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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005

 

Relato de experiência Programa de Educação Afetivo Sexual- PEAS "Experiências de ensinar e aprender"

 

 

Beatriz Sales da SilvaI; Priscila Cavani VieiraII

IEspecialista em Educação Especial pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais - Campus Poços de Caldas - Pedagoga Coordenadora do Programa de Educação Afetivo Sexual na Superintendência Regional de Ensino de Poços de Caldas - Rua Expedicionários n. º152 casa 06 Centro -Poços de Caldas –MG- CEP 37701-041 - EMAIL: beatriz.ss@uol.com.br
IIAluna da Pós Graduação Latu Sensu em Educação Para o Pensar da Pontifícia Universidade Católica Campus Poços de Caldas - Pedagoga Orientadora do Programa de Educação Afetivo Sexual na Superintendência Regional de Ensino de Poços de Caldas - Rua João Bueno Brandão, nº 70, apto 42 São Geraldo – MG – CEP 37701-339 - EMAIL: pricavani@pocos-net.com.br

 

 

Escrevo buscando caminhos para ocupar o espaço em branco desta folha. O lado maduro dizendo, você é o sujeito do texto, e o lado receoso dizendo, cuidado é perigoso, a língua é um chicote no ar, sempre a espreita. Diante desse impasse seguirei rumo as minhas memórias buscando nos idos da infância o livro "Memórias de um Burro", da escritora Condessa de Segur. Já passadas três décadas da primeira leitura ainda encanto com o personagem Cadichon. Adélia Prado diz, "o que a memória amou fica para sempre".

O protagonista da história, o burro Cadichon diz:

__ "Aproveitei-me de um inverno intenso, tão intenso que prendeu todos em casa. Fiquei escrevendo, divertindo-me a recordar o passado. Vocês dirão:

__ Um burro não pode escrever!

__ Por que não? Tudo pode uma vontade firme e decidida. A prova está em que escrevi minhas memórias!

__Um burro também pode ter um coração afetuoso e sensível, também pode sofrer maus tratos e também pode ter vontade de vingar-se. A verdade é que os donos dos burros podem tornar um burro bom ou mal, feliz ou infeliz, amigo ou inimigo!"

Você pode estar se perguntando, o que poderá as memórias de um burro contribuir para a tessitura do texto que irá relatar as experiências de duas pedagogas no Programa de Educação Afetivo Sexual (PEAS)?

A pergunta procede. A experiência de Cadichon diz que a verdade é que os donos dos burros podem tornar um burro bom ou mal, feliz ou infeliz, amigo ou inimigo! Nascemos, crescemos e vivemos em determinados contextos em determinas épocas. Boaventura Santos, citado por Azevedo (2004), diz que a formação de sujeitos se efetiva em redes e se ampliamos esta noção compreendendo que fazemos parte de diferentes e complementares e, muitas vezes, antagônicas redes culturais: nascemos numa família e fomos ou não criados nela, pertencemos a determinado gênero; professamos ou não uma certa religião, freqüentamos determinadas escolas, tivemos acesso a determinadas formas de lazer e informação. Quem seriam os nossos donos, a família, a religião ou a escola? Diria que todos e o que fizeram de nós? Quais são os nossos valores?

Todo esses elementos influenciam o processo de formação de professores, sobretudo quando temas relacionados à sexualidade humana, polêmicos quase sempre acompanhados de tabus e preconceitos construídos socialmente ocupam o cenário da sala de aula. Crenças e valores não mudam da noite para o dia.

Atuo no Programa desde 2002, quando passei pela capacitação de 80h para entrar para a equipe PEAS da Superintendência Regional de Ensino de Poços de Caldas. Foi um processo que transmuta vivência em experiência, aquilo que para Larossa (1996), "nos passa e que ao nos passar nos transforma".

Eu, Priscila, cheguei ao PEAS em março de 2004, em um período delicado de minha vida: havia perdido meu pai a poucos dias e estado de licença, quando retornei ao trabalho estava inscrita para a capacitação de 80 horas. Já havia trabalhado com o programa indiretamente, atuando como apoio em alguns eventos, mas somente em 2004 pude compreender melhor a amplitude do programa, seus alcances e desafios, sua metodologia, enfim, sua filosofia. Participar da capacitação, juntamente com professores que atuariam no programa como facilitadores, foi um rica oportunidade de crescimento, não só profissional quanto pessoal, na medida em que através dos textos, técnicas e discussões, pude des-construir conceitos e preconceitos, reformular idéias, e principalmente ampliar a minha visão sobre sexualidade e afetividade.

Pude perceber o significado da metodologia participativa na formação dos professores, pois o grupo durante este processo de capacitação foi ganhando força, coesão, sintonia, e como preza o programa, foi ganhando laços de profunda afetividade. Pouco a pouco foi se diluindo as diferenças supérfluas, e paralelamente foi se construindo um grupo harmônico, onde as individualidades de cada componente podiam soar como instrumentos em uma orquestra: cada um com o seu timbre, sua personalidade, trazendo para a melodia a sua preciosa contribuição, tornando a melodia rica de sonoridades, e ao mesmo tempo executando num só compasso, tom, andamento. Aliás, esta é a beleza do grupo: como num mosaico, peças diferentes, em formatos e cores, formando a beleza no todo.

Em 2004, esta foi a nossa meta : proporcionar o crescimento e fortalecimento do grupo de professores facilitadores do programa. Acreditávamos que somente com uma sólida identidade de trabalho os professores poderiam encontrar força para desenvolver o programa em suas escolas, enfrentando muitas vezes resistências, falta de apoio da direção da escola, e até mesmo a solidão própria daqueles que ousam sair da mesmice e buscam novas formas de se comunicar com os jovens. Realizamos então, durante todo o ano encontros de monitoramento com os professores, onde trabalhamos com textos para reflexão, técnicas de grupo, filmes para a discussão. Estes encontros aconteceram uma vez por mês, e em cada um deles abordávamos um tema proposto pelo próprio grupo. Trabalhamos os temas: auto-estima, o protagonismo juvenil, e outros temáticas. Temos visto o quanto é necessário oferecer aos professores estas oportunidades de formação e reflexão, onde podemos não só trocar experiências como também repensar as nossas práticas e saberes. Tais espaços de formação são de extrema importância, pois se tomarmos aqui o conceito deweyano de educação como " uma reconstrução ou reorganização da experiência que esclarece e aumenta o sentido desta e também a nossa aptidão para dirigir o curso das experiências subseqüentes". (Dewey, 1979), percebemos que o sentido de toda educação é tornar-nos mais aptos para lidar com nossas experiências, com a construção e reconstrução de idéias e conceitos.

Antônio Nóvoa (1997) nos aponta que "a formação deve estimular uma perspectiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os meios de um pensamento autônomo e que facilite as dinâmicas de auto-formação participadas". Nesse sentido, podemos perceber que o PEAS em sua metodologia de trabalho privilegia a formação do professor reflexivo, na medida em que não apresenta receitas prontas e acabadas para o trabalho com a juventude, mas cria espaço de pensamento, onde teoria e prática dialogam e se complementam, incentivando o fazer criativo e autônomo do educador.

Desta forma, nosso trabalho tem se desenvolvido através de capacitação para formação de professores por meio de metodologia participativa onde temas relacionados à sexualidade humana são abordados através de técnicas de grupo. Através das técnicas e vivências buscamos com o grupo a reflexão do quanto é necessário detectar a discriminação existente na relação de gênero e raça, conhecendo a raízes dos nossos problemas sociais, da violência e da ignorância.

Esse Programa tem como objetivo geral promover o desenvolvimento pessoal e social do adolescente através de ações de caráter educativo e participativo, focalizadas nas questões da afetividade, da sexualidade e da saúde reprodutiva e implementada nos sistemas públicos de educação e de saúde do Estado de Minas Gerais.

O trabalho é desenvolvido respeitando os Marcos referenciais do Programa:

Em março de 2005, realizamos uma capacitação inicial de 16h, para 100 professores da rede estadual de ensino num total de oito escolas divididas em dois grupos.

Preocupadas com a leitura que cada um faz do que vê, do que ouve, do que lê, gerando as mais diferentes interpretações e considerando os preconceitos e barreiras planejamos a capacitação buscando a arte como ferramenta para gerar pensamento e promover mudanças.

Convidamos para a abertura da reunião as autoridades competentes e os diretores das escolas.

Iniciamos a reunião com a leitura do texto "Plantamos o futuro no presente", com a intenção de recuperar a memória do grupo e homenagear a Pedagoga Abgail Bastos Evangelista que foi quem implantou o programa em 1999. Através das imagens das fotografias projetadas pela data show, o fio da memória foi tecendo redes.

Em seguida um grupo de adolescentes da E. E Professor José Castro Araújo, coordenados pela professora Manoelina foram convidados para dramatizar um baile, dançando a música Festa no AP, interpretada pelo cantor Latino. Transformamos a sala num salão de baile onde cada autoridade e diretor de escola presentes foram convidados pelos alunos a dançar ao som música que marcou sua adolescência, previamente selecionadas sem que eles soubessem, numa seqüência progressiva, com o objetivo de levá-los a uma agradável viagem interior rumo ao passado, recuperando assim a memória adormecida da adolescência. Ao som da música "Como os nossos pais" interpretada por Elis Regina, todos dançaram.Acreditávamos que assim possibilitaríamos aos participantes uma maior aproximação e compreensão dos adolescentes de hoje.

Cada autoridade presente reafirmou o apoio ao Programa, sobretudo à filosofia em que está pautado e seus objetivos.

Nesse ponto, passamos a segunda parte da reunião agora só com a participação dos professores. Elaboramos as regras de convivência com o grupo e dividimos os mesmos em quatro equipes: sos, avaliação, síntese e integração, cada qual com suas tarefas definidas. Acreditamos que estas tarefas oferecem ao grupo a oportunidade de serem co-autores do processo, pois de certa forma a capacitação vai se constituindo com o trabalho de todos.

Nossa colega de equipe Roseli de Paula Sousa aplica a técnica roda de amigos, onde os participantes têm os corpos entrelaçados por um barbante e ao som da música "Amigos para sempre", se abraçam e ouvem a mensagem "A parte mais importante do corpo", onde a mãe pergunta ao filho qual é a parte mais importante do corpo, depois de muitas tentativas o filho não consegue responder. No dia do velório do seu avô a mãe diz ao filho que chegou o dia dele aprender uma grande lição, à parte do corpo mais importante são os ombros, pois eles podem apoiar aquele que chora. Refletimos juntos que a parte mais importante não é egoísta. É ser simpática a dor dos outros. "As pessoas se esquecerão do que você disse. As pessoas esquecerão do que você fez. Mas as pessoas nunca esquecerão de como você as fez sentir".

Foi dada uma visão geral do programa com a apresentação do histórico, assistimos o vídeo "Segredo de adolescentes", produzido por alunos em 1994 e que deu origem ao programa na rede estadual de Minas Gerais.

Ouvimos as expectativas do grupo em relação ao programa fazendo a leitura do texto "Sopa de Pedra", usando um caldeirão onde cada participante colocava sua contribuição como ingrediente para prepararmos a sopa.

No segundo dia tínhamos como tarefa trabalhar os marcos de referência e que ao nosso ver é a coluna vertebral do programa. Sem ela o programa não se sustenta. As cartilhas contendo os mesmos foram entregues aos participantes previamente, sendo recomendado a sua leitura.

Para tal, planejamos uma sessão de cinema com o filme "Cidade da esperança", porque acreditamos que um programa que visa promover mudanças pessoais e interpessoais será enriquecedor se utilizar à arte como condutora de um processo.

Tínhamos um problema: o filme escolhido foi gravado em fita VHS e na hora do desfecho com aproximadamente 10 minutos para o final apresentou um problema que tentamos solucionar, mas não foi possível. Procuramos nas locadoras da cidade outra fita, mas a busca foi inútil. O filme foi produzido em 1993 e não encontramos gravação em DVD. Mesmo assim arriscamos em utilizar a fita danificada por entendermos que a trama da estória encaixava e dava vida aos marcos de referência. Ficamos na expectativa, receosas da reação dos professores.

Aproximando-se do final da exibição suávamos frio, pois os professores estavam hipnotizados pelo filme e esperavam ansiosos pelo desfecho.

A fita apresentou o problema, os professores começam a reclamar pedindo a nossa interferência. Explicamos o ocorrido tentando mostrar que nem tudo estava perdido. Nos prontificamos a relatar o final, foi um alvoroço. Recorremos ao provérbio chinês que diz "eu posso levar um cavalo até ao rio, mas não posso fazê-lo beber água". Vocês estão todos com sede, por que? Será que os nossos alunos têm sede? É importante que nós educadores pensemos nessas questões. É preciso enxergar o aluno na sala de aula, o ser humano é essencial.

Nesse momento, pedimos para que cada professor definisse o filme em uma palavra, numa tentativa de ouvirmos a palavra transformação. Em seguida oferecemos a cada professor um saco de pipocas e pedimos para que uma professora ler para o grupo o texto "Milho de pipoca", Rubem Alves, refletindo que a transformação é um processo de dentro para fora, cada um é único. Há que se afinar o corpo, de dentro para fora e de fora para dentro.

Ficamos surpresas com as colocações dos professores a respeito do filme, e percebemos que os marcos de referências saíram das cartilhas, ganharam vida, humanizaram-se através dos personagens, ganharam cientificidade no dizer de Freire e Nogueira (1991), "a gente pensa, reflete. As coisas e as situações passam através de nós; em seguida, a gente faz caber isso dentro de conceitos...".

Vídeo Fórum: A Cidade da Esperança

Objetivo:
Trabalhar os Marcos Referenciais do Programa Afetivo Sexual a partir das Cenas do Filme que mostra o protagonismo.

Ficha do Filme:

Título: A Cidade da Esperança( City Of Joy)
Direção: Roland Joffé
Protagonistas: Patrick Swyze( Max Lowe), Pauline Collins( Joan Bethel), Om Puri(Hasari Pal)
Produção: Roland Joffé Jake Eberts
Nacionalidade: Reino Unido França
Duração: 130 Minutos
Ano: 1992

Sinopse:
O Filme é baseado em um Livro de Dominique Lapierre que teve ampla discussão.
Em Calcutá, coração da Marginalização, da injustiça e da miséria, surge a esperança enquanto a responsabilidade solidária ganha corpo. Os pobres da Periferia de Calcutá tornam-se Protagonistas de uma bela História de Entrega, de Solidariedade e de Transformação Social.
Max Lowe, Médico que se refugia em Calcutá fugindo de seus próprios problemas sociais, encontra-se a si mesmo ao assumir, de maneira responsável e solidária, os encargos dos menos favorecidos, ajudando, sentindo a dor no Peito, lutando contra a fome, a miséria e a Injustiça. Poderíamos dizer que, saindo de si se encontra, e que, descentrando-se, centra-se.

O filme é uma espécie de microcosmos de valores humanos e éticos; os seus personagens desenvolvem uma grande humanidade, uma intensa responsabilidade solidária diante da chamada do "rosto do outro" (o que sofre) e um sincero compromisso diante da pobreza e da injustiça.

Os três personagens centrais respondem solidariamente, dizem um sim com suas vidas e mostram que vale a pena comprometer-se, que há uma força escondida capaz de transformar o mundo nas atitudes de justiça e de solidariedade.

Análise da relação dos personagens com os marcos referenciais do programa afetivo sexual

No período da tarde, trabalhamos uma técnica para a reflexão sobre a formação de grupos, uma vez que os professores não só estariam formando grupos de estudo, como também estariam mediando a formação de grupos de adolescentes em suas escolas. A técnica consistia em dividir os participantes em 4 grupos, e cada grupo receberia 6 tubos de PVC, com os quais teriam que formar um "encanamento" de forma a transportar dois litros de água de uma lado para o outro, desperdiçando menos água possível. O trabalho exigiria criatividade, harmonia, divisão de tarefas, negociação de estratégias, onde todos teriam fundamental importância. Pudemos perceber que os alguns grupos mostraram-se mais aptos para a tarefa, agindo de forma dialogada e harmônica. Outros denunciaram as dificuldades de se compartilhar opiniões e idéias, onde muitos falavam, poucos escutavam e quase ninguém agia. Através desta técnica pudemos reforçar as qualidades essências para um bom funcionamento de grupo: comunicação, participação, compartilhamento e divisão de tarefas, criatividade para a resolução de conflitos, e outras tantas.

Finalmente, passamos a um exercício de relaxamento, com um breve encaminhamento para uma reflexão, para que cada um pudesse se permitir embarcar nessa viagem ao vale encantado. Usamos a técnica do balão com objetivo de relembrar a importância da pureza dos sentimentos das crianças para incluí-los no rol das nossas emoções positivas, promovendo a despedida do grupo em clima de festa.

Formamos uma roda, o balão foi colocado no centro e os professores fecharam os olhos. Lentamente deixaram de ouvir e passaram a escuta:

"Quando amanhece no vale encantado",
fica só um fiozinho de luz vermelha lá no horizonte.
E todas as crianças do mundo param para ver o pôr do sol!
Ah, o Deus das fadas fica tão triste se a gente deixa de ver o pôr do sol!
A linha vermelha puxa uma carruagem cheia de estrelas,
Onde está a Deusa dos sonhos e seu pó mágico,
Que faz a gente pensar coisas lindas.
Mas pensem com força, com muita força, por que aí...
O céu vai ficar cheio de vacas gordas amarelas, cachorro bonzinho, bruxa simpática, sorvete de
chocolate, caramelo e amigos!
Vamos, vamos lá! Vamos pensar só em coisas lindas!
Brincar na chuva, boneca nova, boneca velha, bola grande, mar verde, submarino amarelo, fruta
molhada, banho de rio, guerra de travesseiro, boneco de areia, princesas, heróis, cavalos voadores...
Ei! Já está anoitecendo no Vale encantado!
Dorme em paz, minha criança querida.
Vamos pensar em coisas lindas até amanhecer" (Oswaldo Montenegro)

Quando o balão foi estourado todos pularam como crianças para ver quem ia pegar mais doces.

Silva, citado por Melo (2004), diz que o professor ensina melhor "quando trabalha com suas emoções, com sua cultura, com os seus desejos, seu inconsciente". Destaca que é necessário trabalhar ainda "com seus valores e sonhos, os seus gostos e desgostos, os seus preconceitos, as suas angústias, os fantasmas de poder e perfeição, as suas entranhas, torna-se importante que o professor sinta-se como pessoa. Essa vida deve impregnar os currículos escolares".

Hoje, buscando autores que pudessem acompanhar-nos nesse relato deparei-me com a dedicatória escrita por Vanda Elisa Martins da Costa Pereira em agosto de 2002 no livro "Educação Sexual", em casa, na escola ou na rua?

"Que o relato de parte de minhas experiências possa gerar novas experiências".

Acreditamos, que nossas vivências e as experiências atuando como pedagogas no Programa de Educação Afetivo Sexual, passa por nós e ao passar nos modifica e gera novas experiências, traduz o que Paulo Freire ensina no seu livro Professora sim, tia não-cartas a quem gosta de ensinar, 1994 p.72:

"Minha presença no mundo, com o mundo e com os outros implica o meu conhecimento inteiro de mim mesmo. E quanto melhor me conheça nesta inteireza tanto mais possibilidade terei de fazendo história, me saber sendo por ela refeito.
E porque fazendo história e por ela sendo feito, como ser no mundo e com o mundo, "a leitura" do meu corpo como a de qualquer outro ser humano implica a leitura do espaço. Neste sentido o espaço da classe que acolho, os medos, receios, as ilusões, os desejos, os sonhos de professores e de educandos deve constituir-se de objeto de "leitura de professor e educandos".

Não sabemos, se o burro cadichon conheceu Pablo Neruda, se ao menos assistiu o Filme "O carteiro e o poeta. O carteiro assim como cadichon querem se tornar aprendizes do que o outro tem a oferecer, muito embora sua obsessiva curiosidade pela gramática revele uma necessidade de romper com a crueza do uso das palavras no mundo entorpecido em que eles vivem". Acreditamos que o preenchimento destas folhas brancas passou pela memória e coração, principalmente depois da releitura das memórias de um burro ou serão nossas memórias, não sabemos!

Confessamos o medo de que o nosso relato possa ser identificado como abobrinhas ou troca de figurinhas. Segundo Azevedo (2004), uma forma pejorativa de desqualificar uma das maneiras de tessitura do conhecimento entre os sujeitos escolares, particularmente entre os docentes. Aprende-se fazendo;faz-se aprendendo.

"Feliz daquele que ensina o que aprende e aprende o que ensina", Cora Coralina.

Estamos tentando...

Tomamos aqui as palavras de Nóvoa para tecer nossas considerações finais, como forma também de resumir em breves palavras como vemos o trabalho de formação de professores no PEAS e qual tem sido o nosso papel neste processo:

"Toda formação encerra um projecto de acção. E de trans-formação. E não há projecto sem opções. As minhas passam pela valorização das pessoas e dos grupos que têm lutado pela inovação no interior das escolas e do sistema educativo."

O que mais nos estimula a continuar nesta caminhada é saber que de alguma forma a linguagem do afeto esta sendo transmitida, e ao recebermos o bilhete do professor José Luiz "Zezinho" da E.E. Francisco Escobar durante a capacitação de março deste ano, confirmamos esta certeza:

 

  "Beatriz e Priscila:
'Um grande estímulo na vida é saber que alguém
confia em nós e de que nós espera
grandes coisas...' (Goethe)
Um forte abraço,
Zezinho"

 

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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