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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005

 

A construção do ser adolescente e o cenário das violências domésticas

 

 

Maria da Conceição N. MonteiroI; Mara Aparecida Alves CabralII; Denise JodeletIII

IUniversidade Estácio de Sá. Curso de Psicologia. Rua do Bispo, 84 Rio de Janeiro/RJ – mcnm@estacio.br
IIUniversidade Estadual de Campinas/UNICAMP, Professora Pesquisadora, Faculdade de Ciências Medicas. Cidade Universitária Zeferino Vaz. Campinas, São Paulo/SP
IIIDiretora de Estudos da Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris/Fr

 

 


RESUMO

Este estudo tem como objetivo identificar o cenário em que ocorreram as violências domésticas, as representações sociais e as representações de si mesmos segundo a percepção de noventa jovens residentes em Campinas – São Paulo.
Destacamos o processo de construção da identidade na adolescência, a partir de elementos que denunciam conflitos psicossociais, inquietações, provocações ou inadequações sociais vividos durante a crise normativa (ERIKSON,1976) pouco trabalhada pelas áreas de educação e saúde coletiva.
Procuramos identificar a problemática, os conflitos e os cenários que envolvem o fenômeno da violência doméstica e sua relação com a representação de si mesmo, através de entrevistas com os adolescentes e seus agressores. São relatos do cotidiano familiar discutidos nos temas, atributos e categorias que contribuem para a construção do sujeito a partir da dinâmica familiar e do cenário das violências domésticas as quais se constituem parte da construção de sua identidade e subjetividade. Ressaltamos condutas de rebeldia, marginais ou violentas e os seus efeitos na auto-imagem desses adolescentes.
Os procedimentos para coleta de dados foram realizados através dos registros e ocorrências de maltratos, notificados em unidades de educação e saúde – hospitais, prontos de socorro e instituições de proteção, de ensino e nos arquivos do então Centro Regional de Registro e Atenção aos Maus Tratos na Infância-Campinas. Aos casos estudados foram garantidos o sigilo e o anonimato conforme a Resolução 196/CONEP.
Realizamos a análise quali-quantitativa que se destina ao exame do conteúdo, interpretado conforme os fundamentos teóricos das representações sociais e das representações de si mesmos, privilegiando os eixos temáticos, pré-determinados nos Instrumentos de Pesquisa e as categorias valorizadas ou rejeitadas nos discursos dos adolescentes maltratados na infância, as quais possibilitaram e apontaram as considerações finais deste trabalho.

Palavras chaves: violência doméstica, lares violentos e adolescentes.


 

 

Introdução

A motivação para realizar este artigo surgiu das pesquisas sobre violência doméstica realizadas na cidade de Campinas/São Paulo. Naquela ocasião, o primeiro contato foi com a criança vitimada. Este encontro, por mais delicado e apreensivo que fosse, poderia acontecer em sua moradia, na escola, no centro de saúde, no juizado de menores ou mesmo em quartos de hospitais de emergência.

Minha relação e aproximação com essas crianças, o estado de flagelação em que se encontravam seus corpos, seus sentimentos de medo, retraimento, submissão, inferioridade, apatia e, muitas vezes, comportamentos agressivos, causavam-me, enquanto mãe e pesquisadora, uma sensação de indignação e perplexidade.

Se, por um lado, os sentimentos pareciam-me confusos, a racionalidade conduzia-me a uma profunda reflexão, estimulando-me à pesquisa teórica sobre o tema da violência doméstica, na busca de algumas explicações. Entretanto, o caminho teórico também foi denso e difícil, confirmando que a prática agressiva está presente em muitas famílias e em diferentes países. Percebe-se que o caráter epidêmico do fenômeno das violências familiares encontra-se cada vez mais difundido, ampliando-se para os espaços privados e públicos. Por outro lado, observa-se a carência mundial de prevenção em todos os segmentos, sobretudo naqueles que se referem ao atendimento psicológico aos vitimados (GREEN,1978a) e vitimizadores, na busca de sua saúde mental. Entendemos o atendimento psicológico como medida preventiva de doença mental, a qual se inclui na prevalência de transtornos mentais. Segundo dados estatísticos a população adulta do Brasil é atingida por transtornos mentais na ordem de 30% por ano e que pelo menos 20% dessa população requer um tipo de intervenção em saúde mental.

Na abordagem aos jovens e seus agressores tinha-se como objetivo atingir o universo simbólico ou figurativo através da linguagem. Todavia, quatro anos depois, as crianças que participaram da primeira pesquisa estavam naquela ocasião, vivendo o processo de adolescer. Nem crianças, nem adultos, pareciam não saber quem eram e que caminhavam para um futuro adulto, acompanhado de exigências sociais quanto à tomada de consciência, compreensão, atuação na sociedade, definição de projeto de vida pessoal e profissional e vivência da cidadania.

Desta forma, eu precisava saber como ocorrera essa passagem da infância para a adolescência em um ambiente familiar estressante, marcado por conflitos psicossociais1 que expressam representações mentais e sociais constituídas de sentimentos de tristeza, medo, apatia, delinqüência, agressão ou violência.

Neste trabalho, o conceito de vivência de agressões físicas na infância refere-se aos maus tratos, cometidos por pais, responsáveis ou outras pessoas que moravam com os adolescentes. São agressões que deixaram marcas ou hematomas no corpo, ocasionadas por surras, cortes, queimaduras e fraturas de ossos, para as quais foram utilizadas pedaços de madeira, cinto, fio, arame e outros objetos cortantes.

Procuramos identificar o processo de construção das representações sociais da vivência de maus tratos físicos sofridos na infância, segundo a percepção, sensação e todas as possibilidades cognitivas e psicossociais vividas durante a adolescência. Estas representações expressam o universo simbólico e figurativo2 dos jovens, a partir de elaboração e reconstrução de experiências subjetivas e objetivas, experenciadas na dinâmica psicossocial das violências domésticas, caracterizada pelos conflitos e pelas crises de geração e conflitos entre pais e filhos adolescentes; nas relações afetivas e sociais estabelecidas com seus pais, irmãos e com outras pessoas que habitam junto a esses jovens; nas representações sociais desse fenômeno social e nas representações que os adolescentes vitimados têm de si mesmos.

 

Do conhecimento empírico à literatura.

Através da assistência prestada às crianças vitimadas, às famílias agressoras, do conhecimento teórico divulgado pela literatura médica e psicológica, da difusão dos casos de violência doméstica pela mídia, com sérias conseqüências para as áreas de saúde mental e saúde coletiva foi despertado, nesta pesquisadora, o interesse em dar continuidade a este trabalho, na certeza de um tema que requer maior aprofundamento e tomada de decisão para a assistência, para o cuidar.

Calcula-se que os maus tratos ocorridos nos lares, contra crianças e adolescentes, atingem cerca de 20% da população na faixa etária entre zero e dezoito anos. Sabe-se, no entanto, que para cada caso de violência registrado ocorrem mais outros quatro que não chegam às estatísticas oficiais; que as vítimas de maus tratos retornando aos seus lares têm 50% de chances de serem vitimadas novamente; que 25% dessa população permanecem com danos cerebrais e que, 10%, vão a óbito"(SANTOS, 1987).

Todavia, sabe-se, também, que a ausência de estatísticas oficiais, em âmbito nacional, relativas ao diagnóstico da Síndrome da Criança Espancada/SCE3 está associada à falta de preocupação dos profissionais de saúde em notificarem estas ocorrências, principalmente ao atenderem em serviços de emergências médicas (ALVES, et al.,1988; TEIXEIRA, 1984; POLK & BROWN,1988) e que, a lenta conscientização da sociedade e das autoridades em geral, em relação a este fenômeno psicossocial, prejudica uma análise mais criteriosa (KEMPE,1978; LANEVE, LEON, VAMONDE, 1987).

No Brasil, essas condutas precisam ser reavaliadas, para que se possa desenvolver, implementar e cumprir as políticas públicas de defesa à criança e ao adolescente, no âmbito de ações preventivas em nível primário, secundário e terciário, a exemplo do que se faz em outros países, que normatizam suas políticas públicas nos programas sociais, comunitários, educativos e médico-psicológicos (GREEN, 1978a; KEMPE, 1978; LANE, 1988; KERR,1989a). Em muitos países observam-se também resultados de pesquisa enfocando estatísticas de violências domésticas e os tipos de maus tratos ocasionados, muitas vezes, pelos efeitos de uma rede de causalidade que incluem principalmente o alcoolismo (BROWER,1987; SCHWATZ, 1989); o baixo nível de escolaridade (LANEVE,1987) e a privação sócio-econômica de pais agressores (CASADO-FLORES, BANO-RODRIGO, ROMERO, 1987; GELLES, 1989; FERMAN, 1996; MOGILKA, 1997). Além de aspectos psicopatológicos, representado pelo funcionamento da atividade mental anormal de algumas pessoas específicas (GREEN,1978b; TESONE,1984; ZURAVIN,1989), presentes nos lares estressantes e desestruturados, as quais utilizam a violência contra seus filhos como uma forma de extravasar seus conflitos psíquicos e suas frustrações. Estas condutas são relatadas em literatura específica quando aponta que o fenômeno das violências domésticas ocorre em todas as classes sociais, e que vários fatores dificultam o acesso a essa realidade. No Brasil destaca-se a ausência de políticas públicas dirigidas a este fenômeno psicossocial. Por outro lado, muitos países desenvolvidos apesar de apresentarem uma prática diferenciada de proteção à criança e ao adolescente, minimizando estes eventos, os Estados Unidos, por exemplo, um dos países mais ricos do mundo, embora tendo políticas públicas que visam prevenção da violência na infância e adolescência, apresentam altos índices de violências familiares como uma rotina dolorosa no cotidiano americano, fazendo vítimas de abuso físico aproximadamente 250.000 crianças (JUSTICE,1983).A França, caracterizada como uma sociedade que prefere o silêncio ao escândalo, permite, apesar do severo Código de Proteção à Infância, que cerca de 50.000 crianças sejam também vitimadas, sendo que, aproximadamente 340 morrem por ano devido aos maus tratos nos lares (TESONE, 1984; UNIS POUR VAINCRE,1996).

Entende-se a ausência de proteção às crianças e aos jovens possibilitada em um determinado tipo de governo que nega a expressão francesa, l' état providence, analisada por CARIO (1996) em seu livro "Jeunes Délinquants, à la recherche de la socialisation perdue". Este autor enfatiza a responsabilidade como a verdadeira urgência que se impõe ao Estado, para que ele possa compreender a filosofia da delinqüência dos excluídos, de suas práticas, atos, atitudes e comportamentos que levam à criminalidade média4 comumente encontrada nos subúrbios e nas grandes cidades (DUBET,1987).

 

Aspectos metodológicos.

População estudada e instrumentos de pesquisa.

Foram estudados 90 adolescentes de ambos os sexos, com idades compreendidas entre 12 e 18 anos que expressaram seu desejo de participar da pesquisa. Para os procedimentos de coletas de dados foram realizadas entrevistas gravadas, aplicados os questionários socialdemográficos e realizados os levantamentos das representações sociais da violência doméstica e representação do jovem por ele mesmo. Destacamos os principais locais da pesquisa: CRAMI - Centro Regional de Registro e Atenção aos Maus Tratos na Infância e Adolescência-Campinas (104 casos), Vara da Infância e da Juventude (90 casos) Delegacia da Mulher (62 casos); Escolas (60 casos) Vizinhos (60 casos).

 

Método de análise quali-quantitativa.

A análise qualitativa priorizou os elementos semânticos e léxicos que expressavam significados de mensagem pesquisadas nos escritos, discursos, silêncios e lágrimas articuladas com aspectos de natureza biológica, psicológica, sociológica, antropológica e política.

Os dados provenientes das questões fechadas e abertas foram tratados pelo programa Epi Info 6. Para isto, foi construído um banco de dados com todas as questões dos Instrumentos de Pesquisa. As respostas das questões abertas foram incluídas no banco de dados, após todos os procedimentos da análise qualitativa, ou seja, depois da definição das categorias valorizadas e rejeitadas e das palavras-chaves serem identificadas, classificadas e categorizadas.

A análise fatorial de correspondência destinou-se a verificação do núcleo central das representações sociais da violência familiar ou doméstica. Para isto, utilizamos a técnica de associação livre, a partir de um nome indutor que permitiu aos adolescentes falar e escrever as dez (10) primeiras palavras que lhes vieram à mente no momento da entrevista ou do preenchimento dos questionários da pesquisa de campo.

 

Relações pais e filhos adolescentes:

Uma perspectiva anômica.

Estudar os adolescentes deste grupo e pesquisar suas relações familiares nos levam à entidades psicológicas muito diferenciadas. São jovens que falam de estruturas familiares fortes e de vínculos de ternura. São filhos que querem proteger a imagem de um pai agressivo, sob a justificativa de uma vida melhor, uma educação para o futuro. São jovens que falam de seu ódio e de seu perdão. Falam de suas mães com afeto e de suas crises familiares, com vergonha. Falam de seus desejos de sair da família, sem falar de abandono. Falam de crescer e de vir a ser. Reconhecem uma sociedade desigual e desestruturada e outras vezes aos seus olhos inexistente. São jovens que falam de seus erros com orgulho e de seus delitos com um olhar perdido em busca de limite e proteção.

Neste contexto observa-se a frágil definição de papéis, atribuídos aos pais e aos filhos, evidenciada num instante anômico de privacidade familiar, quando se precipitam às violências domésticas. Momento em que se reafirma a desproteção estrutural. São famílias brasileiras que reagem negativamente nas relações tempestuosas, repletas de conflitos e de crises: Juliano tem 18 anos e quando volta para sua casa muito simples, semi-acabada, nos fundos de uma garagem, construída pelas mãos do padrasto pedreiro que sabe fazer arte nos mármores dos "palácios" de Campinas, deita-se no sofá da sala, agasalha-se até o pescoço nos velhos cobertores, cruza os braços no peito, os seus pés mexem sem parar. Juliano tem ansiedade de querer ter muito mais, mas ao reconhecer que a vida não lhe dá o que deseja, assiste à televisão.

Foi assim que eu encontrei Juliano. Ele se levantou num gesto rápido, de atenção e gentileza, falou de seu prazer em participar do trabalho, - "Posso relembrar as lembranças do passado, quando houve o problema da agressão de meu padrasto, eu me sentia muito aprisionado e fui morar com minha irmã, eu não gostava de ficar em casa, com o meu padrasto". Para Juliano, os pais são pessoas muito diferentes. Dona Neuza olha hoje para o filho e lamenta ele ter crescido. "Estão distantes de nós. Entram em casa, falam pouco, comem e vão para a rua." Juliano deseja pais de imagem forte, diz que eles não têm opiniões próprias e se influenciam pelas idéias do Centro Espírita. - "Eu sou diferente; Tenho opiniões diferentes que não mudam. Não quero o Centro Espírita em minha casa. Eu me converti. Sou cristão, quero ajudar os meus pais a ter uma vida melhor. Quero que eles mudem. Mas eu não sou compreendido, sou impaciente, me irrito e respondo a minha mãe. Meu padrasto também é nervoso. No final acho que todos sentem ódio e rancor das lembranças das brigas. Depois vem a tristeza e eu sumo de casa. Não tenho medo, sou esperto e querido na rua pelos outros. Sinto pena de minha mãe. Mesmo sabendo que apanhei muito, acho que eles não devem ser punidos. Eles estavam fazendo o melhor por nós mesmos".

Salienta-se a existência de estudos sociológicos sobre o contexto familiar, entretanto, nesta abordagem, pretendeu-se caracterizar o perfil de pais, revelado através dos problemas psicossociológicos e culturais que determinaram situações de desajustamentos devido às relações familiares desorganizadas no contexto dos adolescentes. Entre elas, a (1) omissão do papel de pais, (2) o exagero duma autoridade paterna que se impõe pela força; (3) a gravidez na adolescente que busca a imagem da mãe; (4) as conseqüências de uma adoção inadequada e mal conduzida (5) o sofrimento daqueles que buscam a vida em outros lugares, (6) as condições econômicas e a ausência de proteção do estado nas áreas de saúde, educação e trabalho.

Destaca-se o papel de mulher pobre e submissa que somente encontra sua identidade ao lado de seu "macho". A incompreensão aos jovens revelada pelo choque de gerações; as informações massacrantes da mídia, gerando expectativas irrealizáveis, num mundo globalizado; a violência vivida dentro de casa, associada aquela vivida na rua e na escola. Enfatiza-se os desajustamentos familiares decorrentes das atitudes e condutas psicopatológicas de pais que submetem suas crianças e adolescentes às humilhações reveladas em suas histórias de vida, exemplificadas em atitudes perversas, ou seja, o abuso sexual; os cortes com facas e as queimaduras com cigarros.

Nesta amostra, a mãe dos adolescentes é a pessoa, identificadas por eles como a mais compreensiva. Os amigos vêm em segundo lugar, seguidos da avó e dos irmãos.

Os relacionamentos com a mãe foram expressos como bom e muito bom, em 80% da amostra. A ausência de contato materno foi identificada em 5,8%, sendo a principal queixa, o abandono, enquanto bebê, em 3,5% e a morte da mãe em 2,3% dessa amostra. Os relacionamentos maternos regulares ocorreram em 8% e 6,2% expressaram-se como ruins.

Observou-se entre as mães dos adolescentes com idade média de 39,9 anos, que a imagem materna em 71,8% dos adolescentes foi expressa pelo carinho recebido; pelos sentimentos de companheirismo em relação aos filhos, generosidade e pelo esforço pessoal, da mãe trabalhar como dona de casa e como profissional. Estes adolescentes revelaram-se pertencentes às famílias constituídas da figura materna de importância fundamental, sendo vista como amiga e companheira. Em 44,5% dos adolescentes foram encontradas as expressões "admiro tudo em minha mãe"; "sinto que eu sou protegido e que eu posso protegê-la"; "minha mãe não tem defeitos"; "minha mãe tem todas as qualidades". Neste grupo, a imagem materna positiva transmitida aos filhos, possibilita aos adolescentes um modelo saudável, com relações maternais menos distorcidas (GAUDERER, 1986).

Entretanto, em 28,4% do total da amostra, houve uma tendência dos adolescentes rejeitarem os sentimentos de hostilidade, traços de amargura, nervosismo e agressão nas relações maternas. Em 20% do total da amostra, identificou-se as expressões: "eu não concordo com a ruindade que minha mãe tem dentro dela"; "ela não aceita ser velha"; "ela é muito nervosa e tem todos os defeitos";"minha mãe é explosiva, briga com tudo".

Essas reações emocionais parecem revelar momentos de crises, em que as mães buscam alívio, muitas vezes descarregando sua raiva e frustrações cotidianas nos adolescentes.

O hábito de fumar e o uso de bebidas alcoólicas foram fatores de risco que prejudicam as relações maternais, em 28,4% do total da amostra.

Observou-se entre os pais dos adolescentes com idade de 44,8 anos, que a imagem paterna em 45,9% do total da amostra, expressa-se pelos atributos positivos do pai trabalhador, responsável e esforçado, independentemente do tipo de relacionamento que se estabelece entre pai e filho. Entretanto, apesar dos sentimentos de sinceridade, bondade e amabilidade terem sido representados por 35,4% do total da amostra, 12,5% salientaram expressões, tais como: - "ele é bom às vezes"; "ele é bom quando não bebe";"ele é bom quando não está em casa".

Nesta amostra 70% dos jovens fizeram referências ao alcoolismo e a agressividade na imagem paterna. Estas variáveis são bastante significativas neste estudo, em virtude das crises familiares, desencadearem "batalhas familiares" quando pais e filhos adolescentes enfrentam-se como verdadeiros adversários. Além do que, elas impedem ou invalidam oportunidades de pais e filhos comunicarem-se para conhecer as verdadeiras causas das situações potencialmente perigosas. Essas variáveis demandam alternativas de ajuda mútua, possibilitando o respeito aos valores pessoais. No caso do alcoolismo e da comunicação entre pais e filhos que prejudicam as relações familiares e fazem emergir a agressividade.

Quanto às relações familiares, através dos relatos de 96,5% dos jovens observou-se que eles são provenientes de uma família com 03 filhos. O perfil salarial da família em 66% da amostra é de até três salários mínimos. O relacionamento entre os irmãos em 60% dessa amostra foi considerado bom e muito bom. A ausência de contato com os irmãos foi identificado em 5% dos adolescentes. Os relacionamentos ruins ou regulares estão presentes entre 35%. Dessa forma, em 40% do total da amostra que têm irmãos, observa-se o indicativo de um conflito que remete a estudos mais aprofundados entre os relacionamentos fraternos.

 

O perfil psicossocial das famílias pesquisadas.

A análise das entrevistas revelou que, o perfil psicossocial das mães dos adolescentes notificados, caracterizava-se pela presença de sentimentos ambivalentes, na relação com seus filhos.

O sentimento de rejeição, devido, principalmente, a uma gravidez indesejada; a ausência de sentimentos de maternidade; estruturas psicológicas sem o desejo de construção de uma família, parecem associados ao desenvolvimento de comportamentos agressivos de pais contra os filhos.

A atitude de passividade, tanto no papel de mulher quanto no papel de mãe, parece explicar os sentimentos de insegurança, submissão e omissão no desempenho de tais funções.

Foram identificados, em muitas mães, sintomas neuróticos característicos de depressão e outros transtornos mentais graves que necessitam assistência, intervenção e estudo específico.

Os efeitos devastadores do perfil psicossocial dos pais, além de ocasionarem perturbações no contexto da família, apontam comportamentos desajustados nos filhos, riscos nas relações cotidianas e prejuízos no modelo de identificação. Este modelo é representado pela internalização de imagens parentais: os pais são os primeiros modelos para os seus filhos, levando o menino a agir como homem e a filha a agir como mulher (MORGAN, 1977). Neste momento, assinalam-se as características de personalidade e os padrões morais e educacionais, que se estabelecem nos relacionamentos psico-afetivos, dentro das famílias. Se forem, por exemplo, perpetuadas figuras parentais que se impuseram pela força (FONTANA, 1964 a) e pela ausência do status de cidadania (SELFETTI,1996) existe o risco de assimilação destas características e destes padrões para o desenvolvimento de comportamentos agressivos dos filhos. São pais que se sentem impossibilitados ou mesmo impedidos de exercer a paternidade, porque eles próprios não internalizaram o significado simbólico desta condição, uma vez que, quando crianças, não lhes foi permitido viver o papel de filhos. É através do exercício da paternidade ou da oportunidade de se sentir filho/criança/adolescente que, em última análise, formar-se-á um adulto cidadão. Na falta dessas referências, eles não se encontram na situação de pais e, portanto, vão se impor pela agressão física contra seus filhos, que se tornarão meninos e meninas incapazes de reivindicar seus próprios direitos.

 

 

Inicialmente, este quadro mostra que as ocorrências de violência física mais graves na infância, como fraturas, cortes e queimaduras de cigarro contra este grupo de adolescentes foram praticadas pelo pai, padrasto ou irmão.

Nas agressões praticadas pelas mães contra os meninos, incluem-se as surras freqüentes e um caso de espancamento; entretanto, parece que outras variáveis, como a rejeição materna e os severos conflitos familiares, observados nas histórias de vida de jovens vitimados possibilitaram condutas anti-sociais, principalmente, àquelas relativas a fugas de casa, roubos e uso de drogas.

Durante as entrevistas, constatou-se que esses meninos apresentavam reflexos psicossociais negativos em seu desenvolvimento pessoal, nos relacionamentos familiares e nas questões de aprendizagem. Nas meninas maltratadas pelos pais, padrastos ou irmãos, o prejuízo no desenvolvimento emocional se revelou, inicialmente, por comportamentos de revolta, associados à fuga de casa e evasão escolar.

Constatamos que há meninas, que apesar das precárias condições sociais em que vivem, progridem através do trabalho, na busca da aquisição de maturidade. Sabemos que as agressões físicas na infância podem ser compreendidas como a vivência de um trauma, com resultados positivos e negativos, em função de fatores associados ao desempenho do papel de pais e mães, à dinâmica familiar, às necessidades infantis, ao desenvolvimento da identidade dos adolescentes, à estrutura da sociedade e, principalmente, à elaboração psicocognitiva, ou seja, a compreensão do evento traumático, que se apresenta de forma diferente para cada um dos adolescentes.

O desenvolvimento de atos e atitudes violentos, por parte dos pais, parece associado aos comportamentos anti-sociais na passagem da infância para a adolescência, quando, este adolescente estabelece suas primeiras experiências com álcool, drogas e pequenos furtos. Estes trazem conseqüências tais como, expulsão da escola, vadiagem, fuga de casa ou roubo. Entendemos essas atitudes anti-sociais associadas à ausência de plena responsabilidade dos pais, pois, quando uma criança rouba ou foge de casa está procurando a mãe. Aos seus sentimentos identifica-se a frustração e à necessidade cada vez maior de encontrar sua mãe ou ao mesmo tempo a autoridade paterna que pode colocar limite aos efeitos devastadores de seu comportamento impulsivo e às idéias que lhe ocorrem quando se confronta com essa demanda psico-afetiva pertinente às condutas anti-sociais.

 

Os adolescentes e as representações de si mesmos.

Estamos interessados em evidenciar algumas características que contribuem ou não para a formação da imagem pessoal e imagem social dos adolescentes. AVANCINI (1978) e SUGAR (1992) destacam algumas características em comum que podem ser observadas no adolescente típico, ou seja, naquele que acusa e manifesta mais nitidamente as dificuldades de sua idade. Enquanto que, na adolescência atípica, repleta de problemas fisiológicos e emocionais, exclui muitos jovens da adolescência típica, sendo esta, portanto, vivida pela minoria do adolescentes.

Durante o processo de formação de identidade (ERIKSON, 1976), os conflitos estão associados ao desenvolvimento de crises sucessivas. Entre elas destacam-se as amorosas ou familiares, associadas às crises de valores que, por sua vez, são influenciadas pelo ambiente sócio-cultural e pelo estilo de vida de cada adolescente. As crises depressivas que influenciam as representações que os adolescentes têm de si mesmos, em função dos lutos vividos na passagem entre a infância e a vida adulta. Para KNOBEL & ABERASTURY (1973) a vivência dos lutos podem explicam os sentimentos de impotência; instabilidade emocional; crises existenciais; sentimentos de absoluta indiferença; manifestações de condutas de sentir-se dependente e independente caracterizando a ambigüidade do adolescente.

Nesta pesquisa, pretendemos identificar, especificamente, se a vivência da agressão física, sofrida na infância, interfere na representação que o adolescente tem de si mesmo, comparativamente ao grupo que não teve esta experiência

 

O discurso dos adolescentes.

Incluímos a freqüência das palavras e das categorias, quanto à relação com eixos temáticos, expressas pelos adolescentes, como atributos positivos ou negativos, que eles consideraram representações si mesmos. As frases elaboradas e as palavras-chave foram apreciadas de acordo com o ponto de vista do adolescente, seus sistemas de valores e as opiniões que o jovem supõe que os outros têm em relação a ele. Os adolescentes elegeram os atributos que melhor expressaram a percepção de si mesmos. A imagem pessoal refere-se à representação de si mesmo, ou seja, a imagem tal como o adolescente se percebe. A imagem social refere-se à representação de si mesmo, na expressão do próprio adolescente, com base na visão que outras pessoas (amigos ou familiares) têm em relação a ele (TOMÉ,1967; CARTRON-GUÉRIN & VIAUX, 1992)

Nas questões, que enfocam a imagem pessoal - "Descreva como você se acha". "O que você mais gosta em você?" - "O que você não gosta em você?"- do Questionário I, verificamos que os adolescentes notificados no CRAMI-Campinas, tiveram freqüências mais elevadas em três atributos positivos (comunicativo/alegre/sonhador) e em três atributos negativos(tristeza/ vingança e agressão). Por outro lado, nestas mesmas questões, os adolescentes vitimados, sem notificações oficiais, elegeram seis atributos positivos (sonhador, alegre, comunicativo, vaidoso, simpático, bonito) e dois atributos negativos (agitado e agressivo).

Entretanto, o grupo comparativo respondeu às questões relativas à imagem pessoal, com maior freqüência, em dez atributos positivos (bonito, comunicativo, criativo, vaidoso, competitivo, agradável, amigo, estudioso, engraçado, extrovertido) e um atributo negativo (desconfiado).

Observamos que, os atributos da imagem pessoal dos 30 adolescentes notificados no CRAMI-Campinas, são diferentes, em níveis quantitativos, daqueles pertinentes aos adolescentes, sem notificações de maus tratos físicos na infância e, principalmente, dos jovens do grupo comparativo. Os adolescentes notificados elegeram: estado de humor, relações sociais e capacidade ideativa, sem fazer referência a sua imagem física. O atributo sonhador parece permitir este contato através de processos imaginários; diferentemente, dos adolescentes sem notificação que, além de expressarem os mesmos atributos, acrescentam: satisfação pessoal, realçando sua imagem física (bonito e vaidoso). Em ambos, os atributos negativos ressaltam a questão da agressividade, sendo que, no grupo notificado o atributo vingativo se contrapõe ao atributo agitado, no grupo sem notificação.

O grupo comparativo, no entanto, expressou atributos que possivelmente, foram valorizados por seus familiares, em sua história de vida e, que são pertinentes ao processo de adolescer, destacando-se: estado de humor, relações sociais, satisfação pessoal e desempenho escolar e pessoal.

A dinâmica da imagem pessoal, dos 60 adolescentes do grupo de estudo, se caracteriza por um núcleo figurativo formado por atributos positivos e negativos, que eles identificaram em si mesmos. Apesar deste núcleo privilegiar a comunicação social presente nos padrões de comportamento social. Verificamos freqüências representativas quanto ao campo das emoções mais primitivas, ao serem enfocados os atributos referentes à agressão e à vingança. Nestes casos, a imagem pessoal dos adolescentes, no aspecto sócio-emocional, organiza-se através de sua interação com seu meio social.

Este resultado parece reafirmar outros estudos que recomendam a prática multidisciplinar, em programas que visem minimizar as dificuldades individuais, familiares e sociais inseridas no contexto do desenvolvimento biopsicossocial e cultural da criança maltratada.

São práticas voltadas para área médica, psicológica, social e jurídica que têm como meta, possibilitar assistência à família e implementar programas de ajuda mútua, visando desenvolver sentimentos de solidariedade e respeito entre os indivíduos, além de realizar projetos educativos e jurídicos de prevenção à violência doméstica (KERR, 1989b).

 

Considerações finais

1. Inclusão de programas de Escolas de Pais em educação e saúde na rede pública e privada orientado temas específicos do cotidiano familiar. Salienta-se o atendimento psicológico, com vistas a melhorar a auto-imagem das mães, possibilitando ao adolescente lidar construtivamente com os sentimentos expressos por elas no cotidiano, principalmente, neste momento, em que o jovem precisa de uma imagem materna positiva, para sentir-se totalmente aceito, apoiado e protegido.

2. Construção de Projetos Pedagógicos do ensino médio e fundamental que sejam motivadores, inovadores, dinâmicos e atendem os interesses dos projetos de vida pessoal e profissional dos jovens, a partir de Políticas Públicas em educação sexual, lazer e trabalho.

3. Criação de uma rede de proteção ligada às instâncias jurídicas e policiais que possibilite ao informante de violência doméstica segurança para que as notificações e os registros sejam mantidos em sigilo e anonimato, garantido sua segurança e integridade, pois, o medo do informante de ser identificado, prejudica o perfil epidemilógico desse fenômeno social. Em geral o informante teme envolver-se com questões policiais ou jurídicas;

4. Controle e rastreamento obrigatório dos atendimentos aos vitimados envolvendo a rede particular e pública de atendimento, assistência médica e pronto socorro, responsabilizando a equipe médico hospitalar quanto aos relatos detalhados nos prontuários, coletando a história e causas das lesões ocasionadas pela agressão, e fazendo o devido encaminhamento para equipe policial ou jurídica.

5.Ausência do Estado Protetor, pois para prevenir os maltratos às crianças e adolescentes, faz-se necessário melhorar a qualidade de vida da população (LANEVE, 1987; MOGILKA, 1997; FERMAN, 1996), através da geração de empregos e de salários compatíveis às necessidades de moradia, alimentação, vestimentas, saúde, educação, transporte e lazer.

6. Em relação à assistência aos vitimados, pouco ou quase nada é feito, salvo, evidentemente, nos casos em que é necessário o atendimento médico com indicação de hospitalização nos serviços públicos, onde se associam condutas médico-psicológicas por um tempo relativamente curto, sem os parâmetros de intervenção, acompanhamento e avaliação.

7. Prevenir o círculo vicioso que gera comportamentos adquiridos, que se multiplicam e se internalizam na cultura, na educação e na sociedade, gerando uma sociedade de psicopatas, com condutas agressivas e irresponsáveis, que requer atenção médica, psicológica, policial e jurídica.

 

Referências bibliográficas.

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Tema – Humilhação social, violência e construção da identidade do jovem brasileiro.
1 Conflitos psicossociais são considerados, neste trabalho, como a oposição entre forças aparente ou realmente incompatíveis que ocorrem dentro da mente (RYCROFT, 1975). O conflito psicossocial pode ser originário do impulso instintual, neste caso, a agressão e de estruturas sociais, por exemplo, as precárias condições sócio-econômicas que podem geral a agressão humana.
2 Universo simbólico, figurativo ou real refere-se às formas opostas de vivências. A primeira, representada através de símbolos, imagens ou abstrações e, a segunda, representando a vida tal como ela é vivida, ou seja, representando o mundo
3 Sindrome da Criança Espancada - SCE está incluída entre as Síndromes de Maus Tratos (T74) no ISCDRHP-10 (1992). Ela denuncia o abuso físico intencional (T74.1) da criança pelos pais, principalmente pela mãe. Ocorre dentro de casa, repetidas vezes, com intensidade variada podendo levar a criança à morte. Outra característica da SCE é que ela pode ser realizada pelos pais ou responsáveis, com atos cruéis ou outros mais comuns: danos emocionais e abusos psicológicos (T74.3), negligências, abandono (T74.0) e abusos sexuais (T74.2), combinados entre si (T74.8) e outros não especificados (T74.9) (KEMPE, 1978; LANE, 1988, SANTOS, PALHARES, OLIVO, 1988).
4 Criminalidade média se refere ao grau médio de crimes praticados por galeras contra terceiros; contra a sociedade; contra o patrimônio público ou privado. Para DUBET (1987), são crimes praticados pelas populações delinqüentes, compostas de jovens que pertencem às classes sociais dominadas. Eles vivem em grupos e freqüentam todos os lugares. Estes grupos têm uma atividade central voltada para a delinqüência. Cometem agressões físicas contra outros adolescentes, contra os professores, praticam roubos e fazem tráfico de drogas. Vivem num clima de insegurança por serem procurados pela polícia e pela mídia. Eles constituem a população de excluídos do sistema social, estão fora da escola e são desempregados.