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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005

 

Adolescente: protocolo de prevenção à gestação e DST's nas Unidades Básicas de Saúde

 

 

Okazaki, Egle Lourdes Fontes JardimI; Tocci, Heloisa AntoniaII; Cavalieri, JoyceIII; Pedroso, Marilda AlmeidaIV; Bossa, NádiaV

IDoutoranda do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Psicopedagogia da UNISA e Profa. do Curso de Graduação em Enfermagem da UNISA em Saúde Materno Infantil. hetocci@itelefonica.com.br
IIDoutoranda do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Psicopedagogia da UNISA e Profa. do Curso de Graduação em Enfermagem da UNISA em Saúde Materno Infantil
IIIMestranda do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Psicopedagogia da UNISA e Enfermeira de UBS da Prefeitura de São Paulo
IVMestranda do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Psicopedagogia da UNISA e Profa. do Curso de Graduação em Enfermagem da UNISA em Saúde Materno Infantil
VProfa. Titular do Programa de Pós Graduação Strictu Sensu em Psicopedagogia da UNISA

 

 


RESUMO

Os riscos que acompanham a gestação são ainda grande preocupação no Brasil e sua prevenção iniciam-se muito antes da gravidez. Um dos riscos que permeiam a gravidez é a gestação na adolescência, que coloca a adolescente vulnerável às patologias antes, durante e após o parto, incidindo não só na adolescente, como também no seu filho. Este é um projeto de trabalho a ser realizado por enfermeiras da Rede Básica de Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo, alunas do Doutorado e Mestrado em Psicopedagogia e Enfermeiros. Mediante as necessidades das unidades de saúde, foi constatado um alto índice de adolescentes grávidas atendidas nas unidades. Desta forma as pesquisadoras estão propondo um trabalho em busca da redução deste índice, com uma proposta de orientação através de estratégias Psicopedagógicas com grupos educativos (oficinas de sexualidade, orientação aos métodos contraceptivos e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis) como melhoria da qualidade de vida das adolescentes.

Palavras Chave: Adolescência, Gravidez, Sexualidade, Psicopedagogia.


 

 

INTRODUÇÃO

Este é um projeto de trabalho a ser realizado por enfermeiras da Rede Básica de Saúde da Prefeitura do Município de São Paulo, alunas do Doutorado e Mestrado em Psicopedagogia e Enfermeiros.

Mediante as necessidades das unidades de saúde, foi constatado um alto índice de adolescentes grávidas atendidas nas unidades.

Desta forma as pesquisadoras estão propondo um trabalho em busca da redução deste índice, com uma proposta de orientação através de estratégias Psicopedagógicas com grupos educativos (oficinas de sexualidade, orientação aos métodos contraceptivos e prevenção das doenças sexualmente transmissíveis) como melhoria da qualidade de vida das adolescentes.

Os riscos que acompanham a gestação são ainda grande preocupação no Brasil e sua prevenção iniciam-se muito antes da gravidez. Um dos riscos que permeiam a gravidez é a gestação na adolescência, que coloca a adolescente vulnerável às patologias antes, durante e após o parto, incidindo não só na adolescente, como também no seu filho.

Conforme estudos realizados por CARVALHO e BARROS (2000), os adolescentes representam de 20% a 30% da população mundial; no Brasil a proporção de adolescentes é de 25% da população total e estima-se que no Estado de São Paulo existam cerca de 6 milhões de adolescentes.

Cerca de 20% das crianças que nascem no Brasil são filhas de adolescentes. Comparado à década de 70, os índices triplicaram para as adolescentes com menos de 15 anos que engravidam hoje em dia. A incidência é maior nas populações mais carentes.

Sabemos que a gravidez na adolescência além de impedir a continuidade dos estudos, vai privá-la de todo um preparo para a vida da mesma forma não terá como educar uma criança e que nem sempre terá a participação do pai. Teremos então prejudicados não só a adolescente, como também seu filho e a sua família. Sabe-se que há um abandono do estudo em larga escala quando acontece uma gestação, interrompendo o processo educativo pelo qual passa esta jovem. A família não se encontra preparada para amparar esta adolescente e ocorre uma drástica mudança na vida familiar.

Há um número cada vez maior de ocorrências e implicações sociais, envolvendo tal grupo, quer pelas preocupações que causam aos profissionais de saúde do mundo, quer pelos problemas de uma adolescente sem preparo para engravidar.

Nas últimas duas décadas tem havido crescentes interesses pelas questões referentes à gravidez na adolescência, pois além de um sério problema jurídico-social, há implicações biológicas, familiares e emocionais, sem citar as econômicas que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade como um todo.

A adolescência, por si só, é um período de mudanças e incertezas, pois a adolescente tem um corpo em transformação, em desenvolvimento, com características sexuais adultas e ao mesmo tempo precisa adequar seu comportamento às novas exigências sociais e culturais que tal fase impõe. Assim, engravidar, nesta fase gera complicações, tanto no que diz respeito ao fator social como no fator biológico e delicado na vida de uma mulher: a adolescência e a gravidez.

Por meio de palestras educativas nas escolas, nas unidades e da sensibilização da equipe multiprofissional, espera-se fortalecer o vínculo entre enfermeiro e adolescente para um atendimento integral e individual através da consulta de enfermagem.

Fundamentada em critérios de definição de Saúde Pública e baseada em leis, resoluções e pareceres necessita-se estabelecer programas de prevenção à gestação das adolescentes dentro das Unidades Básicas que mais se defrontam com esse problema.

 

OBJETIVOS

Gerais

Implementar a orientação aos adolescentes nas unidades de básicas de saúde, bem como educação em saúde nas escolas públicas de ensino fundamental e médio de suas respectivas áreas de abrangência, contribuindo por meio destes processos para a redução das gestações de adolescentes no nosso meio.

Específicos

Promover grupos de adolescentes com enfoque à prevenção à gravidez e doenças sexualmente transmissíveis nas unidades básicas de saúde;

Organizar junto aos diretores das escolas um conjunto de oficinas para desenvolvimento e percepção dos adolescentes.

Promover grupos de pais com enfoque em sexualidade, prevenção à gravidez e doenças sexualmente transmissíveis, dentro do ambiente escolar, facilitando a aproximação e entendimento de seus filhos.

Resgate Histórico do Programa de Saúde do Adolescente

Em 1989, foi criado o Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), para a faixa etária de 10 a 19 anos e para ambos os sexos, embasado na política de promoção à saúde, identificando grupos de risco, detecção de agravantes, tratamento adequado e reabilitação, com ações educativas voltadas a todas as ações. Dentre as áreas deste programa, encontra – se a sexualidade e a saúde reprodutiva.

A Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), nos diz que o adolescente se encontra entre as faixas etárias entre doze e dezoito anos.

Lei Municipal 11.288 de 21/11/92, que dispõe sobre a obrigatoriedade de assistência da saúde aos adolescentes na Rede Municipal do Município de São Paulo, ressalta a perspectiva de trabalho em equipe multiprofissional.

O Secretário Municipal da Saúde em 2004 determinou:

Que os serviços de saúde sob gestão municipal devem efetivar o direito de adolescentes e jovens, pessoas entre 10 e 24 anos, a atenção integral a sua saúde, respeitando as especificidades e as condições de vulnerabilidade relacionadas a este momento de vida.

Que os profissionais de saúde de todas as categorias e especialidades devem realizar o atendimento do/da adolescente com sigilo e confiabilidade, preservado de qualquer interferência.

Sempre que possível, priorizar a abordagem da atenção multiprofissional da saúde, considerando a integralidade das ações e estratégias que contribuam para a solução das demandas trazidas por adolescente e a preservação de sua intimidade.

Que as agendas das Unidades Básicas de Saúde contemplem o acompanhamento dos adolescentes, com ênfase no atendimento médico, notadamente pediatras, ginecologistas, clínicos gerais e generalistas e da oferta de outras ações de promoção à saúde e de prevenção dos agravos relacionados aos aspectos de vulnerabilidade dos adolescentes, tais como a gravidez, DST/AIDS e a violência, favorecendo a aderência aos serviços de saúde e facilitando o intercâmbio de informações.

Que a gerência das unidades de saúde deve indicar, através de avaliação de interesse e capacitação, os profissionais de saúde da equipe multiprofissional que devem se tornar referência no atendimento de adolescentes e de jovens, de forma que os mesmos possam ser identificados e reconhecidos pela população adolescente de seu território.

Que na atenção à saúde de adolescentes sempre deve contemplar orientação relativa à sexualidade e á saúde reprodutiva e devem ser disponibilizados os métodos contraceptivos a todos os adolescentes atendidos, inclusive contracepção de emergência, conforme Portaria 295/04-SMS.G, devendo ser dispensada atenção especial nos casos de relatos de resistência ao uso de preservativo, de experiências de gravidez, aborto, DST/AIDS e abuso sexual, acolhendo suas dúvidas e propiciando espaço de troca isento, livre de preconceitos e de julgamentos morais.

Que o fornecimento de métodos contraceptivos a adolescentes e jovens, principalmente, os preservativos para prevenção de DST/AIDS e gravidez deve ocorrer de forma simples e desburocratizada.

Desenvolver ações integradas entre os serviços de saúde e outras áreas, tais como a área da educação, trabalho, assistência social, articulando e complementando atividades.

Adolescência

No Brasil o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) define a fase adolescência como característica dos 13 aos 18 anos de idade.

O adolescente é um ser concreto que vive uma determinada realidade sócio-cultural e se desenvolve segundo as suas características. Está em transformação e participa como transformador que pensa e age de forma isolada da sociedade e do grupo social de referência.

O jovem adolescente é taxado como aquele que desafiam o perigo e as regras sociais que enfrenta os medos diante do desconhecido, as incertezas e o descontrole sobre as transformações físicas pelas quais passa. Age de forma imediata e acredita que será isento das conseqüências do perigo a que se expõe, não vinculando a prática sexual com a possibilidade de uma gravidez (CARVALHO e BARROS, 2000).

A adolescência deve ser encarada como uma fase normal de desenvolvimento do ser humano, com mudanças físicas, biológicas, fisiológicas, sociais e psicológicas, com tendências à rebeldia, instabilidade, desequilíbrios emocionais, tendências grupais, crises de ensinamento morais, sexuais e religiosos, enfim, uma busca de sim mesmo, que devemos encarar mais tranqüilamente, dando apoio a esse jovem, mostrando – o que a vida adulta, a qual se prepara, dando – lhes sempre responsabilidade, não é tão ruim como se apresenta, e que com o tempo, irá se acostumar com esta, de forma simples e natural.

A família é um elo fundamental para o crescimento, desenvolvimento e transformação do jovem, precisando ser compreendida como um todo, que possui sua história e que está em constante transformação, com diversos significados, estruturas, com compromissos mútuos (RAMOS, 2001), precisando ser compreendida e entendida, para uma melhor educação do adolescente.

Há muitas barreiras sobre a discussão do sexo entre pais e filhos. Os pais, por mais liberais que possam ser, têm dificuldade em falar deste tema com seus rebentos, pois é a prova final que seus filhos não são mais crianças, estão se tornando adultos.

É fato que os pais e adolescentes procurarem respostas sobre dúvidas sexuais na escola, por ser uma instituição responsável pela transmissão de conhecimentos, indicando caminhos que mostrassem soluções sobre os problemas (JESUS, 2000).

Considerando a complexidade dos processos envolvidos na gestação adolescente WHALEY e WONG (1999) dizem ser de responsabilidade dos pais, escolas, igrejas, profissionais da saúde, especialmente dos enfermeiros fornecerem educação sexual aos adolescentes.

HOGA (1988) nos diz que a educação sexual é a maior orientação e informação sobre sexualidade, voltada especificamente ao adolescente.

Mas os jovens, também não querem compartilhar sua intimidade com os pais, fechando – se em um mundo próprio, daí a dificuldade de conversa entre pais e filhos.

Frente a esse desafio, a enfermagem vem demonstrando empenho na medida em que se volta à construção de novas políticas e práticas em saúde, visualizando medidas para a saúde individual e comunitária dos adolescentes e a incorporação de novas tecnologias educacionais e assistências ao grupo, vindo de encontro com a proposta de promoção à saúde do adolescente (MENDES, 1996).

A questão da sexualidade é ainda pouco debatida pela sociedade e tem levado às situações indesejáveis como a gravidez e a multiparidade precoce.

A idade média da menarca das adolescentes vem apresentando queda, atualmente na faixa de 12,5 a 13 anos. Ao lado da ocorrência mais cedo da menarca, as adolescentes têm tido sua iniciação sexual cada vez mais cedo. Conforme SANTOS JUNIOR (1999), essa evolução tem sido apontada na medida em que ela passa a ser associada às mudanças do comportamento sexual dos adolescentes, tendo como principal conseqüência a gravidez na adolescência.

Na atenção dada aos adolescentes é necessário considerar que nesta fase, exercer a sexualidade com saúde é um direito. O profissional de saúde precisa respeitar as particularidades dos adolescentes, aprovando sua autonomia enquanto pessoas e incentivando assim, ações que promovam a saúde, valorizando a vida (MS, 2002).

Gestação

A gravidez na adolescência é e continuará sendo motivo de impasse no meio familiar, além de trazer inúmeras conseqüências sociais e econômicas. Esta é uma questão que deve estar permanentemente em pauta e merece investimento em pesquisas e programas preventivos. Na adolescência, o indivíduo ainda não possui a capacidade para racionalizar as conseqüências futuras, decorrentes do seu comportamento sexual, deparando freqüentemente com situações de risco, como uma gravidez não planejada ou desejada.

GODINHO e cols (2000) relatam a não preocupação destes jovens sobre sua gestação. Aquelas que disseram terem sentido uma preocupação, apresentaram como causa o medo do parto, o medo da criança não nascer bem. Fica claro que as adolescentes se preocupam com os aspectos físicos/biológicos da gravidez e não com o trabalho, o dinheiro, a casa, a educação ou a realização pessoal, o que mais uma vez mostra um certo distanciamento da realidade concreta do dia-a-dia.

As adolescentes grávidas necessitam de uma atenção especializada, pois elas deparam com diferentes fatores que podem interferir na evolução gestacional e nos resultados neonatais da sua gestação.

Nossos jovens, em sua maioria, sabem e tem informações de como ocorre a gravidez (PINTO, 2002). O enfoque da questão é como transformar estas informações em saber, em conhecer e que pode ocorre com ele. Sem contar, que além da gravidez indesejada, existe o problema das Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Daí a necessidade de um profissional de saúde, estar inserido em uma sala de aula de escolas para começar a educar estes para se tornarem adultos mais conscientes quanto ao corpo, daí o perfil do enfermeiro, adequado para esta função, pois atua como educador tendo uma vivência prática solidificada.

A mulher, fisicamente, só está preparada para ser mão aos 19 anos de idade, pois antes disso seu corpo ainda não está físico e biologicamente formado, sendo que seus ovários só estão maduros nesta faixa etária.

As conseqüências físicas, psicológicas e sociais da gravidez nessa faixa etária, ocasionam diversos transtornos, como por exemplo, da adolescente esconder sua gestação, introspecção com seus colegas e amigos, sendo que muitas vezes não procuram o serviço de saúde adequado de pré – natal, com maior probabilidade a infecções, anemias, morbidade e mortalidade perinatal e materna (DUARTE, 2003).

A participação das adolescentes entre as gestantes vem aumentando, mesmo em países desenvolvidos. No Brasil há variações regionais com porcentagem de 14,1% à 28%.

Em São Paulo, MORELL e MELO (1995), identificaram que mães com até 20 anos de idade haviam ficado grávidas, representando 17% dos nascimentos do estado. (justificativa)

Uma vez grávida, a adolescente sofre uma carga emocional maior e mais intensa por conta dos processos que ocorrem juntos: a busca da identidade de mulher que pode significar um processo de desenvolvimento e a integração de sua identidade de mulher que pode significar o aumento da dependência familiar e/ou de um companheiro, restringindo as possibilidades de sua identidade e independência pessoal.

Pesquisas recentes realizadas demonstram que mais de 50% das adolescentes engravidam por outras causas, e não pelo desejo da maternidade em si. Muitas vezes, para não perderem o namorado, para saírem da casa dos pais e evitarem o clima familiar desfavorável, para afirmarem sua feminilidade através da fertilidade, para encontrarem nos cuidados com o filho um objetivo para sua vida, etc. Assim, por uma alternativa, na maioria das vezes errada, procuram preencher um vazio interior.

Desta forma, a questão da grávida adolescente é um problema que afeta claramente as famílias, principalmente as de menor poder aquisitivo da população brasileira. Por falta de informação e de acesso aos meios contraceptivos, observa-se um alto índice de gestação, com risco intrínseco para a saúde da adolescente e do bebê, além da precocidade estar associada à multiparidade com curtos intervalos entre as gestações, elevando os riscos para a prematuridade e o baixo peso do bebê ao nascer.

Segundo a Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS,1997 ), 18% das adolescentes brasileiras de quinze a dezenove anos já ficaram grávidas alguma vez, sendo que 49,1% destas gestações foram indesejáveis.

Uma outra conseqüência importante da gravidez precoce é a diminuição da possibilidade de melhoria na situação sócio - econômica dos jovens envolvidos, já que ela interrompe e/ou reduz sensivelmente as opções educacionais e profissionais. Observa-se também um elevado percentual de abandono e desamparo da criança. Assim, a gravidez adolescente é um desafio social e não um problema exclusivo da adolescente que normalmente sente-se muito sozinha nesse período, por não ter na maioria das vezes, vínculo com o parceiro nem apoio da família.

VITIELLO (1994), demonstrou em seu estudo que um grande contingente das parturientes adolescentes não tem uma união estável com o parceiro (cerca de 40%). Esse resultado mostra outra faceta do problema, a do filho sem pai e com maiores chances de ser abandonado.

O estado civil e a situação conjugal apresentam elementos marcantes no desenvolvimento da gravidez, tanto pelo apoio econômico como pelo apoio emocional. Numa gestante solteira, pode-se identificar dificuldades na gestação desde o acompanhamento do pré-natal, podendo surgir intercorrências que poderão agravar o prognóstico materno-fetal, na evolução da gestação (BRAGA, 1991).

Nos Estados Unidos, ocorrem anualmente mais de um milhão de gestações em adolescentes. A adolescente encontra-se mais sujeita às patologias ligadas à gestação, tais como toxemia gravídica e desproporção céfalo-pélvica, problemas decorrentes de falta de cuidados pré-natais, carência nutricional, ganho excessivo de peso, trabalho de parto prolongado, o que gera um aumento na incidência de cesáreas e de prematuridade (SIQUEIRA et al. 1981).

Para DUARTE (1997) estima-se que no Brasil, a cada ano, um milhão de adolescentes entre 10 e 20 anos dão à luz, correspondendo a 20% dos nascidos vivos. A proporção de mães menores de 15 anos vem demonstrando que duplicou seu valor entre aos anos de 1975 a 1980. Os estudos demonstraram que 40% das adolescentes tornam a ficar grávida depois dos 36 meses da primeira gestação.

Em relação à idade cronológica, pesquisas mostram que quando outras variáveis são controladas, a idade materna isolada não é responsável pela precocidade do parto, porém em 1999, estudos realizados por COSTA e FONTES NETOS (1999) mostrou maior proporção de partos prematuros nas adolescentes em relação às adultas. As dificuldades encontradas pelas adolescentes são diferentes, dependendo da classe social, vai desde o acolhimento ou não pela família, o casamento ou mesmo o aborto. Independente da classe social, o sentimento de culpa acarreta conflitos, dúvidas e medos com reflexos na aceitação do filho.

Alguns autores afirmam que existe uma maior tendência a intercorrências durante a gestação ou no período neonatal da mãe adolescente, cujas causas seriam: a condição sócio-econômica, a imaturidade emocional e o pré-natal inadequado, excluindo a idade cronológica.

É contraditória a influência da idade materna na duração da gestação, na literatura há variações quanto à existência de risco intrínseco relativo à idade cronológica que possa alterar os resultados gestacionais na adolescência.

Educar

A partir da década de 1970, que surgem as primeiras ações planejadas à adolescentes no Brasil, constituindo – se ações planejadas do trabalho de Enfermagem (CORREA, 2000). Desde então, a enfermagem vem atuando neste campo, através de práticas assistenciais, com outros profissionais da saúde e educação, acompanhando o crescimento e desenvolvimento, no controle de DST/ AIDS, prevenindo a gravidez indesejada, e diversas necessidades de saúde grupais, na atenção materno – infantil (oficializada em 1974/ 75) e na hebiatria (ou saúde do adolescente – 1989) e na saúde da família (1994). Há inovações no ensino de enfermagem, principalmente o da academia, principalmente após a criação da Portaria nº 1.721, de 15.12.1994 Ministério da Educação e Cultura (MEC), privilegiando o adolescente como um investimento na formação do enfermeiro. Segundo as normas que regem e organizam a graduação de Enfermagem no Brasil, entre as décadas de 1970 e 1990, é proposto, nesta abordagem, caracterizando por dois momentos:

A inserção da interdisciplinaridade no atendimento e educação ao adolescente vem ao encontro dos anseios da política adotada pelo Ministério da Saúde por meio de ações programáticas que priorizam a atenção básica e a mudança de um modelo assistencial (TYRREL e CARVALHO, 1993). Para atingir tal meta, o Ministério da Saúde decidiu investir na capacitação dos profissionais da saúde, particularmente dos médicos e das enfermeiras com especialização em Obstetrícia, para oferecer assistência no ciclo grávidico-puerperal menos iatrogênica e intervencionista (TYRREL e SANTOS, 2001).

A equipe de atendimento deve atuar não só no âmbito da instituição, como também na comunidade, estabelecendo contato com a adolescente em seu ambiente social, afinal a problemática não é só obstétrica, é muito mais uma somatória de questões sociais, econômicas e educacionais.

Baseado na Carta de Otawa (OMS,1986), em 1995 surgiu o conceito "Escolas Promotoras de Saúde" através da Iniciativa Global de Saúde, expedida pela OMS (1997). Desta forma a escola passou a ser vista como ambiente para a promoção e educação em saúde e desenvolvimento de outras ações, as quais levam a melhoria à comunidade escolar (OMS, 1997).

Desde 1986 as Conferências Internacionais sobre Promoção da Saúde vem se preocupando para a necessidade de se rever o paradigma orientador das ações de saúde, em que são exclusivamente voltadas para o aspecto curativo, com a necessidade de definir ações de saúde voltadas para a orientação, educação para melhor qualidade de vida em que o cidadão terá um papel mais relevante dentro da sociedade, garantindo a possibilidade de viver melhor.

Frente a estes dados acredita-se que os profissionais de saúde deveriam estabelecer programas para discussão e informação sobre o planejamento familiar, no sentido de melhorar a qualidade de vida da população. Tais programas deveriam ser iniciados nas escolas ou nas próprias UBSs, onde sabe-se, quão precoce é o início da atividade sexual entre os jovens.

No Código de Ética da Enfermagem encontramos que esta abrange os conhecimentos científicos e técnicos, "construído e reproduzido por um conjunto de práticas sociais, éticas e políticas que se processa pelo ensino, pesquisa e assistência. Realiza – se na prestação de serviços ao ser humano, no seu contexto e circunstância de vida".

ERNA e ZIEGEL (1985) nos mostra que o um dos papéis do enfermeiro além de verificar as áreas de promoção à saúde, tratamento e/ou prevenção de doenças, é informar, aconselhar e educar.

Educar na saúde deve orientar para o autocuidado, incluindo cuidados gerais de saúde, discussões sobre hábitos nocivos à saúde e cuidados à saúde mental, principalmente na adolescência, para que este possa se autocuidar, superando seus problemas (FERREIRA et al, 2000).

Métodos Contraceptivos

Os adolescentes usam pouco os métodos anticoncepcionais devido ao baixo conhecimento, à dificuldade de acesso aos serviços de saúde e ao pensamento mágico " isso não vai acontecer comigo ".

O preservativo masculino além de efeito contraceptivo, previne as doenças sexualmente transmissíveis (DST), inclusive a AIDS. É fundamental a orientação sobre sua utilização e a desmistificação de seu uso. É importante fazer com que a população conheça seus efeitos e saiba utilizá-lo corretamente. O Brasil é constituído essencialmente por mulheres jovens, a gravidez não planejada adquire maior importância quando identificada como principal fator de abandono escolar.

 

METODOLOGIA

Nossa proposta metodológica está baseada na relação dialógica entre Enfermeiros e Adolescentes através de ações de cunho preventivo, com a finalidade de diminuir a incidência de gestação entre a população juvenil de nossa região.

O presente trabalho é um estudo descritivo, através de revisão bibliográfica sobre os aspectos bio-psico-sociais dos adolescentes com enfoque na prevenção da gestação precoce e não planejada por meio de CE e oficinas de sexualidade realizadas pelo Enfermeiro. Foram consultados livros e teses de mestrado específicos ao desenvolvimento dos adolescentes e portarias do Ministério da Saúde e Secretarias de Saúde Municipais que fundamentam teoricamente a atuação do enfermeiro como educador.

 

POPULAÇÂO

A população do presente trabalho é constituída pelos enfermeiros das Unidades Básicas de Saúde, adolescentes que procuram as unidades, bem como os alunos das escolas públicas onde se farão os grupos educativos em saúde.

Implantação de grupos educativos nas escolas públicas da área de abrangência

Para que se consiga implantar os grupos educativos nas escolas públicas e para que sejam eficazes, é de suma importância o apoio das diretoras das mesmas. Para tanto, faz-se necessário a sensibilização destes profissionais por meio de reuniões previamente agendadas para explanação do conteúdo a ser desenvolvido nos encontros e como estes ocorrerão.

Grupos educativos

Temas a serem abordados nos grupos educativos nas unidades de saúde ou nas escolas:

Observação:

1. Os encontros com o grupo devem ser semanais, alternando os horários entre manhã e tarde para abranger um número maior de jovens.

2. Os encontros contarão com palestras, discussão e dinâmica de grupo.

 

CONSIDERAÇÕES GERAIS DO PROJETO

Sabemos que a falta de informações adequada é fator que interfere no grau de consciência em relação às medidas de prevenção. Desta forma nossa proposta pretende através de oficinas de sexualidade possibilitar discussões e a reflexão quanto aos fatores que influenciam na vulnerabilidade, em relação à gravidez na adolescência.

Tendo em vista a dificuldade de agrupamento deste seguimento populacional em uma unidade de saúde, acreditamos que iniciando um trabalho com oficinas de sexualidade nos espaços onde os adolescentes freqüentam, poderemos iniciar um diálogo em relação ás estratégias e formas da diminuição da gravidez na adolescência.

 

Referências Bibliográficas

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A educação na adolescência: novos desafios.