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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005
Rede do 3º ciclo - Projeto de Tempo Integral
Núcleo de Alfabetização e Letramento - PBH - MG. Tel. 0 XX 31 3277 8643. e-mail : rede3ciclo@pbh.gov.br
O INÍCIO
Em 2003, a partir de um debate sobre o problema enfrentado no 3º ciclo das escolas municipais de Belo Horizonte, relacionado à alfabetização, foi desenvolvido, no segundo semestre, um projeto denominado "Projeto Emergencial de Alfabetização", para alunos de 13 a 18 anos, do 3º ciclo ( 6ª, 7ª e 8ª séries), que ainda não possuíam a base alfabética. Para isso, foram selecionadas professoras alfabetizadoras, mas, que tivessem alguma experiência em trabalho com adolescentes.
Ao iniciarmos o projeto, sabíamos de nossos desafios e limites. Os limites estavam localizados na certeza de que qualquer projeto emergencial não pode substituir o trabalho cotidiano da sala de aula. Os desafios apareciam quando pensávamos nos alunos que iriam participar do projeto e em suas trajetórias de fracasso escolar.
No decorrer do trabalho constatamos que a grande maioria dos alunos já tinha a base alfabética construída, apresentando, isto sim, um grande nível de dificuldade em relação à produção e leitura de textos e aos aspectos ortográficos da escrita. Outra constatação, esta já esperada, foi a dificuldade de relacionamento e convivência que existia nos grupos, reflexo de um sentimento de discriminação e exclusão.
OS PRINCÍPIOS DO PROJETO
Coletivamente, construímos alguns princípios que deveriam orientar o trabalho. Entre estes princípios , podemos destacar:
- O aluno deve ser sujeito do processo, o que significa envolvê-lo, desde o início, na definição dos rumos do trabalho, na construção de regras de funcionamento da turma, no processo de registro e avaliação da experiência vivida.
- A leitura e a escrita devem ser vistas como práticas culturais, o que significa criar situações reais de uso de escrita e leitura em sala de aula, buscando ampliar as experiências de letramento dos alunos.
- A aprendizagem deve ser significativa para que realmente ocorra, o que nos exige uma postura de escuta em relação aos alunos, para encontrar pontos de conexão entre os processos de ensinar e aprender.
- Todo processo de formação é diverso, o que nos exige um esforço de transformar a diversidade em uma vantagem pedagógica.
- As atividades devem ser variadas e conectadas com o universo cultural dos alunos, o que significa pensar projetos que envolvam temas e atividades próprias da juventude, principalmente no campo das artes.
- A aprendizagem depende da qualidade das interações, o que significa a necessidade de se construir um espaço rico de troca e cooperação entre os alunos
AO FINAL DE 2003
Estes jovens revelavam através da confiança e participação, um reconhecer-se como sujeito, uma capacidade de expressar-se diante de um grupo, expor suas fraquezas, de acreditar que o outro pode querer ajudá-lo.
Pudemos perceber também os conflitos que propostas como as que desenvolvemos criam no cotidiano da escola.
Nessa avaliação, achamos que estarmos fora do espaço escolar, talvez fosse melhor para esses jovens acostumados com o papel de "fracassados" endossado pelas falas e olhares do ambiente escolar.
NOVO ANO – NOVO RUMO
Em 2004, as turmas do projeto funcionaram em lugares alternativos tais como: teatro universitário, igrejas, centro cultural, parques etc.
Nesse ano, contamos com os agentes culturais. Jovens vinculados a movimentos culturais, a maioria com trajetória semelhante à dos nossos alunos do projeto. Esses agentes culturais, falando a mesma linguagem de nossos jovens, dando exemplos bem próximos dos alunos, possibilitaram a mediação de dois mundos tão distantes: o da escola e o destes jovens do projeto.
Durante o ano, cada grupo, de acordo com o interesse dos alunos, desenvolveu uma proposta de trabalho específica. Alguns exemplos :
- Trabalho centrado na observação e estudo do entorno de onde era desenvolvido o projeto com caminhadas pelas ruas retratado através da pintura e vídeo;
- Troca de correspondências entre dois grupos como forma de interação e conhecimento ;
- Trabalho desenvolvido no Parque das Águas escolhendo, através de votos dos alunos, o local mais representativo;
- Projeto vivenciando o espaço urbano , que desenvolveu um estudo histórico sobre uma rua do centro – Rua da Bahia
- Trabalho sobre sexualidade, oportunizando aos alunos momentos de estudo, reflexão e diálogo sobre DST e suas dúvidas;
- Projeto de Rap, valorizando a cultura juvenil como meio de resgate da autonomia e auto-estima;
- Projeto de construção de jogos de alfabetização para alunos de 1º ciclo.
Um ponto em comum entre todos os trabalhos foi o de levar nossos jovens a conhecer os espaços urbanos constituindo-se de fato como cidadãos participantes e conscientes de seus papéis na sociedade.
Em todo esse processo, cultura, arte e educação foram o eixo do trabalho.
NOVAS PERSPECTIVAS EM 2005
Na avaliação, ao final de 2004, constatamos o aumento da autonomia e a construção positiva do sujeito como cidadão ao estar fora dos muros da escola. Em contra partida, estar longe do ambiente escolar realçou o não envolvimento da escola, percebido através da atitude dúbia do aluno ( no projeto era interessado, participativo; na escola era infreqüente e passivo ). Era o momento de estarmos criando elos com a escola, conseqüentemente com os professores desses alunos.
Pensando dessa maneira o projeto tomou novos rumos e transformou-se na "Rede do 3º ciclo – Projeto de tempo Ampliado ".
Os alunos continuam sendo atendidos em horário extra escolar mas, além do professor alfabetizador e do agente cultural contamos agora com a presença de professores do 3ºciclo da escola – professores desses alunos no horário escolar.
É importante a vinda desses professores para o projeto. Eles são a ponte entre o projeto e a escola. É importante o diálogo entre a escola e o projeto e é primordial o comprometimento na ajuda da construção de situações favoráveis para que o aluno com trajetória de indisciplina e desrespeito às normas, possa ter a oportunidade de exercitar sua autonomia e responsabilidade.
OS AGENTES CULTURAIS
Partindo do princípio que cultura pode transformar vidas, nós, agentes e professores resolvemos trabalhar com as experiências de vida desses alunos, produzindo cultura ou cadenciando o processo , uma vez que, nossos companheiros de " sala " são jovens e o processo de alfabetização se dá de forma mais complexa , se comparados com alunos do 1º ciclo ( 1ª e 2ª séries ).
" Apesar das dificuldades, conseguimos trabalhar com diferentes materiais, não os materiais de sempre . Usamos tinta para que pintassem um novo mundo e filmadora para que, com as imagens, abrissem os olhos e criassem sonhos para um mundo de jovens diferentes, cheios de riquezas culturais descobertas através de seus talentos". ( Rosângela )
" Sem sombra de dúvida, muitos dos objetivos foram alcançados , pensando-se nos adolescentes. As dificuldades com a alfabetização, nem sempre foram nossos maiores ganhos, pensando-se no aluno. Mas, transformamos esses ( as) meninos (as) , que passaram a enxergar um horizonte que até então se resumia em futebol ou trabalho de doméstica em algum bairro que eles não sabem pronunciar o nome". ( Rakan)
" Todo obstáculo vencido nos dá sempre uma realidade diferente. Somos utópicos às fórmulas mas, quais são as fórmulas que podem resolver as tristes e complexas equações de uma sociedade tão desigual"... ( Reginaldo )
" O projeto me ajudou a ter uma nova visão sobre a escola. Neste ano de 2005, quando fiquei sabendo que o projeto seria dentro da escola, pensei até em desistir mas percebi que os professores do 3º ciclo devem participar e nos ajudar na alfabetização desses jovens e que conseguiremos melhores resultados trabalhando dentro da escola de onde eles vieram " ( Paulo )
" Aprendi tanto com esses jovens que, ao meu ver, torna-se inegável a relação de reciprocidade no aprendizado e quero parabenizar os que acreditam na mudança e se permitem conviver com outras formas de ensino e cultura, as quais fazem parte da realidade cotidiana desses jovens". ( Rômulo )
Assessoras do Projeto : Fernanda Macruz
Lúcia Helena Alvarez Leite
Coordenação:Catherine Hermont
Elizabeth Terra
Professoras alfabetizadoras :
Denise Ziviani
Elizabeth Terra
Fátima Silva
Gisele Outeiro
Janine Mariano
Lilian Abranches
Maria das Graças Reis
Maria Goretti Cruz
Roberta Cunha
Agentes Culturais :
Diarlen Fernandes
Paola Abreu
Paulo Marcos Santos
Rakan Pablo
Reginaldo Pereira
Rômulo Oliveira
Rosângela Moura
Carlos
Gleison
Leandro
Marla