8, v.2Gerenciamento em enfermagem: espaço para a implantação de rotinas informatizadasAcolhimento: fator diferencial no cuidado pré-natal índice de autoresíndice de assuntospesquisa de trabalhos
Home Pagelista alfabética de eventos  





An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. Maio. 2002

 

O jogo educativo como recurso para prevenção do câncer de colo do útero

 

Educational game as a cervical cancer prevention resource

 

 

Maria Alice TsunechiroI; Isabel Cristina BonadioI; Ana Paula Fracarolli GarciaII; Alfredo Almeida Pina de OliveiraII

IEnfermeira Obstétrica. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 419- São Paulo-SP Cep 05409-000
IIEstudante de Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. Bolsista COSEAS

 

 


RESUMO

O controle do câncer do colo do útero continua sendo o rastreamento por meio do exame preventivo conhecido popularmente como exame do Papanicolaou. A assistência pré-natal constitui importante oportunidade para as mulheres em relação à prevenção do câncer do colo do útero. São objetivos deste estudo: descrever a experiência do aluno de enfermagem na utilização de um jogo educativo sobre prevenção do câncer do colo do útero e verificar a sua aplicabilidade em um grupo de gestantes. Trata-se de estudo descritivo realizado em ambulatório de pré-natal de uma maternidade de São Paulo. O jogo consiste em um conjunto de 30 cartas com mensagens sobre saúde ginecológica, citologia oncológica e fatores de risco para câncer de colo do útero e foi aplicado por alunos de enfermagem. Os comentários e questões relativos aos três temas mostraram a desinformação das mulheres quanto aos aspectos importantes na prevenção do câncer ginecológico e a utilização do jogo como uma estratégia que mobiliza e estimula a participação, proporcionando a troca de experiências entre gestantes e alunos envolvidos na dinâmica. Evidenciou, também, a necessidade de adequar a época da gestação na abordagem do tema, revisão da linguagem contida nas mensagens e da seqüência das cartas.

Palavras-chave: jogo educativo, orientação em grupo, câncer do colo uterino


ABSTRACT

The control of cervical cancer is the screening Pap smear. Prenatal care is an important opportunity for women to prevent cervical cancer. This study aimed to: describe undergraduate nursing students’ experience in using an educational game about cervical cancer prevention and verify its applicability in a group of pregnant women. It is a descriptive research carried out in a prenatal clinic at a maternity hospital in São Paulo, Brazil. The educational game consists of a collection of 30 cards with messages about gynecological health, Pap smear and risk factors for cervical cancer and was applied by nursing students. The comments and issues related to these 3 themes showed the women’s disinformation about important aspects in gynecological cancer prevention and the use of the game as a strategy that mobilizes and stimulates participation and results in an exchange of experiences between the pregnant women and student involved in the dynamics. The game also manifested the need to adapt the game to the pregnancy period and review the language of the messages and cards.

Key words: educational game, group orientation, cervical cancer


 

 

INTRODUÇÃO

O câncer de colo do útero constitui a neoplasia ginecológica cuja faixa etária de acometimento mais se aproxima do período reprodutivo feminino e cerca de 3% são diagnosticadas na gravidez (VAN DER VANGE et al. 1995). Assim, as consultas de pré-natal constituem-se em excelentes oportunidades para detecção precoce do carcinoma cervical em seu estágio pré-invasivo (ROUCOURT; PIATO, 1997).

A Organização Mundial da Saúde recomenda que toda mulher com vida sexual ativa deve submeter-se a exame preventivo periódico, dos 20 aos 60 anos de idade. O exame preventivo do câncer do colo uterino, conhecido popularmente como exame de Papanicolaou, pode ser realizado por qualquer profissional da saúde treinado adequadamente, em qualquer local, sem a necessidade de uma infra-estrutura sofisticada. Deve ser obrigatória como um dos exames de rotina da assistência pré-natal (BRASIL 2000, 2001).

Como integrantes do Projeto "Cuidando e Aprendendo com Gestantes" (TSUNECHIRO; BONADIO, 1999) desenvolvido em uma instituição filantrópica, temos a oportunidade de realizar atividades de assistência à saúde da gestante. Parte dessas atividades incluem consultas de pré-natal voltada também para a prevenção e detecção precoce do câncer do colo uterino. Nessas ocasiões observamos mulheres que nunca passaram por consulta ginecológica preventiva e muitas com queixa de corrimento vaginal. O corrimento vaginal pode indicar processo inflamatório ou infeccioso precursor de afecções ginecológicas como o câncer uterino. Além disso, observamos que um contingente considerável das gestantes desconhece a finalidade do exame, mesmo aquelas que já realizaram como apontados por Merighi et al. (1997) e Tocci (1998) que observaram cerca de 60% de mulheres que não tem conhecimento a respeito do exame preventivo.

Assim, é válido considerar que a prevenção do câncer ginecológico não depende apenas de aspectos técnicos e operacionais, mas da educação, da informação. É essencial para prover cuidados de saúde, que significa não somente o cuidar de outras pessoas ou grupos, mas ajudar as pessoas a utilizarem suas próprias habilidades para encontrar soluções para seus problemas. E, na assistência de enfermagem, desde o primeiro contato com o cliente ou paciente, quando se busca conhecer as suas necessidades, até a implementação do plano de cuidados e avaliação, a comunicação é a ferramenta que permite compartilhar com a pessoa seus pensamentos, crenças e valores (STEFANELLI, 1993).

Vinculado ao Projeto "Cuidando e Aprendendo com Gestantes", alunos-bolsistas de graduação e de pós-graduação em enfermagem desenvolvem atividades no sub-projeto "Educação em saúde no âmbito do processo reprodutivo". Como parte das ações educativas foi elaborado um jogo educativo sobre prevenção e detecção precoce do câncer de colo uterino (TSUNECHIRO et al., 2001). A idéia é aproveitar a oportunidade para informar e aconselhar as mulheres sobre outros aspectos relativos ao cuidado da própria saúde, uma vez que a maioria delas só recorrem aos serviços de saúde quando engravidam. Nesse sentido, a assistência pré-natal ao planejar e desenvolver atividades de prevenção, promoção da saúde e tratamento dos problemas que ocorrem durante o período gestacional e após o parto, constitui um momento privilegiado para a mulher, não só para a vigilância da evolução da gestação, preparação para o parto e cuidado com a criança, mas também, para o cuidado de sua própria saúde.

A utilização do jogo educativo foi pensada como uma estratégia que estimula e desperta as pessoas para discutirem ou, pelo menos, ouvirem as informações que são veiculadas, além de oferecer oportunidade a cada membro de aprender com o outro; promove interação e envolvimento entre os participantes, estimula interesse em um determinado tópico e provê elementos para mudança de atitude (STEFANELLI, 1991). Na área de enfermagem há várias experiências de utilização de jogo educativo como as de Silva e Stefanelli (1994), Leite et al. (1998), Fonseca et al. (2000) entre outras.

 

OBJETIVOS

Descrever a experiência do aluno de enfermagem no desenvolvimento e utilização de um jogo educativo sobre prevenção e detecção precoce de câncer de colo do útero.

Verificar a aplicabilidade de um jogo educativo sobre prevenção do câncer do colo do útero em um grupo de gestantes.

 

MATERIAL E MÉTODO

Material: Trata-se do jogo educativo "Prevenção do Câncer do colo do útero" elaborado com base na estratégia educativa desenvolvida por Stefanelli (1993) e que consiste em conjunto de cartas contendo mensagens afirmativas sobre três aspectos: saúde ginecológica, citologia oncológica e fatores de risco para câncer de colo uterino. As mensagens foram apreciadas por docentes de enfermagem da área de saúde da mulher, as quais avaliaram a compreensão da linguagem e abrangência das mesmas.

Foram confeccionadas 30 cartas em três diferentes cores, cada uma representando um dos três tópicos abordados. A diferenciação das cartas por cores é útil para que a facilitadora possa manter uma seqüência lógica dos assuntos discutidos. As mensagens foram distribuídas como segue:

Cartas cor Verde: 1. O tratamento para o corrimento vaginal deve ser feito tanto pela mulher quanto por seu parceiro; 2. O corrimento vaginal infeccioso é amarelado ou esverdeado e com cheiro desagradável; 3. Na gravidez, a defesa do organismo da mulher está diferente, facilitando a ocorrência de infecções; 4. A vagina tem microorganismos que nela vivem sem provocar doenças; 5. O corrimento vaginal normal é transparente, tipo clara de ovo, aumentado no meio do ciclo menstrual; 6. O corrimento vaginal é o sintoma mais comum de infecção vaginal; 7. O corrimento vaginal pode representar um grave problema para a saúde da mulher; 8. O corrimento vaginal pode estar acompanhado de coceira, ardor, dor ao urinar e maior sensibilidade da região genital.

Cartas cor Rosa: 9. As mulheres qu não tem vida sexual também devem realizar o exame de Papanicolaou; 10. É recomendável evitar relação sexual e duchas vaginais antes da realização do exame de Papanicolaou; 11. Algumas mulheres têm medo ou vergonha de fazer o exame preventivo de Papanicolaou; 12. No exame de Papanicolaou se observa a vagina para ver se tem sinais de infecção ou outro problema; 13. O exame de Papanicolaou deve ser feito uma vez por ano; 14. O exame de Papanicolaou serve também para identificar os microorganismos que causam infecção na vagina; 15. Para o exame de Papanicolaou é introduzido na vagina uma peça de plástico ou de metal para visualizar o colo do útero; 16. Para realizar o Papanicolaou gasta-se apenas alguns minutos; 17. Depois de dois resultados negativos, de dois anos consecutivos, o exame de Papanicolaou poderá ser feito a cada três anos; 18. O exame de Papanicolaou pode ser realizado durante a gravidez; 19. A maioria dos resultados de exames de Papanicolaou é normal; 20. O exame de Papanicolaou ou citologia oncológica é a forma mais fácil de se descobrir precocemente o câncer de colo do útero; 21. Para o exame de Papanicolaou é coletado material do colo do útero e da parede da vagina com uma espátula; 22. Todas as mulheres que têm vida sexual devem realizar o exame de Papanicolaou.

Cartas cor Azul: 23. Mulheres que iniciam atividade sexual muito cedo têm maior risco de adquirir câncer do colo do útero; 24. Muitas alterações do colo do útero não são sinais de câncer; 25. O câncer do colo do útero pode se espalhar para outras partes do corpo; 26. Se o câncer for descoberto mais cedo é mais fácil curar; 27. O câncer do colo do útero pode ser evitado; 28. Muitas mulheres morrem de câncer do colo do útero; 29. A mulher pode ter câncer do colo do útero e não saber; 30. Mulheres que têm maior número de parceiros sexuais têm maior risco de adquirir câncer do colo do útero.

Regras do jogo: Joga-se em grupo, com as gestantes dispostas em círculo, de modo que facilite a realização do jogo, preferencialmente em local livre de interrupções e interferências de ruídos. As cartas são distribuídas eqüitativa e aleatoriamente tendo, o jogo, duração aproximada de uma hora. Antes da distribuição das cartas, utiliza-se a estratégia do "cochicho", na qual as participantes, em duplas, trocam informações pessoais entre si, que serão verbalizadas posteriormente, quando uma gestante apresenta a outra para o restante do grupo, fazendo com que exista uma maior interação entre as mesmas desde o início, para que fiquem mais à vontade quando forem verbalizar sobre as mensagens das cartas. A facilitadora do jogo solicita, de acordo com a seqüência de cores específicas das cartas, que uma das participantes leia e comente a mensagem. Todas as participantes são também incentivadas a comentar cada mensagem lida. Assim, o jogo prossegue até que sejam esgotadas as cartas ou o tempo estabelecido para o jogo, sendo que este pode ser estendido de acordo com a necessidade e desejo do grupo. Os últimos dez minutos geralmente são reservados para abordar temas ainda não discutidos ou explicar dúvidas remanescentes.

 

Método

Local e população: o estudo foi realizado no ambulatório de pré-natal de uma instituição filantrópica da cidade de São Paulo. Foram realizados três grupos com a participação de 25 gestantes, um marido e uma acompanhante (mãe). A idade das gestantes variou de 15 a 37 anos, a maioria adolescente; quanto ao número de gestações, a maioria era primigesta e até mulheres com 12 gestações; duas não sabiam ler.

Procedimentos: As gestantes e seus companheiros e ou acompanhantes que compareceram para consulta de pré-natal foram convidadas a participar do estudo sendo reunidas em grupo de no máximo 12 participantes. Antes da aplicação do jogo, foi feita uma explicação pela facilitadora (aluna) sobre a finalidade da atividade educativa e o assunto a ser tratado, descrevendo o jogo e suas regras, esclarecendo que o objetivo não era competição e que não haveria ganhadores e que todos teriam oportunidade de expressão, reflexão e aprendizagem sobre o tema. A facilitadora colocou-se à disposição dos participantes analfabetos ou dos que tiveram dificuldade para leitura. Antes do início do jogo propriamente dito os participantes assinaram o Termo de Consentimento Esclarecido. As sessões foram gravadas com a finalidade de registrar as falas das participantes. A coordenação do jogo foi feita por um dos autores do presente estudo e na primeira reunião a observadora foi uma das docentes e nas outras duas foi um dos alunos. Foram feitos registros escritos das expressões verbais e não verbais dos participantes durante o jogo para complementar os dados gravados.

Análise dos Dados: Ao término do jogo de cada grupo o conteúdo da gravação foi transcrito e elaborado o relatório acrescentando-se o que foi observado. A análise das manifestações verbais dos participantes durante o jogo e das notas de observação dos grupos foram feitas em conjunto, pois não houve divergências.

 

Resultados E COMENTÁRIOS

Percebemos que, de modo geral, as participantes mostraram-se tímidas ou constrangidas no início e no decorrer do jogo tornaram-se espontâneas e acompanharam as discussões com atenção, interesse e bastante receptivas às informações dadas pela facilitadora. Cabe mencionar que, no terceiro grupo, a receptividade foi regular em algumas gestantes, houve desinteresse e dispersão com muitas questões não relativas ao tema do jogo; é possível considerar que por tratar-se de gestantes com idade gestacional próxima da data do parto, o foco de maior preocupação encontra-se nos sinais e sintomas do trabalho de parto e no parto propriamente dito. Notamos que a seqüência de tópicos adotada no jogo e a semelhança das mensagens de algumas cartas quebrou o ritmo da discussão.

Dentre os três assuntos que compõem o jogo "Prevenção do câncer de colo uterino" o que suscitou mais comentários e questionamentos foi a saúde ginecológica, especialmente quanto ao corrimento vaginal com questões como: "A mulher grávida pode tratar as infecções na vagina?"; "... infecção na vagina pode passar para o bebê?"; "O bebê é afetado pelo corrimento da mulher ... se tiver e não tratar pode dar problema para o bebê?"; "Essa infecção a gente pega do parceiro?"; "Peguei infecção do meu marido, ele saía com muitas mulheres ...", "Minha amiga pegou do parceiro, cuidado com os parceiros as gravidinhas aí"; "Infecção de garganta, pneumonia também dá por sexo, dá corrimento?"; "O médico mandou parar de usar calça jeans para diminuir o corrimento ..."; "É verdade que não é bom ir à praia ou piscina?"; "... ducha vaginal? Então não pode tomar banho?"; "É incômodo também o homem fazer o tratamento com pomada ..."; "A mulher pode fazer banho de assento e o homem, para ele isto não serve?"; "O corrimento branco, grosso não é o normal?"; "Esse bichinho atrapalha quando eu for ter o bebê?; "Sabonete mata esses bichinhos?"; "Quando não trata essa infecção ela pode virar sífilis?"; "Não pode colocar só até o meio, tem que colocar o tubo todo? Mas, não dói?"; "Quanto tempo tem que usar?"; "Para fazer o tratamento tem que raspar o cabelo?"; "Para saber se o bichinho ainda está vivo ou morreu, como faz?"; "Essa coceira que a gente sente na vagina pode passar para o ânus?".

Quanto a citologia oncológica os questionamentos e comentários foram os seguintes: "Mulheres que não tem vida sexual também precisam fazer o Papanicolaou?"; "Vou fazer todo ano"; "Usa a mesma espátula para as duas coletas?"; "Especulo de metal é reutilizado?"; "Deixa eu ver qual usa para colher de virgem?"; "Quando eu fiz planejamento familiar não me falaram nada sobre este exame"; "Mas pelo Papa dá para ver se tem sífilis, né?"; "O que você colhe é água?"; "Alguns médicos falam que deve colher todo ano, mas a minha mãe colhe de seis em seis meses. Quando ela tinha 37 anos ela entrou na menopausa".

Merece destaque os relatos da experiência das gestantes na coleta de exame para citologia oncológica: "Não fiz o exame porque o médico era estúpido e eu não fiz"; "Tenho vergonha com médico, com mulher é melhor, a médica mulher abre mais, é de mulher para mulher"; "Vergonha, dor"; "Trauma do primeiro, machucou ..."; "Colhi quando grávida, foi um pouco incômodo e quando cheguei em casa tinha sangrado um pouco e eu voltei correndo preocupada"; "Do médico foi dolorido, da médica e da enfermeira foi incômodo mas não doeu"; "Eu tinha medo de fazer o Papa ...."; "Dá vergonha, não medo, é vergonha mesmo!"; "... mas dói, o meu doeu"; "O professor aqui me deixou à vontade ..."; "Vieram dois porque eu não estava deixando colher, mas acho que doeu porque eu fiz força"; "Ela falou que doeu porque o bichinho já estava lá".

A respeito do câncer de colo uterino e os fatores de risco foram feitos os seguintes comentários: "O câncer na gravidez passa para o nenê?"; "Como a mulher vai saber se está com câncer?"; "O que é câncer do colo do útero?"; "Quando tem câncer do colo do útero os sintomas são iguais do câncer de mama?"; "Hoje está muito difícil curar câncer né?"; "No nosso corpo tem câncer de tudo ... tem no braço também?"

As manifestações das gestantes nos grupos refletem o relacionamento estabelecido durante a atividade levando-nos a lembrar Stefanelli (1993) de que a utilização da própria experiência numa discussão em grupo e a soma de conhecimentos estimulam o sentimento da pessoa de que é aceita reforçando sua identidade, fazendo com que experimente sentimento de aprovação e prestígio.

Para Silva (1996), na comunicação como ato criativo existe uma troca entre as pessoas permitindo a interação e a reação, que é um processo recíproco que pode mudar a forma de sentir, pensar e atuar dos envolvidos como observa-se na seguinte fala em relação a realização do exame citopatológico: "Vou fazer todo ano .... para a minha saúde".

De maneira geral, os comentários e questões relativos à saúde ginecológica, citologia oncológica e câncer de colo uterino e seus fatores de risco que surgiram nos grupos mostram a desinformação das mulheres quanto a aspectos importantes na prevenção do câncer ginecológico e, também, da utilização do jogo educativo como estratégia que mobiliza e estimula a participação. Stefanelli (1991) considera, ainda, que o jogo educativo além de oferecer a oportunidade a cada membro de aprender com o outro promove a interação e envolvimento entre os participantes, estimulando interesse em um determinado tópico e provendo elementos para mudança de atitude.

Na avaliação verbal imediata da experiência vivenciada no jogo de cartas "Prevenção do câncer de colo uterino", as gestantes consideraram a atividade como boa, gratificante, esclarecedora e aberta a questões e dúvidas, conforme as falas seguintes: "O jogo foi muito bom, gratificante"; "Trabalho bonito"; "Trabalho gratificante e bonito, aberto às questões e dúvidas"; "Saímos mais informadas, sem dúvidas, esclarecidas". Uma delas enfatizou a importância de estar esclarecida pois iria ajudar a tia que tem câncer: "Esclareceu muita coisa que eu não sabia. Tenho uma tia com câncer de colo e vou poder esclarecer coisas para ela também".

Houve menção a atividade lúdica proporcionada pelo jogo, aliada ao espaço para conversar abertamente sobre o corpo e a sexualidade, demonstrando que a comunicação foi a ferramenta que permitiu compartilhar com as gestantes seus pensamentos, sentimentos tornando eficazes as ações que dependem da nossa capacidade de inter-relação para a educação em saúde. "Divertiu-se bastante, espaço para conversar abertamente sobre o corpo e a sexualidade". A eficácia da atividade também se evidencia nas falas que expressam o desejo de participar da atividade grupal discutindo outros assuntos e incluindo a presença do marido de todas elas: "Vai ter outra palestra desta sobre outro assunto? Eu gostei muito"; "O marido de todas deviam participar".

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo possibilitou uma maior compreensão dos conhecimentos e concepções que as gestantes possuem sobre o corpo feminino e as alterações pertinentes a saúde ginecológica, o procedimento do exame preventivo bem como seu papel na prevenção do câncer cérvico-uterino.

O jogo educativo é uma estratégia muito interessante para o trabalho do enfermeiro no desenvolvimento de ações educativas em saúde. Valer-se desse recurso para promover a discussão sobre o câncer do colo uterino é uma das possibilidades que o serviço de pré-natal possui para oferecer mais subsídios para as gestantes cuidarem de sua própria saúde e, até mesmo, assumirem o papel de multiplicadores desse conhecimento.

O espaço criado pelo jogo educativo permitiu trocas de experiências entre as gestantes e os próprios alunos envolvidos na dinâmica. A articulação entre os conhecimentos técnicos e científicos trazidos pelos alunos e as vivências e saberes das gestantes mostrou-se bastante interessante para desmistificar alguns mitos e tabus, além de validar alguns conhecimentos populares com aqueles de cunho científico. Para tanto, deve-se ressaltar a importância de deter conceitos contidos na área da saúde da mulher para responder às questões que surgem no decorrer da dinâmica em grupo e ou deixar claro a condição de graduando demonstrando a disponibilidade e o interesse com as dúvidas levantadas.

É importante salientar que o jogo educativo proporciona uma postura horizontal do facilitador, ou seja, os assuntos são debatidos de forma simples e objetiva, não impositiva e de modo a não sobrecarrega-las com informações. Oferece também um momento apropriado para a exposição de idéias e dúvidas que são trabalhadas dentro do contexto em que as gestantes se encontram inseridas.

Portanto, a utilização da estratégia do jogo educativo traz em seu bojo o grande potencial de transformação das ações educativas desenvolvidas no pré-natal e a capacitação do público atendido no que diz respeito às questões relevantes a sua própria saúde.

Porém, baseando-nos na análise dos dados e na experiência da aplicação do jogo chamamos a atenção para aspectos que devem ser melhor estudados para aprimorar o jogo e otimizar sua utilização no pré-natal:

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência pré-natal: manual técnico. 3.ed. Brasília, Secretaria de Políticas de Saúde, 2000.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do Câncer. Câncer do colo do útero. [on line] Disponível na Internet:<http://www.saude.gov.br/Programas/cancer/estrategias.html> .(18out.2001)

FONSECA, L.M.M. et al. Utilizando a criatividade na educação em saúde em alojamento conjunto neonatal: opinião de puérperas sobre o uso de um jogo educativo. Rev Bras Enferm, v.53, n.2, p. 301-10, 2000.

LEITE, A.M. et al. Jogo educativo na orientação grupal de puérperas em alojamento conjunto: uma estratégia de educação para a saúde. Texto & Contexto Enferm, v.7, n.3, p. 59-72, 1998.

MERIGHI, M.A.B. et al. Detecção precoce do câncer cérvico-uterino em uma unidade básica de saúde: uma estratégia de ensino. O Mundo da Saúde, São Paulo, v.21, n.5, p. 300-06, 1997.

ROUCOURT, S.; PIATO, S. Neoplasias genitais e gravidez. In: PIATO, S. Tratado de ginecologia. São Paulo, Artes Médicas, 1997. Cap.49, p.408-15.

SILVA, I.A.; STEFANELLI, M.C. Estimulando a reflexão sobre planejamento familiar: um método de educação para a saúde. Rev Paul Enferm, v.13, n.1/3, p.32-8, 1994.

SILVA, M.J.P. Comunicação tem remédio: a comunicação nas relações interpessoais em saúde. São Paulo, Gente, 1996

STEFANELLI, M.C. O uso do jogo educativo no ensino de enfermagem. Rev Esc Enf USP, v.25, n.3, p.347-61, 1991.

STEFANELLI, M.C. Comunicação com o paciente: teoria e ensino. São Paulo, Robe, 1993.

TOCCI, H.A. Caracterização e conhecimento de mulheres varredoras de rua sobre corrimento vaginal, colpocitologia oncológica e auto-exame de mama. São Paulo, 1998. Dissertação (Mestrado) – Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo.

TSUNECHIRO, M.A.; BONADIO, I.C. Saúde materna e perinatal: Projeto "Cuidando e Aprendendo com Gestantes". Rev Estudos Avançados, v.13 (Supl.), p.24-5, 1999.

TSUNECHIRO, M.A. et al. Aprender a prevenir câncer de colo uterino. In: CONGRESSO PAULISTA DE ENFERMAGEM PEDIÁTRICA, 3º, Campinas, 2001. Anais. Campinas, Unicamp, 2001 [CD ROM].

VAN DER VANGE, N. et al. The prognosis of cervical cancer associated with pregnancy: a matched cohrt study. Obstet Gynecol., v.85, n.6, p.1022-6, 1995.