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An. 8. Simp. Bras. Comun. Enferm. May. 2002

 

Relato de experiência no Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE) na Escola de Enfermagem de Ribeirão-USP

 

Experience report in the Educational Improvement Program (PAE) at the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing

 

 

Maria Manuela Rino MendesI; Maria Célia de FreitasII

IProfessora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Av. Bandeirantes, 3900. CEP: 14040-902. Ribeirão Preto/São Paulo. E-mail: manu@eerp.usp.br . Tel. (16) 633-3439
IIDoutoranda em Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP. Professora da Universidade Estadual do Ceará. Enfermeira do Inst. Dr. José Frota. Rua Capistrano, 42. Parque Araxá. CEP 60430-810. Fortaleza-Ceará. E-mail: celfrei@hotmail.com. Tel. (85) 243-6922

 

 


RESUMO

O Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE) busca incentivar a capacitação pedagógica de pós-graduados, através do engajamento em atividades educativas nos cursos de graduação da Universidade e assim, estimular indagações e relações entre questões da pesquisa com a prática da formação profissional. O presente relato objetiva descrever a implementação de nova estratégia de ensino – aprendizagem, introduzida na disciplina Enfermagem Médica, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, que incluiu as Unidades de Atenção Clínica Externa (Ambulatório, UBDS e Domiciliar), visando ampliar o tradicional enfoque do ensino da assistência clínica de enfermagem, centrado em adultos doentes hospitalizados, e incentivar a análise reflexiva sobre modelos de atenção secundária e terceária, reconhecendo atores, situações e ações. A experiência envolveu todos os estudantes matriculados na referida disciplina, divididos em subgrupos para observação focal, leitura de textos sobre o sistema de saúde (SUS), atenção ambulatorial e à família, debates sobre a realidade observada e leituras, estabelecendo confrontos e relações com o processo de enfermagem – eixo estrutural da disciplina, complementada com relatos escritos e verbais em grupo. Das 30 horas a ela destinada, 16 foram acompanhadas por professor/pós-graduado. Avaliação dos relatos escritos (individual ) e orais (grupo) expressa a motivação principal dos alunos para realizar as práticas da atenção terceária, no atual momento do currículo. E ainda a percepção dos alunos sobre o pouco aproveitamento em estágios anteriores nas Unidades Básicas de Saúde, que não consolidaram habilidades para ações de referência secundária articuladas com outros serviços de saúde. Destaca-se também, a necessidade de rever o projeto pedagógico para a formação do enfermeiro, definir novas prioridades e introduzir artifícios que provoquem relações dinâmicas e reais entre as disciplinas, de avaliação permanente do percurso e resultados, de modo a fortalecer competências de reflexão e ação modificadora de conceitos educacionais ultrapassados e práticas deslocadas das atuais demandas para o ensino - aprendizagem da atenção à saúde.

Palavras-chave: ensino-aprendizagem, enfermagem, modelo clínico, atenção à saúde, formação pedagógica


ABSTRACT

The educational improvement program (PAE) seeks to stimulate pedagogical training of post-graduate students by engaging them in educational activities in University undergraduate courses and, thus, stimulate inquires and relations between research questions and professional formation practice. This report aims to describe the implementation of a new teaching-learning strategy in the subject Medical Nursing at the University of São Paulo at Ribeirão Preto College of Nursing, which included External Clinical Care Units (Ambulatory, UBDS and Home), with a view to broadening the traditional focus of teaching on clinical nursing care, centered on hospitalized ill adults and stimulate reflective analysis of secondary and tertiary care models, recognizing actors, situations and actions. The experience involved all students enrolled in the subject, divided into subgroups for focus observation; reading of texts about the Single Health System (SUS), ambulatory and family care; debates about the observed reality and readings, establishing confrontations and relations with the nursing process – the structural axis of the subject, complemented by written and verbal group reports. 16 out of 30 hours reserved for the subject were accompanied by lecturer/post–graduate student. The evaluation of written (individual) and oral (group) reports expresses students’ main motivation for realizing tertiary care practices at the current moment in their curriculum, as well as their perception about the lack of utilization in previous trainee programs at Basic Health Units, which did not consolidate abilities for secondary actions in articulation with other health services. Another issue highlighted is the need to reconsider the pedagogical project for nursing formation, to define new priorities and introduce tools that provoke dynamic and actual relations between the subjects, permanently evaluating course and results so as to strengthen competencies for rethinking and modifying outdated educational concepts and practices that no longer correspond to current demands for health care teaching-learning.

Key words: teaching-learning, nursing, clinical model, health care, pedagogical formation


 

 

INTRODUÇÃO

Estudiosos vêm apontando para a necessidade de se olhar com novos óculos o mundo que aí se apresenta, sem reduzí-lo ao presente. Não é um retrato restrito a mapas cartográficos com países, territórios e estruturas descritivas e funcionais dos reinos humano, animal e mineral e sim os diversos mundos e cada ser, entidade e cosmos com suas multiplicidades e singularidades em meio a miscelânea de diversidades, sem descuidar das sociedades, comunidades, etnias e galáxias. Não é mais possível pensar a educação centrada no conhecimento enciclopédico, que é fracionado em níveis de complexidade decrescente para programar a sua difusão pelas escolas públicas e privadas,

destinada aos menores, às crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos, e mesmos para as qualificações em ofícios, profissões, tarefas, entre outras denominações que se crie para o especificar.

Estudiosos da educação vêm apontando para a necessidade de se rever conceitos e valores sobre a escola, família e os novos arranjos sociais. Nestes novos tempos onde os diversos espaços expressam movimentos em múltiplas direções e trajetórias, acessíveis em frações de segundo com as descobertas da ciência, tecnologia e das humanidades, tão profícua criação humana e divina exige outras maneiras de serem reconhecidas, onde saberes e conhecimentos aglutinam e diferenciam culturas, etnias, grupos comerciais, associações não governamentais, e novas constituições de comunidades que incorporam, acolhem, ignoram ou excluem os diferentes.

Mudanças de paradigma na ciência, na filosofia, literatura e artes têm sido propaladas, reconhecendo numa mesma época o plural nos modos de pensar o mundo da vida, e neste, os diferentes recortes que articulam os focos preciso e o impreciso, o objetivo e subjetivo, a crítica com o consenso, na busca de construir o possível entendimento. A educação é parte dessa obra humana e histórica. Contribuem para essa expressão cultural denominada "educação" filósofos, psicólogos, educadores, pedagogos, curriculistas entre outros pensadores, que vêm destacando mais e mais o despertar de potenciais para permitir a criatividade e aprendizagem, cultivar o novo, buscar respostas para as curiosidades e dúvidas, respeito às peculiaridades de cada ser e cultura e modos de aprender e ensinar, o ensino ocasional e formalizado, ensina quem incentiva o pensamento argumentativo, permite a comparação e diferenciação, valoriza a crítica fundamentada e a expressão de consenso e respeito mútuo incluindo as divergências.

Nas últimas décadas a educação brasileira vem revendo suas metas, estratégias e resultados, diante das baixas pontuações que vinha obtendo nas avaliações internacionais refletidas no índice de desenvolvimento humano (IDH) do país. Dentre as respostas políticas do governo, a Nova Lei Diretrizes e Bases da Educação (LDBEd), articulada às demais áreas de sua responsabilidade, influenciam as mudanças no ensino básico, técnico e superior. A enfermagem brasileira segue lentamente essas tendências nas últimas décadas, sem remover raízes antigas do modelo educacional técnico – burocrático, legalizado pelo governo. Porém, movimento recente de enfermeiros compôs as diretrizes curriculares para a formação profissional, em fins de 2000, como resposta às insatisfações já expressas no último currículo mínimo, oficializado em 1994. Porém, a história das idéias vai à frente das transformações em qualquer prática humana, e o modelo curricular que ainda comanda a maioria das instituições de ensino de enfermagem segue os "mínimos" tão propalados e familiares até final da última década.

É nesse contexto da enfermagem brasileira que a Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP, será o palco do relato da experiência pedagógica inovadora, junto à disciplina Enfermagem Médica, cujo objetivo é desenvolver habilidades e competências clínicas para a assistência a adultos doentes, instrumentalizadas pelo processo de enfermagem em unidades de internação de hospital – escola , caracterizado de referência terciária.

A inovação consiste em introduzir os Serviços Clínicos Externos ao hospital, visando incentivar o pensamento crítico e análise reflexiva sobre o modelo de atenção clínica articulando os serviços da saúde hospitalar (de internação, ambulatório e vigilância sanitária no domicílio) com a unidade distrital de saúde, no pronto atendimento e área programática com adultos e relações com a estratégia "saúde da família".

As iniciativas de mudança no paradigma tradicional da educação na enfermagem têm buscado estimular a criatividade no pensar e agir, o desenvolvimento da argumentação e contextualização das dúvidas e formulação de questões em oposição à mera repetição de idéias e memorização de conhecimentos e procedimentos (PEREIRA, 1996)

Brigham (1993) comenta que os enfermeiros precisam desenvolver aptidões e habilidades para o pensar crítico, associado ao exercício das práticas em ambientes de saúde, para favorecer o julgamento diagnóstico clínico e tomada de decisões orientados para a solução de problemas reais.

Para Perrenoud (1999) a construção de competências exige relações de equilíbrio entre o trabalho isolado dos diferentes elementos e integração destes em situações operacionais, destacando aí a dificuldade didática na gestão dialética dessas duas naturezas de ação. E assim, afirma ser utopia acreditar que o aprendizado seqüencial de conhecimentos provoque espontaneamente a competência de processar a integração operacional. Reconhece ainda, que o conhecimento expressa as representações da realidade construídas e armazenadas ao sabor das experiências e ao longo da vida, e que as competências explicitam as capacidades de utilizá-las, integrando-as ou mobilizando-as para o enfrentamento dos problemas do dia-a-dia.

É neste panorama de compreensões que a universidade promove vivências pedagógicas e discute inovações, criando oportunidade de desenvolver a formação conjunta entre estudantes de graduação e pós-graduação, numa gestão compartilhada com docentes responsáveis pelas disciplinas.

 

OBJETIVO

Relatar a experiência no Programa de Aperfeiçoamento de Ensino (PAE), da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP/USP), durante a implementação de inovação pedagógica na disciplina de graduação Enfermagem Médica, junto aos Serviços Clínicos Externos ao hospital.

 

PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO DE ENSINO (PAE)

Este programa é destinado ao aprimoramento pedagógico de estudantes da pós-graduação da EERP/USP, através do acompanhamento das atividades didáticas em disciplinas do curso de graduação. Foi instituído pela Universidade em 1995, sendo revogado anos após, através das portarias n.2932 (fev/95) e n.3141(nov/98). Sua proposta compreende dois momentos, que correspondem a dois semestres letivos: o primeiro – de formação pedagógica (obrigatória) do aluno e o segundo – atividade docente supervisionada, em sala de aula ou campo de ensino clínico (estágio) da prática profissional. Este último é facultativo aos alunos, porém obrigatório para bolsistas da CAPES (desde fev/99), sendo um semestre para os mestrandos e dois para doutorandos.

A integração do aluno ao programa, poderá ser feita mediante a definição de projeto que deve conter o plano de atividades a serem desenvolvidas em disciplinas específicas, sob a supervisão do docentes responsável, podendo repetir-se até quatro vezes. As atividades desenvolvidas pelo aluno não ultrapassam seis horas semanais e devem ser compatíveis com o programa regular de estudos da pós-graduação. Ao concluir o PAE, o aluno terá direito a um número de créditos, definido pelo Programa de Pós-graduação e certificado de participação.

Esta experiência ocorreu entre abril e julho de 1999, junto à disciplina "enfermagem médica", oferecida no terceiro ano (5º semestre), havendo oito semestres no curso, nos serviços de saúde externos às unidades de internação hospitalar, destinados a adultos e idosos, com a nova diretriz de ensino – aprendizagem que incluiu o nível de referência secundária no ambulatório da clínica médica, visita domiciliar (vigilância sanitária) e unidade distrital de saúde ( pronto atendimento e programas de doenças não transmissíveis).

 

METODOLOGIA

A proposta inovadora previu entendimentos prévios com os Serviços de Saúde, que pela primeira vez recebiam alunos da graduação para observação do modelo de atenção à saúde com enfoque à clínica, de modo a apresentá-la e confirmar sua viabilidade, definindo quantos elementos além da equipe poderiam circular nas áreas, os locais apropriados e período para viabilizá-la.

No encontro inicial do semestre, quando é exposta a Disciplina aos alunos, a inovação foi apresentada. Porém, no primeiro momento das atividades de ensino - aprendizagem é detalhada e feitos acertos na escala dos alunos para viabilizar a observação e acompanhamento das atividades assistenciais que caracterizam os modelos de atenção à saúde adotados nos campos da prática profissional definidos, visando destacar o trabalho da equipe e neste o da enfermagem e enfermeiro. A leitura de textos sobre o sistema público de saúde brasileiro, atendimento ambulatorial e atenção à saúde da família, que articulada à assistência clínica hospitalar visa dar subsídios à reflexão sobre o modelo de atenção à saúde e análise crítica, destacando propostas para enfrentar os problemas ou dificuldades identificados. Concluem a proposta os relatos escrito (individual) e oral (grupal) e avaliação (escrita) da experiência do aluno.

O total de 88 estudantes foi disposto em onze grupos com 6 ou 7 integrantes, divididos em duas turmas, para viabilizar acesso aos campos clínicos, a consulta dos textos para leitura, as dinâmicas de encontros diários e discussões das experiências, além de incluir as demais disciplinas que compõem o semestre do curso.

A orientação das atividades previstas no programa foram assim especificadas:

a) visitar o Serviço de Saúde – ambulatório, unidade distrital de saúde e vigilância sanitária em domicílios;

b) acompanhar consultas médicas e de enfermagem a adultos e idosos;

c) acompanhar pronto – atendimentos à demanda dos serviços e visitas domiciliares;

d) descrever modelos de atendimento médico, destacando motivo da consulta médica, conduta de investigação diagnóstica, resultados, prescrição e encaminhamentos;

e) descrever modelo de atenção da enfermagem, pré e pós consulta, visitas domiciliares e consultas de enfermagem, destacando objetivos, situação, condutas e registros, confronto com o processo de enfermagem – foco da disciplina,caracterizando o perfil do enfermeiro;

f) compor relatório escrito (individual) descritivo e analítico, detalhando tipo de demanda aos serviços, o modelo de atendimento clínico considerando: o histórico da saúde-doença da pessoa, conduta investigatória e terapêutica, relações com outros serviços diagnósticos e grupos de trabalho (equipes) profissionais da rede do SUS, o envolvimento das famílias e outros recursos de apoio social às ações de saúde;

g) Elaborar relatório verbal (em grupo) para exposição e debate com a classe, tomando por base as diretrizes do relato escrito.

A avaliação continuada está prevista durante as atividades de campo e estudo, ficando docente e colaborada disponíveis no dia-a-dia e ao término de cada sub-grupo, bem como a apreciação final, através de relato individual escrito e oral com a classe, ao término da disciplina.

A participação da pós-graduanda foi estabelecida a partir dessa proposta, indicando a leitura prévia dos textos indicados, a visita aos campos de estágio, o acompanhamento de estudantes quer no ambulatório, quer na unidade distrital de saúde, junto à docente e discussão diária das experiências após os períodos da prática junto aos estudantes, de modo avaliar o andamento do programa, atender às novas demandas e sua finalização, com relato escrito para divulgação científica.

 

APRECIAÇÕES DOS RESULTADOS

A experiência de ensino ocorreu entre sete de abril e um de julho, em 1999, conforme cronograma definido pela Disciplina Enfermagem Médica, oferecida no terceiro ano (quinto semestre) do curso de graduação da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto/USP.

As avaliações expressas verbalmente pelos alunos, grupo a grupo e com toda a classe, confirmaram o alcance dos objetivos propostos, em termos das oportunidades que os campos definidos para as experiências propiciaram, reconhecendo as ações de enfermagem no ambulatório, em unidade distrital de saúde e junto à família no domicílio, consideradas expressão de novas opções do mercado de trabalho profissional e a viabilidade da relação entre os serviços de diferentes níveis de atenção à saúde no SUS-Ribeirão Preto. A oportunidade de refletir sobre esse espaço do trabalho na saúde, viabilizou a expressão crítica dos alunos quanto à necessidade de introduzir estratégias de integração interdisciplinar, no ensino das disciplinas de Saúde Pública e Saúde do Adulto, que devem ter prosseguimento em Médica e Cirúrgica e outras áreas, nos serviços da atenção à saúde com maior complexidade e mesmo da Saúde Mental, sem perder de vista os mecanismos organizacionais de referência e contra-referência no Sistema unificado de Saúde.

Alguns líderes de grupos buscaram apresentar um consenso dentre os alunos, durante o debate final de avaliação envolvendo a maioria dos alunos, expressando que a motivação central era desenvolver habilidades na assistência de enfermagem em unidades de internação hospitalar, com pacientes em condições clínicas de urgência, condições crônicas e terminais e mesmo em quadros instáveis de saúde-doença, que caracterizam os serviços de referência terciária. Cabe aqui esclarecimento quanto a se esse o enfoque predominante nas práticas oferecidas pela Disciplina, que integram campos da clínica médica e neurologia, tanto no hospital geral quanto na unidade de emergência, do Hospital das Clínicas, da Faculdade Medicina de Ribeirão Preto, USP.

No entanto, o conteúdo das avaliações escritas (individuais e não assinadas) aponta muitos pontos de dissenso, indicando que tais campos definidos poderiam ser mais aproveitados se houvesse maior carga horária para desenvolver as práticas assistenciais que lá se desenvolvem, contentando o tempo destinado à leitura e análises das realidades observadas, pois a ótica principal é "fazer", desenvolver habilidades manuais, diante das poucas oportunidades oferecidas no curso para aplicar os conhecimentos adquiridos à prática profissional. Outros sugeriram as aulas em vez de leituras, sobre as situações vividas nos campos de estágio, associadas ou independentes dos estudos de caso propostos, seguindo o processo de enfermagem, estratégia essa adotada pela Disciplina para fortalecer a teorização da prática.

A síntese, pois, firma o proveito e oportunidade de novos aprendizados na interação com adultos e idosos doentes fora do hospital e no domicílio, novas habilidades com doentes interativos que possuem maior potencial para aprender e aplicar o auto cuidado e novas habilidades técnicas. Destacaram também a lacuna na estrutura curricular que exclui o ambulatório hospitalar como campo de ensino-aprendizagem da prática de enfermagem, local esse centrado nas consultas médicas por especialidades, que exige mudanças conceituais e práticas de modo a realizar as consultas interdisciplinares, onde o enfermeiro não tem desenvolvido seu papel na gerência do cuidado em ambulatório de especialidades na clínica.

A formação do enfermeiro precisa ser continuamente analisada e revista, de modo a incorporar as mudanças e atender às diversas demandas aos serviços de saúde, capacitando-o para o exercício de ações básicas de saúde (promoção e prevenção primária), de grande abrangência para permitir a cobertura do Sistema e as de maior complexidade para viabilizar o diagnóstico, terapêutica e reabilitação, representada pelos serviços de referência secundária e terciária, predominantes no país, cujo modelo biomédico não dá conta da grande demanda de doentes (UNICOVSKY; LAUTERT, 1998). A formação científica e tecnológica do enfermeiro precisa ser ampliada e incorporar as dimensões humana e política, que podem contribuir na construção de competências para processar a crítica e ações criativas, úteis no enfrentamento dos problemas de saúde em sua especificidade profissional. Destacam ainda as autoras, a importância do trabalho da enfermagem à liderança das ações de atenção primária à saúde, modelo esse que busca através da abordagem biopsicossocial contribuir na promoção da saúde e cidadania.

A avaliação realizada com a pós-graduanda, tomando por base os documentos escritos,e depoimentos verbais dos encontros com grupos e da classe, além das notas feitas no diário de campo, destaca alguns aspectos e dificuldades, a saber: 1- a resistência dos docentes envolvidos na disciplina à inovação proposta, desvalorizando os serviços de referência secundária como oportunidade de complementar a compreensão do modelo de atenção clínica, que predomina nos espaços extra-hospitalares incluindo o domiciliar e a necessidade de fazer intersecções com a saúde pública, oportunidade essa de contribuir para a ruptura da dicotomia entre a atenção à saúde curativa dissociada e distinta da preventiva; 2- resistência dos alunos em incorporar métodos ativos de aprendizagem, centrados na participação criativa do aluno, tendo o docente o papel de facilitador que adota o dialogado na composição grupo de estudo e debate para a compreensão da realidade proposta; 3- reconhecer os hábitos de escolarização, culturalmente enraizados, em que o professor deve possuir os conhecimentos a serem transmitidos aos alunos e estes devem demonstrar o aprendizado em provas obtendo notas; as notas expressam o real valor do aprendizado do aluno, atribuídas pelo professor. Essa cultura implica em relações de autoridade e obrigações onde o foco central da formação profissional fica minimizado à frações de conhecimento e saberes do propósito da educação para ser enfermeiro e fazer enfermagem; 4- dificuldade em incorporar a avaliação concomitante ao processo do ensino-aprendizagem, tanto nos alunos quanto nos docentes e a inflexibilidade nas relações e revisões do trabalho educativo pré-estabelecido.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A inovação proposta representava a intenção e percepção de seu idealizador que contou com a colaboração da pós-graduanda para viabilizar as atividades propostas. Isto reflete a dificuldade de criar numa instituição cujo modelo curricular está estrutura numa grade de justaposição de disciplinas, que por sua alinha os conteúdos distribuídos pelos docentes para o ensino em sala de aula. Porém, quando é necessário desenvolver habilidades de fazer pensando, refletindo numa realidade concreta da prática profissional, aí a lógica não é tão simples, onde se faz necessária a intersecção de conhecimentos, habilidades e atitudes para formar competências de entender e intervir no desconhecido e imprevisível. E nisso os educadores precisam ser formados, fazendo do seu dia-a-dia o aprender a ser educador permitindo a curiosidade do aprendiz estudioso.

Constatar as enraizadas forças de resistência (docente e discente) frente à inovação pedagógica e conceitual na disciplina Enfermagem Médica, denota a necessidade de rever o projeto pedagógico da referida Escola e neste reconhecer o compromisso firmado, junto à universidade e sociedade de formar enfermeiros, com que perfil e competências. A partir da retomada das intenções e compromissos, buscar aglutinar alguns parceiros idealistas que buscar concretizar suas idéias, para montar grupo de trabalho e propor esboço das idéias desencadeadoras da avaliação diagnóstica da realidade, que envolverá os sujeitos/atores da ação educativa (comissão de ensino, departamentos, disciplinas, docentes, alunos e parceiros dos campos da prática profissional), base para a definição de mudanças, adotando a avaliação como eixo central de acompanhamento do projeto a ser traçado pela comunidade (escola).

O destaque feito pelos estudantes à desintegração interdisciplinar, bem como à sugestão de ampliar a carga horária para o desenvolvimento de habilidades e competências de enfermagem nos diferentes campos da prática profissional, incluindo ambulatórios, famílias e espaço domiciliar, vão exigir novas estratégias pedagógicas que problematizem a realidade, de modo a subsidiar o entendimento das situações e incentivar a intervenção e enfrentamento dos problemas, fortalecendo assim a formação crítica do enfermeiro engajado em seu tempo, construindo história em prol dos direitos à cidadania.

E ainda, o importante é acreditar que mudanças são necessárias em tempos dinâmicos, em que a história real não consegue ser congelada ou aprisionada nas grades curriculares, disciplinas, currículos mínimos ou outras regras em que se acreditou em algum momento da vida. Pensar e agir em educação pede movimento e não pontos finais ou traçados rígidos e certezas inabaláveis de saberes. Portanto, o que se apresenta é caminhar formando agrupamentos ou etnias, respeitando as diversidades de potencialidades e crenças que viabilizem projetos capazes de representar novas comunidades e construção de saberes e conhecimentos sobre o mundo da vida.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientaçao do modelo assistencial. Brasília, 1998.

BRIGHAM, C. Nursing education and critical thinking: interplay of content and thinking. Holistic Nurse Pract., v.7, n.3, p.49-55, 1993.

PEREIRA, FBG. Pedagogia problematizadora na educação continuada em enfermagem no Hospital das Clínicas - UNICAMP. Ribeirão Preto, 1996. 93p. Dissertação [Mestrado] Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.

PERRENOUD, P. Construir as competências desde a escola. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999

PROGRAMA DE APERFEIÇOAMENTO DE ENSINO – PAE. Portaria GR N˚ 3190, de 26 de outubro. Universidade de São Paulo, 1999.

UNICOVSKY, MAR; LAUTERT, L A formação profissional do enfermeiro: reflexão, ação e estratégias. In: SAUPE, R (org.). Educação em enfermagem da realidade construída à possibilidade em construção. Florianópolis (SC): Ed. da UFSC, 1998, p. 221-241.