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An. 1 Congr. Intern. Pedagogia Social Mar. 2006

 

O circo social e a possibilidade de construção de uma nova prática educativa para classes populares: um relato de experiência das percepções e vivências de educadores sociais

 

 

Ana Paula Hassan1

 

 


RESUMO

"Levanta o sol suspende a lua olha o palhaço no meio da rua".
Para as classes populares o sistema de educação formal tem-se mostrado ineficaz no processo de socialização das crianças e adolescentes e a ineficácia aumenta quando se trata da formação de cidadãos críticos e criativos, por estar calcado numa visão "bancária" de educação (Freire;1987). "Esta pressupõe um aluno desconhecedor, vazio de conhecimentos, sobre o qual o professor deposita os seus saberes". Defendo, por conseguinte, a presença de outras esferas de socialização, diferentes da escola formal como espaços não-formais de educação, de arte-educação e de cultura para crianças e adolescentes das classes populares, por apresentarem metodologias e práticas que buscam construir novos saberes que possam contribuir para uma nova pedagogia. Encontro ressonância da minha prática de educadora popular nas idéias de Benjamin (1988). Em A Infância Berlinense, discutindo sobre a formação/educação das crianças, defende que a formação da criança se dá essencialmente fora do âmbito escolar. Tomo como reflexão a prática realizada no projeto de desenvolvimento local Dando Bola Pra Vida que se estrutura em cinco eixos: as crianças e adolescentes, famílias /comunidade, redes e políticas públicas, formação continuada para educadores sociais e pesquisa-ação. Tendo no centro das ações as crianças e adolescentes e é a partir do trabalho de arte–educação e cultura e mais especificamente utilizando a metodologia do circo social é que vamos dialogando com os outros eixos de ação. Em nosso trabalho temos buscado refletir como as crianças das classes populares constroem seus conhecimentos sobre o mundo que o cerca e como incorpora ou rejeita os conhecimentos que vão sendo urdidos nas múltiplas redes sociais e culturais das quais participam. Com o resultado das nossas atividades de circo social, tentamos influir para que a criança, o adolescente e o jovem possam re-significar de sujeitos invisíveis aos olhos de todos para ser valorizado como cidadão. Através do circo trabalhamos para que este, ao dar um saltos, piruetas e cambalhotas não desafie apenas a gravidade, mas possa compreender os desafios da vida, podendo assim, se potencializar cada vez mais para compreender mais seu estar no mundo. Assim, o circo social possibilita trazer à cena seus saberes antes invisíveis, que vão sendo traduzidos em múltiplos aportes culturais, tão necessários no dialogo com a escola, a família a sua comunidade e seus pares. A prática reflexiva se revela então uma importante estratégia pedagógica, pois se desenvolve como um processo de reflexão sobre o conhecimento na ação, ou seja, a reflexão acontece quando na prática os educadores sociais, junto com crianças e adolescentes, compreendem que utilizam rotinas construídas a partir do conhecimento cotidiano. A reflexão sobre o conhecimento na ação leva o educador, assim como as crianças e adolescentes à indagação sobre os conhecimentos implícitos em sua atuação, permitindo uma nova compreensão do que acontece ao seu redor, em sua vida. Cria-se a partir do processo de reflexão-ação condições favoráveis à transformação das diversas situações enfrentadas em seu cotidiano. A partir da prática reflexiva buscamos autores como Freire, Benjamin, dentre outros, para que possamos dialogar e dar suporte às nossas ações. Para nós, nosso espaço de convivência onde realizamos atividades de teatro, música, circo, esportes e brincadeiras se constitui em um "entre–lugar" (Bhabha, 1998), de diferentes culturas e lógicas, em que crianças e adolescentes vão se resignificando, se fazem críticos e criativos, dialogam e afirmam sua diferença de pensar, de dizer , de escrever e de ler o mundo, e se transformando e transformando o mundo.

Palavras-chave: educação não-formal; circo social; formação continuada; Paulo Freire.


 

 

Para as classes populares, o sistema de educação formal tem-se mostrado ineficaz no processo de socialização das crianças e adolescentes. A ineficácia aumenta quando se trata da formação de cidadãos críticos e criativos, por estar calcado numa visão "bancária" de educação (Freire;1987). Esta visão pressupõe um educando desconhecedor, "vazio de conhecimentos", sobre o qual o professor "deposita" os seus saberes.

Defendo, por conseguinte, a presença de outras esferas de socialização, diferentes da escola formal como espaços não-formais de educação, de arte-educação e cultura para crianças e adolescentes das classes populares, por apresentarem metodologias e práticas que buscam construir novos saberes que contribuem para uma nova pedagogia. Encontro ressonância de minha prática de educadora popular nas idéias de Benjamin (1988) em Infância Berlinense sobre a formação/educação das crianças. Este defende que a formação da criança se dá essencialmente fora do âmbito escolar.

Tomo como reflexão a prática realizada no Projeto de Desenvolvimento Local Dando Bola Pra Vida que se estrutura em cinco eixos: a) crianças e adolescentes, b) famílias/ comunidade, c) redes e políticas públicas, d) formação continuada para educadores sociais, e) pesquisa-ação.

Tendo como centro das ações o eixo crianças e adolescentes, parte-se do trabalho de arte-educação e cultura, mais especificamente, da metodologia do circo social, para se dialogar com os outros eixos de ação. Neste trabalho, tem-se buscado refletir com as crianças de classes populares a construção de seus conhecimentos sobre o mundo que os cerca e a incorporação/ rejeição dos conhecimentos que vão sendo urdidos nas múltiplas redes sociais e culturais das quais participam.

Com o resultado das atividades de circo social, o passo seguinte é o de ressignificar a existência da criança e do adolescente, passando de sujeito invisível aos olhos de todos para ser valorizado como cidadão.

Através das atividades de circo - saltos, piruetas, cambalhotas – espera-se que a criança/ adolescente não desafie apenas a gravidade, mas também os problemas e obstáculos da vida, potencializando cada vez mais a compreensão do seu estar no mundo. Assim, o circo social possibilita trazer á cena seus saberes que antes, invisíveis, vão sendo traduzidos em múltiplos aportes culturais, tão necessários no diálogo com a escola, com a família, com a sua comunidade e seus pares.

A prática reflexiva se revela então uma importante estratégia pedagógica, pois se desenvolve como um processo de reflexão sobre o conhecimento na ação, ou seja, a reflexão acontece quando na prática, os educadores(as) sociais, juntamente com crianças e adolescentes, compreendem que utilizam rotinas construídas a partir do conhecimento cotidiano. A reflexão sobre o conhecimento na ação leva o educador(a) assim como as crianças e adolescentes à indagação sobre os conhecimentos implícitos em sua atuação, permitindo uma nova compreensão do que acontece ao seu redor, em sua vida.

Cria-se a partir do processo de reflexão-ação, condições favoráveis à transformação das diversas situações enfrentadas em seu cotidiano. A partir da prática reflexiva – baseada em autores como Freire e Benjamin, dentre outros – buscamos dialogar e dar suporte às nossas ações.

Para nós, o espaço de convivência onde são realizadas as atividades de teatro, música, circo, esportes e brincadeiras se constitui num "entre - lugar" (Bhabha, 1998), de diferentes culturas e lógicas, em que crianças e adolescentes neste processo vão se ressignificando, se fazendo críticos e criativos, dialogando e afirmando sua diferença de pensar, de dizer, de escrever e de ler o mundo, transformando a si e ao mundo.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas II - rua de mão única. São Paulo: Brasiliense, 1987.

BHABHA, Homi K. O local da cultura. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço de Lima e Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Ed. UNESP, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

 

1 Ana Paula Passos Hassan é pedagoga e educadora social. Responde pela coordenação pedagógica do Projeto de Desenvolvimento Local "Dando Bola para a Vida", realizado pela ONG "Se essa rua fosse minha" (www.seessaruafosseminha.org.br). E-mail: pedagógico@seessarua.org.br e anapaulahassan@yahoo.com.br