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An. 1 Simp. Internacional do Adolescente May. 2005
Gravidez na adolescência em periódicos de enfermagem, ginecologia e obstetrícia entre 1997-2001
Mainarte, Miriam Andréia ChiquettoI; Godoy, Sandra Regina deII; Bonadio, Isabel CristinaIII
IEnfermeira Obstétrica. Docente do Curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário de Votuporanga. Mestranda - Pós-Graduação da EEUSP - Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da USP. e-mail: miriam.andreia@ig.com.br
IIEnfermeira Obstétrica. Doutoranda - Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da USP e-mail: sandragodoy@terra.com.br
IIIEnfermeira Obstétrica. Profª Drª Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da EEUSP. ibonadio@usp.br
RESUMO
A adolescência é um período do processo evolutivo do ser humano, no qual ocorrem inúmeras modificações físicas, psicológicas, emocionais e sociais. Durante essa fase surgem novos desejos, dúvidas, curiosidades e descobertas. Dentre essas contradições vivenciadas, encontramos a descoberta do próprio corpo e do prazer sexual, muitas vezes compartilhado com o namorado, daí resultando riscos para uma gravidez indesejada. Nas últimas décadas, a gravidez na adolescência tem sido muito estudada por ser considerada um grave problema social. Percebe-se também que o índice de gestações precoces tem-se mantido elevado. Dessa maneira, este estudo apresentou como objetivo a busca pelo conhecimento científico sobre o tema, nos periódicos nacionais de enfermagem, ginecologia e obstetrícia. Utilizou-se os recursos da pesquisa bibliográfica e, como fonte de consulta foram encontrados 12 artigos publicados no período de 1997 a 2001. Os enfoques encontrados nos artigos foram: fatores e conseqüências da gravidez na adolescência, perfil social e obstétrico, relações familiares, o apoio, educação em saúde, planejamento familiar e diagnóstico/teoria de enfermagem. São destacadas as estratégias para a redução da gestação precoce como a educação sexual, o planejamento familiar, a assistência obstétrica de maneira apropriada e o apoio familiar. São discutidos também o papel dos profissionais de saúde e as ações que contribuem para a redução dos índices da gravidez na adolescência justificando ou presumindo sua ocorrência com questões multifatoriais. Concordamos que a gravidez na adolescência está diretamente relacionada a variáveis como: nível sócio-econômico, escolaridade, educação recebida, e a utilização de métodos anticoncepcionais. O desafio maior é como levar um trabalho que contribua efetivamente para a prevenção desse problema. O agravamento da situação justifica uma preocupação redobrada e uma reflexão contínua, sem dúvida, de caráter eminentemente multiprofissional, considerando-se a evidente interdisciplinariedade do problema. Dessa maneira, temos muito a fazer e descobrir o " como fazer" para que sejamos aliados e comprometidos na redução dos índices de gravidez na adolescência.
Descritores: Gravidez na adolescência; Saúde da Mulher; Assistência obstétrica.
1.1 Motivação para o estudo
A adolescência é um período do processo evolutivo do ser humano, no qual ocorrem inúmeras modificações físicas, psicológicas, emocionais e sociais. Durante essa fase surgem novos desejos, dúvidas, curiosidades e descobertas.
Para TAKIUTI [1996?] ser adolescente é viver um período de transição entre criança e adulto, é vivenciar novas experiências, reformular a idéia que tem a respeito de si mesmo e transformar sua auto-imagem infantil.
Face a esses acontecimentos atuais; o grande sonho de pesquisar sobre o tema e a ocorrência desse fato em minha vivência familiar, motivaram-me a elaborar este trabalho.
1.2 Breve comentário sobre gravidez na adolescência
Em pleno século XXI, percebe-se que a sociedade brasileira e profissionais ligados à saúde têm visto o quão preocupante tornou-se a gravidez na adolescência.
Não bastasse isso, enfrenta-se um outro problema, ou melhor, dilema com relação à liberação sexual, a qual perdeu-se princípios e valores desencadeando em massa, gestações cada vez mais precoces, com altos índices de complicações obstétricas e psicológicas, além da prática de uma sexualidade sem responsabilidade, baseada muitas vezes no prazer momentâneo.
Desta forma, a gravidez na adolescência deixa de ser apenas um fato e passa a tornar-se um risco, visto que em nosso país as meninas amadurecem sexualmente à partir dos onze anos, quando inicia-se a puberdade (VASCONCELOS 1985).
Trata-se de uma fase caracterizada por inúmeras modificações psíquicas, morfofisiológicas, unidas a problemas de inter-relacionamento familiar, social e conflitos internos.
Para COSTA (1986) a puberdade começa por ocasião da menarca ou primeira menstruação e a instalação dos ciclos menstruais, irregulares no seu início e passam a ser ovulatórios à medida que adquirem regularidade, duração, intervalo e quantidade de fluxo regulares. Quando tudo isto ocorre, a menina já é mulher e fértil.
O fato de a puberdade tornar-se o marco inicial da possibilidade de procriação tanto para meninas quanto para meninos, não significa que ambos os sexos estejam preparados para assumirem uma gravidez indesejada na adolescência.
VASCONCELOS (1985) afirma que "quando se chega à puberdade, ali pelos 12, 13 anos, meninos e meninas estão preparados biologicamente para serem pais e mães; entretanto, não se está ainda preparado nem psicológica nem socialmente para arcar com as responsabilidades de uma nova família".
O impasse maior nessa fase de transição, talvez esteja em algumas práticas atuais, como: atividade sexual precoce, pouco conhecimento sobre contracepção, descrédito do adolescente em aceitar que relação sexual pode acarretar uma gravidez e risco para o aparecimento de doenças sexualmente transmissíveis e AIDS.
Para a OMS (1997) a adolescência é caracterizada como:
"o período da vida correspondente à faixa etária entre 10 e 20 anos, período em que aparecem as características sexuais secundárias para a maturidade sexual. Manifestam-se processos psicológicos e padrões de identificação que evoluem da fase infantil para a adulta, ocorrendo a transição de um estado de dependência para outro, de relativa independência".
Frente a isso, aparecem as descobertas e curiosidades cujos resultados culminam numa gravidez não desejada.
Para COSTA (1986) a gestação na adolescência implica em complicações físicas como imaturidade uterina, com riscos de abortos espontâneos ou partos prematuros, além de desajustes hormonais, e crianças de baixo peso ao nascer.
Um estudo realizado por VITIELLO (1994) demonstrou que um grande contingente das parturientes adolescentes não tem uma união estável com o parceiro e que cerca de 40% dessas jovens eram casadas ou vieram a casar-se em virtude da gestação.
Este estudo ressalta o quanto a gravidez na adolescência desencadeia problemas de ordem psíquica e emocional, com risco aumentado de bebês sem a presença do pai, com incidência de abandono iminente.
DELÁCIO E GUARIENTO (1981) ressaltam ainda que a primigesta com 17 anos ou menos é mais predisposta a complicações da prenhez e parto como, partos prematuros e índices elevados de mortalidade fetal e neonatal elevados.
Mediante toda a problemática física e emocional de uma gestação na adolescência, percebe-se que a situação, em sua maioria é enfrentada com dificuldade.
DUARTE (1996) afirma ser a gravidez na adolescência um desafio social e não um problema só da adolescente, que em sua maioria, além de estar assustada com a gravidez, fica sozinha nessa fase, porque às vezes pai, familiares e amigos se afastam, agridem, desencadeando ainda mais conflitos.
Para reverter essa situação, segundo TAKIUTI [1996?], as adolescentes devem ser amparadas por todas as pessoas que as cercam e também preparadas física e psicologicamente no pré-natal para o parto quanto para o puerpério e amamentação.
A adolescente grávida precisa de oportunidade para retomar e repensar seu papel social, de cidadã, de mulher, de mãe, desenvolvendo assim uma auto-estima favorável para que dessa fase em diante possa obter maior equilíbrio, apoio e uma melhor perspectiva de futuro para sua vida e a de seu bebê TAKIUTI [1996?].
2.1 Objetivo Geral
Buscar na literatura, o conhecimento produzido sobre a gravidez na adolescência que possa subsidiar as ações de Enfermagem para a redução de gestantes/puérperas adolescentes.
2.2 Objetivos Específicos
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Caracterizar os trabalhos publicados nos últimos 05 anos em periódicos de enfermagem, ginecologia e obstetrícia que tenham como foco a gravidez na adolescência.
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Identificar os principais aspectos enfocados nos estudos sobre gravidez na adolescência.
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Identificar as propostas de intervenções para redução da gravidez na adolescência.
3.1 Considerações sobre o Estudo Bibliográfico
O presente estudo é uma pesquisa exploratório-descritiva a respeito do conhecimento produzido no Brasil sobre o tema Gravidez na Adolescência que foram publicados em periódicos de enfermagem, ginecologia e obstetrícia no período de 1997 a 2001.
Para tanto, foram utilizados recursos metodológicos da pesquisa bibliográfica, baseados em Salvador (1986).
A seleção do material bibliográfico existente sobre gravidez na adolescência foi estabelecida com base em parâmetros geográficos, cronológicos e formato bibliográfico de material impresso. A limitação do tempo deve-se à necessidade de matérias atuais, bem como a dificuldade de acesso a esses periódicos.
Para a definição da bibliografia, foi feita consulta à BIREME – Biblioteca Regional de Medicina e bibliotecas de Escolas de Enfermagem, o que resultou nos seguintes periódicos nas áreas de enfermagem, ginecologia e obstetrícia, respectivamente:
Acta Paulista de Enfermagem
Cogitare Enfermagem
Escola Ana Neri – Revista de Enfermagem
Nursing – Edição Brasileira
Revista Baiana de Enfermagem
Revista Brasileira de Enfermagem
Revista Latino-Americana de Enfermagem
Revista Mineira de Enfermagem
Revista Paulista de Enfermagem
Revista Enfermagem – UERJ
Revista Escola de Enfermagem USP
Revista Gaúcha de Enfermagem
Texto e Contexto.
Caderno de Ginecologia e Obstetrícia
Revista Femina
Revista GO Atual
Revista RBGO
Utilizou-se também como base de dados, BDENF e como descritores as palavras: gravidez na adolescência x enfermagem.
3.2 Instrumento para Coleta de Dados
Foi elaborado um instrumento para coleta de dados com a finalidade de se extrair os elementos necessários para análise dos mesmos e composto dos seguintes tópicos:
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Identificação do trabalho - Referência bibliográfica
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Caracterização da pesquisa - foco do estudo, dimensões abordadas metodologia e resultados
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Resumo do trabalho
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Comentários
3.3 Organização e Análise dos Dados
Os resultados obtidos são apresentados em forma de tabelas, figuras e quadros, de conformidade com a coerência e pertinência que cada uma das variáveis impuseram. Estes estão apresentados no capítulo resultados, de acordo com sua pertinência.
O material selecionado foi examinado e analisado de forma separada, conforme se tratava de artigo, não houve a preocupação de quantificar os achados nem se atrelar à quantidade, embora em alguns momentos, este aspecto fosse considerado.
A análise dos dados foi realizada à luz do referencial bibliográfico sobre o tema, levando em consideração os objetivos propostos para esta investigação. A linha metodológica que cada um dos estudos usava na sua realização foi tomada como critério. Com isso, foi possível desvelar os caminhos que têm sido utilizados na construção do conhecimento sobre gravidez na adolescência e qual o conhecimento produzido em cada um deles. Os estudos que apontam contribuições para a redução da gravidez na adolescência mereceram especial destaque.
4 Resultados
Este estudo foi constituído por 12 artigos sobre gravidez na adolescência, sendo 06 (50%) selecionados em periódicos de enfermagem e 06 (50%) em periódicos de ginecologia e obstetrícia, publicados nos últimos cinco anos (1997 a 2001).
Os artigos foram identificados com a letra P (periódico) e numerados seqüencialmente conforme área (enfermagem, ginecologia e obstetrícia) seguindo ordem alfabética e ano de publicação conforme descritos abaixo:
Área de enfermagem
P1. Carvalho, GM; Barros, SMO. Fatores psicossociais relacionados à gravidez na adolescência. Acta Paul Enf, São Paulo, v.13, n.1, p.9 – 17, jan/abril 2000.
P2. Martini, JG. et al. Gravidez na adolescência: da prática disciplinadora Pedagogia libertadora. R.Bras. Enferm., Brasília, v.52, n.4, p.539-546, out/dez 1999.
P3. Luz, AMH. Tenho 16 anos, dois filhos... Um dia vou casar vestida de verde-bebê. R. gaúcha Enferm. , Porto Alegre, v.20, n.esp., p.143-156, 1999.
P4. Rigol JL. Santo LCE. Perfil das gestantes adolescentes atendidas em consulta de Enfermagem. R. gaúcha Enferm., Porto Alegre, v.22, n.2, p.122-140,,julho 2001.
P5. Torres GV. Davim RMB. Nóbrega MML. Aplicação do processo de enfermagem baseado na teoria de OREM: estudo de caso com uma adolescente grávida. Rev. Latino – Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.7, n.2, p.47-53, abril 1999.
P6. Godinho RA. et al. Adolescentes grávidas: onde buscam apoio?. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v.8, n.2, p.25-32, Abril 2000. Área de Ginecologia e Obstetrícia
P7. Makuch M. et al. Grupo de apoio para adolescentes grávidas: Uma estratégia para melhorar a atenção pré-natal. Femina . São Paulo, v.29, n.8, p.545-549, setembro 2001.
P8. Silva JLP. Gravidez na adolescência: Desejada x Não desejada. Femina, São Paulo, v.26, n.10, p.825-830, novembro 1998.
P9.Cavalcanti SM.O.C et al. O significado da gravidez para adolescente. Femina, São Paulo, v.29, n.5, p.311-314 junho 2001.
P10.Maia Filho NL. et al. Gravidez na adolescência: três décadas de um problema Social crescente. GO ATUAL, Rio de Janeiro, ano VII, n.8, p.28-35.agosto 1998.
P11. Júnior OP. et al Gravidez indesejável. GO ATUAL, Rio de Janeiro, ano VII, n.4, p.27-30, abril 2000.
P12. Dotta IG. et al. Gestação na adolescência. RBM Caderno de Ginec. e Obstetrícia, São Paulo, v.57, p.15-22, julho 2000.
É pertinente esclarecer que estas publicações têm periodicidade própria, semestral, trimestral ou mensal, o número de trabalhos que compõe cada fascículo não é uniforme. Um fato a se lamentar é que as bibliotecas universitárias enfrentam dificuldades para manter a coleção completa dos periódicos, o que se transformou em dificuldades na obtenção de todos os fascículos necessários. A busca foi insistente, porém, sem sucesso para alguns fascículos.
A tabela anterior nos mostra que, dos 322 fascículos consultados, 199 foram na área de enfermagem e 123 na área de ginecologia e obstetrícia; demonstrando que deste total, apenas 12 artigos foram selecionados para a pesquisa, sendo 50% destes para a área da enfermagem e 50% para a ginecologia e obstetrícia.
Esse resultado demonstra a falta de revista especializada na área de Obstetrícia, bem como a necessidade de pesquisas sobre esse assunto. Cabe ressaltar que existe um Boletim Informativo na área em sistema On-Line, mas que ainda é necessário haver periódicos escritos pela enfermagem sobre gravidez na adolescência.
Estatisticamente falando, dos 322 fascículos consultados, apenas 12 serem encontrados sobre o assunto em questão perfaz um percentual de 3,72% de periódicos tanto na área de enfermagem quanto ginecologia e obstetrícia, evidenciando a grande necessidade de estudos e publicações.
É demonstrada na tabela, a predominância de 08 dos 12 artigos pesquisados, realizados em instituições hospitalares que prestam assistência a essa clientela, facilitando assim aos pesquisadores a obtenção dos dados. Os 4 artigos restantes são pesquisas realizadas em municípios e um dos estudos é desenvolvido em uma escola de ensino fundamental enfocando a educação em saúde. Os dados revelam a importância em identificar incidências e valores numéricos da gestação na adolescência.
Os resumos dos trabalhos que serviram de referência para a busca de conhecimento quanto a gravidez na adolescência são apresentados como Anexo I .
A análise dos 12 artigos compreendeu os seguintes tópicos: foco de estudo, objetivos propostos e resultados, tipo de pesquisa, método e dimensões abordadas que são apresentados em forma de quadros.
A classificação dos artigos segundo foco do estudo apresenta similaridades entre eles com relação a fatores e conseqüências da gravidez na adolescência, bem como o apoio à adolescente grávida. Com base nos dados do quadro acima, pode-se notar que os artigos de uma forma geral abordam como principais objetivos, as questões bio-psico-sociais, relacionadas a gravidez na adolescência.
Esse aspecto torna-se positivo devido à capacidade dos autores de um olhar crítico e humano ao escrever sobre um tema complexo cuja população em questão encontra-se em fase de conflitos internos e externos.
4.2 Metodologia e dimensões abordadas
Quadro-resumo. Artigos de periódicos segundo as metodologias e dimensões abordadas
4.5 Estratégias para a redução da gravidez na adolescência
A grande maioria dos estudos indica várias estratégias para a diminuição da gestação ocorrida na adolescência. Destacamos a seguir as medidas que foram encontradas:
educação sexual também chamada por prevenção primária, podendo ser iniciada no ensino fundamental, para que ocorram mudanças graduais e efetivas. O aumento na precocidade das atividades sexuais poderá estar relacionado ao baixo nível de escolaridade e desinformação das adolescentes.
planejamento familiar eficiente, pois muitas vezes as relações sexuais das adolescentes ocorrem independentemente do local e das conseqüências associadas com o ato sexual. O uso de métodos contraceptivos é muitas vezes feito de maneira incorreta por desinformação e vergonha de pedir auxílio ou por descaso. Especial atenção deverá ser dada à puérpera adolescente para que não ocorra a repetição de uma nova gestação.
assistência obstétrica adequada como prevenção de riscos de complicações durante a gravidez, parto e pós-parto. O número de abortamentos vem crescendo e trazendo conseqüências desastrosas e a má qualidade da assistência tem feito vítimas inocentes.
apoio familiar e profissional, geralmente a adolescente espera encontrar apoio no parceiro e amigas, pais e irmãos, porém nem sempre é possível conseguir essa ajuda. Algumas buscam os serviços de saúde para informações. O tipo de apoio aguardado é muito variado, indo desde o emocional, financeiro, educacional entre outros. Algumas experiências têm apresentado resultados positivos, como exemplo o grupo de apoio multiprofissional podendo contar com educadores e profissionais da saúde.
Para SILVA (1998), "a falta de políticas e programas eficientes e a falta de envolvimento dos jovens em atividades de promoção", acabam agravando o quadro não somente de gestações precoces como de doenças sexualmente transmissíveis.
DISCUSSÃO
Os resultados deste estudo demonstram que as áreas de enfermagem, ginecologia e obstetrícia desenvolvem pesquisas sobre gravidez na adolescência, pois foram encontrados 12 artigos publicados sendo 50% em cada área estudada.
A necessidade de identificar a real situação da gestação ocorrida na adolescência é apresentada por dados estatísticos demonstrando o perfil das adolescentes grávidas, a busca de fatores biopsicossociais e as conseqüências que poderão acarretar.
Os resultados permitiram concluir que os fatores relacionados à sua ocorrência foram: atividade sexual precoce; o fracasso escolar; ausência de ocupação; a ausência de culto religioso; o baixo nível sócio-econômico; o pensamento de onipotência; a influência intergeracional; a permissividade familiar.
Para DOTTA et al (2000), as complicações mais comuns durante a gravidez que foram encontradas num hospital público do município de São Paulo são: anemias, infecções do trato urinário, amniorrexes prematuras, trabalhos de parto prematuros, doenças hipertensivas específicas da gestação dentre outras. Durante o parto e pós-parto imediato as complicações foram descolamento prematuro de placenta, lacerações vaginais e atonia uterina.
É relevante também, discutir as repercussões que a gravidez precoce pode acarretar no nível de saúde dos recém-nascidos. De acordo com os autores citados acima, o período neonatal dessas crianças tem um aumento de risco para morbidade e mortalidade devido ao tamanho menor (pequeno para idade gestacional) quando comparadas às crianças de mães adultas e muitas vezes, ao alto índice de prematuridade.
Quanto aos problemas sociais encontrados nos artigos, são destacados: o abandono da escola, a entrada obrigatória e despreparada no mercado de trabalho, o abandono por parte da família e muitas vezes do parceiro e a repetição da gravidez em curtos intervalos de tempo (MAIA FILHO et al 1998).
Neste sentido, o Ministério da Saúde desenvolve parcerias com várias entidades no intuito de diminuir essa problemática. Além do Programa de Saúde do Adolescente (PROSAD), instituído desde o ano de 1988 e implementado pelos estados e municípios, encontramos o "Projeto Acolher – um encontro da enfermagem com o adolescente brasileiro" desenvolvido pelo Ministério da Saúde e Associação Brasileira de enfermagem (ABEn), que apresenta como objetivo geral: propor e desenvolver ações integradas que propiciem transformações no modo de pensar/fazer enfermagem na sua prática cotidiana, renovando seu compromisso com a integralidade da assistência do adolescente (Associação Brasileira de Enfermagem; Ministério da saúde 2001). Este trabalho já produziu duas publicações, frutos de uma construção coletiva de consultores indicados pelas seções da ABEn, que de forma sistemática e objetiva se propõem a nortear, por meio de instrumentos teóricos-práticos, a assistência a ser prestada aos adolescentes.
A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (1999) também, por meio da Comissão de Saúde do Adolescente, elaborou vários artigos e textos para que pudessem contribuir com os trabalhadores da saúde na sua lida cotidiana com os adolescentes. "...buscou-se desde o princípio reforçar as experiências iniciadas, sensibilizar pessoas e serviços, abrir espaços específicos, organizar e reorientar demandas", são as palavras do Prof. Dr. João Luiz Pinto e Silva, presidente da Comissão de Adolescente da SES-SP.
SANTOS et al (2000) comentam que "não cabe ao profissional emitir julgamentos morais sobre a conduta da adolescente e sim atendê-la em suas necessidades" pois, essa atitude pode impedir o atendimento adequado e distanciar o adolescente.
LYRA (2000) afirma e reforça que a forma de problematizar e intervir na gravidez dependerá da opção de valores assumidos pela adolescente.
A melhoria das ações de prevenção de DST/AIDS, gravidez na adolescência, métodos contraceptivos e planejamento familiar são de suma importância para evitar a gestação na adolescência.
De acordo com SANTOS et al (2000) "é preciso vencer preconceitos, entender que a adolescente vive uma fase de experimentações" e é papel do profissional compreender não apenas o fato da gestação na adolescência e sim o processo como um todo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao analisar o presente estudo, percebe-se que tanto a área de Enfermagem quanto a Ginecologia e Obstetrícia têm escrito muito pouco sobre o tema, considerando sua repercussão biopsicossocial e econômica.
Há necessidade de ressaltar que ambas áreas desenvolvam mais pesquisas, em virtude da ocorrência freqüente de casos de gravidez na adolescência e principalmente que haja um despertar por parte dos pesquisadores, para que o enfoque dos estudos possa visualizar o adolescente, como um alguém fascinante, singular e importante no papel social de futuro cidadão.
Todos os textos alusivos ao tema, abordam a gestação na adolescência justificando ou presumindo sua ocorrência com questões multifatoriais.
Para CARVALHO (2002) a gravidez na adolescência está diretamente relacionada a variáveis como: nível sócio-econômico, escolaridade, educação recebida, e a utilização de métodos anticoncepcionais.
Diante desses fatos deparamos com um grande desafio: prevenir a ocorrência de gestações na adolescência intervindo junto ao adolescente de modo a oferecer subsídios para que o protagonista dessa fase compreenda as ações desenvolvidas, conscientize-se e modifique seu comportamento.
O desafio maior é como levar um trabalho que contribua efetivamente para a prevenção desse problema.
Nos últimos anos várias pesquisas têm demonstrado que é cada vez maior o número de adolescentes que repetem mais de uma gravidez ainda neste período, sem respeitar, inclusive, o intervalo interpartal que se julga conveniente para a manutenção e recuperação da saúde da mãe e da criança. O agravamento da situação justifica uma preocupação redobrada e uma reflexão contínua, sem dúvida, de caráter eminentemente multiprofissional, considerando-se a evidente interdisciplinariedade do problema (SES-SP 1999).
Dessa maneira, temos muito a fazer e descobrir o "como fazer" para que sejamos aliados e comprometidos na redução dos índices de gravidez na adolescência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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COSTA, M. Gravidez na adolescência – dilemas e crescimento. 8ed.Porto Alegre/São Paulo: L± 1986.
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DELASCIO,D. GUARIENTO,A. Obstetrícia Normal Briquet. 3ed.São Paulo: Sarvier, 1981.
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