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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Mudanças nas relações em sala de aula e sua influência na aprendizagem

 

Changes in classroom relations and their influence on learning

 

 

Eliana Mara RochaI; Maria Julia Paes da SilvaII

IProfessora Assistente do Departamento de Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu- UNESP Rua: Carlos Guadagnini, 1214 – Chácara dos Pinheiros- CEP: 18610-120 – Botucatu- SP. Email: elmara@fmb.unesp.br
IIProfessora Livre Docente do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica da Escola de Enfermagem da USP - São Paulo

 

 


RESUMO

Este estudo é uma reflexão sobre o ensino de enfermagem e a motivação que o aluno tem para o processo de ensino-aprendizagem, foi realizado com o objetivo de apreender os significados atribuídos à comunicação docente-discente no ensino de enfermagem e desenvolvido como um estudo transversal e de campo das interações entre docente e alunos em sala de aula. Os resultados do estudo mostraram aspectos facilitadores como dinâmica da aula, boa comunicação professor-aluno e um conteúdo relevante e aspectos dificultadores como o tempo reduzido para a matéria, inibição de alguns alunos e a falta de interesse pelo tema. Os sujeitos pesquisados apresentaram, ainda, propostas de mudanças que julgavam importantes nas relações em sala de aula, quais foram diversificação/ inovação de métodos de ensino, saber ouvir, diálogo e aproveitamento do tempo. Estas considerações nos levam também a refletir sobre os currículos de graduação em enfermagem e o quanto estamos presos a grades curriculares, sem repensar ou organizar nosso tempo de forma realmente produtiva e que as diferenças individuais devem ser reconhecidas e respeitadas em sala de aula, pois estimulam a construção do conhecimento.

Palavras-chave: ensino de enfermagem, aprendizagem, comunicação em enfermagem


ABSTRACT

This study reflects on nursing teaching and student motivation for the teaching-learning process. It aimed to understand the meanings attributed to teacher-student communication in nursing teaching and was developed as a transversal field study of teacher-student classroom interaction. Study results revealed facilitating aspects such as class dynamics, good teacher-student communication and relevant contents, as well as complicating aspects, including short time available for the subject, some students’ inhibition and lack of interest in the issue. The study subjects also presented proposals for changes in classroom relations they judged necessary, which were: diversified/innovative teaching methods, knowing how to listen, dialogue and good use of time. These considerations also make us reflect about the undergraduate nursing curricula and how stuck we are to curricular plans, without reconsidering or organizing our time so as to be really productive, as well as the importance of recognizing and respecting individual differences in the classroom, since they stimulate knowledge construction.

Key words: nursing teaching, learning, nursing communication


 

 

Introdução

Os comportamentos comunicativos adotados pelos educadores podem motivar os alunos no processo ensino-aprendizagem?

Atualmente, como docente de enfermagem, acreditamos que cada professor é único em sua forma de montar estratégias de ensino que terão influência positiva ou negativa na apreensão de conhecimento pelo aluno em sala de aula.

Pettengill et al (1998), ao refletirem sobre as tendências pedagógicas do professor e enfermagem, dizem que não existe um professor que se mantenha sob orientação de uma única tendência. Em geral há uma mistura de várias tendências pedagógicas em um único professor, quase sempre baseado em suas crenças e valores. Cabe ao professor utilizar todos os recursos disponíveis para facilitar o aprendizado, fazendo com que seus alunos reflitam criticamente e construam seu próprio saber. E como este professor ensina para uma maioria de jovens, alguns ainda adolescentes, seu trabalho não pode ser rotineiro, nem de repassar conteúdo e sim estar capacitado para o ensino.

Merighi (1998), ao discutir sobre a docência de enfermagem em uma universidade pública, fala do acúmulo de atividades burocrático-administrativas exercidas pelos docentes, além da participação em inúmeras reuniões.

Estas abordagens nos levam a questionar o que poderia motivar o aluno a iniciar o processo de aprendizagem e nele prosseguir, sabendo-se que a motivação é uma condição interna do indivíduo.

As afirmações de Gagné (1974) sobre esta questão nos dizem que o professor usa seu conhecimento para tomar decisões adequadas a respeito das realizações para as quais o estudante está motivado, fornecendo, então, uma orientação conveniente às prováveis aprendizagens que lhe possam ser úteis no futuro. Neste sentido, o professor é a maior fonte de estimulação para o aluno aprender.

Acreditamos que o professor deva ser um comunicador que desperte o interesse dos alunos e considere os aspectos psicológicos envolvidos no processo de aprendizagem. O educador não deve deter-se apenas em codificar sua mensagem, como comumente se faz, mas torná-la decodificável para o aluno. A preocupação do professor com a reação dos alunos é importante, o comunicador precisa ter a capacidade de perceber a reação do outro e ser uma pessoa sensível nas relações humanas (BEZERRA,1996).

A tarefa de comunicar é mais fácil e efetiva quando o professor conhece bem os seus alunos, pois isto significa que conhece seus repertórios comunicativos, suas idéias, experiências, signos e está interessado em ajudá-los a modificar e aumentar estes repertórios. Assim, a emissão, transmissão e recepção de informação é apenas uma das funções da comunicação entre professor e alunos. Da boa comunicação dependem não só a aprendizagem, mas também o respeito mútuo, a cooperação e a criatividade (BORDENAVE; PEREIRA, 1995).

Segundo Bezerra (1996), a comunicação possui três elementos: algo que conhecemos, que sentimos e que vivenciamos. A mensagem deve ser um conteúdo bem estruturado na compreensão do professor, ligado às emoções e vivenciado, isto é, deve fazer parte do cotidiano.

Masetto e Abreu (1990), quando falam do professor universitário em sala de aula, afirmam que a aula é um encontro, repetido durante espaços de tempo predeterminados e, nesse encontro, seres vivos, seres humanos, confinados dentro dos limites da classe, se defrontam, se comunicam e se influenciam mutuamente. A razão central desse encontro é a aprendizagem do aluno, que é influenciada pelo modo de agir do professor, em sala de aula, mais do que suas características de personalidade.

Alves (1995) discute sobre o que poderíamos ser se não tivéssemos sido domesticados, citando os educadores como controlados por instituições, onde a educação tem a ver com classes e/ou grandes unidades estruturais que funcionam como se fossem coisas, regidas por leis e totalmente independentes dos sujeitos envolvidos, chegando a uma posição paradoxal em que, para se conhecer o mundo humano, é necessário silenciar os homens.

Os estudos até aqui realizados nos fazem perceber que a relação professor-aluno deve ser considerada como ponto chave num processo em que percebemos pessoas distintas, com experiências distintas, sendo aproximadas com o objetivo de troca de conhecimentos, em ambiente e momentos específicos.

Diante dos pressupostos expostos anteriormente, temos como objetivo neste estudo apreender os significados atribuídos à comunicação docente-discente no ensino de enfermagem em sala de aula.

 

Material e método

A pesquisa foi desenvolvida como um estudo transversal e de campo das interações entre docente e alunos em sala de aula.

O estudo foi desenvolvido no Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista-UNESP.

A população deste estudo foi constituída por um docente da Disciplina de Enfermagem Psiquiátrica do Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de Botucatu-UNESP e vinte alunos do quarto ano do mesmo curso.

Para o procedimentos de Coleta de Dados, inicialmente entramos em contato com os sujeitos envolvidos neste estudo para expor o objetivo da pesquisa e solicitar consentimento para a observação das interações professor-aluno em sala de aula. O consentimento livre e esclarecido para a participação neste estudo foi efetuado através de documento escrito de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, recebendo parecer favorável do Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP.

A coleta de dados foi realizada em sala de aula onde os autores da pesquisa acompanharam o processo, sem interrupções. Os sujeitos da pesquisa foram convidados a fazer propostas de mudanças que julgavam importantes nas relações em sala de aula, além de registrarem aspectos facilitadores e dificultadores da aprendizagem.

O tratamento dos dados foi realizado pela interpretação dos depoimentos, com base no método de análise de conteúdo.

Para Bardin (1977), análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores, quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. O método de análise de conteúdo é composto de três fases: pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Para que possamos atingir os significados, manifestos ou latentes, na pesquisa qualitativa, podemos utilizar várias técnicas de análise de conteúdo, dentre as quais, a análise temática (MINAYO,1994).

Nesta pesquisa, utilizamos categorias semânticas ou temáticas fornecidas após a leitura e agrupamentos progressivos dos elementos. O título de cada categoria só foi definido no final da operação, e estas serão descritas e discutidas a seguir.

 

Apresentação e análise dos dados

Apresentaremos os dados a partir da questão formulada aos sujeitos da pesquisa, sendo considerados sujeitos da pesquisa o professor e os alunos. Neste estudo nos detivemos nas "propostas de mudanças que os sujeitos julgaram importantes para as relações em sala de aula". Destas propostas emergiram as seguintes categorias:

1 - DIVERSIFICAÇÃO/ INOVAÇÃO DE MÉTODOS DE ENSINO 

2 - SABER OUVIR 

3 - DIÁLOGO 

4 - APROVEITAMENTO DO TEMPO

 

1 - DIVERSIFICAÇÃO/ INOVAÇÃO DE MÉTODOS DE ENSINO

O professor que decide modificar ou diversificar seus métodos de ensino está, provavelmente, também preocupado com o "feedback" dos seus alunos, e quer manter-se atualizado promovendo mudanças. Quer tornar-se um ser humano integrado com a realidade do cotidiano em que vive. Pode-se dizer que respeita seus alunos e deseja alcançar o diálogo e a participação nas inovações pretendidas.

Para Ferreira (1986), inovar é tornar novo, renovar, introduzir novidade.

As propostas de inovação apareceram nas seguintes falas:

Professor:

- proporcionar leituras e experiências prévias sobre o tema, ,estimular e solicitar maior participação no início da aula, dando oportunidade para que os próprios alunos construam seu conhecimento.

Alunos:

- maior utilização de métodos nos quais as interações estão mais presentes, aulas deveriam ser dadas de modos diferentes, aulas menos convencionais, aulas interativas e envolventes, fugir de aulas cansativas.

Bordenave e Pereira (1995) se referem ao professor inovador como uma pessoa que compreende o valor e a necessidade de inovação e que este professor certamente encontrará resistência de seus colegas, nem sempre tão entusiasmados com mudanças. Estes autores citam alguns exemplos de resistências que podem perturbar este professor reformista, como: falta de reconhecimento geral da necessidade de inovação, complexidade da inovação, deficiências institucionais, tradicionalismo versus modernização, falta de participação dos outros professores, principalmente quando as inovações são verticais, obrigatórias e o temor que alguns professores têm de perder poder e prestígio.

 

2 - SABER OUVIR

É perceber, atender, considerar. Entender pelo sentido da audição (FERREIRA, 1986).

O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros (FREIRE, 1998).

Os alunos se posicionaram nas seguintes falas:

Alunos

- saber ouvir, respeito pela opinião dos outros, escutar a opinião dos alunos.

Podemos entender as referências dos alunos para "saber ouvir" como respeito ao aluno e suas opiniões.

Masetto (1991) diz que a sala de aula deve ser um espaço de convivência, de realidade e que este espaço permita e estimule a presença, a discussão, o estudo, a pesquisa, o debate e o enfrentamento de tudo o que constitui o ser, a existência, as evoluções, as transformações, o dinamismo e a força do mundo, do homem, dos grupos humanos, da sociedade humana, existindo numa realidade localizada geográfica e temporalmente, participando de um processo histórico em movimento. Silva (1996) lembra que para saber ouvir precisamos ficar em silêncio, demonstrar interesse e, principalmente, aprender a controlar nossos sentimentos e preconceitos.

Freire (1998) diz que "ensinar exige saber escutar". Acrescenta que, se o sonho que nos anima é ser democrático e solidário, não é falando aos outros de cima para baixo que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles.

 

3 - DIÁLOGO

Diálogo é a fala entre duas pessoas, conversação, troca ou discussão de idéias, de opiniões, de conceitos, com vista a solução de problemas, ao entendimento ou à harmonia (FERREIRA, 1986).

Os alunos pesquisados manifestaram-se, sugerindo:

Alunos

- deveriam ter mais aulas de debates, aulas interativas e envolventes que estimulem a participação dos alunos, fornecer subsídios para a participação do grupo, aulas que estimulam a participação melhoram as relações em sala de aula., aulas mais participativas.

Se, há algum tempo a habilidade oratória, a pomposidade no uso dos termos e a distância respeitosa entre professor e alunos constituíam símbolo de status, hoje, isso tudo foi substituído por outras qualidades, tais como a capacidade de pesquisa, o diálogo mais íntimo com os alunos e o trabalho em equipe. É claro que professores tradicionais resistirão aos métodos que afetem seu status e lhe acarretem insegurança (BORDENAVE; PEREIRA, 1995).

Participar é informar, anunciar, comunicar...(FERREIRA, 1986).

A comunicação interpessoal ocorre no contexto da interação face a face. Neste processo estão as tentativas de compreender o outro e de se fazer compreendido. Ainda nesta interação está a percepção da pessoa, a possibilidade de conflitos e de persuasão que poderia levar a mudanças de valores e comportamentos (SILVA, 1996).

O diálogo com características autênticas exige que cada pessoa exercite a liberdade, liberdade esta entendida como o sentimento de autodeterminação para pensar, sentir, querer e agir. Ao exercer a liberdade, temos a possibilidade de reformular nossas escolhas, discuti-las e fazer novas escolhas. A liberdade para relacionarmo-nos com outras pessoas exige perspicácia, disciplina e sensibilidade (LIMA, 1998).

Outra condição inerente ao diálogo autêntico, além da competência técnica e comportamental, é a capacidade de se expressar sem separar o saber do entender, a ação do pensamento e a concepção da execução (LIMA, 1998).

O diálogo utilizado nas relações é uma busca de conscientização. Consciência como geradora de lucidez, em termos de capacidade de percepção do eu e do outro, do tempo e do espaço, da orientação em relação ao mundo interno e externo. Consciência como a busca da liberdade, mas, principalmente, como geradora de revolta, de não conformidade, de ação (SAUPE, 1998).

 

4 - APROVEITAMENTO DO TEMPO

Os alunos participantes da pesquisa manifestaram-se, propondo:

Alunos: aulas mais curtas, porém com conteúdo.

Quando nos reportamos ao aproveitamento do tempo, citado pelos alunos, encontramos o estudo de Saupe (1994) sobre o cotidiano de ensinar e aprender enfermagem, onde a autora relata uma estranha falta de lógica entre as queixas relativas ao curto período de tempo disponível e a freqüência com que muitos professores de enfermagem desviam este tempo para atividades também desviantes do objetivo da disciplina. Esta autora diz que quando a aula ocupa toda a manhã ou tarde com o mesmo professor, a segunda parte do período é desenvolvida com auxílio de textos, que devem ser lidos, discutidos, resumidos...Quando o conteúdo possibilita, faz exercícios ou treinamento com os alunos. Raramente faz ou pede uma síntese do assunto ao término da aula, mas indica a bibliografia a ser consultada para a complementação do tema.

Uma distribuição coerente do tempo teve, e ainda tem, um papel decisivo na configuração das propostas metodológicas. Em geral, o tempo parece ser um fator intocável, já que os períodos de aula são pré-determinados.

Apesar de que não conhecermos nenhum estudo científico que conclua qual o melhor tempo para aprender, a distribuição horária em frações homogêneas exerce uma forte pressão sobre as possibilidades de atuação da aula. Muitas boas intenções podem fracassar se o tempo não for considerado como uma autêntica variável nas mãos dos professores, para utilizá-la conforme as necessidades educacionais que se apresentem em cada momento. É importante que exista uma certa variedade de conteúdos durante o dia. A estruturação horária com períodos rígidos é, fundamentalmente, de uma escola transmissora. Sabe-se da grande importância que têm os debates, os trabalhos em grupo, as atividades de motivação, a continuidade e o encadeamento de muitas atividades de seqüência didáticas, as necessidades de estabelecer o máximo de relações entre umas atividades e outras e como o ritmo se rompe justamente quando havíamos conseguido uma boa participação. Existem certas tarefas que podem ser executadas em quinze minutos e conteúdos que podem ser maçantes se trabalharmos durante um espaço de tempo mais prolongado (ZABALA, 1998).

Estas considerações nos levam a refletir sobre os currículos de graduação em enfermagem e o quanto nós professores estamos presos a grades curriculares, sem repensar ou organizar nosso tempo de forma realmente produtiva, para facilitar os caminhos do processo de ensino-aprendizagem.

 

Conclusões e considerações finais

A partir do objetivo proposto, de apreender os significados atribuídos à comunicação docente-discente no ensino de enfermagem em sala de aula, podemos afirmar que existem comportamentos comunicativos verbais e não-verbais que podem motivar o aluno a aprender.

Os sujeitos pesquisados manifestaram-se dizendo que os fatores facilitadores da interação em sala de aula foram a dinâmica utilizada em aula, a boa comunicação professor-aluno e o conteúdo relevante. Quando questionados sobre as dificuldades para aprender, citaram o pouco tempo disponível para a aula, a inibição de alguns alunos e a falta de interesse pelo tema, o que nos leva a concluir que a capacidade de motivação que o professor tenha, além da capacidade de síntese, são muito importantes em sala de aula.

Neste estudo, professor e alunos sugeriram mudanças nas interações em sala de aula, propondo uma diversificação dos métodos de ensino através de aulas inovadoras que permitam aos mesmos serem mais ouvidos, terem oportunidade de participação e diálogo, além do bom aproveitamento do tempo destinado a aula.

Hartrick (1999) afirma que, mesmo com as grandes mudanças curriculares de enfermagem na década passada, o ensino da comunicação tem muitas limitações, merecendo um maior investimento, pois somente um significativo investimento na área de comunicação pode responder, ir ao encontro e transformar a prática do complicado processo das relações humanas.

Concordamos com Pereira (1999) quando afirma que a compreensão do ser humano é ponto fundamental para o desenvolvimento pessoal e profissional. Deve ser realizado por intermédio de um processo educativo, que tenha vivência e interesse, onde o ser humano seja reconhecido como um ser de desejo, que vê sua existência reconhecida nas relações que mantém com o outro.

Encontramos, neste estudo, resultados que nos fazem acreditar que a sala de aula deve ser um lugar de demonstração de emoção, descontração, afetividade e respeito; que a inovação de métodos de ensino e a pesquisa melhoram a dinâmica da sala de aula; que os espaços físicos onde ocorrem as relações de aprendizagem devem ser locais sujeitos à crítica e que respeitem professores e alunos; que as diferenças individuais devem ser reconhecidas, respeitadas e valorizadas, pois estimulam a construção do conhecimento e, finalmente, que o processo ensino-aprendizagem acontece quando o meio educacional é composto por respeito, diálogo coerente e seriedade de intenções.

Como professora de enfermagem, sei da capacidade que nós enfermeiros e professores temos de encontrar estes caminhos de aprender, ensinar, construir e re-construir. É só querer...

 

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BORDENAVE, J. D. ; PEREIRA, A.M. Estratégias de ensino-aprendizagem. 15.ed. Petrópolis, Vozes, 1995.

FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2.ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1986.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 7.ed. São Paulo, Paz e Terra, 1998.

GAGNÉ, R. M. Como se realiza a aprendizagem. Rio de Janeiro, Livros Técnicos e Científicos, 1974.

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