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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

A comunicação da equipe de enfermagem sobre a localização do sítio de inserção de dispositivo(s) endovenoso(s): construção e manuseio de instrumento

 

The communication of the nursing team about the localization of the place of insertion of intravenous device(s): instrument making and maintenance

 

 

Cristina Arreguy-SenaI; Emília Campos de CarvalhoII

IFaculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora. Endereço para contato: Rua Olegário Maciel nº 1716-204 Bairro Paineiras, Juiz de Fora, Minas Gerais. CEP:36016011
IIEscola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, São Paulo

 

 


RESUMO

A punção e a manutenção de uma veia periférica ou central ou de artéria são atividades que envolvem a atuação multidisciplinar. Embora a enfermagem possua uma interface de destaque na responsabilidade de inserção das punções venosa periféricas, na manutenção e remoção das outras modalidades de punção, as informações a respeito das punções precisam ser compartilhadas com toda a equipe de saúde, pois parte delas são geradas por outros profissionais ou podem subsidiar tomada de decisões à respeito do assunto. Objetivamos descrever a construção e o manuseio de um instrumento destinado a localização do sítio de inserção dos dispositivos venosos e capaz de identificar o tipo, o calibre, a data de inserção, ou seja, requisitos indispensáveis ao controle do sítio de inserção e áreas adjacentes. O instrumento, criado em out/nov/2001, foi antecedido por testagem em 72 pessoas e aplicado a 492 clientes de ambos os gêneros que se encontravam internados. Foram 1480 sítios endovenosos periféricos e centrais registrados diariamente durante 62 dias de acompanhamento. Em diferentes situações o instrumento comporta o registro da dinâmica de uso dos vasos sanguíneos e foi manuseado pela equipe multiprofissional e multidisciplinar, quando os códigos usados eram previamente conhecidos.

Palavras-chave: comunicação, enfermagem, punção venosa


ABSTRACT

The puncture and maintenance of a peripheral or central vein or an artery are activities that demand multidisciplinary actions. Although nursing has a big interface in the responsibility for inserting the peripheral venous punctures and maintaining and removing other puncture modalities, the information about the punctures needs to be shared with the entire health staff, since part of them is generated by other professionals or can be of assistance in making decisions about the subject. We intend to describe the making and the handling of a tool used to localize the puncture place for the intravenous devices and capable of identifying the kind, caliber and puncture date, that is, indispensable requirements for controlling the puncture place and adjacent areas. The tool, which was created in October-November 2001, was preceded by testing in 72 persons and used in 492 interned clients of both genders. 1480 peripheral and central intravenous places were registered on a daily basis during 62 days of observation. In different situations, the tool admitted for the registration of the dynamic use of the blood vessels and was handled by the multi-professional and muti-disciplinary staff, when the used codes were previously known.

Key words: communication, nursing, venous puncture


 

 

Introdução

Qualquer procedimento de punção venosa e/ou arterial pode ser abordado na perspectiva do preparo para sua execução, da instalação do dispositivo vascular, da sua manutenção e manuseio, da sua remoção e dos cuidados posteriores dispensados ao sítio de inserção do dispositivo e áreas adjacentes e compreendido na dimensão da pessoa que se encontra com o vaso sendo usado, na dimensão do profissional que executa tal procedimento e na interação entre eles.

De acordo com Arreguy-Sena (2002), embora o uso das veias possua indicações terapêutica, diagnóstica ou de avaliação hemodinâmica, algumas manifestações de efeitos indesejáveis, denominado pela autora como "trauma vascular", podem ser identificados por processos mórbidos que intensificam o período de internação hospitalar. Corroboram com esta constatação Polimeno et al. (1995), Maki e Ringer (1991), Arreguy-Sena e Carvalho (2000) e Phillips (2001).

Algumas manifestações do trauma vascular secundário à punção venosa periférica, identificado por Arreguy-Sena (2002) como hematoma, desconforto e dor, têm sido observados por nós, em nossa prática profissional nos traumas de artérias e nas punções venosas centrais.

As manifestações do trauma vascular surgem de forma progressiva caso o fator desencadeador não seja removido e/ou bloqueado, como, por exemplo, a dor (uma das manifestações do trauma que possui como forma de detecção mais confiável o relato do cliente) e também a prevenção e o agravamento do trauma requer uma vigilância contínua do local de inserção do dispositivo endovenoso, da área adjacente, do tipo de dispositivo usado e do tempo de permanência dele num mesmo local. Desta forma a permuta de informação entre os elementos da equipe de saúde e destes com os clientes adquire uma importância fundamental.

O manuseio dos vasos sanguíneos é uma atividade que envolve categorias e especialidades profissionais distintas, tais como equipe de enfermagem, anestesistas, angiologistas, radiologistas, bioquímicos e técnicos de laboratório e de radiologia, cirurgiões e intensivistas, sendo a manutenção e a disponibilização contínua do fluxo de informações para toda a equipe de saúde e para o usuário o grande desafio que o processo de punção venosa periférica e/ou central e de punção arterial traz para os profissionais da equipe de saúde.

Por mais que a passagem de plantão das equipes de trabalho da área de saúde promova o compartilhamento de informações entre pessoas de uma mesma categoria, raramente ela congrega todas as categorias que possuem interesse no uso dos vasos, tem-se que considerar que as informações passadas por essa modalidade de transmissão nem sempre são passíveis de serem relembradas ou recapituladas pelos trabalhadores com a fidedignidade requerida para fundamentar o processo decisório no momento do cuidado. Além do mais, em instituições nas quais é padronizada a necessidade de abordagem de aspectos referente ao processo de punção (tais como a data de inserção de qualquer dispositivo nas veias ou nas artérias, o tipo, o calibre dos dispositivos, o tempo de permanência e sua localização) e supondo que todas as categorias realizem com rigor tais registros essas anotações ficam diluídas no prontuário do cliente, dificultando sua imediata localização.

Visando a rápida disponibilização das informações a respeito do uso dos vasos sanguíneos durante o período de internação hospitalar para todos os trabalhadores da equipe de saúde, independente da capacidade mnemômica dos clientes ou dos profissionais, descrevemos nossa experiência. O presente estudo tem como objetivo descrever a construção e o manuseio de um instrumento destinado a localizar os sítios de punção dos vasos sanguíneos, assegurando a identificação da sequência em que eles foram usados durante o período de internação. Tal fato justifica-se pela possibilidade do instrumento contribuir na rápida recapitulação de informações, além do registro dos vasos favorecer uma visualização panorâmica dos pontos em que os vasos foram usados, sendo que essas informações contribuem para evitar que locais onde anteriormente foram realizadas punções sejam reutilizados, ou seja, haja a prevenção do trauma vascular por processo cumulativo de fatores desencadeantes.

 

Metodologia

Inicialmente cabe destacar que o instrumento foi criado em outubro e novembro de 2001 para fins de pesquisa clínica e evidenciou sua aplicabilidade em situações práticas. A primeira versão do instrumento foi testada em 62 pessoas que se encontravam internadas em diferentes setores de um hospital público e de ensino, do interior de Minas Gerais. A versão final foi utilizada para fins de pesquisa em 492 clientes da mesma instituição, de ambos os sexos, que se encontravam internados nos seguintes setores: clínica médica, clínica cirúrgica, unidade de terapia intensiva, unidade destinada a internações de pessoas com doenças infecciosas e transmissíveis.

 

Resultados

Os resultados serão apresentados em três etapas a saber: a construção do instrumento, o manuseio e a apreciação do uso.

A construção do instrumento de localização do(s) sítio(s) de inserção de dispositivo(s) endovenoso(s)- O instrumento foi confeccionado em lauda de papel formato A4, no módulo de paisagem, conforme apresentado na Figura 1.

O manuseio da ficha de localização dos sítios de inserção dos dispositivos e/ou das punções intravenosas - O ideal é que o acompanhamento dos locais de inserção de dispositivos vasculares disponíveis no instrumento, conforme apresentado na Figura 1, comece a ser usado no momento em que o cliente internado inicia o uso dos vasos para fins terapêuticos, diagnósticos ou para avaliações hemodinâmicas. Entretanto, caso ele não possa ser iniciado nesse momento, como, por exemplo, quando aplicado na coleta de dados de pesquisa, recomendamos que antes de registrarmos a primeira punção seja realizada uma observação minuciosa para identificação de possíveis evidências de lesões em locais previamente puncionados, visando evitar fatores de confusão (identificação de trauma vascular). Assim sendo, ao realizarmos os registros utilizamos códigos para designar cada dispositivos instalado de forma a permitir a identificação da seqüência de punções em todas as possibilidades da área corporal de uma pessoa e dentro de uma mesma estrutura corporal. O impresso destinado a permitir tais registros é composto de nove figuras, que mantêm a proporcionalidade com uma estrutura corporal humana e apresentam delineados os principais vasos sangüíneos. Conforme consta na Figura 2, as figuras identificadas pelos números 1 a 4 possuíam dois desenhos cada, sendo ambos referentes ao mesmo epsilateral (face anterior e face posterior). As figuras que possuem número ímpar referem-se ao lado direito e aquelas de número par, ao lado esquerdo. Para registrar a face anterior, usamos letras do alfabeto e, para registrar a face posterior, números arábicos, ambos seqüenciais ao(s) respectivo(s) número(s) de evento(s) de punção(ões) que ocorrem em cada participante. Na figura 1, registramos os dispositivos endovenosos que foram puncionados no braço ou na articulação do braço com o antebraço do dimítrio direito e, na figura 2, encontram-se as mesmas estruturas, porém do lado esquerdo; já na figura 3 e 4, registramos os dispositivos endovenosos que foram puncionados na articulação do braço com o antebraço, no antebraço, na articulação do punho, na mão e nos quirodáctilos, utilizando números para referirmo-nos à face posterior e letras para representarmos a face anterior.

As figuras 5 e 6 dizem respeito à face anterior da região inguinal, da coxa, joelho, perna, pé e pododáctilos e as figuras 7 e 8, às mesmas estruturas vistas pela face posterior (excetuando os quirodáctilos que, pela posição, não eram visualizados) e a figura 9 possibilitava a visualização do tronco e o início dos membros (face anterior do pescoço, região subclávia, tórax, abdome, região inguinal e início das coxas e dos MMSS). Embora algumas estruturas corporais não fossem recomendáveis para serem puncionadas, criamos um instrumento o mais amplo possível com vistas a abranger todas as possibilidades de localização das punções endovenosas. Utilizamos uma única folha para o acompanhamento diário das punções de uma mesma pessoa. Tal estratégia nos permitiu identificar com facilidade as alterações de sítios e/ou de dispositivos que haviam ocorrido de um dia para outro, sem que, para isso, houvesse necessidade de consultarmos os participantes. Cabe destacar que, embora, utilizando-nos desse artifício, continuamos a confirmar as informações sobre alterações de sítios e/ou dispositivos com aquelas pessoas que conseguiam expressar-se, verbalmente, com coerência. Em todas as figuras, realizamos registros, junto aos sítios de inserção dos dispositivos endovenosos, a respeito do tipo de dispositivo e do calibre, desde que eles fossem passíveis de identificação no momento das visitas diárias. As informações existentes sobre os adesivos tinham os seus conteúdos transcritos junto aos sítios a que se referiam.

Foram avaliados 1480 sítios endovenosos periféricos e centrais, registrados diariamente, durante 62 dias de acompanhamento por meio do instrumento referido. O uso efetivo do instrumento ocorreu por meio de registro manual com marcação puntiforme na estrutura corporal correspondente ao exato local em que um dispositivo venoso foi inserido, sendo realizada uma seta para a área externa ao desenho, onde registramos o tipo e calibre do dispositivo e a data de sua instalação. O instrumento foi manuseado por acadêmicos de medicina, de bioquímica e de enfermagem e por profissionais médicos (intensivista, radiologista, angiologista e cirurgião), bioquímicos e enfermeiros.

Apreciação da versão final do instrumento de localização dos sítios de inserção dos dispositivos venosos- O manuseio desse impresso, contendo os códigos criados, permitiu-nos resgatar informações instantaneamente e compilar informações distintas (como o dimítrio e a face da estrutura corporal; o tipo, o calibre e a data de instalação do dispositivo e a seqüência de utilização dos vasos por estrutura corporal ou no cômputo geral da área corporal). Assim sendo, referir-se ao sítio "4d" equivale a dizer que estávamos diante da quarta punção realizada na face anterior do lado direito, que está localizada em sentido terminal da articulação do braço com o antebraço.

Em pessoas que tiveram o uso dos vasos sangüíneos concentrados num determinado momento do período de internação ou que o uso foi de menor intensidade mais por um longo, o impresso mostrou-se capaz de armazenar todos os registros previstos. Outro fato que merece menção é a praticidade que gerou utilizamos estruturas corporais nas quais mantivemos a proporcionalidade da figura com o corpo humano. Esse procedimento permitiu-nos localizar com precisão anatômica os sítios de punção atuais e anteriores mesmo que eles fossem próximos além de possibilitar a rápida identificação das variações anatômicas. Todos os profissionais que o manusearam reafirmaram sua importância na permuta de informações entre categorias profissionais distintas e entre trabalhadores de uma mesma profissão.

 

Considerações finais

Independente do grau de dependência, da gravidade do cliente, da quantidade e periodicidade de infusões, punções e dispositivos instalados nas pessoas internadas, o instrumento criado por nós foi passível de comportar o registro da dinâmica de uso dos vasos sangüíneos e de ser manuseado pela equipe multiprofissional e interdisciplinar, quando os códigos usados eram previamente conhecidos.

 

Referências bibliográficas

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ARREGUY-SENA, C.; CARVALHO, E.C.de Risco para trauma vascular: detalhamento ou novo diagnóstico de enfermagem? In: Simpósio Internacional de classificação da prática de enfermagem em Saúde Coletiva e V Simpósio Nacional sobre diagnóstico de enfermagem;2000; Paraíba, João Pessoa 23 a 26 maio de 2000, Anais, João Pessoa, Associação Brasileira de Enfermagem ABEn; 2000, p.41.

MAKI, D.G.; RINGER, M. Risk factors foro infusion-related phlebitis with small peripheral venous catheters. Am. Col Physi v. 114, n.10, p.845-854, 1991.

PHILLIPS, L.D Manual de terapia intravenosa 2ª ed. Porto Alegre: Artmed. 2001, p.1-551.

POLIMENO, N.C.; HARA, M.H; APPEZZATO, L.F; FERNANDES, V.; CINTRA, LA.; HARA, C.A. incidência e caracterização da tromboflebite superficial (TFS) pós-venóclise em Hospital Universitário. JBM v 69, n.3, p.196-204, 1995.