8, v.1Research (action) in nursing: the intraoperative non-verbal proxemic communication of the graduating studentCommunication, the information as a possibility for reducing the asymmetry between the health professional and the client author indexsubject indexsearch form
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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Os sentidos corporais dos estudantes de enfermagem na aprendizagem sociopoética da comunicação não-verbal do cliente em recepção pré-operatória

 

The body senses of the nursing students in the sociopoetic learning about the non - verbal comunication of the client in preoperative reception

 

 

Sílvia Teresa Carvalho de AraújoI ; Isaura Setenta PortoII; Iraci dos SantosIII; Deyse Conceição SantoroIV

IProfessora Adjunta e doutora em enfermagem da EEAN-UFRJ. Rua da Passagem, 72 - ap. 716, Botafogo, CEP 22.290-030, Rio de Janeiro - RJ
IIProfessora Adjunta e doutora em enfermagem da EEAN-UFRJ
IIIProfessora Adjunta da Faculdade de Enfermagem da UERJ. Doutora em enfermagem – EEAN-UFRJ
IVProfessora Adjunta e doutora em enfermagem da EEAN / UFRJ. Membro da Comissão Científica da Socerj

 

 


RESUMO

O estudo trata das manifestações não-verbais cinésicas, proxêmicas, tacésicas e paralinguagem dos clientes em recepção pré-operatória percebidas pelos estudantes da graduação e pós-graduação. Os dados resultaram de dinâmicas utilizando símbolos representativos dos sentidos corporais e do coração. O método sociopoético através da técnica de vivência, os sentidos sócio-comunicantes do corpo, possibilitou a leitura do imaginário individual e coletivo dos sujeitos codificando 46 expressões relacionadas ao sentido visão, 27 ao tato, 20 a audição, 19 ao olfato e 14 ao paladar. Os dados analisados e apresentados parcialmente sob forma de poesias ressalta a subjetividade do cliente. O ensino desse conteúdo tem permitido a abertura dos sentidos corporais dos estudantes para percebê-la na assistência de enfermagem. Mostrou-se também um conteúdo cognoscível permitindo que a invisibilidade dos gestos, posturas, toques e sons do cliente se tornasse visível na interação. Finalmente, a tradução da comunicação não-verbal pode ser considerada um desafio dos sentidos corporais.

Palavras-chave: enfermagem, comunicação não–verbal, período pré–operatório, sociopoética


ABSTRACT

The study deals with the kinetic, proxemic, implicit non-verbal manifestations and paralanguage of the clients in preoperative reception as perceived by the undergraduate and postgraduate students. The data resulted from dynamics using symbols that represent the body senses and the heart. The sociopoetic method through the technique of experiencing the sociocommunicative body, allowed for the reading of the individual and collective imaginary of the subjects codifying 46 expressions related to the sense of vision, 27 related to tact, 20 to hearing, 19 to smell and 14 to taste. The data analyzed and partially presented in the form of poetries highlight the subjectivity of the client. The teaching of these contents has allowed for the opening up of the students’ body senses in order to create this perception in nursing care. This also demonstrated to be contents that can be known, allowing for the invisibleness of gestures, positions, touches and sounds of the customer to be visible in interaction. Finally, the translation of the not-verbal communication can be considered a challenge originated in the body senses.

Key words: nursing, non-verbal communication, preoperative period, sociopoetics


 

 

Introdução

O estudo trata da percepção dos graduandos em enfermagem sobre as mais comuns manifestações não-verbais dos clientes em recepção pré-operatória. Vale destacar que apesar do interesse pela comunicação não-verbal (CNV) ser anterior ao meu ingresso na graduação em enfermagem datada de 1982, o crescente envolvimento com a temática deu-se ao longo dos anos atuando não só na assistência, como também na área de ensino na graduação em enfermagem.

Contudo somente em 1994 após concurso público para professor assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica (DEMC) da EEAN através do programa curricular interdepartamental IX (PCI) (Modalidade de ensino, correspondente ao sexto período do curso de graduação da EEAN, que apresenta como ementa assistência de enfermagem ao cliente hospitalizado de alta complexidade) no qual atuo até os dias de hoje, desenvolvendo atividades de orientação em diagnóstico simplificado de saúde (DSS) (Pesquisa como etapa avaliativa do programa, cujo tema é emergente da prática nos cenários de estágio supervisionado), ensino teórico e teórico-prático e supervisão no cenário de centro cirúrgico é que as categorias teóricas e analíticas de CNV foram sendo melhor delineadas.

Esse interesse culminou em objeto de tese defendida no curso de doutorado da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) em dezembro de 2000 e que atualmente tem sido adotado como eixo principal nas pesquisas desenvolvidas conjuntamente com alunos da graduação e da pós-graduação. Os dados aqui parcialmente apresentados foram originados na tese, e sofreram alguns ajustes após convergência de novos dados produzidos após defesa.

A transmissão de conceituação sobre os tipos de CNV, tais como, proxêmico, tacésico, cinésico, paralinguagem, somada aquelas relacionadas as reações fisiológicas, compartimentais como o silêncio dos clientes e seus pertences tem ajudado na conscientização dos estudantes quanto sua importância no contexto de assistência de enfermagem.

Definimos a forma proxêmica como sendo aquela relacionada com a posição mantida entre as pessoas na interação, e pode ser de aproximação ou afastamento entre os seus corpos.

A forma tacésica refere-se ao toque afetivo e terapêutico durante a realização dos procedimentos ou ações de enfermagem. Tem relação direta com a região do corpo envolvida além de suas características próprias, tais como, profundidade, temperatura e tempo de contato.

A forma cinésica envolve os movimentos e está relacionada não só ao corpo, mas individualmente a cada uma das regiões que o compõem. A cabeça, os membros, o tronco e cada grupamento muscular que os envolve.

Finalmente a paralinguagem é entendida como todo som que é emitido pelo órgão fonador, mas que não traduz palavras, e que pode ser exemplificado pelo soluço, gritos, gemidos, roncos, etc.

Além disso a utilização das dinâmicas (se utilizam de ruídos ambientais gravados no centro cirúrgico; de figuras dos órgão representativos dos sentidos corporais incluindo o coração e de instrumento construído com perguntas e respostas para descrever e compreender a construção imaginária ao perceber as manifestações não-verbais dos clientes) construídas na tese tem permitido na docência essa construção do saber conjunto com os estudantes no resgate e valorização desses aspectos na assistência prestada a clientela.

O caminho pedagógico e de pesquisa com o método sociopoético através das dinâmicas do ruído, jogo da sorte e técnica de vivência - os sentidos sócio-comunicantes do corpo, tem permitido trabalhar com os sentidos corporais dos estudantes na compreensão das manifestações não-verbais, não só dos clientes com distúrbios cardiológicos, como das nossas próprias manifestações não verbalizadas.

A leitura das frases construídas pelos estudantes na técnica de vivência permite decifrar o imaginário individual a partir da compreensão de temas e subtemas ligados a questão norteadora: a percepção da CNV dos clientes. E, o resultado foi a construção coletiva desses imaginários através de poesias analisadas com eles durante as etapas de pesquisa.

Vale destacar também que os resultados, todos subjetivos, foram codificados e quantificados a partir de cada sentido corporal, sendo 46 do sentido visão, 27 do sentido tato, 20 do sentido audição, 19 do sentido paladar e 14 do sentido olfato.

O cenário de nossas pesquisas, o hospital universitário foi assim escolhido por suas características que incluem não só a existência de vinte e uma sala de operações, recepção pré-operatória, recuperação anestésica, dentre outras unidades, como também pela média diária de sessenta e cinco cirurgias de diversas especialidades, na qual destacamos trinta e cinco cirurgias cardíacas mensais.

Diante da especificidade que envolve a cliente com distúrbios cardiovasculares, clientela de alta complexidade, e pelas inúmeras alterações emocionais e predominância da forma não-verbal de se manifestar, pelas razões tão conhecidas por nós como a instabilidade hemodinâmica, fragilidade no processo cirúrgico e de seus resultados, é que a destacaremos para enfatizar a avaliação diagnóstica de enfermagem relativas a CNV dessa clientela.

Silva (1994) já destacava a necessidade da CNV merecer maior atenção por parte dos profissionais de enfermagem. Afirma também (1991) que o estado não-verbal possibilita aos enfermeiros resgatar a capacidade de percepção dos sentimentos do cliente.

Necessidade que destacamos como de conhecer, reconhecer e resgatar a nível consciente a CNV emitida pelos clientes.

Pelas características do cenário, de forma geral ainda predomina nos profissionais a preocupação com aspectos que envolvem a forma verbal, escrita de comunicação que convergem para o cumprimento de um planejamento retratado na confecção do mapa operatório.

Considerando que não dominamos a área de comunicação não-verbal, a utilização do método sociopoético têm sido o caminho encontrado para favorecer a abertura holística dos sentidos dos estudantes.

A dramatização de teatro mudo previsto no jogo da sorte realizada pelos estudantes para representar como percebem essas manifestações tem permitido, através da nossa emoção, abrir a nossa inteligência, nos permitindo sentir com o cliente e intuir sobre ele

Croce (apud Bosi, 1988, p.81) afirma que, "sentindo, se conhece; conhecendo, se sente; formando, se exprime; exprimindo, se forma." Através dessa dinâmica percebemos que a representação simbólica dos estudantes determina a forma de perceber a CNV do cliente e também determina, quando sensibilizado e conscientizado, a forma de interação entre eles. Para Bosi (1988, p. 66) "o olhar não está isolado, o olhar está enraizado na corporeidade, enquanto sensibilidade e enquanto motricidade.

É preciso repensar, na teoria e na prática, como se constitui o imaginário e a representação simbólica na enfermagem, principalmente em relação a CNV. Assim podemos entender a comunicação como um processo social, ativo e contínuo através do qual pessoas adotam posturas e comportamentos que refletem proporcionalmente o valor atribuído para a subjetividade do cliente durante o processo de interação e prestação de cuidados.

 

Análise e interpretação dos resultados

Para demonstrar a quantificação das manifestações não-verbais do cliente com distúrbios cardiológicos percebidas por estudantes em recepção pré-operatória apresentaremos a seguir os dados relacionados a visão, tato, audição, paladar e olfato, respectivamente.

As expressões codificadas do sentido visão, na forma de olhar foram: preocupação, nervosismo, espera, apreensão, dúvida, expressivo, insegurança, incerteza, medo, comunicante, ansioso, seguro, atento, expectativa, assustado, temeroso, observador, receoso, fechados, choro, piscando, desviando, no vazio, angústia, esperança, muito aberto, curioso, entreaberto, tranqüilo, sono, lacrimejante, sofrido, alegria, busca, procura, cego, desesperado, confiante, inquieto, desinformado, triste, solidão, alívio, fé, carência e vigilante.

O momento filosófico da sociopoética permitiu analisar os dados construindo uma poesia crítica para cada sentido corporal. e para ilustrá-la mostraremos a seguir uma aliagem simplificada dessa composição.

NO OLHAR A INDIVIDUALIDADE COMPROMETIDA

O jeito que eu sinto influencia o meu olhar,
E diretamente manifesta-se no relacionamento.
Demonstro medo na nova situação,
E oscilo entre tranqüilidade, sofrimento e alegria.

Muita angústia no coração,
Mas esperançoso de melhora,
Expresso o mais sincero dos sentimentos.

Logo minha emoção cega,
Clama pelo cuidado subjetivo,
Cheio de medo, ansiedade, solidão, carência e fé.

Conseguimos identificar também as seguintes manifestações não-verbais do cliente através do sentido tato, com os seguintes toques expressados: procura, pedido, firme, quente, insistente, apreensivo, inquieto, auto-proteção, anseio, medo, fé, frio, trêmulo, sudoreico, acolhedor, tímido, segurança, longo, vínculo, ajuda, apoio, socorro, escondido, energia, força, acalento, aconchego e carinho.

A aliagem simplificada da poesia crítica do sentido tato pode ser representada na seguinte poesia:

A COMUNICAÇÃO PROXÊMICA DAS MÃOS

As emoções manifestam-se pulsantes,
Nas mãos apreensivas e inquietas,
Que frias e trêmulas,
Eternamente buscam somente um toque.
Toque firme, porto seguro,
Que vale mais que mil palavras.
E que acalente e acalme as aceleradas batidas.

As expressões não-verbais definidoras do sentido audição foram: atenta, reveladora, sensibilizadora, seletiva, aguçada, investigativa, pseudo-surda, desgastada, informativa, esclarecedora, tradutora, integral, parcial, sensível, manipuladora, coercitiva, opressora, repressora e fragilizada.

A aliagem simplificada da poesia crítica do sentido audição pode ser representada na seguinte poesia:

A PARALINGUAGEM CAPTADA PELA EMOÇÃO

Barulhos agressivos e coercitivos,
Podem alterar ou não a insegurança,
A angústia e o ritmo das emoções.

Sons que geram ansiedade e medo,
De perder o sentido e o fio de ligação ...,
Com a realidade e o mundo.

Sons de vida e com vida,
Perdê-los é estar inconsciente e distante,
Da realidade coletiva.

A codificação do imaginário através das frases construídas revelou diferentes formas de percebê-la através do sentido olfato, tais como: forte, revelador, seletivo, diverso, discriminatório, sensibilizado, investigativo, esclarecedor, coercitivo, opressor, repressor, atento, registrador, armazenador, identificador, aguçado, sensível, sensibilizador e manipulador.

A aliagem simplificada da poesia crítica do sentido olfato pode ser representada na seguinte poesia:

A CINESIA DO NARIZ

O odor direciona á atenção ao cuidado individual,
E altera o perfil psicológico de cada um.
Gera variadas manifestações emocionais.
Aumentando mais a ansiedade e expectativas.
Ao sentir o cheiro da dúvida,

E do futuro tão obscuro e incerto,
Tenta perceber o inodoro,
E distingui-lo do agradavelmente odorizado.

O nariz busca odores,
Que lhe tragam lembranças felizes,
E que lhe faça acalmar o coração.

A codificação do sentido paladar permitiu levantar as seguintes expressões não-verbais do cliente: sabor alerta, diferenciado, ausência de sabor, sede, sabor dia marcante, agradável, estranho, gosto do medo, gosto da fome, gosto de querer acabar logo, gosto de experiência nova, gosto amargo da fome, paladar de gases e sabor de confiança.

A aliagem simplificada da poesia crítica do sentido paladar pode ser representada na seguinte poesia:

A COMUNICAÇÃO TACÉSICA DA BOCA

Alerta para o que está acontecendo no momento,
As emoções alteram o sabor da confiança depositada em nós.
E conhecendo e se relacionando com o desconhecido,
O paladar gerado pelo medo, pela fome e sede,
Conhece o gosto amargo dos gases.

Boca pálida, úmida, fechada, que morde os lábios,
E não consegue emitir som.
Mas que expressam sentimentos,
Que variam da tensão á felicidade.

Boca trêmula quer exprimir o que sente.
Quer falar tantas coisas ...;
Porém o que vem do coração,
Ela não consegue exprimir.

A abertura holística de todos os sentidos corporais para perceber a CNV do cliente permitiu compreender como se dá a cinesia entre eles, na qual apresentamos na composição simplificada da poesia intitulada:

O SENTIDO CORAÇÃO

Batidas que definem uma essência individual,
E aumentam o reconhecimento da ansiedade e medo.
Na qual a consciência da realidade coletiva,
Pela incerteza da vida ...,
Gera um desgaste amplo das emoções.

Portanto, respirando a vida,
Olha o interior,
Prova a essência
Toca a alma,
Enfim ... ,
Escuta a melodia branca.

 

Considerações finais

Ao reconstruir a trajetória no contexto do estudo e do conhecimento da comunicação não-verbal, destacamos a importância de considerarmos essa forma no processo comunicativo da assistência de enfermagem.

Destacamos a riqueza das informações transmitidas predominantemente não-verbal pelos clientes, como indícios poderosos de necessidades implícitas do e no processo cirúrgico ao qual vivência pelas suas condições de saúde.

Ao destacá-las resgatamos o valor da subjetividade humana que é singular e que requer de quem o assiste uma abertura holística dos sentidos para percebê-las. Esse exercício prático e contínuo para identificá-la tem permitido aos estudantes considerá-las na assistência de enfermagem em recepção pré-operatória.

A criação das poesias a partir das expressões não-verbais do cliente demonstra que esse conteúdo é cognoscível na aprendizagem sociopoética, na qual a tradução da linguagem não-verbal é um desafio dos sentidos.

Finalmente através das dinâmicas construídas na tese foi possível conhecer o imaginário, o real e a subjetividade acadêmica permitindo que as expressões não-verbais invisíveis do cliente se tornam visíveis através das decodificações e requer abertura holística dos sentidos para percebê-las.

 

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