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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Cortar, colar e discutir: a arte de construir significados para a educação

 

Cutting, pasting and discussing: the art of constructing meanings for education

 

 

Cecilia Maria Izidoro PintoI; Claudia Regina Gonçalves Couto dos SantosII; Elen Martins da Silva Castelo BrancoIII; Marcos Antônio Gomes BrandãoIII; Maria da Soledade Simeão dos SantosIV

IEnfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgica da EEAN/UFRJ
IIEnfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Metodologia da Enfermagem da EEAN/UFRJ
IIIEnfermeiro, Mestre em Enfermagem, Professor Assistente do Departamento de Enfermagem Fundamental da EEAN/UFRJ
IV
Enfermeira, Mestre em Enfermagem, Professora Assistente do Departamento de Metodologia da Enfermagem da EEAN/UFRJ, aluna do Curso de Doutorado em Enfermagem Fundamental da EERP-USP. Escola de Enfermagem Anna Nery/EEAN - Rua Parati n.º 31 – Anchieta – RJ – CEP. 21625-340 – e-mail: edsoleed@vetor.com.br

 

 


RESUMO

Este trabalho surgiu frente às discussões em torno da educação que emergiram na Disciplina "Formação Didático-Pedagógica" do Curso de Mestrado do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde - U.F.R.J., que tem como preocupação central discutir, criar, analisar e entender os processos educativos na área da saúde. Os objetivos foram: sensibilizar o aluno a buscar os conceitos de educação; proporcionar uma discussão problematizadora, contribuindo para o aprofundamento do significado de educação; analisar os conceitos de educação a partir da produção artística dos alunos e construir o conceito de educação a partir dos subitens/subconceitos discutidos. O cenário: uma sala do NUTES. Participantes: a professora, mestrandos e alunos especiais da disciplina. A estratégia: Recorte e Colagem. O resultado: Expressões significativas oriundas da atividade de cortar e colar, expressas nos cartazes ilustrados pelos alunos, originando categorias de análise: educação e poder, .gênero e tecnologia. Em outras palavras, a estratégia utilizada, foi reveladora de discussões e análises sobre os temas trazidos ao debate. Finalmente acreditamos que este estudo permitiu o alcance das expectativas dos participantes no que podem esperar da escola e do processo ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: educação para a saúde, tecnologia educacional


ABSTRACT

This study was constructed on the basis of discussions about education that came up during the subject called "didactic-pedagogic formation" of the master's course at the Health Educational Technology Center - U.F.R.J., which is centered around discussing, creating, analyzing and understanding educational processes in the health area. The objectives were: to sensitize the student to seek for educational concepts; to provide an in-depth discussion, contributing to a deeper understanding about education; to analyze educational concepts on the basis of students' artistic production and to construct the educational concept on the basis of the subitems/subconcepts that were discussed. The setting was a room at NUTES. Participants were the teacher, regular master’s students and visiting students in the subject. The strategy was Cutting and Collage. The results were: Significant expressions originating from the activity of cutting and pasting, which appeared in the posters illustrated by the students. These gave rise to analytic categories: education and power, gender and technology. In other words, the used strategy revealed discussion and analyses about the subjects under debate. Finally we believe this study met participants’ expectations about the school and the teaching-learning process.

Key words: health education, educational technology


 

 

INTRODUÇÃO

Cortar, colar e significar; tesoura, cola e discussão. Neste cenário desenvolveu-se uma atividade de sala-de-aula no Curso de Mestrado em Tecnologia Educacional em Saúde, que bem poderia lembrar salas amplas e cheias de crianças no jardim de infância.

Essa atividade de mãos, corpo e mente traz a luz questões que nos remetem ao uso e desuso deste recurso, para levantar significados comuns e expressivos do conceito de educação.

Este trabalho surgiu frente às discussões em torno da educação que emergiram na Disciplina "Formação Didático-Pedagógica" do Mestrado do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde - NUTES/U.F.R.J., que tem como preocupação central discutir, criar, analisar e entender os processos educativos na área da saúde.

O cenário: uma sala do NUTES/U.F.R.J. Participantes: a professora, mestrandos e alunos especiais da Disciplina. A técnica: Recorte e Colagem. O resultado: Expressões significativas oriundas da atividade de cortar e colar expressas nos cartazes ilustrados pelos alunos, originando categorias de análise.

As noções de educação, vida, tecnologia, foram rediscutidas e refletidas no grupo durante a construção do trabalho, provocando o (re) pensar de idéias e conceitos do uso de recurso e do que chamamos tecnologia. Embora não sendo o cerne do trabalho, apontou-nos outras idéias de aprender e ensinar quando a atividade realizada produzir reflexões tão ricas e profundas quanto às oferecidas por esses recursos. O recurso, embora não veiculadamente tecnológico, pode ser capaz de mobilizar corpo, mãos, mente e intenções, de dar vida e a arte ao "sentido". Do sentido e da arte de um grupo.

A escola pode e deve ter uma função mediadora entre a cultura hegemônica da comunidade social e as exigências educativas de promoção do pensamento reflexivo. Não se trata de ensinar sobre as novas formas culturais, como o viver uma série de experiências que permitam reconstruir racionalmente as estruturas e sentido dessa cultura.

A escola deve questionar a qualidade das influências recebidas em cada cenário social particular e procurar um clima de vivência que facilite os processos de reconstrução. A função da escola não é transmitir, e sim reconstruir o conhecimento experiencial, como a maneira de entender a tensão entre os processos de socialização em termos de transmissão da cultura hegemônica da comunidade social e o aparecimento de propostas críticas para a formação do indivíduo.

As mensagens que os meios emitem são parte da vida cotidiana, sujeito às influências. É importante integrá-los na aula como elementos constitutivos da vida diária e do conhecimento experiencial. As mensagens dos meios não podem substituir os manuais, os livros-texto ou as enciclopédias, não apenas porque seus conteúdos não foram elaborados para isso nem perseguem um fim didático, mas porque ademais isso seria não reconhecer sua especificidade.

A questão é proporcionar ao aluno e professores, materiais tão ricos e com tal abertura para a realidade que o processo de aquisição de conhecimento, verdadeiramente útil, se dê através da exploração do mundo, da leitura dos jornais, dos livros de aventura, das histórias em quadrinhos, dos anúncios publicitários e pelas avaliações da vida cotidiana proporcionada pelos próprios alunos: sensibilizam um contato com o meio; desencadeiam interesses por temas pontuais; oferecem uma possibilidade de exploração pessoal sem um compromisso forte.

São objetivos: sensibilizar o aluno a buscar os conceitos de educação; proporcionar uma discussão problematizadora, contribuindo para o aprofundamento do significado de educação; analisar os conceitos de educação a partir da produção artística dos alunos; construir o conceito de educação a partir dos subitens/subconceitos discutidos.

 

METODOLOGIA - ETAPAS:/MODUS OPERANDI

Para propiciar a discussão das questões centradas na educação, de forma criativa e que estimulasse o pensamento reflexivo a partir da elaboração individual para o coletivo, ordenamos estratégias para dinamizar o contexto desta atividade.

Em um primeiro momento, o qual denominamos de "FASE 1 - AULA", tivemos a sensibilização com a temática, a partir da exibição do filme "Ilhas das Flores" (Filme que integra uma coletânea denominada Curtas Gaúcho, e que foi premiado no Festival de Gramado). A seguir, pedimos aos alunos que discutissem o filme supracitado com interface ao texto do livro de Carlos Rodrigues Brandão (1982), o qual trouxe as variadas abordagens ao tema educação.

Os autores em um momento anterior a aula propriamente dita, ao ler e discutir o texto e o filme, selecionaram palavras-chaves para nortear a construção pictórica dos alunos. As palavras foram as seguintes: criança, comum, crença, cultura, escola, família, fins, formação, modelo, Nação, poder, saber, sociedade e vida. Estas palavras foram expostas ao grupo e afixadas ao quadro de giz, ao redor de um desenho do globo terrestre. Entendemos esta preparação como uma forma de organização das idéias frente ao tema proposto.

O segundo momento da "FASE 1 - AULA", teve início com a divisão da turma em dois grupos e oferecimento de material (caneta hidrocor, tesoura, jornais, revistas, cola e papel 40 Kg). Este momento foi construído pela utilização da tecnologia de "ilustração/gravura" conceituada por Leite et al. (1996) como: "termos genéricos que abrangem desenhos, fotografias, estampas, símbolos, pinturas não transparentes, etc.; têm na sala de aula, as funções de esclarecer, elucidar, ilustrar."

Os alunos foram estimulados a selecionar e recortar gravuras/frases contidos nas revistas e /ou jornais, que tivessem relação com as palavras-chave e o contexto da produção pictórica sobre a educação. A partir deste momento, procedeu-se a montagem do painel com as gravuras no quadro de giz e a leitura pelos componentes do grupo e demais participantes da tarefa, com a finalidade de confrontar as análises. No decorrer das discussões, um dos componentes do grupo, procedeu ao registro das falas na íntegra, de forma que pudesse apoiar a construção da "FASE 2 - ANÁLISE DA PRODUÇÃO".

Os achados, fruto do corte e colagem realizados durante a dinâmica, foram agrupados em categorias que analisadas, embasaram a discussão do material produzido. Esses achados são o somatório dos cartazes produzidos pelos grupos e a transcrição de suas falas na apresentação dos significados representados nas figuras agrupadas.

RECORTES DA EDUCAÇÃO

O presente capítulo destaca os principais aspectos levantados e discutidos pelos alunos da Disciplina Formação Didático-Pedagógica, o qual denominamos de Recortes da Educação, tendo em vista a atividade de cortar e colar

 

 

As categorias construídas neste trabalho foram: Educação e Poder, Gênero e Tecnologia; as quais descreveremos a seguir:

EDUCAÇÃO E PODER

Esta categoria vem de encontro à base da construção deste trabalho que é a discussão aprofundada da educação e sua interface escolar e extra-escolar. os alunos destacaram nas discussões a face centralizadora que a escola ainda detém e que ela é o elemento de integração e ajuda para o desenvolvimento intelectual.

"a escola se encontra no centro da gravura. Deve ajudar os outros a ver além".

Esta visão de educação desenvolvimentista conflitua com os desníveis em que se situam as camadas da sociedade brasileira. De qualquer modo, a educação é transmitida em nossas escolas, utilizando modelos que não refletem a realidade de nossa população, reforçando as desigualdades sociais.

"como conseguir uma maior influência da escola para a formação dos cidadãos".

Apesar dos interesses para promover o desenvolvimento nacional, os estudantes ainda tem a esperança de tornarem-se elementos produtivos na sociedade, moldada pelas necessidades econômicas. este fato retrata outro aspecto ligado a educação que é o poder emanado de várias fontes.

"o poder do livro substituindo o professor".

"a reprodução da relação de dominação".

 

 

A educação e o poder, destacado nesta categoria, reflete os valores exigidos pela demanda social e poder político, orientando e organizando o sistema educacional em prol do desenvolvimento econômico. Romanelli (1982) destaca que a forma como se organiza o poder também se relaciona diretamente com a organização do ensino. Acreditamos que o desejo em transformar a prática educativa tem início nos movimentos internos no próprio homem.

Afirma-se a impossibilidade da escola ser instrumento de mudança social, útil às classes marginais da sociedade. Devemos confiar cegamente na sua capacidade de operar uma mudança social e política na sociedade. Uma escola não pode reduzir o ato pedagógico a um exercício multiplicador de técnicas de administração, supervisão, orientação e transmissão do saber, nem a uma caricatura das relações existentes de classes e no sistema produtivo, onde as relações de trabalho são hierarquizadas pela apropriação.

Em cada sociedade possui um sistema de educação que se impõe aos indivíduos de modo geralmente irresistível. Há, pois a cada momento, um tipo regulador de educação do qual não nos podemos separar sem vivas resistências.

Conhecer o tipo de sociedade existente no Brasil de hoje e as condições históricas de seu desenvolvimento, bem como analisar as forças sociais que dominam a sua estrutura de poder e os objetivos subjacentes às diversas políticas econômicas, sociais e culturais impostas pelos grupos dominantes, é fundamental para que possamos conhecer as razões da miséria da educação neste país.

GÊNERO

Considerando a amplitude das discussões emergidas na categoria gênero em ambos trabalhos produzidos pelos grupos, a questão do universo feminino foi grande parte da preocupação dos integrantes do curso, em sua maioria, mulheres. Esse universo feminino representado e problematizado em vários livros e textos nas últimas décadas, refletem que a questão do gênero pode ser importante nas interpretações sobre discriminação, violência, submissão e auto-estima:

"utilizando a imagem da mulher como objeto de consumo. O consumo da imagem da mulher é estimulado pelo homem".

Esta fala expressa que o objeto em que pode ser transformado o corpo da mulher atinge o gênero feminino e cuja fonte nutre as idéias de dominação e discriminação sobre a mulher. Bourdieu (1982) descreve acerca do corpo feminino como objeto:

"(...) as mulheres a quem a experiência do corpo como corpo-para-o-outro se impõe com uma força particular pelo papel que lhes é atribuído no mercado dos seus símbolos, onde elas são objetos, ser-percebido, capital simbólico que devem gerenciar, que administram frente aos homens."

"apesar das conquistas da mulher, ainda se permite à venda de sua imagem".

Neste sentido as figuras selecionadas pelos grupos e suas interpretações revelam que seus integrantes podem perceber os efeitos causados pela mídia na mistificação das imagens coisificada da mulher. No entanto do feminismo ativo e político, às discussões da questão do gênero de hoje, a de se considerar que, as frustrações entre os ganhos e as perdas do papel feminino na sociedade, são importantes, e caraterizam as suas lutas neste século, e foram contempladas na fala abaixo:

"o caminhar evolutivo da mulher e o seu papel na sociedade".

Não se esgotariam, nesta categoria as amplas discussões das questões do gênero mais pontuais ligadas as reflexões oportunizadas pela dinâmica.

TECNOLOGIA

A reflexão que nos remete as descrições encontradas nesta categoria que emergiram do cortar e colar, sugere que há grande preocupação sobre os destinos e usos da tecnologia.

"o futuro tem as soluções únicas para as necessidades particulares".

Os efeitos da "ordem tecnológica" vigente demonstram que valorar partes de um todo tão complexo como o indivíduo não são capazes de resolver os problemas de saúde se desprezados os aspectos sociais, culturais, experiências individuais, crenças, família, trabalho e educação.

A preocupação que emerge desta fala exemplifica os temores dos profissionais da área de saúde em ver sucumbir à visão social e coletiva da saúde. Helman citado por Porto reforça essa idéia descrevendo:

"a sociedade industrial ajudou a criar uma nova imagem do corpo humano. Os pacientes podem acreditar, a partir tanto que podem ser diagnosticados, medidas monitoradas e mantidas com vida por outras máquinas. (...) Por isso, alguns pacientes acham seus médicos como mecânicos, bombeiros, eletricistas, carpinteiros mais do que terapeutas."

Apesar dos avanços proporcionados pelo êxito dos recursos tecnológicos na manutenção e na cura do indivíduo, esses recursos vieram acompanhados do elevado custo econômico e obviamente limitaram o acesso de grande parte da população a esses benefícios tecnológicos.

"tecnologia como benefício para a saúde".
"É necessário discutir o acesso das pessoas a uma Medicina de alta tecnologia. Não dá para viver só da Medicina milenar, as duas não são excludentes".

Na fala acima, o entendimento de "Medicina Milenar", desvela que ambigüidade pode estar alocado às práticas de assistência na área de saúde. E não dá conta à tecnologia de assistir e tratar o ser humano como "holos", certamente pode ser poderoso instrumento de exclusão formatando uma medicina eficaz e cheia de um censo em confronto de outra incipiente a atender as verdadeiras necessidades do indivíduo.

A INTERFACE DA COMUNICAÇÃO

Na elaboração do trabalho, percebemos que mídia, aculturação e propaganda foram conceitos eleitos pelo grupo, e é claro, que eles não surgiram do irreal. As pessoas estão em contato direto com algum tipo de informação a cada instante. Entendemos que se torna necessária à construção de uma interface com a comunicação do conteúdo gerado pelos participantes da atividade de corte e colagem.

Trazer à sala de aula, uma atividade onde o manuseio de recortes leva o indivíduo a aprender através da experiência em que lê, ouve, vivencia, discute e comunica idéias que criam uma trama de fatos, conceitos, crenças ...

Acreditamos que podemos utilizar conceitos propostos por Schramm de 1954, trabalhando a "Teoria da Comunicação em dois níveis". Um dos preceitos que nos interessa em um primeiro plano é a afirmação de que o homem não é um ser isolado socialmente, participando ativamente nas relações interpessoais. Deste modo, a efetividade dos meios de comunicação dirigem-se aos líderes de opinião de um grupo que realiza a difusão.

Partindo de uma premissa de que os participantes sejam gerados de opinião, temos um interessante mecanismo na estratégia de corte e colagem desenvolvida: geradores de opinião refletindo profundamente sobre a influência dos meios de comunicação, neles e naqueles com que se relacionam. A frase abaixo destaca esta dimensão:

"O que é vendido é o que a gente compra".

Ainda que não esteja envolvida a dimensão da Teoria de Lasswell da relação emissor-receptor em um caráter de passividade, os meios de comunicação possuem forte influência sobre os geradores de opinião e com aqueles com os quais o gerador relaciona-se. Tanto que, para Schramm comunicar é mesmo que compartilhar. O aspecto favorável do conceito levantado é a perspectiva dialética que pode ser estabelecida entre o emissor e receptor.

Mas uma questão levanta-se: Qual o poder de diálogo do receptor quando o emissor é uma poderoso instituição como a televisão, por exemplo? Muniz Sodré (1996) trata do poder da televisão e outros meios de comunicação sobre a sociedade: "Televisão é um sistema informativo monólogo aos códigos da economia de mercado e acionado pelo desenvolvimento tecnológico ... Em outros termos, os diversos veículos tendem a justificar culturalmente os conteúdos passíveis de transmissão pela tevê propriamente dita."

Para Schramm (1982) a mudança da opinião está sujeita a credibilidade da fonte que veicula a mensagem, e fonte, como os meios de comunicação de massa possuem forte credibilidade junto ao público, afinal de contas à mídia gera aculturação. Portanto: muito do que é veiculado (vendido) pela mídia é o que é recebido para o compartilhamento (comprado).

As perspectivas dialéticas para vencer o poder de panóptico dos mídias, pode estar nas formas alternativas de educação popular, no debate comunitário, e certamente na problematização dentro das escolas – como na técnica de cortar e colar desenvolvida.

A percepção de que as coisas que envolvem a construção das relações sociais, não são como meras fotografias – ou imagens, ao contrário, é um forte propulsor para a problematização. Esta problematização pode Ter sua dimensão exposta na assertiva abaixo:

"o futebol foi usado como fonte de alienação. No momento da ditadura, todos brigavam pela Copa de 70".

Perceber a construção que vai além dos fatos apresentados pelos mídias (a Taça do Mundo é nossa!) faz parte de um esforço de cidadania que implica em problematizar.

O lazer que está em casa (e um dos que permitiram propositalmente, ao trabalhador) pode estar no "Campeão de Audiência". A novela codificada e desvinculada de qualquer real questionamento social pode trazer a noção ao expectador de "Quem tem Globo, tem tudo".

A despeito da crença proposta o que se tem é muito pouco, e não avança além do que a aculturação permite. Crises sociais legítimas como o movimento de sem-terra pode tornar-se uma simples crise entre o fazendeiro e o agricultor sem espaço para plantar. A dimensão e gravidade da questão social transforma-se fortemente embalada por amores conturbados (e apimentados) entre a moça pobre e o "coronel".

Este poder dos mídias e do padrão de comunicação que é estabelecido a partir daí, obriga-nos a assumir um caráter muito mais crítico dos problemas levantados. O compromisso dos geradores de opinião passa a envolver dimensões de contestação profunda capaz de permitir uma formação nova da consciência.

Entretanto, o estabelecimento de um novo modelo de comunicação dialética é obrigação de todos, não meramente de poucos. É papel para pais, filhos, alunos, professores. É papel de cidadania. É tarefa de redirecionamento de condutas.

"os ídolos infantis da mídia, educativos ou não, são estimulados pelas mães, onde muitas vezes deveriam Ter contraposição a eles".

É entender que nem só de "Xou" ou de "Caça Talentos" podem viver as gerações futuras de cidadãos brasileiros. Vencer a necessidade do consumo "per si" também é tarefa necessária para atingir uma sociedade mais justa e com acesso aos bens que são gerados por esta sociedade. Facilitar e permitir o acesso à educação, saúde, tecnologia, relações humanas é o desafio para a sociedade brasileira do próximo século.

 

 

O papel da comunicação como um meio de relação entre os homens pode facilitar o alcance desta sociedade almejada. Para Bordenave (1994), a comunicação serve para que as pessoas relacionem-se entre si, transformando-se mutuamente e à realidade que as rodeia. E no tocante a isto, a comunicação pode acontecer de um modo favorável até mesmo em uma sala de aula, onde pessoas cortam, colam, discutem e constróem novos significados.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao realizarmos este trabalho, experimentamos a utilização de um recurso pedagógico que não exigiu grandes custos materiais, e que promoveu a interação dos indivíduos, com a escolha de temas emergentes de uma realidade social, e de proposições levantadas pelos autores, a partir do texto de Brandão (1982).

As reflexões permitidas pela atividade de cortar, colar e montar, redimensionaram o entendimento do grupo acerca da importância desta atividade para dar forma a significados que necessitam de discussão coletiva. Em outras palavras o recurso utilizado, foi revelador de discussões e análises sobre os temas trazidos ao debate.

Podemos afirmar que durante toda a elaboração deste trabalho nossos objetivos maiores foram atingidos, na medida em que o processo de sensibilização iniciado em sala de aula, e que prosseguiu durante a elaboração deste paper, promoveu na construção de conceitos importantes como educação, comunicação, tecnologia, gênero e poder.

Finalmente acreditamos que este estudo permitiu o alcance das expectativas dos participantes no que podem esperar da escola; resumindo em uma relação: ensinar e aprender.

Nérici (1989) ressalta que é interessante advertir o aluno de que a solução encontrada talvez não seja a verdade absoluta, mas tão-só uma aproximação no seu caminho.

 

Referências bibliográficas

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