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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Internet facilitando a comunicação e transpondo barreiras geográficas no processo de orientação na pós-graduação

 

Internet facilitating communication and hurdling geographic barriers in the postgraduate advisory process

 

 

Denise Costa DiasI; Silvia Helena De Bortoli CassianiII

IMestre em Enfermagem, professora Assistente do Curso de Enfermagem da Unioeste, Cascavel, PR. Doutoranda da EERP-USP
IIDoutora em Enfermagem. Professora Associada da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto- USP

 

 


RESUMO

O estudo descreve a experiência da utilização da internet, e em especial do correio eletrônico, como instrumento de comunicação para transpor distâncias geográficas entre orientadora e orientanda no desenvolvimento de um projeto de tese de doutorado, durante o curso de pós-graduação. A experiência sugere que esta ferramenta pode ser utilizada de forma satisfatória com resultados positivos no processo de aprendizado, na construção de projetos de pesquisa e mesmo no processo de análise de resultados de pesquisa.

Palavras-chave: comunicação, enfermagem, internet


ABSTRACT

In this study, we describe the experience of using internet and especially e-mail as a communication instrument for hurdling geographic barriers between advisor and student in the development of a Ph.D. thesis project. Our experience suggests that this tool can be used satisfactorily in the learning process, with positive results.

Key words: communication, nursing, internet


 

 

Introdução

A Internet atinge a cada dia uma parcela maior da população em todo o mundo, alterando a maneira com a qual formam-se comunidades, relações de trabalho e até a maneira de aprender. Neste estudo é relatada a experiência de utilização da Internet como instrumento de comunicação numa situação em que as distâncias geográficas entre a orientadora e orientanda foram reais, a partir de depoimentos de pessoas envolvidas. A orientanda iniciou o doutorado com liberação parcial, ou seja, mantendo compromissos como docente e necessitando deslocar-se freqüentemente de Cascavel para Ribeirão Preto e vice-versa, e também para São Paulo onde também cursou disciplinas no ano de 2000, além disso foi contemplada com uma bolsa do programa sanduíche (CAPES), tendo desenvolvido seu projeto de tese em Chicago, Illinois (USA), de março a dezembro de 2001. Graças a Internet a comunicação ocorreu de maneira rápida e com baixo custo em comparação a outros meios convencionais como o correio. Assim, as distâncias geográficas reais foram transpostas pelo espaço virtual, e foi essa a motivação para o relato da experiência que pode servir para outros alunos em situações parecidas.

A Internet tem sido cada vez mais utilizada no ensino superior como forma dos educadores atingirem um número maior de alunos à distâncias maiores. O impacto mais significante da Internet é o de conectar estudantes independente do local ou do horário (VANDERVUSSE; HANSON, 2000).

Ao se considerar a utilização da Internet como recurso auxiliar no processo de comunicação acadêmica, entre orientadora e orientanda, é necessário julgar se as necessidades educacionais são compatíveis com o meio e determinar que tipo de abordagem será utilizada. É importante também que a acessibilidade seja garantida, ou seja, ambos os participantes devem ter acesso a computador com conexão a Internet (HARASSIM et al., 1995).

A mídia digital tem, cada vez mais, refletido em nossa visão de mundo e no repositório de informações. Essa mídia, por ser interativa e maleável, tem sido um veículo para mudanças sem precedentes em nossas atitudes e estrutura social, uma verdadeira revolução nas comunicações, que terá profundo impacto sobre a profissão de enfermagem (RICHARDS, 2001).

Ecologia de informação é definida como um sistema de pessoas, práticas, valores e tecnologias em um ambiente particular (NARDI; O'DAY , 1999). Numa ecologia de informação, o foco não é na tecnologia, mas nas atividades humanas que servem-se dessa tecnologia. Por exemplo, essas autoras mencionam uma unidade de tratamento intensivo (UTI) de um hospital como uma ecologia de informação, onde existe um impressionante conjunto de pessoas e tecnologias, voltados para a atividade de tratamento de pacientes críticos. Peritos humanos (enfermeiras, médicos, fisioterapeutas, etc) e máquinas (monitores, respiradores e outros equipamentos) desempenham um papel para a prestação do cuidado, no entanto, embora neste local (UTI) a tecnologia desempenhe um papel importante, é claro que a perícia humana, o julgamento, a empatia, a cooperação, e os valores são centrais para fazer o sistema funcionar.

Transpondo isso para a questão da comunicação através da Internet, ressaltamos que para que esta ocorra de forma efetiva, a cooperação e o comprometimento entre os comunicadores de ambos os lados da rede (Internet) são fundamentais para o sucesso da comunicação. Numa ecologia de informações ocorre um forte inter-relacionamento e dependência entre as diferentes partes, em nosso caso orientadora e orientanda.

A tecnologia não é infalível e problemas podem ocorrer, entre eles problemas técnicos como impossibilidade de conexão, impossibilidade para leitura ou envio de mensagens, falta de motivação e ruídos de comunicação (HARASSIM et al, 1995).

A seguir a perspectiva da orientadora e orientanda serão discutidas.

 

Perspectiva da Orientadora

O relacionamento com o aluno distante coloca alguns desafios para o docente. Benjamin-Coleman et al. (2001) observam que pode haver uma sobrecarga de trabalho para o docente oriunda de um grande número de e-mails deste aluno que não consegue encontrar o professor informalmente antes e após horários de aulas, e não consegue estar presente para orientações.

A orientação através do e-mail só é possível graças a alguns fatores como equipamento, facilidade no uso desse equipamento e rotina leitura de e-mails. Algumas pessoas dispõem de equipamentos porém ainda não desenvolveram o hábito, ou ainda não confiam na comunicação virtual.

O aluno distante geograficamente, principalmente no exterior, às vezes precisa de agilidade na resposta do orientador face às decisões que precisa tomar, principalmente as de ordem relativa a sua investigação. Nesse sentido, a internet é facilitadora, propiciando a agilização no processo. Entretanto é preciso ressaltar que esses encontros não presenciais são uma alternativa e podem ser úteis e de resultados em algumas fases da investigação, não sendo ainda um substituto dos encontros face-a-face extremamente necessários e insubstituíveis.

 

Perspectiva da Orientanda

Se estivéssemos no início do século passado, onde as velocidades de deslocamento eram muito lentas, e as correspondências levavam muito mais tempo para alcançar o seu destino, provavelmente levaria-se muito mais tempo para concluir um projeto de doutorado numa situação onde os encontros presenciais com o orientador são dificultados por barreiras geográficas.

No entanto a utilização da tecnologia digital para a comunicação só foi possível graças ao entendimento e a cooperação de ambas as partes. A comunicação virtual precisa ser aceita pelos interlocutores como outras formas de comunicação, assim não haverá estranhamento durante o processo quando se faz necessário o envio de inúmeras versões do projeto de tese, um tanto extenso, através de arquivos anexados a mensagens eletrônicas (e-mail). Vale observar também que a responsabilidade pelo desenvolvimento do projeto cabe ao próprio aluno, que necessita engajar-se ativamente no processo de busca de informações, de aprendizado ativo e crescimento profissional. Mofet e Hilll (1997) salientam que os pressupostos que apoiam a prática do aprendizado ativo incluem a possibilidade de encorajamento, colaboração, tomada de decisões e o pensamento crítico.

A comunicação através de e-mail ajuda a desenvolver novas habilidades comunicativas, como por exemplo, a objetividade, uma vez que é preciso considerar que mensagens longas podem sobrecarregar aquele que as recebe. É importante desenvolver clareza, organizando a mensagem e dando-lhe um título esclarecedor para que o receptor possa imediatamente saber do que se trata. É preciso ser cuidadoso naquilo que se escreve, uma vez que a comunicação escrita é diferente daquela que ocorre frente a frente e textos mal escritos podem ser mal interpretados.

Entre as principais vantagens que a comunicação com a orientadora através de e-mail propiciou ao desenvolvimento do projeto de tese destaca-se:

- rapidez no feedback- na maioria das vezes os e-mails com questionamentos eram respondidos no mesmo dia, ou na manhã seguinte. E mesmo quando se encaminhava arquivos extensos para serem avaliados pela orientadora o retorno ocorria em poucos dias. Neste caso tanto a tecnologia facilitou essa rapidez como também o comprometimento pessoal e a responsabilidade profissional;

- sensação de proximidade- mesmo estando em outro país houve proximidade com a orientadora, e acessibilidade a esta para o esclarecimento de dúvidas e encaminhamentos relacionados ao projeto e às atividades no programa sanduíche;

- satisfação com os resultados- pouco tempo após o retorno foi realizado o exame de qualificação, o que só foi possível graças a agilidade proporcionada pelo uso do e-mail e parceria da orientadora no processo de encaminhamento.

A Internet não foi utilizada unicamente para propiciar a comunicação através de e-mail entre orientadora e orientanda, mas também na recuperação de informações, consulta de banco de dados eletrônicos, e periódicos eletrônicos para a construção do projeto de tese.

Na University of Illinois at Chicago (UIC), local onde o programa de bolsa-sanduíche foi realizado, o serviço de biblioteca é muito eficiente e dispõe de recursos eletrônicos e acordos interinstitucionais que permitem um rápido acesso a artigos de periódicos que não estão disponíveis nessa universidade. Mediante solicitação os artigos requisitados eram encaminhados por e-mail num prazo de cerca de dois dias.

 

Discussão da Experiência

Vários autores mencionam que o e-mail como alternativa de comunicação entre docente e discente, proporciona encorajamento e motiva, especialmente aqueles alunos com mais dificuldade de se locomoverem até o campus, seja por questões de distância geográfica, seja por outros compromissos profissionais ou pessoais (MILLER et al, 1997; BAIER; MUEGGENBURG, 2001; BILLINGS et al., 2001). Nessa experiência essa alternativa foi vital para o alcance dos resultados propostos.

Segundo Pinch e Grave (2000) o atributo da assincronidade é especialmente importante para aprendizes adultos que tem muitas outras responsabilidades, e esse atributo é uma característica da comunicação por e-mail.

As mesmas autoras ressaltam que, de maneira geral, as experiências de discussões acadêmicas online foram avaliadas como positivas, tanto da perspectiva dos alunos, quanto da perspectiva dos professores.

 

Implicações e sugestões para o futuro

O uso da Internet passou a ser amplamente utilizado e não podemos ignorar seu imenso potencial na educação. E com os avanços da computação, cada vez mais serão ampliadas as possibilidades de comunicação através de listas de discussão, cursos online, campus e bibliotecas virtuais, num espaço compartilhado.

Cabe destacar o papel da Internet e do computador como instrumentos de comunicação, pois como observam Romani et al. (2000) não interagimos com computadores mas através deles, enfatizando os computadores como meio e a interação ocorre entre os seres humanos. Dentre as ferramentas de comunicação possibilitadas pela Internet, o correio eletrônico é a mais popular, sendo que sua interface vem sendo aprimorada ao longo do tempo.

Entretanto, a leitura de arquivos anexados a um e-mail exige que este seja lido na tela do computador ou que seja impresso para a leitura no papel. Sabemos que ler na tela do computador é cansativo, especialmente quando o arquivo é extenso. E a impressão do material onera o receptor da mensagem, pois exige gasto com tinta e papel, o que não é um gasto desprezível especialmente em se tratando de um projeto de doutorado. Essa seria uma limitação para esse tipo de comunicação.

Contudo, essa experiência sugere que o e-mail, como ferramenta, pode ser utilizado de foram satisfatória com resultados positivos no processo de aprendizado, na construção de projetos de pesquisa e mesmo no processo de análise de resultados de pesquisa.

 

Referências bibliográficas

BAIER, M.; MUEGGENBURG, K. Using the Internet for Clinical Instruction Nurse Educator, v.26, n.1, January/February 2001, p 3

BENJAMIN-COLEMAN, R. et al A Decade of Distance Education: RN to BSN Nurse Educator, v. 26, n.1, January/February 2001, p.9-12.

BILLINGS, D. et al Benchmarking Best Practices in Web-Based Nursing Courses. Advances in Nursing Science v.23, n.3, march 2001, p.41-52.

HARASSIN, L.M. et al Learning Networks- a field guide to teaching and learning online. The MIT Press, Massachusetts, 1995.

MILLER, J. et al Strategies for Getting Students on the Information Superhighway Nurse Educator, v.22,n.5, September/October,1997, p.40-43

MOFFETT, B.; HILL, K.B. The transition to Active Learning: A Lived Experience Nurse Educator, v.22, n.4, July/August, 1997, p.44-47

NARDI, B. A. ; O'Day V. L. Information Ecologies- Using Technology with heart. Cambridge, MIT Press, 1999.

PINCH, W. E.; GRAVES, J. Using the Web-based discussion as a teaching strategy. Journal of Advanced Nursing , v.32, n.3, 2000, p.704-712

RICHARDS, J. A.Nursing in a Digital Age. Nursing Economics, v.19,n.1, 2000, p. 6-11.

ROMANI; L. A. S.; ROCHA; H. V. ; SILVA, C. G. Ambientes para Educação a distância baseados na Web: Onde estão as pessoas? In: Anais do III Workshop sobre Fatores Humanos em Sistemas Computacionais, Gramado, 2000. Online- http://www.prossiga.br/edistancia/ acesso em 25/04/2001.

VANDERVUSSE, L.; HANSON, L. Evaluation of Online Discussions: Faculty Facilitation of Active Student Learning. Computers in Nursing, v.18, n.4, July/August 2000, p.181-188