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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Mayo. 2002

 

Comunicação por imagem aplicada como estratégia de ensino da taxonomia da NANDA: relato de experiência

 

Pictorial communication applied as a strategy for teaching the NANDA taxonomy: experience report

 

 

Cristina Arreguy-SenaI; Rosamary Aparecida Garcia StuchiII; Emília Campos de CarvalhoIII

IFaculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, Rua Olegário Maciel nº1716-204 Bairro Paineiras, Juiz de Fora-MG
IIEscola de Enfermagem da UNIOESTE, Cascavel-PR
IIIEscola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, Ribeirão Preto-SP

 

 


RESUMO

O uso do diagnóstico de enfermagem para descrever as situações pelas quais o profissional enfermeiro é o responsável é uma tendência crescente, sendo a taxonomia da NANDA a modalidade mais divulgada no Brasil. A assimilação da estrutura e da articulação dos componentes dos cinco tipos de diagnósticos de enfermagem por alunos de graduação e pós-graduação é uma dificuldade que temos constatado em nossa prática docente. Diante do exposto, descrevemos nossa experiência com o uso da comparação dos componentes de um trem aos elementos que formam cada tipo de diagnóstico de enfermagem com vistas a favorecer a comunicação e a assimilação da estrutura da taxonomia da NANDA. Comparamos o título do diagnóstico com uma locomotiva, a definição com os trilhos, as características definidoras, os fatores relacionados e os fatores de risco aos vagões e os conectores aos elos da ligação entre a locomotiva e os vagões e destes entre si. A utilização da similaridade dos componentes dos diagnósticos de enfermagem à estrutura de um trem foi testada em curso de capacitação e no ensino de graduação, especialização, mestrado e doutorado tendo sido de êxito a avaliação dos participantes para sua compreensão.

Palavras-chave: comunicação, enfermagem, ensino


ABSTRACT

The use of the nursing diagnosis to describe the situations for which the nursing professional is responsible is an increasing tendency, in relation to which the NANDA taxonomy is the most spread modality in Brazil. The undergraduate and postgraduate students’ assimilation of the structure and articulation of the components of the five kinds of nursing diagnoses is a difficulty we have been noticing in our teaching practice. In view of the aforesaid, we describe our experience in using the comparison between the components of a train and the elements that make up each kind of nursing diagnosis, with a view to improving the communication and assimilation of the NANDA taxonomy structure. We compare the diagnosis title to a locomotive; the definition to the rails; the defining features, the related factors and the risk factors to the railway wagons and the connectors to the linking between the locomotive and the railway wagons and among the wagons. The use of the similarity of nursing diagnosis components to a train structure was tested in a qualification course and in the undergraduation, specialization, master’s and doctoral courses, and was evaluated successfully by the participants in all cases.

Key words: communication, nursing, education


 

 

Introdução

O uso de uma forma comum para nomear os problemas e as situações para as quais o profissional enfermeiro é o responsável legal é uma necessidade reconhecida que tem estimulado os cursos de graduação e pós-graduação a incluírem o ensino do diagnóstico de enfermagem. A taxonomia da NANDA, divulgada, inicialmente por meio das Escolas de Enfermagem da Paraíba, Ribeirão Preto e São Paulo é, atualmente, a forma mais conhecida no Brasil de abordar os problemas de enfermagem e que possibilita uniformizar a linguagem entre enfermeiros de regiões e países distintos e permutar experiências.

Nossa primeira aproximação com a taxonomia da NANDA, no ensino, remonta ao início da década de 90. Nossa experiência com o uso da taxonomia da NANDA nos permitiu constatar a dificuldade dos profissionais que foram formados no modelo biomédico e de alunos de graduação para assimilarem os tipos, os elementos de composição e a forma como eles são agrupados e se inter-relacionam na construção do raciocínio e do enunciado de um diagnóstico de enfermagem (CARVALHO, 1995; CARVALHO et al., 1993). O presente trabalho objetiva descrever nossa experiência na construção e na utilização de uma forma de abordagem do diagnóstico de enfermagem da NANDA utilizando a comunicação visual como recurso auxiliar para o ensino.

A taxonomia da NANDA apresenta 5 tipos de diagnóstico de enfermagem (real, de risco, potencial, síndrome e de bem-estar), sendo que cada tipo de diagnóstico é composto por determinado tipo e número de componentes. O número e os componentes dos diagnósticos diferem, sendo exemplo o diagnóstico real que possui o título (ou também chamado de categoria diagnóstico), a definição, as características definidoras e os fatores relacionados, e o diagnóstico de risco que possui como componentes o título, a definição e os fatores de risco (NANDA 1994, 1996, 2000; NAKATANI, 2000).

O esforço de associar uma estratégia de comunicação ao processo de ensino e de aprendizagem da taxonomia da NANDA justifica-se na medida em que aproxima a estrutura de composição dos diagnósticos da taxonomia a um objeto (trem) que possui representação concreta para os aprendizes, tornando o assunto menos teórico e mais pragmático do ponto de vista das experiências vividas pelos aprendizes, o que favorece a desmistificação da dissociação da teoria com a prática e intensifica a assimilação do conteúdo pelo processo de concretização e associação de imagens. Cabe recordar que a imaginação e uma das formas de retenção do saber.

 

Referencial teórico

Dentro do processo comunicacional, concebido pela teoria de significado e pensamento proposto por Boulding, as experiências, funcionam como informações, as quais influenciam à construção da imagem, ou seja, a representação internalizada que cada indivíduo possui sobre um objeto, coisa ou situação e que reflete a forma como cada um concebe o mundo. Essa influência pode ser chamada de mensagem. A importância de uma mensagem, sob essa concepção, advém da possibilidade de mudança que ela pode produzir sobre a imagem, somando-se a compreensão subjetiva prévia do objeto enfocado (LITTLEJOHN, 1991).

Assim sendo um objeto por si só possui para o indivíduo uma imagem internalizada que reflete como ele o vê, o sente, o percebe e reage diante dele. No processo comunicacional intencional o emissor pode utilizar-se de um objeto para desencadear no receptor uma percepção diferenciada daquela que ele já possui a respeito do significado dele. Analisado essa possibilidade na perspectiva do processo ensino/aprendizagem a sobreposição de um mesmo objeto carreando mensagens distintas pode potencializar os recursos disponíveis no ensino e favorecer a aprendizagem.

 

Metodologia

Quanto maior proximidade existe entre a realidade do educando e o método de abordagem do educador maiores serão as chances de êxito no processo ensino-aprendizagem (FREIRE, 1987, 1996; ARREGUY-SENA et al., 1999). Partindo desse pressuposto e considerando que, inicialmente, nossa proposta foi elaborada para ser utilizada na Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, cidade do interior de Minas Gerais, empregamos a similaridade ou imagem formada a respeito da estrutura de composição de um "trem", elemento muito comum à cultura local. Estabelecemos, assim, o paralelo dessa estrutura com os elementos que compõem os 5 diferentes tipos de diagnóstico de enfermagem descritos na taxonomia da NANDA.

Assim como um trem necessita de uma estrutura propulsora comparamos a máquina locomotiva com o título do diagnóstico ou com a categoria diagnóstica; os trilhos, que dão direção a máquina e viabilizam o deslizamento do comboio ferroviário, foram equiparados à definição de cada título; os vagões foram assemelhados ao(s) componente(s) de um diagnóstico; os engates dos vagões foram comparados com as palavras de conexão usadas entre cada elemento que compõe o diagnóstico.

De posse desses princípios, a segunda etapa consistiu em representar, por meio da figura de um trem que possuísse o número de estruturas correspondentes a cada diagnóstico, cada tipo de diagnóstico. Tivemos a preocupação com o tratamento da imagem divulgada, baseando-nos nos seguintes critérios para defini-las: 1) a imagem dos elementos do trem deveria permitir uma comunicação auto-explicativa; 2) cada estrutura deveria permitir sua apresentação por composição em etapas de acordo com a necessidade e a participação dos aprendizes até que a figura fosse totalmente apresentada; 3) as representações visuais usadas deveriam ser esquemáticas, refletiu a experiência dos educandos e sua familiaridade com a imagem do trem conforme Figuras 1 a 4.

O formato final das figuras passou por avaliação de 4 profissionais com experiência com diagnóstico de enfermagem há mais de 2 anos na prática de ensino e assistência, sendo consideradas pelos avaliadores como uma das estratégias para abordagem dos componentes de cada tipo de diagnóstico da taxonomia da NANDA.

O mesmo encadeamento de idéias que era utilizado no ensino teórico passou a ser usado nas atividades de ensino práticas, quando buscávamos resgatar a comparação do comboio ferroviário para cada possível diagnóstico que era sugerido para a clientela que os alunos ou profissionais atendiam.

 

Descrição da aplicação do material elaborado

Como nossa primeira experiência de aplicação da figura comparativa de um comboio ferroviário com a estrutura de cada tipo de diagnóstico de enfermagem segundo a taxonomia da NANDA, ocorreu durante o ensino teórico da taxonomia para uma clientela de alunos de graduação de enfermagem e de profissionais enfermeiros em fase de capacitação que desenvolviam seus estudos ou suas atividades profissionais em cidades mineiras, a figura do trem ficou bem caracterizada para o regionalismo local. Cabe destacar que a comparação favoreceu a assimilação da estrutura de composição de cada tipo de diagnóstico da taxonomia, remetendo os participantes a representação internalizada que cada um deles possuía do objeto (trem) e acrescendo a esse objeto a mensagem pretendida (estrutura da taxonomia para cada tipo de diagnóstico). Aproveitamos a mesma idéia de abordagem da taxonomia da NANDA para o ensino teórico de profissionais enfermeiros que realizaram curso de especialização em Unidade de Terapia Intensiva, buscando diversificar a especialidade dos participantes e compreender como a estratégia da comunicação por imagem era assimilada por cada especialidade. Notamos que quanto os participantes tinham experiência apenas com modelos assistenciais semelhantes ao biomédico, maiores eram os benefícios do uso da estratégia da comunicação por imagem, pois esse recurso favorecia a construção mental da proposta por nós abordada.

Tivemos a oportunidade de utilizar recursos diversificados para abordagem da comparação dentre os quais destacamos: slides, painéis confeccionados com cartolina, barbante e velcro, projeção direta por meio de aparelho multimídia, massa de modelar, fantoche confeccionado com papel maché, dentre outros. Em todas as situações os materiais serviram de apoio a apresentação dialogada.

Diante dos resultados favoráveis na utilização da aproximação do trem com a taxonomia da NANDA, aplicamos a mesma experiência aos alunos do curso de mestrado e doutorado de outras regiões e reforçamos o resgate dessa comparação em atividades práticas, o que nos permitiu constatar que a mesma figura poderia ser usada em outros grupos de aprendizes da população brasileira, já que o objeto escolhido (trem) faz parte do senso comum.

 

Considerações finais

A utilização da similaridade dos componentes dos diagnósticos de enfermagem à estrutura de um trem foi testada em curso de capacitação e no ensino de graduação, especialização, mestrado e doutorado, tendo sido a avaliação dos participantes favorecedoras para sua compreensão diante do assunto abordado. No ensino teórico e prático da taxonomia da NANDA, utilizamos de subsídios da teoria de significado e do pensamento proposto por Boulding, (LITTLEJOHN, 1991) para potencializar o processo de comunicação, resgatando a representação internalizada que cada indivíduo possui sobre um trem. Emitimos, então, nossa mensagem, ou seja, a explicação da estrutura de cada tipo de diagnóstico de enfermagem da referida nomenclatura com a intenção de desfazer idéias preconceituosas do uso do diagnóstico na enfermagem, potencializar o ensino e favorecer a aprendizagem sobre esse assunto. Embora nossa estratégia tenha sido aplicada a profissionais com diferente grau de formação, atuações distintas e entre aqueles que tinham contato com clientela de diversos níveis de complexidade, a figura comparativa do trem para exemplificar a estrutura da taxonomia da NANDA mostrou-se satisfatória desde que usada como recurso adicional a técnica da exposição dialogada. Em vários recursos a figura do trem foi usada, sendo proveitosa desde que o facilitador do ensino domine a técnica escolhida.

 

Referências bibliográficas

ARREGUY-SENA, C; HALLACK, K.A.; RODRIGUES, P.R.; MIELO, M.; SENA, K.A. de Construção de um projeto educativo de intervenção junto aos caminhoneiros na BR040. J. Bras. Doenças Sex Transm. 1999; n.11,v.2:4-9.

CARVALHO, E.C de A utilização do diagnóstico de enfermagem-experiência de ensino. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM, 1, São Paulo, 1995. Anais. São Paulo, 1995, p.81-93.

CARVALHO, E.C.de et al. Elaboração de diagnóstico de enfermagem dificuldades de alunos de graduação In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM, 45, Recife, 1993. Anais. Recife, 1993, p.17.

FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 8ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 142.

FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 22ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996, 1-158.

LITTLEJOHN, S.W. Fundamentos teóricos da comunicação humana Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar Editora. 1991. p.1-407.

NAKATANI, A.Y.K. Processo de enfermagem: uma proposta de ensino através da pedagogia da problematização.Ribeirão Preto, 2000. p.228 Tese (Doutorado)- Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

North American Nursing Diagnosis Association- NANDA. Nursing diagnoses: definitions & classification 1995-1996. Philadelphia: NANDA; 1994.

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