os fenômenos comunicacionais.

A quarta categoria, MODELOS ASSISTENCIAIS, é compreendida pelas unidades temáticas: Abordagens assistenciais institucionais de promoção da interação humana; Grupo de apoio de pais / rede de apoio comunitário. As publicações que compõem esta categoria abordam propostas de práticas assistenciais balizadas em modelos ou programas que privilegiam ações que buscam tornar viável o contato humano, do cliente/paciente com os familiares com a finalidade de preservar a integridade familiar na situação de doença da criança ou, no caso de recém-nascidos saudáveis, promover o contato contínuo da mãe com o filho durante a hospitalização. Também iniciativas de grupos de apoio mútuo de famílias com recém-nascidos com doenças agudas ou crônicas, coordenadas por pais e ou por profissionais dos serviços de saúde responsável pelo atendimento do recém-nascido.

 

Quadro 4

 

CONCLUSÃO e CONSIDERAÇÕES FINAIS

As categorias que compõem a dimensão do Processo de Comunicação na produção científica da Enfermagem Neonatal são: 1. AGENTES, INSTRUMENTOS, RECURSOS, ESTRATÉGIAS E FATORES INTERVENIENTES/CORRELACIONAIS DO CUIDAR EM ENFERMAGEM NEONATAL; 2. RELACIONAMENTO INTERPROFISSIONAL; 3. DESENVOLVIMENTO DE CONCEITOS TEÓRICOS; 4. MODELOS ASSISTENCIAIS. Estas categorias articulam-se entre si sendo a primeira, a razão da existência da enfermagem neonatal como uma área do saber dentro do campo de conhecimento do processo saúde-doença. Verifica-se um volume nitidamente maior de produção científica norte-americana e em língua inglesa apresentado sob a forma de artigo. O exercício de realizar um levantamento bibliográfico dentro da disciplina enfermagem neonatal foi permeado por decisões pautadas na perspectiva e visão dos autores deste trabalho. Concordamos com Mirin (1999) de que o conhecimento da organização e estruturação de uma base de dados facilita e aprimora as pesquisas e propicia reflexões a respeito do movimento de formação e difusão das produções discursivas da ciência. Ao mesmo tempo, a iniciativa de se realizar um levantamento bibliográfico é, a priori, definida pelo discurso ideológico, crenças e valores do pesquisador. Neste sentido, a enfermagem neonatal também apresenta uma dimensão sobre o processo de comunicação refletida na assistência direta com o cliente/paciente, no gerenciamento dos serviços neonatais, nas proposições teóricas que privilegiam as interações humanas e nas propostas de programas e modelos clínicos.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KENNER, C. Enfermagem neonatal. 2.ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Affonso Editores, 2001.

CARLSON, R. The nurse's guide to better communication. Glenvieu: Scot de Foresman, 1984.

MENEZES, EDB. Fundamentos sociológicos da comunicação. In. SÁ, A. (coord). Fundamentos científicos da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.

STEFANELLI, MC. Comunicação com paciente, teoria e ensino. Robe: São Paulo, 1993.

SILVA, MJP. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo: Gente, 1996.

ROCHA, SMM; VENDRUSCOLO, DMS; SABATÉS AL; SANTOS MCI. Perspectivas da enfermagem pediátrica no Estado de São Paulo. Acta Paul. Enf., v.12, n.3, p.9-22, 1999.

CORIANI, F; GALVÃO, CM; SAWADA, NO. Liderança e comunicação: opinião dos enfermeiros responsáveis pelos serviços de enfermagem de um hospital governamental. Rev. Esc. Enf. USP, v.34, n.4, p. 347-53, 2000.

SANDOVAL, JMH. Um estudo sobre estudos de comunicação em enfermagem. In. SIMPÓSIO BRASILEIRO DE COMUNICAÇÃO EM ENFERMAGEM, 3, Ribeirão Preto, 1992. Anais. Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto: USP, 1992.

MIRIN, LYL. Garimpando sentidos em bases de dados. In: SPINK, MJ. (org). Práticas discursivas e produção de sentidos no cotidiano: aproximação teórica e metodológica. São Paulo: Cortez, 1999.