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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

O que os estudantes captam nas propagandas sobre álcool e drogas: um estudo piloto

 

What students pick up from preventive advertisements about alcohol and drugs: a pilot study

 

 

Margarita A.V. LuisI; Sandra C PillonII; Lílian A. CostaIII; Patrícia P. OliveiraIII

IProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da EERP-USP
IIProfessora Assistente do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da EERP-USP. Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Laboratório de Pesquisa em Álcool e Drogas. Av: Bandeirantes, 3900 - Ribeirão Preto-SP. CEP 14040-902 pillon@eerp.usp.br
IIIAlunas de Graduação em Enfermagem – Iniciação Cientifica –Bolsistas CNPq

 

 


RESUMO

Estudos epidemiológicos indicam que a adolescência tem sido considerado um grupo vulnerável ao experimento de substâncias psicoativas e vários são os fatores que podem contribuir para isso. A presente investigação constitui-se de um estudo piloto afim de obter subsídios para uma investigação maior sobre a opinião e o conhecimento sobre a propagandas preventivas do uso de álcool, fumo e drogas dos estudantes do ensino médio. Através de uma amostra estratificada por sorteio, foram avaliados 45 estudantes (33,74%) do ensino médio de uma escola particular. Os dados mostram que as propagandas preventivas foram vistos e lembrados pela maioria dos entrevistados, sugerindo que para esta amostra foi satisfatória. A televisão por unanimidade, foi um dos meios de comunicação de maior representatividade pelo qual os participantes captaram tais propagandas. Concluindo que há uma incongruência entre as respostas dos alunos, relativo ao contato, principalmente através da televisão com propagandas preventivas e o que eles conseguiram descrever do que assistiram, o objetivo de que aparentemente a campanha, ou seja a conscientização sobre as questões referentes ao álcool, fumo e drogas e a prevenção do seu uso, não está sendo plenamente atingida. As propagandas preventivas mais lembradas referiam–se ao uso do álcool seguido pelo fumo.

Palavras-chave: adolescentes, propaganda, drogas


ABSTRACT

Epidemiological studies indicate that adolescents has been considered a vulnerable group for experimenting psychoactive substances and various factors can contribute to this situation. This research consists of a pilot study aimed at obtaining subsidies for a larger research on the opinion and knowledge concerning preventive advertisements against the use of alcohol, tobacco and drugs among high school students. Through a random sample, 45 (33.74%) high school students from a private school were evaluated. Results show that preventive advertisements had been seen and remembered by most of the interviewees, which suggested that the sample was satisfactory. Television was unanimously mentioned as one of the most representative media through which the participants had been in contact with the advertisements. It was conclude that there was an incongruence between the students’ answers about this contact, particularly through television, and what they were able to describe with regard to what they had seen, it seems that the objective of the campaign, that is, awareness development concerning questions related to alcohol, tobacco and drugs and the prevention of their use, is not being fully achieved. The most frequently remembered preventive advertisements referred to the use of alcohol, followed by tobacco.

Key words: adolescents, advertisement, drugs


 

 

Introdução

A população jovem, particularmente os adolescentes, tem sido alvo de vários estudos, cujo resultados tem conduzido à percepção de que esse grupo etário é o mais vulnerável ao comportamento do consumo de substâncias psicoativas.

Os adolescentes tem mobilizado os pesquisadores na produção do conhecimento relacionado ao fenômeno drogas. Vários estudos epidemiológicos tem sido realizado, abordando o consumo de substâncias psicoativas em grupo de jovens institucionalizados e não institucionalizados, bem como em meninos de rua.

Estudo divulgado pelo CEBRID (1997), mostrou os resultados do 4º Levantamento sobre o uso de drogas entre estudantes de 1º e 2º graus em dez capitais brasileiras, revelando através de comparações com os três levantamentos realizados anteriormente, que o uso de drogas psicotrópicas entre os estudantes de rede pública de ensino vem aumentando significativamente e que a tendência do uso freqüente cresceu para diversas drogas e em várias capitais, assim como o uso pesado e inadequadas abordagens realizadas até aqui para controlar o uso de drogas psicotrópicas. A pesquisa também mostrou, que não houve predomínios de usuários para determinados segmentos sociais, então na elaboração dos programas preventivos, este aspecto não necessitaria de cuidados especiais(1).

Contudo no mesmo estudo verifica-se algumas peculiaridades, dentre elas as preferências entre as substâncias psicoativas indicando a necessidade de reflexão quanto à generalização dos dados encontrados e na escolha de estratégias dos programas de prevenção. Estudos epidemiológicos no Brasil mostram a prevalência do uso de drogas, na maioria das vezes, de maneira esporádica e a título de experimentação entre estudantes de 1º e 2º graus, principalmente de drogas lícitas(2).

Pesquisa buscando identificar as características da população de usuários de drogas, realizada em um centro de tratamento para dependentes, mostrou a partir da análise de 468 prontuários de dependentes que a idade média de início de consumo nesse grupo foi de 17,4 anos. Idade essa pouco acima da média dos estudantes de ensino médio, onde se devem centrar as campanhas preventivas afim de evitar a cronificação do problema, desestimulando o uso experimental das drogas(3).

Outro exemplo de estudos sobre consumo de substâncias psicoativas entre estudantes do ensino privada, mostrou a tendência de iniciação precoce (11-12 anos) do uso de álcool e fumo, seguido de drogas consideradas "menos pesadas" como inalantes e maconha, ocorrendo em idades mais tardias (15-16 anos) a iniciação de outras drogas(4).

Cabe ressaltar, algumas características do comportamento, presentes em maior ou menor grau, tais como o gosto pela aventura, a sensação de que nada vai atingí-lo, e a impulsividade, tornam o jovem mais propenso a comportamentos considerados por especialistas(5) como auto-destrutivos, dentre eles o consumo de cigarros, o uso nocivo de álcool e a dependência de drogas.

Os fatores de risco que maior influenciam os adolescentes, e favorecem à experimentação de substâncias psicoativas são: a curiosidade natural dos adolescentes impulsionando-os a experimentar novas sensações e prazeres, a opinião de amigos, modismo, fácil acesso às drogas e oportunidade de uso bem como o ambiente propício para a experimentação de drogas.(6)

Parece evidente, que adolescentes na fase escolar em especial durante o 2° grau constituem uma população de risco para experimentação das substâncias psicoativas. Explicações como busca pela independência, que acende uma verdadeira luta interna para o adolescente, oscilando entre o desejo de conservar o mundo confortável de sua infância e a necessidade imperiosa de adquirir sua autonomia, auxiliam a justificar a iniciação das drogas.

É importante destacar que o primeiro contato com a substancia química na adolescência, pode provir de um incentivo da própria cultura doméstica, ou através da influencia da publicidade dos meios de comunicação, sugerindo que a necessidade de compreender o verdadeiro significado das atuais propagandas aos adolescentes. Em pesquisa realizada pelo DataTeen(7) com 425 adolescentes de 13 a 18 anos em uma escola pública de Taubaté e uma privada em São Paulo, apenas 3,9 % dos fumantes admitiram ser influenciados pela mídia e 11,8% consideraram que a pressão ou exemplos de amigos eram justificativas para tal comportamento. Esse resultado, contradiz com o estudo publicado no Archives of Pediatric and Adolescent Medicine, revista da Associação Médica Americana, segundo o qual crianças que usavam objetos promocionais de cigarros, como bonés e camisetas, ou tinham amigos fumantes, o risco era quatro vezes mais de se tornarem fumantes na adolescência (8).

O uso de drogas pela população estudantil brasileira não atingiu ainda níveis dramáticos, como o que ocorre nos Estados Unidos da América e países da Europa, razão pela qual deve haver uma maior dedicação às ações preventivas evitando que o problema atinja dimensões maiores(2).

Os resultados obtidos em campanhas preventivas, mostram que elas atingem o público alvo, embora na maioria das vezes não seja possível avaliar a extensão e profundidade dessa exposição, nem o grau de alterações do conhecimento sobre o assunto abordado. De maneira geral, parece que as campanhas preventivas não produziram mudanças significativas nas atitudes e comportamentos, seus resultados não tem sido animadores, sugerindo dúvidas quanto a validade do modelo que vem sendo utilizado no seu desenvolvimento(9).

Relatórios do NIDA (National Institute on Drug Abuse) dos Estados Unidos da América, mostrou através de pesquisas que programas efetivos de prevenção do uso de drogas apresentam relação custo - benefício favorável: para cada 1 dólar gasto em prevenção, economizam-se 4 a 5 dólares em custos com tratamento de dependências químicas(10). Isso só justifica o investimento em campanhas preventivas.

O caminho para a prevenção passa também pelo estímulo a uma sociedade mais crítica em que o adolescente seja incentivado em sua criatividade e seus questionamentos e opiniões sejam ouvidos com tolerância e respeito.

A efetividade dos programas de prevenção dependem do conhecimento prévio das condições do ambiente e das características sócio - demográficas da população. São essas informações que irão definir o tipo de intervenção que deve ser realizada, daí a importância de se conhecer a expectativa do público alvo através do levantamento de opiniões e conhecimentos sobre temas relacionados as drogas.

Buscando identificar as características da população de jovens nessa faixa etária no município de Ribeirão Preto, o presente trabalho objetiva investigar o conhecimento e opinião sobre propagandas preventivas de álcool, fumo e drogas, entre estudantes do ensino médio, visando obter informações para futuras campanhas preventivas.

 

Metodologia

A presente investigação constitui-se de um estudo piloto afim de obter subsídios para uma investigação maior sobre a opinião e o conhecimento de estudantes do 2º grau de uma escola particular sobre a propagandas preventivas do uso de álcool, fumo e drogas.

Inicialmente, foi solicitado a permissão, autorização e apoio para a realização dessa pesquisa à diretoria de uma escola privada, selecionada ao acaso. Foi nos concedido uma listagem das três turmas de alunos do ensino médio existentes nesta instituição, perfazendo um total de 163 (100%) estudantes. Procedeu-se então o estabelecimento da população a ser investigada através da amostra estratificada por sorteio, correspondendo a 45 (33,74%) ou seja um terço dos alunos matriculados no segundo grau, dos quais 15 (33,04%) alunos do 1º colegial, 22 (33,33%) alunos do 2º colegial e 18 (33,96%) alunos do 3º colegial participariam da pesquisa. Caso o aluno sorteado não se encontrasse presente no dia da pesquisa, estabeleceu-se que por sorteio entraria um novo participante.

A pesquisa foi realizada no mês de fevereiro de 2002, através da aplicação de um questionário contendo informações sócio-demográficas (idade, sexo, ano de escolaridade) outras quatro questões com respostas alternativas e duas questões abertas para cada tema (álcool, fumo e droga), por questões éticas e confidenciais não foi necessário a identificação pessoal. A aplicação foi realizada em uma sala de aula pré - estabelecida, onde após o sorteio o aluno se dirigia até o local determinado.

No primeiro dia de coleta de dados, após explicação prévia, os alunos sorteados foram convidados a participarem da pesquisa, foi solicitado que assinassem o termo de consentimento, caso não tivessem completado a maioridade, foram orientados a entregá-lo aos seus responsáveis e trazê-lo no dia seguinte. Com o termo de consentimento devidamente assinado, foram distribuídos os questionários e reafirmado os objetivos do trabalho, assim como os direitos enquanto participantes. De posse desse material, constatou-se que a amostra se restringiu a 45 sujeitos.

 

Tratamento dos dados

Para a análise dos dados foi confeccionado um banco de dados, através do programa de estatística SPSS (Statistical Package Social Science). As questões abertas foram submetidas à análise temática(11) através da leitura das respostas de todos participantes, procurando agregar os conteúdos que revelavam um significado semelhante e cujos componentes apresentassem similaridade, procedendo-se a seguir a interpretação do material.

 

Análise e discussão dos resultados

Esta amostra consiste de 45 (100%) estudantes, em relação ao sexo equivalente entre feminino 23 (51%) e masculino 22 (49%), com idade média de 15,65 anos (Dp. 1,02) (máx. de 17 anos e mín. 14 anos). Cursando o 3º colegial 12 (26%), o 2º colegial 24 (53%) e 1º colegial 18 (17%).

A tabela 1 apresenta a freqüência em números e porcentagem das respostas quanto ao que lembravam das propagandas preventivas do uso álcool, fumo e drogas. No geral, os dados mostram que propagandas preventivas de álcool, fumo e drogas foram vistos e lembrados pela maioria dos entrevistados, sugerindo que para esta amostra foi satisfatória.

A tabela 2 mostra os meios de comunicação pelo qual os participantes captaram tais propagandas preventivas, sendo considerado unânime a televisão, seguido por revista e de agrupamentos compostos por outras mídias com pouca representatividade para propaganda preventivas do álcool, fumo e das drogas, sendo os meios mais recordados pelos participantes. Em contrapartida, quando solicitado aos estudantes que citassem um exemplo de propaganda para os meios de comunicação, houve uma certa incompatibilidade nas respostas,

No caso, das campanhas preventivas do uso de álcool, embora 82,2% dos participantes citassem haver visto na televisão alguma propaganda dessa natureza, 31,1% não fizeram a descrição da mesma e dos 35.8% que lembravam, descreveram situações que associavam o beber ao dirigir e a acidentes. Os demais citaram propagandas referentes ao fumo e transito, ou inventaram slogans. Essas incongruências evidenciam-se nas respostas referentes a outras mídias e válida também para o fumo e as drogas.

Quanto ao fumo, 93,3% dos alunos tiveram contato com a propaganda através da televisão, porém 22,2% não responderam a esse respeito. Dos demais, 69% descreveram matérias divulgadas nesse meio referentes em sua maioria à propaganda do cigarro e as advertências do Ministério da Saúde no final.

Em relação às drogas 84,4% se manifestaram como telespectador de propagandas preventivas de drogas, porém 69% foram capazes de relatar algum conteúdo dessas matérias, slogans (42,4%), imagens da campanha (13,3%) e depoimentos de entrevistados no assunto e "artistas" de programa de televisão e do esporte (13,3%). Parece que em relação às drogas não houve confusão com as campanhas relativas a outras substâncias, talvez por não estarem vinculadas a comerciais de incentivo ao uso ou a outros temas associados (dirigir veículos). Cabe a ressalva de que nos depoimentos, os estudantes parecem haver captado o conteúdo de maneira geral ou vaga ("cara falando um monte de coisas que as drogas fazem", "citaram várias situações, falando o que acontece") não expressando pontos específicos, abordados no depoimento apresentado.

A tabela 3 nos mostra a eficácia das mensagens apresentada nas campanhas preventivas divulgada pela mídia, mostrando um equilíbrio para o álcool, o fumo e as drogas, sugerindo que o objetivo da matéria ou campanha foi "mais ou menos" atingido.

 

Considerações finais

Este estudo mostrou que os alunos de ensino médio pouco ou nada se lembram dos conteúdos veiculados pelas campanhas preventivas, fazendo inclusive associações dessas com outras cuja temática é diferente. Por unanimidade entre os alunos, os meio de comunicação que se destacaram foram a televisão, seguido de revistas com ofertas de propagandas preventivas de drogas. Aparentemente os objetivos dessas campanhas, ou seja a conscientização sobre as questões prejudiciais do uso do álcool, tabaco e drogas, não estão sendo plenamente atingidas entre os adolescentes. Quanto ao tipo de substância psicoativa abordada na propaganda oferecida pela mídia que os estudantes recordaram, o álcool confirmou – se como a mais freqüente.

 

Referências bibliográficas

1. Noto, A.R.; Nappo, S.; Galduroz, J.C.F.; et al. IV Levantamento sobre o uso de drogas entre crianças e adolescentes em situação de rua de seis capitais brasileira. CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - UNIFESP, 1998.

2. Carlini, E.A.; Carlini-Cotrim, B.; Silva-Filho, A.R.; et al.Levantamento Nacional sobre o uso de psicotrópicos em estudantes de 1º e 2º Graus. CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - Escola Paulista de Medicina, São Paulo, 1990.

3. Passos, S.R.L.; Camacho, L.A.D. Características da clientela de um centro de tratamento para dependência de drogas. Revista de Saúde Pública, São Paulo. v.13, n.1, p.64-71, 1998.

4. Godói, A.M.M.; Muza, G.M.; Costa, M.P.; Gama, M.L.T. Consumo de substâncias psicoativas entre estudantes de rede privada. Revista de Saúde Pública. São Paulo, v.25, n.2, p.150-156, 1991.

5. Carssola, R.M.S. Jovens que tentam suicídio. Antecedentes mórbidos e de condutas auto – destrutivas, um estudo comparativo com jovens normais e com problemas mentais (II). Jornal Brasileiro de Psiquiatria. v.33 n.2, p.93 – 98, 1984.

6. Scivoletto, S.; Morihisa, R.S. Conceitos básicos em dependência de álcool e outras drogas na adolescência. Jornal Brasileiro de Dependência Química. v.2, n.1, p.30-33, 2001.

7. IPA - Pesquisa DataTeen Virtual 98. [Disponível em :http://www.instadolescente.com.br/datateen/cigarro.html ]. Acesso em:08 de Março de 2002.

8- Duffy, SA., Burton, D. Cartoon Characters as Tobacco Warning Labels. Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine. v.154, n. 12, p.1230 – 1236. December 2000

9. PINSKY, I.; SILVA, M.T.A. As bebidas alcoólicas e os meios de comunicação: Revisão de literatura. Revista ABP – APAL. v.7, n.3, p. 115 – 121, 1995.

10. Slobda, Z.; David, S.L. Preventing drug use among children and adolescents: a research – based guide. National Institute on Drug Abuse – NIDA. 99 – 4212, 1997. [http://www.nida.nih.gov]

11. Bardin, L. Análise de Conteúdo. Ed. 70 PERSONA, Lisboa 1977.