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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Mayo. 2002

 

Pesquisa(ação) na enfermagem: a comunicação não-verbal proxêmica do graduando no intraoperatório

 

Research (action) in nursing: the intraoperative non-verbal proxemic communication of the graduating student

 

 

Isaura Setenta PortoI; Sílvia Teresa Carvalho de AraújoII

IProfessora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery
IIProfessora Adjunta do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem Anna Nery

 

 


RESUMO

O estudo trata do processo de orientar/pesquisar com graduandos no programa interdisciplinar IX da Escola de Enfermagem Anna Nery. Sendo emergente da prática apresenta como objeto a comunicação não-verbal proxêmica dos graduandos no intraoperatório durante estágio supervisionado no centro cirúrgico em hospital Universitário no Rio de Janeiro. Através de roteiro de observação de campo e entrevista semi-estruturada gravada procura examinar como se constitui a manifestação proxêmica do graduando destacando o posicionamento dentro da sala de operação em relação ao cliente, a equipe cirúrgica: auxiliares e enfermeiros, cirurgiões e anestesistas. Destaca em que dimensão a apropriação do conhecimento sobre as manifestações proxêmicas modifica a relação dos mesmos durante as interações junto aos profissionais e o cliente. Os dados apontam que o graduando como elemento inserido no contexto deve tentar um canal de comunicação, seja mostrando-se interessado, ativo, capaz de realizar atribuições cooperativas numa relação de confiança entre os participantes do processo.

Palavras-chave: enfermagem, comportamento espacial, período intraoperatório, comunicação não-verbal


ABSTRACT

The study shows the process of orientating-researching with graduating students in the interdisciplinary program IX at the Anna Nery Nursing School. As this research results from pratice, the object of study is the non-verbal proxemic communication of graduating students during supervised training in the surgery center of a University Hospital in Rio de Janeiro. Through a field observation script and semi-structured recorded interviews, the research seeks to examine the proxemic manifestation of the graduating student, emphasizing his position in the surgery room in relation to the client and to the surgery team: nursing assistents and nurses, surgeons and anesthetists. The research highlights how the impact of knowledge about proxemic manifestations changes the relation between the students in their interactions with professionals and the client. Data indicate that the graduating student as an element in this context must try to open a communication channel, whether by manifesting concern or being active and capable of cooperating in a trust relationship between the participants in the process.

Key words: nursing, spatial behavior, intraoperative period, non-verbal communication.


 

 

Introdução

O presente estudo discorre sobre resultados do processo de orientação em pesquisa denominada diagnóstico simplificado de saúde (Modalidade de pesquisa prevista no currículo da graduação da EEAN-UFRJ, como uma das etapas avaliativas dos Programas Curriculares Interdepartamentais, cujo problema de pesquisa deve ser emergente da prática) (DSS) para graduandos inscritos no programa curricular interdepartamental IX (Modalidade curricular da EEAN que tem na ementa previsão da assistência de enfermagem a clientes críticos, hospitalizados de grau III, e corresponde ao 6º período do curso), na Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN). O objeto de pesquisa desenvolvido com o grupo composto de três alunos e que versa sobre a comunicação não-verbal proxêmica em centro cirúrgico permitiu conhecer um pouco mais, não só na codificação desse tipo de comunicação como também ampliou o conhecimento da aprendizagem sobre próprio setor. Os caminhos metodológicos e seus resultados buscaram um maior domínio na área de conhecimento trilhada desde 1998 com o próprio objeto de tese defendida em dezembro de 2000, na mesma instituição.

Como destaca Silva (1996) a comunicação não-verbal é entendida como "toda informação obtida por posições do corpo, organização dos objetos no espaço e até pela relação de distância mantida entre os indivíduos".

E por ser predominante na clientela de centro cirúrgico, acreditamos que essa modalidade de comunicação deve ser considerada e ministrada nos conteúdos referentes a assistência de enfermagem nesse processo.

Acreditamos que o interesse dos graduandos pelo objeto de pesquisa resultou da sensibilização garantida pela estratégia de usá-lo, concomitantemente, não só como conteúdo de ensino teórico-prático, durante a supervisão em centro cirúrgico (HUCFF), como também pela possibilidade de aprofundá-lo como objeto de pesquisa. A orientação foi determinada pelo interesse dos graduandos em desenvolver um trabalho nessa área de conhecimento e nesse setor específico.

Vale destacar que atualmente o planejamento dos conteúdos teóricos do programa IX prevê, já na fase inicial, aula expositiva sobre a temática e a familiarização das conceituações dos diferentes tipos de comunicação não-verbal (c.n.v.), dos clientes em centro cirúrgico, considerando a prática de supervisão exercidas neste campo desde 1994, bem como os resultados da tese.

Para elaboração do projeto de pesquisa do DSS, o grupo se reuniu para orientação semanalmente, com duração média de duas horas, perfazendo assim um total aproximado de doze horas. Outras quinze horas, outrossim, foram utilizadas na testagem do instrumento de observação de campo, com os reajustes metodológicos e familiarização com a prática de coleta e análise dos dados. A pesquisa teve como objeto a comunicação não verbal proxêmica do graduando no intraoperatório.

Para melhor compreensão do processo, vale destacar que os graduandos, pela primeira vez, prestam cuidados de enfermagem a pacientes hospitalizados de alta complexidade. Além disso, também se depararam com uma abordagem sobre comunicação não-verbal que não dominam. Por isso acredito que a orientação tenha contribuído para um melhor delineamento metodológico dos elementos necessários a um projeto, o que justificou maior participação na discussão e na elaboração desses elementos.

Nos dois primeiros encontros, houve necessidade de um aprofundamento dos tipos de comunicação não-verbal. contextualizados com exemplos práticos da interação graduando-cliente em centro cirúrgico para elaboração da questão norteadora, objeto e objetivos de tal forma que se estabeleceu entre eles a desejada coerência.

Os levantamentos bibliográficos sobre a temática como recorrência e vigilância epistemológica realizados nos acervos da escola, além de evidenciarem a necessidade de desenvolvê-los como objetos de pesquisa, também facilitaram a construção das justificativas, a relevância dos estudos e a seleção dos autores para auxiliarem na análise dos dados.

Os sujeitos, sempre graduandos, foram analisados em duas fases do processo transoperatório. Tiveram como interesse a análise das manifestações não-verbais dos graduandos em interações com os clientes, os profissionais, os meios e instrumentos no intraoperatório.

A compatibilização das atividades discentes de aprendizagem com assistência e pesquisa simultâneas se, por um lado, foi um dos fatores limitadores da amostra de análise reduzida por parte de dois grupos; por outro lado, configurou um resultado satisfatório, porque não somente se constituiu importante exercício de pesquisa pela construção das etapas metodológicas, mas também, e principalmente, porque possibilitou melhor aprofundamento teórico para o grupo.

Podemos dizer que objeto de pesquisa não seria tão necessário nessa fase de formação, se a escassez de informações sobre a comunicação não-verbal não fosse tão real na graduação. Então, se o objeto de pesquisa não transformou a realidade vivida pelos profissionais no cenário de prática, ao menos contribuíram para enriquecer e transformar o processo de ensino-aprendizagem dos graduandos envolvidos.

O enfoque desses conteúdos qualifica sobremaneira a assistência prestada pelos graduandos à clientela em centro cirúrgico, principalmente porque valoriza os aspectos intersubjetivos tão necessários à humanização da assistência de enfermagem no momento que antecede uma cirurgia.

A metodologia utilizada foi de cunho exploratório e descritivo com abordagem qualitativa, e os autores utilizados como referencial metodológico foram Minayo (1994), Lakatos e Marconi (1991) e sobre comunicação Silva (1996). O instrumento de observação de campo foi utilizado associado à entrevista semi-estruturada gravada em fitas cassetes.

Os sujeitos foram escolhidos aleatoriamente e após consultados sobre a possibilidade de sua participação no processo, forneceram por escrito seu consentimento em participar. Os depoimentos presentes nas fitas são identificados pelas iniciais dos nomes de seus prestadores e os dados do roteiro de observação são apresentados através de análise representativa.

A fim de não sofrer solução de continuidade, esta parte expositiva do estudo, tentará discorrer sobre as contribuições das orientações e sobre as principais análises quanto a importância da temática para a enfermagem em centro cirúrgico.

 

Análise circunstancial das manifestações não-verbais proxêmicas do graduando de enfermagem no intraoperatório

Essa pesquisa investigou a relação de proximidade ou distância que os graduandos de enfermagem mantinham com os profissionais e os clientes no cenário de atuação.

Acreditando que o tipo de conduta adotada pelo graduando influencia tanto na assistência ao cliente quanto no seu relacionamento com os demais profissionais, surgiu o interesse em analisar suas posturas em sala de operação.

O estudo procura examinar em que dimensão a postura do graduando na sala de operação afeta suas relações com os agentes, os meios, os instrumentos e o cliente, e até que ponto a apropriação do conhecimento sobre manifestações não-verbal proxêmica modifica a relação ensino/aprendizagem e posturas.

O formulário de observação de manifestações não-verbais proxêmicas levanta a posição do graduando no intraoperatório junto ao cliente, profissionais de enfermagem, cirurgiões e anestesistas. Os itens previam se o graduando se encontrava próximo atuando, se estava distante, próximo sem assisti-lo ou se estava em outra situação relevante.

A análise dos dados permite delinear a importância das manifestações proxêmicas do graduando no processo de interação dentro de sala de operação. Por outro lado, o roteiro de observação destaca a relação de posicionamento do graduando em sala de cirurgia em relação ao cliente, à equipe cirúrgica e à de anestesia. Procura esclarecer ainda se o mesmo se coloca atuando, próximo do cliente sem assistí-lo, se distante, ou se apresenta outro comportamento.

Os dados coletados foram obtidos no recorte temporal desde a admissão do cliente em sala de operação até sua indução anestésica; e as entrevistas gravadas no decorrer do período da manhã, ainda durante a realização do estágio curricular pelos atores sociais.

Os relatos e as observações foram feitos a partir da questão norteadora: a percepção do graduando acerca das atividades do enfermeiro em sala de cirurgia apontou para o fato de que os bloqueios pessoais, as frustrações anteriores, os preconceitos acerca da prática de enfermagem podem se apresentar como fatores impeditivos do desenvolvimento satisfatório e prazeroso das atividades durante o intraoperatório. Enfim, o relato da observação do nível de participação no desenvolvimento de atividades em sala de operação foi associado à dificuldade de interação com os profissionais.

Há, ainda, de se levar em consideração que as relações de poder que permeiam o relacionamento dentro de uma equipe multiprofissional podem se mostrar para o graduando em muitas facetas positivas e negativas.

Mas fica claro que o graduando, por ser um elemento inserido no contexto, deve sempre tentar um canal de comunicação, seja mostrando-se interessado, ativo, capaz de realizar atribuições cooperativas; seja estabelecendo uma relação de confiança entre os participantes do processo.

A dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais foi atribuída ao humor da equipe presente em sala, cuja instabilidade no humor pode funcionar como barreira à aproximação do graduando. Esse fato pode ser agravado quando este traz em si características pessoais, caracteres de dificuldade no estabelecimento de relações interpessoais como timidez, insegurança e medo.

As atividades desenvolvidas em sala de operação são por natureza dinâmicas, necessitando então de uma perfeita sintonia entre todos os que delas participam.

No que concerne ao preconceito acerca da prática e formação de enfermeiro, apenas um entrevistado justificou sua postura passiva intra-operatória alegando atividades simples e banais. Esse exemplo pode ser analisado também como fruto da reprodução do valor social negativo que a enfermagem traz arraigada em sua história. Por outro lado, a execução de algumas atividades consideradas de nível médio, ou que são exercidas por pessoas de nível médio, é algo que incomoda a alguns graduandos e graduados em enfermagem.

Em casos como este, a dificuldade não se encontra em estabelecer relação com a equipe, mas sim em aceitar a atividade acadêmica a ser realizada e a que cabe no momento, considerando-se o grau de amadurecimento de cada graduando e ainda insipiente domínio técnico e científico nessa especialidade.

Para tornar-se um participante do ambiente em sala de operação é necessário estabelecer um vínculo interpessoal com as pessoas presentes naquele meio. E esse vínculo não passa exclusivamente pela verbalização junto aos indivíduos. O calar e o mover-se também possuem significado. O fato de existirem reações de estresse, medo e ansiedade na execução de uma determinada atividade nova, não deve se transformar num fato impeditivo para o graduando permanecer no meio. Mas a ausência dele durante a dinâmica dos processos ocorridos no intraoperatório funciona como um fator excludente do mesmo nas trocas interpessoais com a equipe.

As manifestações não-verbais proxêmicas dos graduandos analisados em sala de operação determinaram posturas que limitaram o processo de interação entre o graduando, a equipe e principalmente com o cliente.

 

Considerações finais

Finalmente, a pesquisa destaca a exata noção de que a comunicação não-verbal proxêmica é decisiva na interação que o graduando e/ou enfermeiro desenvolverá no intraoperatório com o cliente e outros profissionais.

Os aspectos pessoais subjetivos, como emoções e sentimentos, tanto do graduando como do cliente, devem ser considerados, de forma a compreender as dificuldades e as posturas adotadas por ambos, seja no processo de ensino-aprendizagem, seja no processo da assistência. Dessa forma compreensiva, os graduandos poderão, com ajuda, ser agentes facilitadores nas relações interpessoais durante sua inserção e desenvolvimento num setor altamente desafiador que é o centro cirúrgico.

Tanto o conhecimento da comunicação não-verbal proxêmica faz com que os graduandos se tornem mais conscientes do próprio comportamento, favorecendo então sua relação com os outros, clientes e profissionais. Possibilitam-lhe um melhor entendimento de suas funções e aprimoram-lhe a maneira de transmitir e receber mensagens.

É extremamente importante a valorização do ensino da comunicação não-verbal na graduação para a compreensão dos sentimentos expressados, em destaque, pelo cliente, através dos movimentos, posturas e posicionamento, entre outros dados.

Se essa comunicação for positiva, será de aproximação facilitando todo o processo de atuação, assistência e interação com todas as pessoas no setor. Caso contrário, a inabilidade se incumbirá de interferir negativamente nas situações vivenciadas.

Compreender os múltiplos fatores que podem ser determinantes no afastamento desse graduando em relação ao cliente cirúrgico é emergencial para removê-los na tentativa de uma melhor interação e obtenção de resultados efetivos.

Trilhar caminhos e desenvolver habilidades que nos leve a acessar sentimentos e emoções no processo transoperatório é uma estratégia para tornar a assistência mais qualificada e valorizada, principalmente quando as expressões não-verbais do cliente muitas vezes falam muito mais do que a própria verbalização dele.

Tal conteúdo deverá ser aprendido por todos os graduandos que desejam prestar assistência de forma holística, ou seja, que atenda as dimensões físicas, psíquicas, culturais, espirituais, sociais e intelectuais do cliente.

 

Referências bibliográficas

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